A cooperação começa com um sorriso

Recebe 300 emails por dia e garante que nenhum fica sem resposta. Organiza grandes eventos, tudo com uma alegria inabalável e uma dedicação total.

 

Rita Santos

Secretária-geral Adjunta e Coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum Macau

 

FM_Rita Santos

 

Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Começou a trabalhar no projecto do Fórum Macau em 2003. Como surgiu a oportunidade?
Estava a trabalhar no Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) como administradora. Em Outubro de 2002, surgiu um convite pelo então Chefe do Executivo, Edmund Ho, e pelo secretário da Economia e Finanças, Francis Tam. Hesitei um bocadinho, porque era uma ideia nova, queriam que Macau fosse o ponto de encontro da China e os sete países de língua portuguesa. Um projecto que a República Popular da China também queria ver avançar.

 

Mas aceitou.
Sim. Era um desafio grande, partir do zero. Éramos só seis funcionários, num espaço cedido pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM). Poucos dias depois de começar, tive logo de ir a Pequim para reunir com o Ministério do Comércio e embaixadores dos países de língua portuguesa, para abordar a hipótese da criação do Fórum. Graças a Deus, todos os países de língua portuguesa têm um certo carinho a Macau, assim como o Governo Central. Foram vários meses de muitos trabalhos de preparação para a Conferência Ministerial de 2003, em Macau. Realizou-se em Outubro, com a participação de ministros e a presença do vice-primeiro ministro chinês, resultando na assinatura conjunta do primeiro plano de acção e, também, no estabelecimento do Secretariado Permanente em Macau.

 

Foi importante para si?
Muito. E não só para mim. Ainda me lembro que uma das minhas colaboradoras, por causa do excesso de trabalho, foi hospitalizada. No dia da conferência, transmitida em directo, ela ligou a TV e até chorou quando viu a assinatura do plano de acção, que garantia a constituição do Secretariado Permanente e reconhecia o papel de Macau como plataforma. Ligou para mim emocionada, dizendo “viva, viva”. A partir daí não parámos mais de trabalhar.

 

Por que trocou a situação confortável de administradora no IACM por um desafio novo, logo arriscado?
Quando estava no IACM, também tinha sob minha supervisão a divisão de Relações Públicas. O Leal Senado e o IACM organizavam reuniões da União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas. Eu tinha oportunidade de contactar com todos os países de língua portuguesa. Ainda hoje mantenho esses contactos.

 

Já tinha a rede estabelecida.
Já. Quando me convidaram foi por ter essa rede de contactos e a facilidade na língua portuguesa. Efectivamente fiz uma boa opção.

 

Mas isso não sabia na altura.
Sim, era um risco. Até houve uma pessoa, depois de ser público que tinha aceite o convite, a escrever num jornal que eu estava a ser posta na prateleira. Hoje parece-me claro que foi um reconhecimento à minha  pessoa, ao meu contributo à função pública e à sociedade de Macau. Em todas as etapas da minha vida na função pública – e já são 32 anos – percorri muitos serviços, desde auditora de contas na Direcção de Finanças a responsável pela área administrativa e financeira na Universidade de Macau, de chefe de departamento a subdirectora, directora e por fim administradora no Leal Senado/IACM. Tudo o que aprendi criou uma base sólida para o que faço – hoje preciso de contactar todos os serviços públicos. Qualquer grupo dos países de língua portuguesa, tanto governamental como empresarial, quer trocar experiências com os diversos serviços públicos de Macau. Mal recebo esses pedidos, sei logo para onde devo encaminhá-los.

 

Quais as suas principais funções?
O meu trabalho é muito vasto, embora só uma pequena parte seja divulgada na comunicação social. Todos os dias respondo a pelo menos 300 emails, vindos dos PLP. Pedem informações para estabelecer uma empresa em Macau, como encontrar parceiros de negócio, colaboração entre universidades, na área da alfândega, na indústria do jogo etc.. Também alguns jovens a procurarem emprego. O meu trabalho é o contacto com os países de língua portuguesa, a China e os membros do secretariado permanente.

 

Coordenação mas também dinamização?
Sim. E outro aspecto é a organização das actividades e a preparação de todo o apoio logístico para o funcionamento do secretariado aqui em Macau: organização de eventos, feiras, cursos de formação, apoio a empresários e a associações. Em 2003 ainda havia poucas associações com confiança no Fórum. Hoje, fico contente porque todos os países de língua portuguesa têm um grupo de pessoas residentes permanentes em Macau. Temos as portas abertas para os empresários.

 

Ao longo destes quase dez anos no Fórum, quais foram os seus principais sucessos no cargo?
Não posso dizer que são os meus êxitos, porque o Fórum é um trabalho colectivo.
Aqueles em que esteve mais directamente envolvida.
A 3ª Conferência Ministerial, em 2010, porque elevou o nível dos representantes  de ministros a primeiros-ministros. Conseguimos organizar essa actividade com um grande esforço conjunto, obtendo um impacto mundial. Foi um reconhecimento oficial da importância do Fórum por parte da China e dos países de língua portuguesa.

 

Quando era mais nova, com que profissão sonhava?
Quando era pequenina, queria ser gerente-geral de uma empresa.

 

Então correu bem.
Pois correu (risos). Lembro-me de ver filmes, ainda a preto e branco, e quando mostravam um gerente-geral de uma empresa ele estava sempre numa sala enorme, com uma  grande secretária. E eu dizia ao meu pai que um dia queria ser assim.