Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro
Desde o início das emissões regulares, a 13 de Maio de 1984, a TDM soube ganhar o seu lugar ao sol, celebrado agora com três décadas de desenvolvimento. Nos anos recentes, modernizou equipamentos, contratou profissionais, aumentou a produção e fez acordos com as televisões públicas dos países de língua portuguesa. Tem emissões regulares em chinês, português e inglês, na televisão e na rádio. Neste meio, conta com um programa falado em indonésio e prepara outro em tagalo (Filipinas). A TDM quer o serviço público próximo de todas as pessoas, informando-as e reforçando a sua ligação à cidade. Deseja ser um elemento relevante na afirmação de Macau enquanto plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. Estabelece como objectivo emitir para o Interior da China, ajudando a mostrar a diversidade de Macau, para sublinhar a sua imagem de centro mundial de turismo e lazer. A TDM quer crescer.
Manuel Pires tornou-se presidente da Comissão Executiva no início de Março. Ex-subdirector dos Serviços de Turismo, lidera agora a TDM como administrador a tempo inteiro, após anos ligado à empresa em cargos não-executivos. Define duas prioridades estratégicas. “A curto prazo, encontrarmos novas instalações. A médio prazo, emitir para o Interior da China.”
Conhecedor da realidade da TDM, foi sem surpresas que tomou o pulso à empresa. “Encontrei uma organização com bons profissionais. Não é fácil trabalhar na TDM, por ser a única estação de TV e Rádio que temos. Macau é um meio pequeno com grandes desafios, mas os profissionais da TDM têm sabido responder bem.” Desses desafios destaca o rápido desenvolvimento da RAEM. “A opinião pública passou a ser muito mais exigente nas respostas às suas expectativas. Logo na minha entrada colocaram-me a questão da liberdade de imprensa. É um aspecto fundamental para Macau poder desenvolver-se de forma saudável. Naturalmente que as definições de cada um do que é a liberdade de imprensa são diferentes. A TDM não pode (nem consegue) satisfazer todos os gostos. O que deve fazer é informar com rigor e deixar depois cada um elaborar a sua avaliação.”
Solução transitória
O desenvolvimento da economia fez com que também aumentassem os acontecimentos. Ou seja, as notícias. O “não acontece nada em Macau” tornou-se uma longínqua memória. A TDM foi também mudando, mas não o suficiente para cobrir todas as solicitações. A empresa tem capacidade de investir para responder aos desafios? “Os accionistas têm injectado recursos, numa primeira fase para equipamentos. A TDM foi capaz de renovar o hardware, criando condições para ter os seus seis canais. Quanto a recursos humanos, toda a gente tem o mesmo problema em consegui-los. Os operadores de jogo, mal apanham um profissional da comunicação social a quem reconhecem qualidade, tentam logo contratá-lo. O que tentamos fazer é ter mais recursos para investir nessa área. Não só salários competitivos, mas também melhores condições de trabalho. Sofremos o grande problema da falta de espaço. A TDM está espalhada por vários locais em Macau. Há já dois anos que colocámos ao Governo o pedido para nos ser concedido um terreno, para termos melhores instalações.”
Com o pedido foi um ante-projecto preliminar para que o Governo possa ter uma ideia do que se fala: uma área de 40 mil metros quadrados. “Seria a sede e congregaria todas as unidades: estúdios, parte administrativa e outras áreas de apoio. O tipo de terreno está descrito, mas não identificado.” Será na Ilha da Montanha? “Falou-se nessa ideia – não partiu da TDM – mas nada mais. Se houvesse um cenário em que tivéssemos algo semelhante à Universidade de Macau, talvez a Ilha da Montanha fosse uma hipótese viável. Porém, ainda há cinco aterros por construir. São espaços novos que o Governo pode depois usar para atribuir à TDM um terreno.”
