Texto Patrícia Magalhães | Fotos Xinhua e Eneias Rodrigues (Macao Magazine)
Tarde de sábado do dia 16 de Abril. A cidade da Praia está quente. A capital de Cabo Verde descansa de um festival de música que durou uma semana inteira, o Kriol Jazz. Localizado próximo da praça central, do palco avistava-se o porto da cidade. Aqui, mais um evento está prestes a ter lugar.
As pessoas param para ver figuras importantes do panorama político a chegar, incluindo o Presidente da República, o primeiro-ministro, ministros e outros executivos, juntamente com o corpo diplomático que ali reside. Tudo isto é um caleidoscópio visual. Estamos perante um glamoroso tapete vermelho e um edifício colonial, da década de 50 do século passado, mas completamente remodelado, por dentro e por fora. Música de Cesária Évora e todo aquele aparato.
Um membro do corpo diplomático está particularmente satisfeito com a afluência dos representantes chineses. O Governo Central patrocinou este projecto no valor de 11 milhões de dólares norte-americanos. Só assim se explica o glamour desta noite.
Ao mesmo tempo que remodelou o edifício colonial, a cooperação chinesa é ainda responsável pelo realojamento de todas as grandes instituições, incluindo escritórios do Governo e da Assembleia Nacional, bem como a Biblioteca Nacional, o Estádio Nacional e a icónica Barragem de Poilão.
O Presidente da República de Cabo Verde também se mostra satisfeito com os resultados da recente colaboração. Jorge Carlos Fonseca e o novo Governo cabo-verdiano serão os anfitriões do Fórum de Negócios entre Macau e os Países de Língua Portuguesa, que decorrerá em 2017, e o Chefe de Estado está confiante de que este será um grande evento. “Tivemos uma relação privilegiada com a China desde a nossa independência e, do nosso ponto de vista, isso é muito positivo. Estamos agora a expandir e a diversificar a nossa cooperação económica e financeira. Uma forte ligação do ponto de vista da cooperação económica, comercial e empresarial é importante para tornar esta relação ainda mais dinâmica”, afirmou no seu discurso.
Num esforço para fortalecer as ligações com a China, Jorge Carlos Fonseca fez todos os possíveis para “pessoalmente” participar, em 2015, no Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) que decorreu em Joanesburgo, África do Sul, onde se reuniu com o presidente Xi Jinping. O Presidente da República de Cabo Verde revelou que está programada para breve uma visita de Estado à China.
A face dos novos investimentos chineses
Desde há muito que os cabo-verdianos estão habituados aos investidores chineses, já que é de longa data a interacção com comerciantes chineses que vivem nas partes mais remotas das ilhas. Esses empresários, integrados há muito anos em Cabo Verde, até já conseguem falar crioulo com fluência. As pequenas empresas chinesas estão um pouco por toda a parte. Revestem as estradas de todas as ilhas e notam-se bastante na principal rua da Praia que flui a partir do Palácio Presidencial. Contudo, os tempos são outros e os cabo-verdianos deparam-se agora com uma nova geração de investidores chineses, cujos negócios se fazem numa escala diferente.
Um investimento cresce na praia da Gamboa. É o novo casino-resort de David Chow. O cônsul honorário de Cabo Verde em Macau investiu cerca de 250 milhões de dólares norte-americanos no projecto que, não só vai transformar o turismo da capital, como também deverá fornecer um grande impulso para a economia.
Tudo isso está a acontecer num período em que, pela primeira vez em muitos anos, o comércio entre a China e os Países de Língua Portuguesa encontra-se em queda. No entanto, isso, como Gustavo Plácido dos Santos, do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRIS), aponta, não dissuadiu os chineses de investirem em países como Cabo Verde.
No fórum deste ano entre Macau e os Países de Língua Portuguesa que teve lugar na Guiné-Bissau, um total de 11 acordos foram assinados, o que representa um “exemplo de que a China pretende reforçar os seus laços com os países lusófonos e que reconhece a sua importância económica e financeira, bem como significado político e diplomático”, defende Gustavo Plácido dos Santos.
