Conde de São Januário

Entre a tradição e a inovação

O CHCSJ é actualmente composto por cinco edifícios principais
Novas tecnologias, digitalização, serviços médicos optimizados e reconhecimento internacional. É com nota máxima que o Centro Hospitalar Conde de São Januário comemora este ano o 150.º aniversário

Texto Tony Lai

No ano em que celebra 150 anos, o Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) mantém-se fiel à missão de prestar “tratamento adequado e prevenção prioritária” à população de Macau. A instituição, porém, não ficou parada no tempo: a expansão das instalações, a introdução de novas tecnologias e a aposta na inovação são alguns dos avanços que garantem que o complexo hospitalar se mantém relevante e contemporâneo no século XXI.

Para muitos, o CHCSJ é um testemunho da evolução e dedicação de uma instituição de saúde que não só resistiu aos desafios do tempo, mas também cresceu com Macau.

Construído em 1874, como um hospital militar no topo da Colina da Guia, o CHCSJ é actualmente um hospital público moderno que, ainda hoje, constitui o centro nevrálgico dos serviços médicos de Macau.

De acordo com os Serviços de Saúde, o CHCSJ disponibiliza actualmente 29 especialidades e 24 subespecialidades. Para além de prestar serviços de consultas externas de especialidade, serviços de urgência e de internamento hospitalar, a instituição disponibiliza ainda serviços de hospital de dia, serviços de hemodiálise e serviços médicos especializados de proximidade.

Em 2023, o número de consultas externas de especialidade, serviços de urgência e de internamento no hospital atingiu os 805 mil atendimentos.

Com mais de 1100 camas, o CHCSJ representava, em 2023, mais de 57 por cento do total de camas de internamento em Macau, antes do novo Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas – Centro Médico de Macau do Peking Union Medical College Hospital (Hospital Macau Union) entrar em pleno funcionamento este mês de Setembro.

As equipas médicas do hospital têm recorrido à cirurgia robótica para realizar várias operações

A Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) conta actualmente com cinco hospitais: duas instituições públicas e três complexos privados.

Segundo as autoridades de saúde, após várias obras de remodelação e ampliações, o CHCSJ tornou-se gradualmente numa parte importante dos cuidados de saúde diferenciados de Macau.

A instituição criou vias verdes e um sistema de indicadores para os serviços de cuidados de saúde de emergência, nomeadamente enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral, traumatismo grave e reanimação cardiopulmonar, bem como um sistema eficaz de monitorização e avaliação da qualidade, de modo a elevar a taxa de sobrevivência e de recuperação do utente.

Actualmente, os indicadores para tratamento de doenças graves, incluindo o tempo de resposta, o tempo de contacto inicial, o tempo desde a chegada ao hospital até à medicação e a taxa de trombólise “já atingiram o nível dos países avançados”, realçam os Serviços de Saúde. 

“O CHCSJ tornou-se num hospital público moderno com 29 especialidades, mais de 1100 camas hospitalares e cerca de 2800 funcionários, sendo uma parte indispensável do sistema de serviços médicos de Macau”, afirmou Alvis Lo Iek Long, director dos Serviços de Saúde, durante a cerimónia de aniversário do CHCSJ, realizada em Junho. “O sistema de gestão hospitalar tem sido aperfeiçoado de forma contínua e a qualidade e a eficiência dos serviços têm vindo a aumentar.”

Remodelação e expansão

A actual escala do CHCSJ, composto por cinco edifícios principais, foi ganhando forma gradualmente após grandes remodelações efectuadas ao longo dos anos. 

Estes incluem o Edifício da Clínica Médico-Cirúrgica, o Edifício da Clínica Obstétrica e Pediátrica, o Edifício de Consultas Externas, reconstruído na década de 1980, e o Edifício do Serviço de Urgência, construído em 2013.