Manuel Pires realça este ponto como fundamental, porque sem mudança para instalações com outra capacidade é quase impossível fazer a TDM crescer. E mesmo que tudo corra bem, a espera será longa. “Para o cenário se concretizar, só daqui a oito a dez anos. A concessão do terreno, a elaboração de um projecto, a construção, a mudança e a instalação…” Assim sendo, o que vai a TDM fazer? “Estamos a tentar encontrar soluções transitórias. Ou seja, espaços onde possamos instalar áreas da empresa que são de natureza mais de escritório ou de apoio, incluindo a própria administração, e com isso libertar espaço no edifício-sede para a informação e a parte técnica. São soluções transitórias mais fáceis de concretizar, sem ser preciso mudar equipamentos e arquivos.”
Sinal positivo
Iniciar emissões regulares para o Interior da China é outra grande prioridade da TDM, tendo já havido contactos feitos pelo Governo da RAEM. Manuel Pires revela que a sua empresa também enviou uma carta à entidade reguladora, manifestando esse interesse. “Seria benéfico em duas perspectivas. Por um lado, a TDM ganha poder de atracção comercial. Por outro, dá uma imagem mais esclarecedora de Macau, mostrando realidades como património, cultura e gastronomia. E artistas locais. Temos um programa de música, de descoberta de talentos que já vai na 12.ª edição, e é sempre um prazer ver artistas que começaram aí a singrar em Hong Kong. Ao chegar ao mercado chinês, abrimos ainda maiores oportunidades a potenciais talentos de Macau.”
Para o presidente da Comissão Executiva, tais emissões também salientam o papel que a TDM desenvolveu nos últimos três anos: servir de plataforma para troca de programas e contactos entre a China e os países de língua portuguesa. “A empresa assinou acordos de cooperação com as televisões públicas de todos os países de língua portuguesa. Vamos agora para um segundo ciclo, com a concretização das intenções expressas no papel. Daremos oportunidades de estágio a vários países, dentro de poucos meses, com técnicos que virão à TDM estagiar. Começámos também há três anos a troca de programas através de Macau. A CCTV fornece os programas, nós fazemos a dobragem e depois enviamos às televisões dos vários países.”
Emitir produção externa também está no horizonte. “Hoje não é tão fácil, devido a custos operacionais, de recursos humanos e até por capacidade criativa, basearmo-nos em nós para fazer tudo. O sucesso está em produzir e ao mesmo tempo identificar conteúdos atraentes e rentáveis para a empresa. Indo ao encontro da política do Governo da RAEM, devemos aproveitar as indústrias criativas, onde nós, aliás, também nos inserimos. Temos contactos nesse sentido, por exemplo para a aquisição de um documentário histórico. Um projecto independente bastante interessante. E não vamos ficar por aqui. É uma nova fase, até porque começam a surgir cada vez mais talentos, nomeadamente jovens, que precisam de oportunidades. Se encontrarmos conjugação de interesse, a TDM estará aberta a propostas vindas de fora.”
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“Fomento da produção independente é essencial”
João Francisco Pinto, director de informação e de programas dos canais portugueses da TDM, está no cargo desde 2005 e na TDM desde 1994. Em linha com a administração da empresa, defende o aumento da produção, mas com regras bem definidas
Nos seus anos de direcção, o que destaca na evolução da TDM?
Um grande crescimento, nos efectivos e na produção. Aquilo que hoje produzimos não tem nada que ver com 2005, quando assumi o cargo. Não produzimos entretenimento, mas programas de informação. É o caso do “Telejornal”, o grande produto da TDM, que fazemos em duas versões (português e inglês). Depois temos o “TDM Desporto”, o “TDM Entrevista”, o magazine cultural “Montra do Lilau”, o “TDM Talk Show” (em inglês) e o debate “Contraponto”, uma produção conjunta de televisão e rádio. Em 2005, fazíamos apenas o “TDM Desporto” e o “Montra do Lilau”.
Defende o aumento de produção?