Além disso, os governos da China e da Guiné-Bissau assinaram um acordo conjunto propondo a construção de novas infra-estruturas, indicando que a Guiné-Bissau deverá ser incluída na estratégia chinesa “Uma faixa, uma rota”. Os termos do acordo assinado entre chineses e guineenses prevê a construção de um porto de águas profundas em Buba, o novo Aeroporto Internacional de Bissau, bem como estradas locais e pontes.
A Guiné-Bissau tornar-se-á assim “o elo de ligação entre a China, o Atlântico e a África Ocidental”, aponta o representante do IPRIS.
A nova industrialização
Usando o FOCAC como uma plataforma internacional, a China deixa claro que o continente africano tem o seu total apoio. Prova disso é o facto de Pequim ter duplicado os seus financiamentos previstos para o desenvolvimento de África na última década. Este ano, no entanto, o apoio triplicou. Além disso, as autoridades mostram-se cada vez mais empenhadas em ampliar o comércio e o investimento de mercadorias, a fim de promover a cooperação industrial e a partilha de competências.
Em Angola, país parceiro de negócios de longa data da China, as autoridades querem aproveitar ao máximo as linhas de crédito que Pequim disponibiliza, no valor de 5,3 mil milhões de dólares norte-americanos. As extensões de crédito têm vindo a tornar-se cada vez mais vitais devido ao recente abrandamento económico de Angola, e esse dinheiro extra será aplicado principalmente em joint-ventures. “A confiança é a coisa mais importante no mundo dos negócios e até hoje nem sempre foi um factor presente. A falta de confiança será minimizada com esta reestruturação do crédito. Os nossos parceiros têm a nossa garantia de qualidade, o que significa que, se assim podemos dizer, vai haver casamento entre as partes. Não há desconfiança aqui e isso é fundamental no mundo dos negócios”, atesta Arnaldo Calado, presidente da Câmara de Comércio de Angola e ex-presidente da empresa nacional de diamantes Endiama.
De acordo com Gustavo Plácido dos Santos, há sinais de que a China quer mover algumas das suas indústrias de trabalho intensivo para África e exportar para países como Angola ou Moçambique, por forma a apoiar projectos de infra-estruturas, ajudando a desenvolver habilidades técnicas a nível local. Contudo, adverte que essa intenção poderia esbarrar na actual instabilidade política em países como Moçambique e Guiné-Bissau, bem como pelo abrandamento económico em Angola. Os investimentos chineses noutros países africanos, como a Etiópia e Quénia, acreditam cada vez mais que este é o caminho.
O papel de Macau
Os analistas reconhecem o valor estratégico e diplomático da China ao investir na comunidade lusófona em África, cujo investimento é facilitado por instituições como o Fórum Macau. Estes países são divididos em áreas regionais distintas de influência e são membros das suas respectivas organizações regionais. Cabo Verde, por exemplo, é um excelente modelo de boa governação, estabilidade política e económica no continente africano.
A geografia dos países de língua portuguesa é por si só um atractivo para a estratégia “Uma faixa, uma rota”, que pretende conectar a China ao Golfo Pérsico e, por sua vez, ao Mar Mediterrâneo, aponta Gustavo Plácido dos Santos. A contribuição da China para o desenvolvimento de infra-estruturas em África, nomeadamente, a construção de estradas, portos, aeroportos e ferrovias, sugere que a iniciativa poderia, eventualmente, alargar-se à costa leste africana.
São Tomé e Príncipe, local onde está a ser erguido um grande porto de águas profundas com capital chinês é, juntamente com Angola, um ponto crítico no comércio entre o Atlântico, a África e o Índico. Apesar de não ter relações diplomáticas com a China, São Tomé e Príncipe pode ser uma parte importante de toda a engrenagem, permitindo uma aceleração do comércio entre a China e o continente africano.
Fernanda Ilhéu, professora associada do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e autora de várias publicações sobre a relação entre a China e os países de língua portuguesa, acredita que a iniciativa “Uma faixa, uma rota” possa gerar “novas dinâmicas de globalização capazes de transformar o mundo”. A área de influência compreende agora 4,4 biliões de pessoas (cerca de 63 por cento da população mundial) em 65 países e gera cerca de 40 por cento do PIB global.