A instituição possui um sistema informático de cuidados de enfermagem móveis

Para fazer face à crescente procura de cuidados de saúde e a eventuais cenários de pandemia, foi concluída, em Outubro de 2023, a última expansão do CHCSJ, com a inauguração do Edifício de Especialidade de Saúde Pública. Esta mais recente estrutura de oito andares conta com 80 quartos individuais de isolamento de última geração e 160 camas, meticulosamente concebidas em conformidade com protocolos de prevenção e controlo de doenças infecciosas da Organização Mundial de Saúde – este edifício inclui um sistema de filtragem de ar de alta eficiência, sistema de desinfecção por raios ultravioletas e controlo de pressão negativa e de fluxo de ar nas enfermarias.

A entrada em funcionamento deste novo edifício representou um avanço significativo na capacidade de isolamento em Macau, atingindo um novo patamar no que respeita à salvaguarda da saúde e da segurança da vida da população de Macau.

Chan Iek Lap, deputado e presidente da Associação Geral do Sector da Medicina de Macau, afirma que o hospital se tem tornado mais relevante nos últimos anos, nomeadamente durante a pandemia da COVID-19, quando os residentes tiveram de recorrer mais frequentemente aos cuidados médicos na cidade. “Tanto o CHCSJ como o sistema de saúde local geriram eficazmente o aumento da procura durante a pandemia”, diz Chan Iek Lap em declarações à Revista Macau.

“A melhoria e expansão das instalações do CHCSJ ao longo dos anos tornaram os cuidados médicos avançados mais acessíveis ao público”, frisa o deputado, referindo a evolução dos equipamentos e serviços do hospital nos últimos anos, bem como a criação de emprego e mais formação para os profissionais de saúde, “que têm a oportunidade de ganhar experiência em disciplinas médicas mais diversas”.

Chan Iek Lap, que é também médico, sublinha que o sistema de saúde de Macau é composto por três elementos principais, incluindo entidades governamentais, instituições privadas de saúde e as clínicas e entidades de saúde sem fins lucrativos. “O CHCSJ, sendo o único hospital público da cidade antes da entrada em funcionamento do Hospital Macau Union, tem sido fundamental na satisfação das necessidades médicas do público ao longo dos anos”, sublinha.

Cuidados destinados aos idosos

Face ao envelhecimento da população de Macau, o CHCSJ tem adaptado os seus serviços para prestar os melhores cuidados possíveis à população idosa. No final de 2023, indivíduos com 65 ou mais anos representavam cerca de 14 por cento da população da cidade, segundo dados oficiais, valor que deverá ultrapassar os 21 por cento até 2029, de acordo com as “Projecções da População de Macau (2022-2041)”, publicadas pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos.

Em 2011, o CHCSJ começou a prestar serviços de consulta de memória para idosos e de tratamento psicológico e medicamentoso. Posteriormente, foram criados o Centro de Avaliação e Tratamento da Demência e o Centro de Apoio à Demência, e entrou em funcionamento a consulta externa de especialidade de geriatria, proporcionando serviços de diagnóstico e terapêutica “one-stop”, grupos cognitivos, cursos de educação e treino sobre demência, bem como serviços de apoio mais abrangentes para os doentes com demência de grau leve a moderado e as suas famílias.

A instituição implementou um serviço de consulta externa à distância nos lares de idosos

Além disso, o CHCSJ promove activamente os serviços médicos de proximidade, os quais abrangem geriatria, psiquiatria, cirurgia geral, pneumologia, estomatologia e urologia, de forma a prestar melhores cuidados aos idosos com dificuldades de locomoção.

Com vista a prestar serviços médicos mais aperfeiçoados aos idosos, o CHCSJ lançou os “Serviços de Consultas Externas à distância nos lares”, através dos quais, com a cooperação com os lares subsidiados e com o apoio dos seus trabalhadores, pode prestar serviços médicos “one-stop”. Este programa visa aumentar a acessibilidade e a conveniência das consultas médicas aos idosos, para que os mesmos possam ter acesso aos serviços médicos de proximidade de especialidade, clínica geral e de consultas externas à distância.

Estas iniciativas têm como objectivo reduzir a frequência de entrada dos idosos nos serviços de urgência, melhorando a qualidade e a segurança dos cuidados prestados aos idosos.