Uma das missões do serviço público é o fomento da produção independente, o que considero essencial, pois cria riqueza e desenvolve talentos locais. Quanto ao nosso aumento de produção, não pode haver sem aumento de efectivos. E estamos no limite da nossa capacidade.
Se essa capacidade aumentar, que caminho deve ser seguido?
Há dois tipos de produção: fluxo e stock. A produção fluxo é basicamente o que fazemos, o que emitimos no dia-a-dia e amanhã é obsoleto. Não posso repetir o Telejornal daqui a três dias. Se tivermos um aumento, faz sentido que seja na produção stock. Ou seja, programas que podemos emitir hoje, amanhã e daqui a um ano. Fizemos um documentário sobre a vida do padre Lancelote Rodrigues. Quando faleceu, voltámos a emitir o documentário. Daqui a dez anos, no aniversário da morte dele, podemos emiti-lo de novo. Os documentários são um bom exemplo de produção stock de informação. E podem ser comercializados. Portanto, para aumentar a produção deve ser por aqui.
Isso é uma ideia em discussão ou um plano em marcha?
É uma ideia que tenho, deve ser discutida. Fazemos fluxo suficiente e produzimos pouco stock, que representa valor para o futuro. Mas para isso ou reduzo o fluxo – e os telespectadores queixam-se – ou aumento o número de pessoas à minha disposição.
Em termos de conteúdo a produzir, que outros critérios importam?
Faz sentido aumentar a capacidade de produção nos conteúdos de língua portuguesa e inglesa. Para os primeiros precisamos de mais pela crescente obrigação de trabalhar com os países de língua portuguesa. Temos um conjunto de protocolos de cooperação que prevê troca de programas. Mais uma vez, os documentários são dos melhores exemplos, porque explicam cultura e tradições, história, situação económica e social de Macau, coisas que podem interessar às pessoas.
E aumentar a produção de conteúdos em língua inglesa?
É mais fácil porque temos meios humanos. São conteúdos importantes porque uma parte relevante do público de Macau não fala qualquer uma das línguas oficiais. E não são tão poucas pessoas quanto isso, vindas de tantas origens como Filipinas, Indonésia, Singapura, Malásia, Canadá, EUA, Japão, Coreia do Sul, Vietname, Nepal, Europa. É imperativo falarmos para estas comunidades, porque são as menos integradas em Macau. Desconhecem a situação local, as leis, o modelo de organização social, não sabem para onde se voltar quando têm um problema. São quem mais precisa de serviço público. Na rádio, aliás, já fazemos um programa em bahasa indonésio e estamos a trabalhar para ter em breve outro em tagalo (Filipinas). O “Telejornal” em inglês tem uma política editorial diferente da edição em português, precisamente porque as comunidades que percebem inglês necessitam que lhes expliquem Macau. Portanto, por um lado ajudar a integração destas comunidades, por outro contribuir para que tenham voz e sejam ouvidas.
Como vai ser a formação de quadros dentro da cooperação com os países lusófonos?
A ideia é virem até Macau pessoas destes países – em alguns casos de televisão, noutros de agências de notícias– para receber formação durante duas semanas, on the job, porque é a trabalhar que se aprende. Depois regressam aos países de origem levando essa formação e também equipamento básico: uma câmara com qualidade para emitir em televisão e um sistema informático de edição de imagem e som.
A TDM – Teledifusão de Macau, S.A. é uma sociedade comercial, cujos accionistas são dez entidades públicas
– Colaboradores no quadro da empresa: 628
– Orçamento para 2013: MOP 322.096.000
– Lucros em 2013: MOP 18.733.707
– Canais de TV: 6 (TDM – Ou Mun, Canal Macau, TDM Informação, TDM Desporto, TDM HD e Ou Mun – Macau)
– Canais de rádio: 2 (Ou Mun Tin Toi FM 100.7 e Rádio Macau FM 98)
– Plataformas digitais: 3 (www.tdm.com.mo, mobile.tdm.com.mo e TDM Info App)