A académica concorda com Hu Shisheng, director do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China, quando este afirma que a iniciativa não é como o Plano Marshall, mas mais um compromisso mútuo. “Isso significa que os países devem apresentar projectos que se encaixem na iniciativa chinesa, isto é, no espírito daquilo que é a nova Rota Marítima da Seda. Olhando para o mapa, Portugal está incluído no projecto e, obviamente, Macau, bem como, através do Fórum Macau, o Brasil, Angola e todos os outros países de língua portuguesa”, explica Fernanda ilhéu.
Está no DNA de Macau fomentar as relações com todos os países de expressão portuguesa e, apesar das grandes empresas públicas e privadas não serem obrigadas a passar os seus negócios por Macau, a região terá sempre um papel especial sempre que necessário. A docente do ISEG acredita que Macau deva ter uma posição importante na estratégia “Uma faixa, uma rota”.
Esta nova estratégia comercial da China para o século XXI tenta ser uma resposta às mudanças bruscas na economia mundial, bem como na sua própria economia. Os mercados de matérias-primas não mostram sinais de recuperação e os países produtores de petróleo, em particular, têm sido duramente atingidos com a crise mundial.
Com a estratégia “Uma faixa, uma rota”, as autoridades chinesas esperam impulsionar o comércio com mais de 40 países para valores na ordem dos 2,5 triliões de dólares norte-americanos num espaço de dez anos. Desse valor, um trilião é investimento público. O governo chinês está particularmente motivado e tem deixado palavras de incentivo às empresas estatais e instituições financeiras, com intuito destas investirem em infra-estruturas e construção no estrangeiro.
“A visão”, diz Fernanda Ilhéu, “é criar uma rede de zonas de comércio livre, isto é, uma forma dos países poderem ligar as suas estratégias de desenvolvimento, somando-se as vantagens competitivas”. Os projectos que estão a ser desenvolvidos “vão depender principalmente das iniciativas que os países escolham em resposta às metas, estruturas de projecto e negociações com o governo chinês. Na verdade, a China vai trabalhar com os países, essencialmente, em projectos bilaterais, mas também multilaterais. As prioridades de cooperação incluirão a coordenação das políticas e do alargamento dos vínculos, do comércio e dos fluxos de investimento, bem como o fortalecimento das relações interpessoais”.
Após o fracasso
Desde a criação do Fórum Macau, em 2003, que o crescimento do comércio entre a China e os países de língua portuguesa tem sido imparável, sendo Brasil e Angola os principais parceiros comerciais da China. Mas a partir de 2014, muito por culpa da queda dos preços das matérias-primas, o comércio começou a abrandar e até chegou a mostrar sinais de preocupação. O valor das importações de petróleo angolano diminuiu drasticamente e o mesmo sucedeu com a soja e o cobre do Brasil.
Angola reagiu rapidamente às dificuldades e neste momento a palavra de ordem é diversificação económica. As autoridades de Luanda têm-se esforçado por manter a confiança dos investidores no país. Um dos impulsionadores do novo paradigma tem sido António Luvualu de Carvalho, renomado académico na área dos assuntos internacionais e embaixador, que tem incansavelmente defendido Angola em Londres, Washington, Lisboa e outras capitais mundiais.
Luvualu de Carvalho sustenta que a abordagem da China aos países de língua portuguesa tem sido “claramente positiva” e mantém uma confiança implacável nessa parceria. “É natural que encontremos alguns aspectos que importa prosseguir, mas acredito muito sinceramente que esta interacção é franca, esta relação entre a China e a lusofonia é de respeito mútuo, onde todos podem ganhar em prol dos seus crescimentos.”
Com uma nova Rota da Seda no horizonte, assim como com o crescimento e diversificação do investimento chinês, António Luvualu de Carvalho acredita que Macau tem um papel importante a desempenhar. “Macau poderia continuar a ser um ponto de referência entre as rotas de comércio no Extremo e Médio Oriente, bem como na costa leste da África. A China, como grande produtor, poderia, certamente, usar esta importante via de exportação de produtos, máquinas, tecnologia, e, claro, construir novas relações culturais, juntando cada vez mais a Grande China ao universo da lusofonia.”