Hospital inteligente

Com o objectivo de promover o desenvolvimento dos cuidados de saúde inteligentes, os Serviços de Saúde têm levado a cabo diversos trabalhos na área digital no âmbito dos serviços médicos e da gestão administrativa, a fim de elevar a qualidade e a eficiência da gestão dos cuidados de saúde.

Nesse sentido, o CHCSJ tem-se transformado num hospital inteligente com base em três pilares: optimização da gestão dos cuidados de saúde; agilização dos trabalhos de diagnóstico e terapêutica; e prestação de serviços mais convenientes aos residentes.

Os serviços de consulta externa, através de consulta externa à distância – por telefone ou vídeo –, são um exemplo do compromisso do hospital em incorporar avanços tecnológicos, posicionando-se como um prestador de cuidados de saúde inteligente e contemporâneo. 

Na cerimónia realizada em Junho, o director Alvis Lo salientou que as autoridades locais colocam “a ‘saúde da população’ numa posição importante das acções governativas”. 

“Os Serviços de Saúde continuarão a prosseguir a meta de ‘tratamento eficaz em que se privilegia a prevenção’, baseada no ideal de ‘foco nos residentes’”, realçou o dirigente. 

Além disso, acrescentou, continuará a ser “reforçada a saúde pública, os cuidados de saúde comunitários, a construção da capacidade das especialidades hospitalares, a construção de um sistema integrado de serviços médicos, a concretização conjunta da integração do tratamento médico e prevenção, o tratamento médico a diversos níveis e o desenvolvimento da medicina inteligente”.

No futuro, ressalvou Alvis Lo, com o envelhecimento da população e a prevalência de doenças crónicas, “a procura de cuidados de saúde irá continuar a aumentar”, razão pela qual o Governo está “empenhado em desenvolver a indústria da ‘big health’, que pode trazer novas oportunidades de desenvolvimento para o sector da saúde de Macau”.

A instituição possui um sistema automático de aviamento de medicamentos

Actualmente, o CHCSJ estabeleceu mais de 200 serviços clínicos que podem ser geridos através de um sistema electrónico – abrangendo, entre outros, consultas externas, serviços de urgência, internamento hospitalar, medicamentos, exames imagiológicos e cirurgias –, facilitando o acesso e a análise dos megadados médicos por parte dos profissionais de saúde.

Como parte desse esforço, todas as informações clínicas podem ser digitalizadas, a fim de concretizar a informatização dos processos clínicos, aperfeiçoando-se também a gestão administrativa, para que se possa ajustar, atempadamente, a prestação de serviços médicos e encurtar o tempo de espera.

A instituição expandiu também os seus serviços online para aumentar a comodidade do utente, permitindo a marcação de consultas externas, o encaminhamento para especialistas e a solicitação de registos médicos.

Registos electrónicos

Em Agosto de 2022, os Serviços de Saúde lançaram a plataforma de registo electrónico de saúde, utilizando a tecnologia de computação em nuvem para aumentar a velocidade de acesso aos dados e reforçar a segurança dos mesmos.

A plataforma abrange todos os hospitais da cidade e outros prestadores de cuidados de saúde privados, estando também aberta à participação de entidades privadas que prestam serviços de medicina ocidental em Macau.

A iniciativa visa proporcionar a partilha de informações de saúde entre as instituições médicas públicas e privadas, o que ajuda os residentes a fornecerem os seus dados pessoais de saúde em diferentes instituições médicas, tornando o trabalho de diagnóstico e tratamento mais seguro e contínuo, uma vez que evita o desperdício de recursos ou o risco desnecessário causado pela administração repetida de medicamentos, análises ou exames.

“Os serviços electrónicos e digitais do CHCSJ incorporam uma abordagem modernizada à prestação de cuidados de saúde, dando prioridade à eficiência, à precisão e aos cuidados centrados no utente”, nota Wong Kit Cheng, vice-presidente da Associação Promotora de Enfermagem de Macau. 

“Estas soluções tecnológicas não só aliviam a carga de trabalho das equipas médicas, como também permitem que os profissionais se concentrem mais no atendimento ao utente”.

