Texto Eduardo Lobão, em Luanda
Exclusivo Lusa/MACAU
A história do Hospital Geral de Luanda (HGL), em Angola, começou a ser contada em 2006, com a inauguração do seu primeiro edifício. Todavia, o hospital acabaria por encerrar, uns anos depois, e o edifício demolido, devido a problemas detectados na construção.
A segunda vida do HGL começou em Abril de 2012, quando Angola e China assinaram em Pequim um memorando de entendimento que formalizou a revisão do plano de construção do projecto de reabilitação, construção e ampliação da nova unidade, para substituir a construída em 2006.
O local é o mesmo da primeira versão, a comuna de Camama, no município de Belas, cerca de 45 quilómetros a sul de Luanda. A China pagou todas as despesas de demolição do antigo hospital e construção da nova unidade, num total que o semanário angolano O País, na sua edição de 13 de Janeiro de 2012, fixou em 200 milhões de dólares, incluindo-se nesta verba também o equipamento hospitalar.
Triplo do tamanho, triplo de camas
O novo HGL está actualmente a cerca de 70 por cento da sua totalidade, estando-se na fase de acabamentos e instalação de equipamentos. Além das cinco especialidades básicas definidas pelo Ministério da Saúde – pediatria, medicina, obstetrícia e ginecologia, cirurgia e ortopedia – o HGL terá mais 11, entre as quais fisioterapia, oftalmologia, hemodiálise e cuidados intensivos.
O HGL vai servir uma área em que vive actualmente um milhão de pessoas, com tendência para aumentar muito mais à medida que as novas centralidades forem sendo concluídas, tendo por essa razão Angola decidido demolir a antiga unidade e construir de raiz uma nova, aproveitando ainda para alterar profundamente muitas das características da versão de 2006.
Assim, aos cerca de 8000 metros quadrados originais, o novo HGL contrapõe 22 mil e enquanto anteriormente existiam 100 camas, este vai ter 329. Consequentemente, esse crescimento terá efeitos no orçamento mas que terá de começar a ser encarado com o preenchimento do futuro quadro de pessoal. Em 2006 estava previsto um quadro de pessoal de 420 funcionários, entre médicos, pessoal administrativo e técnicos de diagnóstico terapêutico e de apoio. A nova unidade terá pelo menos 1300 trabalhadores. O serviço auxiliar será contratado em regime de outsourcing.
Cubanos como solução
Uma das dificuldades que o HGL vai sentir reside na contratação de médicos, reflectindo afinal a falta de quadros em Angola. A solução deverá ser o reforço do actual esquema de contratação de médicos cubanos, juntando-se aos mais de um milhar que trabalha actualmente em Angola, reforçando a resposta do Serviço Nacional de Saúde às necessidades da população. Além da vinda de mais médicos cubanos, outro mecanismo de preenchimento das vagas reside nos clínicos recém-formados pelas faculdades de Medicina da Universidade Agostinho Neto e do Instituto Piaget, o que obrigará ao lançamento de um concurso público especial.
Ao longo destes três anos de construção, o HGL assegurou cobertura médica nas especialidades de medicina, cirurgia e ortopedia, para além de casos de urgência de pediatria. A necessidade de assegurar à população que vive próximo cobertura médica levou a instalação provisória de tendas em que, paradoxalmente, o número de actos médicos foi superior ao período de cerca de quatro anos em que o hospital funcionou antes de ser encerrado.
Tendo sido decidida a demolição da anterior estrutura e dado o carácter provisório da medida alternativa encontrada, com a instalação das tendas, a opção foi de privilegiar a construção do edifício do hospital que receberá o banco de urgência. No final de 2012 foram então instaladas 70 camas, e também um bloco operatório que posteriormente deixou de funcionar à medida que outros hospitais provinciais que se encontravam em fase de acabamento ficavam concluídos. No total foram efetuados mais de 230 mil actos médicos, com uma média diária de 400 doentes.
Equipas multidisciplinares
O HGL é um projecto chave na mão, e desta vez as autoridades chinesas trataram de assegurar que os erros cometidos na primeira construção não se repetissem. As grandes diferenças entre os dois projectos foram a criação de equipas multidisciplinares, com a participação da direcção do hospital, que vai já na quinta equipa desde 2006.
O Instituto de Arquitectura e Design de Pequim participou no novo projecto, e os resultados foram evidentes e reconhecidos por Angola. Por exemplo, na implantação das fundações, o estudo dos solos foi feito com mais precisão, o que permitiu referenciar a existência de várias linhas de água subterrâneas e, relativamente aos vários edifícios que foram o conjunto do HGL, optou-se por deixar uma junta de dilatação, para prevenir que em caso de derrocada não se verifique o efeito dominó. Esta solução não foi considerada na primeira versão, o que afectou a estrutura criada.
Do lado angolano reconheceu-se o esforço da China, registando-se as vistorias técnicas segundo padrões internacionais. Para além destas diferenças, outra marca distintiva do novo projecto foi a instalação na zona de obras de um secretário da Embaixada da República Popular da China, para acompanhar em permanência a evolução do projecto.
A obra, que deverá ser inaugurada ao longo do primeiro trimestre de 2015, está a cargo da China Tiesiju Civil Engineering Group, uma subsidiária da China Railway Engineering Corporation, responsável pela recuperação no pós-guerra da maior parte das linhas férreas em Angola.