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“As regras do processo não são, de todo, ditadas pela China”
Thomas Chan, presidente da Associação da Rota Marítima da Seda (Macau) e director do Centro de Negócios da China (Universidade Politécnica de Hong Kong)
O que a República Popular da China pretende com a iniciativa “Uma faixa, uma rota”?
A China não tem um único caminho de estratégia. Pode ter vários: para corrigir e coordenar projectos de investimento existentes, que não tenham tido o sucesso esperado por conta própria; ou então, para fortalecer projectos de investimento que serviam propósitos específicos. O investimento no Paquistão, por exemplo, e do ponto de vista estratégico, serve para fortalecer a aliança política com aquele país, bem como para ajudar a desenvolver a economia do Paquistão por forma a criar pontes de exportação e investimento chinês e promover as exportações de energia nuclear, termoeléctrica, eólica e solar, bem como de redes de telecomunicações, ou usar a força laboral chinesa na área da construção e indústria. Com o desenvolvimento do Paquistão, a China procura promover, acima de tudo, a paz e o desenvolvimento (naturalmente, porque tem interesses políticos e económicos) na Ásia Ocidental, estendendo-se para o Afeganistão e mais além. Na verdade, a China pretende construir uma conectividade forte na Eurásia e África para servir os seus fins comerciais e de investimento. O seu objectivo final é transformar o mundo por forma a contrariar a hegemonia dos Estados Unidos da América, criando um sistema multipolar onde há espaço para a China e outros países poderem desenvolver-se. E esse espaço não pode, nem deve, ser apenas de índole económica e política. Deve ser também social, cultural, onde se dá primazia à troca de ideias. O que se pretende é que cada país seja livre de escolher o seu próprio caminho de desenvolvimento sem a intervenção e impedimento das superpotências.
O que é que a China e os outros países podem ganhar com esta estratégia?
Ganham um espaço aberto e participativo, onde as regras do processo não são, de todo, ditadas pelas China.
Pode Macau desempenhar um papel-chave nesse processo?
Depende apenas de Macau. Se é capaz de aprender, reorientar e reorganizar-se tendo em vista usar a estratégia que vá ao encontro da sua própria transformação e modernização. Macau é um porto livre, mas hoje em dia não tem vantagens no transporte marítimo e comércio terrestre. Na verdade, as suas potenciais vantagens são o apoio do Governo Central, a proximidade e relações com Hong Kong e a sua flexibilidade e abertura. Macau pode tornar-se num offshore financeiro, um exemplo na área da educação e do conhecimento, com a ajuda de Pequim. Contudo, tem sempre um papel a desempenhar. É preciso que Macau crie orientações adequadas para o negócio e que o seu regime offshore seja devidamente regulado, com acesso gratuito a todos os países que participam nesta estratégia, de onde se destacam a Rússia, o Irão e os países africanos. Macau tem de fomentar um ambiente de aprendizagem intensiva em conhecimento. Deve transformar a infra-estrutura existente para fornecer um menor custo de habitação, uma maior conectividade e acessibilidade para os países de estratégia e melhor qualidade de vida para atrair talentos e empresas. Pode e deve tornar-se um centro de educação para a aprendizagem do conhecimento, com olhos postos nos mercados emergentes. Com esta estratégia, o paradigma do mundo pode mudar, com óbvia abertura à participação de países que têm sido negligenciados pelo mundo desenvolvido ao longo de décadas. Por isso, Macau precisa, acima de tudo, aprender, reeducar, trazer mais talento e inovações para a sua sociedade e atender especificamente as mudanças desencadeadas pela estratégia que o Governo Central criou.
“A Rota Marítima da Seda pode e deve, definitivamente, beneficiar Macau”
Luís Sales Marques, vice-presidente da Associação da Rota Marítima da Seda
Deverão os países de língua portuguesa serem incluídos na nova Rota da Seda Marítima?