Além disso, a introdução de um sistema móvel de cuidados de enfermagem revolucionou as práticas de cuidados aos utentes, permitindo aos enfermeiros simplificar as tarefas e reduzir o tempo de registo dos utentes de 20 minutos para cerca de seis minutos. Com a identificação electrónica do utente, este sistema aumenta a eficiência e minimiza os erros, permitindo às equipas médicas avaliar melhor as condições dos utentes, segundo os Serviços de Saúde. Além disso, os avanços tecnológicos feitos no sistema de aviamento de medicamentos permitiram reduzir os tempos de espera de 24,6 para 21,8 minutos, aumentando também a precisão de distribuição para 99,9 por cento.

Na cerimónia de comemoração do 150.º aniversário, o subdirector dos Serviços de Saúde e director do CHCSJ, Kuok Cheong U, afirmou que o complexo hospitalar introduziu novos equipamentos e alargou serviços de cuidados de saúde inteligentes, “tendo aumentado significativamente a eficácia dos serviços médicos em diversas áreas”.

Reconhecimento e inovação

A constante dedicação do CHCSJ no que toca à melhoria dos serviços continua a ter o reconhecimento internacional. Em Agosto, o hospital obteve a acreditação pelo Australian Council on Healthcare Standards (ACHSI) International, e também a classificação de “Realização Extensiva”, referente ao critério da prestação de serviços médicos “ter por base a população”. O CHCSJ tornou-se no primeiro hospital público na região da Ásia-Pacífico a receber esta classificação, segundo os Serviços de Saúde.

Neste último ciclo de acreditação, o CHCSJ cumpriu todos os 864 itens de todos os aspectos da operação hospitalar e do atendimento aos utentes.

O ACHSI é a principal organização mundial na melhoria da qualidade da assistência médica, contando com cerca de 150 membros e dedicada ao desenvolvimento de padrões médicos de excelência.

A directora executiva do organismo, Louise Cuskelly, referiu no seu discurso, aquando da entrega do certificado, que o CHCSJ “dispõe de uma forte e eficaz direcção e gestão, de um bom mecanismo de comunicação e de uma equipa médica unida, que tem capacidade para enfrentar os diversos desafios e satisfazer as necessidades dos doentes”.

A introdução de tecnologias e tratamentos médicos de última geração também ajudou a posicionar o CHCSJ como um hospital modernizado. Ao longo dos anos, a equipa de especialistas do hospital tem vindo a desenvolver novas modalidades e técnicas médicas, incluindo a estimulação cerebral profunda para tratamento da doença de Parkinson, a cirurgia de reparação da válvula cardíaca minimamente invasiva, bem como intervenções cirúrgicas complexas de aneurismas da aorta torácica e abdominal.

Além disso, o CHCSJ introduziu o sistema da cirurgia robótica de orifício de porta única, trazendo uma nova opção de tecnologia médica para o tratamento cirúrgico dos utentes com várias doenças. A RAEM tornou-se na quarta região da Ásia-Pacífico – depois do Interior da China, da Coreia do Sul e do Japão – a realizar cirurgias multiespecializadas com recurso a esta tecnologia.

A robótica de orifício de porta única é um método cirúrgico minimamente invasivo que tem vindo a ganhar relevância nos últimos anos. As equipas cirúrgicas das diversas especialidades do CHCSJ já receberam formação e adquiriram a certificação de operação com esta tecnologia cirúrgica.

Wong Kit Cheng diz esperar que o sector da saúde de Macau conheça ainda mais progressos com a entrada em funcionamento do Hospital Macau Union.

“O CHCSJ e o novo hospital têm funções distintas – o CHCSJ satisfaz as necessidades fundamentais dos residentes, enquanto a nova instituição se centra nos serviços especializados e no turismo médico. Juntos, vão complementar-se”, elabora a dirigente da Associação Promotora de Enfermagem de Macau. “O CHCSJ continuará a manter a sua posição central na cidade, garantindo a excelência contínua dos cuidados de saúde.”

Uma opinião partilhada por Chan Iek Lap: “Com o CHCSJ e outras entidades de saúde, a infra-estrutura de saúde existente em Macau satisfaz eficazmente as necessidades essenciais da população”.