“Há muitas potencialidades por explorar”

As trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa têm superado todas as metas estabelecidas, mas para o líder do Fórum Macau esse caminho está apenas a começar

 

Chang Hexi

Secretário-geral – Fórum Macau

FM_Chan

 

Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Licenciado em Língua Portuguesa pela Faculdade de Letras de Lisboa, Chang Hexi desempenhou missões diplomáticas em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Foi nomeado secretário-geral do Fórum Macau pelo Ministério do Comércio da China, em 2009, cargo que desempenha até hoje.

 

Como analisa a evolução do papel do Fórum desde que foi criado?

Os contactos entre China, Macau e países de língua portuguesa (PLP) não pararam de crescer, tem sido um desenvolvimento bastante rápido. E isto tanto a nível das instituições e dos empresários, e das instituições, como no que diz respeito ao volume das trocas comerciais. Trata-se de uma evolução muito positiva.

 

Como explica esse resultado?

Só foi possível graças aos esforços conjuntos dos Governos da RAEM, da China e dos países de língua portuguesa, assim como de todas as outras pessoas envolvidas, dos empresários até à comunicação social, que divulga as acções do Fórum. Além disso, apesar de já haver um volume de negócios muito grande entre a China e os países de língua portuguesa, ainda existe espaço para um crescimento maior. Há muitas potencialidades por explorar.

 

Como é que o Fórum ajudará a explorar essas potencialidades?

Temos muitos contactos com empresários da China, mas mantemos a impressão que há ainda um grande número de empresários chineses que desconhecem o mercado dos países de língua portuguesa. É aqui que intervimos. Os empresários mostram vontade de sair da China para investir, mas falta muita informação. Por isso, fizemos grandes esforços para mostrar as oportunidades de negócio, estimulando-as através da divulgação e esclarecimento sobre os mercados dos  países de língua portuguesa.

 

E o contrário também, com sessões para empresários dos países de língua portuguesa investirem na China?

Sim, sim, fazemos sempre isso, funciona nos dois sentidos. Este trabalho faz parte do nosso programa de actividades anual, onde estimular a cooperação comercial é a fatia mais importante. A nossa acção centra-se em três pontos principais: promover a cooperação comercial (participação em feiras internacionais, por exemplo), visitas aos países de língua portuguesa (falando com instituições económicas e empresários locais) e a ajuda directa a empresários da China e dos países de língua portuguesa, em particular no estabelecimento de contactos para iniciarem parcerias.

 

Quais os principais objectivos do Fórum para o futuro? 

Sem dúvida continuar a promover a cooperação económica, seguindo o que está previsto no último plano de acção. No fundo, o que vai ser feito é pormenorizar gradualmente as linhas de acção gerais já definidas. Pensarmos ao pormenor o que vai ser feito para cada sector.

 

Como é a recepção ao papel do Fórum pelos países de língua portuguesa?

Ao longo destes anos, os Governos dos países de língua portuguesa têm-lhe dado muito apoio. Reconhecem a sua utilidade para estreitar os laços de cooperação. E cada vez mais. Há um desejo explícito e unânime de fazer crescer essa proximidade.

 

A mudança de liderança na China pode afectar a relação do Governo Central com o Fórum?

Não creio, a estratégia para o Fórum já está definida a longo prazo. Há uma grande estabilidade.

 

Com carreira na diplomacia, trabalhou nas embaixadas de Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Como foram essas experiências?

Tenho um grande sentimento por esses países. Tal como por Portugal, onde estive a estudar português. A experiência ajudou-me bastante no trabalho que realizo agora. Em 1985, ainda muito jovem, fui para lá no âmbito de um quadro de cooperação na área da educação entre Portugal e a China. Gostei muito.

 

Ao lidar com culturas tão diferentes, quais são os entraves?

Existem diferenças culturais entre os povos, mas havendo sinceridade e respeito mútuo, todas as diferenças são ultrapassáveis.

 

O que aprendeu ao viver de perto com os povos dessas nações e como aplica essa experiência na liderança do Fórum?

Conheço muito bem a situação económica e social desses países, sei bem o que desejam os seus Governos. Por isso, a minha acção no Fórum privilegia as oportunidades de cooperação nas áreas em que os Governos de cada país estão mais interessados. Por exemplo, para os países de língua portuguesa africanos, as prioridades estão nas infra-estruturas, na agricultura, nas fábricas de processamento. Portanto, transmito aos empresários da China essa informação e as oportunidades que existem. Em relação a Portugal, já faço uma promoção maior, neste momento, de vinhos e produtos alimentares. E, claro, fazendo todas estas promoções perante empresários que, sabendo das oportunidades, são mesmo potenciais investidores.

 

Da China aos países de língua portuguesa, há diferentes estratégias de comércio externo. Como podem ser todas bem sucedidas no quadro de cooperação estimulado pelo Fórum?

Cada país tem áreas específicas onde quer expandir a cooperação e a China está receptiva praticamente em todas essas áreas. Há um dado fundamental, repito, para justificar o optimismo: tanto a China como os países de língua portuguesa acreditam que a cooperação tem ainda um enorme potencial por explorar e querem continuar a investir nesse caminho.