A Rota Marítima da Seda original conectava a China com a Europa e a África, por meio de comércio marítimo. Tanto Portugal como Macau desempenharam papéis importantes e inovadores nos primeiros estágios de negociação da China com a Europa e a África. Naquela altura, junto com o comércio veio a religião, a cultura, a ciência e as artes, bem como as relações interpessoais. Isso trouxe um grande benefício para a humanidade, isto é, a troca de mercadorias, conhecimento e tantas outras coisas incríveis entre pessoas de lugares tão distantes, abrindo caminho para um comércio marítimo mundial tal como temos hoje. A Rota da Seda Marítima do século XXI, no âmbito da iniciativa “Uma faixa, uma rota”, também versa sobre comércio e investimento, engajamento cultural e benefício mútuo. Acima de tudo, trata-se de uma conectividade. Tudo começa com conexões na costa sul da China, em Fuzhou, depois segue para o Sudeste Asiático, continua, e no Oceano Índico chega ao porto de Mombaça perto de Nairobi, no Quénia, antes de se dirigir para o norte no Mar Arábico e para a Europa. No entanto, os líderes chineses têm repetidamente afirmado que a iniciativa é flexível. Por diversas vezes, o ex-embaixador chinês em Lisboa Huang Song Fu incentivou Portugal a participar. Por alguma razão, Portugal é um dos sócios fundadores do Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura (AIIB) que foi criado especificamente para suprir as necessidades de investimento da estratégia lançada. Na mesma linha, quando o Governo de Macau admite o seu envolvimento na iniciativa “Uma faixa, uma rota”, a conexão com os países de língua portuguesa está sempre lá. Por isso, acredito que estes devem fazer parte da estratégia, por forma a que todos possam sair beneficiados.
Como é que os países de língua portuguesa podem sair beneficiados?
Através da melhoria das suas redes, tanto ao nível regional, como ao nível global. Isso permitiria que os seus produtos pudessem chegar mais rápido ao seus destinos e em melhores condições, o que acabaria por trazer vantagens competitivas. Além disso, a extensão do corredor marítimo de Mombaça para baixo no Oceano Índico geraria novos investimentos em infra-estrutura para a maioria das unidades de atendimento ao longo do caminho, bem como estradas e ferrovias dentro do continente africano, aumentando assim o potencial económico.
Pode o Fórum Macau desempenhar um papel no novo paradigma da Rota Marítima da Seda?
O Fórum Macau promove a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. É conhecido por ser uma plataforma para reforçar amizades, conhecimento mútuo e confiança, trabalhando em conjunto em muitas áreas diferentes, incluindo o comércio e os investimentos, agricultura, educação e formação, bem como, mais recentemente, o intercâmbio cultural. A iniciativa “Uma faixa, uma rota” poderia criar sinergias e concentrar estas vantagens para realizar maiores e melhores objectivos no âmbito das questões económicas, seja o comércio, o investimento ou o fornecimento de bens e serviços. Ligando o Fórum Macau com a iniciativa “Uma faixa, uma rota”, particularmente à sua extensão ao continente africano, seria expectável apostar em projectos que pudessem melhorar a conectividade ou contribuir para a melhoria da rede de estradas, ferrovias e portos, questões primordiais para a nova estratégia conseguir impulsionar as economias dos países de língua portuguesa, beneficiando as pequenas e médias empresas, claro está desde que os governos locais implementem boas práticas e boas políticas por forma a criar incentivos à participação.
Como pode a Rota Marítima da Seda beneficiar Macau?
A Rota Marítima da Seda pode e deve, definitivamente, beneficiar Macau. Contudo, isso vai exigir uma mentalidade mais aberta das empresas locais e um forte senso de empreendedorismo. O processo não pode depender exclusivamente da boa vontade do Governo da RAEM. Porque a iniciativa “Uma faixa, uma rota” abre a porta às novas oportunidades de investimento em áreas que, até agora, não eram prioridade para os investimentos privados e institucionais locais. No entanto, como a economia de Macau continua a desacelerar, essas novas oportunidades de investimento podem aparecer na hora certa. O envolvimento do Fundo do Banco Asiático de Investimento em Infra-estrutura e da própria Rota da Seda fornece garantias extras. Ao mesmo tempo, a estratégia delineada pela China poderia abrir as portas para as pequenas e médias empresas, em particular no sector dos serviços. Tais empresas teriam que ser muito competitivas no mercado internacional, ganhando experiência em lidar com clientes internacionais.