Universidade de Turismo de Macau

Novo estatuto com ambição renovada

O Instituto de Formação Turística de Macau (IFTM) é, desde 1 de Abril, a Universidade de Turismo de Macau (UTM). Com o estatuto revisto, a instituição de ensino superior começa uma nova etapa com os objectivos traçados: a expansão da oferta curricular, uma maior aposta na investigação e o aumento do número de vagas, diz a reitora, Fanny Vong Chuk Kwan, em entrevista à Revista Macau

Texto Stephanie Lai
Fotografia Cheong Kam Ka

A instituição que lidera tem desde Abril o estatuto de universidade. Em termos concretos, o que mudou com a alteração do vosso regime jurídico?

Estamos felizes com esta alteração e toda a equipa está entusiasmada com este reconhecimento do Governo de Macau e da sociedade em geral. Como universidade, vamos ser proactivos na ampliação da oferta curricular, tanto na criação de novas disciplinas, como na expansão dos cursos para estudantes matriculados em programas de licenciatura, mestrados e doutoramentos.

Outro dos nossos objectivos é aumentar o número de estudantes na nossa instituição, para que possamos oferecer uma educação de qualidade a um maior número de alunos. Assim, se, por um lado, contamos receber um maior número de estudantes locais – a quem damos prioridade –, por outro, esperamos também acolher mais estudantes do exterior, como do Interior da China e de outras regiões.

Em terceiro lugar, precisamos de reforçar o nosso corpo docente. Depois de nos tornarmos numa universidade, continuamos a defender o princípio de uma oferta educativa de qualidade, incluindo no que diz respeito à investigação. Isto exige que tenhamos um corpo docente de elevada competência para assegurar a qualidade do ensino, mas também para melhorar as nossas capacidades de investigação de forma a corresponder ao estatuto de universidade.

Estes objectivos seguem uma orientação específica que passa por contribuir para o desenvolvimento do País e de Macau.

Em termos da expansão da oferta curricular, o que está a ser planeado?

O estatuto do IFTM tem um objectivo muito claro para a instituição, que é servir [através do desenvolvimento académico e do ensino] os sectores de turismo, hotelaria e serviços. No âmbito do nosso novo regime jurídico [como universidade], este objectivo é alargado para incluir também os domínios da cultura, indústria das exposições e convenções e comércio. Nesse sentido, na altura de definir novos cursos, vamos focar-nos mais nestas novas áreas. A indústria das exposições e convenções é uma disciplina que já faz parte dos nossos cursos de licenciatura, mas, agora, como somos uma universidade, vamos expandir a oferta nesta área através da criação de um curso de mestrado ou mesmo de doutoramento.

No que toca ao comércio e serviços, depois de nos termos tornado numa universidade, vamos lançar o Doutoramento em Gestão de Empresas em Agosto, quando tem início o próximo ano académico.

Quanto à cultura, estamos a ponderar se podemos – com base no facto de já termos uma licenciatura em Ciências da Gestão Cultural e Patrimonial – lançar mais cursos sobre preservação e restauro do património cultural.

Qual a dimensão do vosso corpo docente e quantos estudantes estão actualmente matriculados na instituição?

Actualmente, contamos com pouco mais de 100 docentes. O número de estudantes matriculados nos nossos cursos de licenciatura e pós-graduação é superior a 1800. Este número não inclui alunos registados na nossa Escola de Educação Contínua, que todos os anos admite mais de 10.000 estudantes em vários cursos profissionais de curta duração. No último ano académico, tivemos cerca de 15.000 estudantes [matriculados na Escola de Educação Contínua].

Qual a proporção de alunos locais entre os 1800 estudantes matriculados na instituição?

A proporção de estudantes locais para não locais é equilibrada, com cerca de metade do corpo estudantil composto por alunos locais. Nos primeiros anos, a proporção de estudantes locais nas várias instituições de ensino superior de Macau era mais elevada, chegando a cerca de 70 por cento [de todos os estudantes]. Mas, como o número de estudantes do ensino secundário tem vindo a diminuir em Macau – embora agora tenha estabilizado –, prevemos que haverá quotas [de admissão] não utilizadas para estudantes locais, que poderão eventualmente ser utilizadas para recrutar mais estudantes não locais.


“Vamos ser proactivos tanto na criação de novas disciplinas, como na expansão dos cursos de licenciatura, mestrados e doutoramentos”

FANNY VONG CHUK KWAN
REITORA DA UNIVERSIDADE DE TURISMO DE MACAU

Espera que esta proporção de estudantes locais e não locais se mantenha estável nos próximos anos?

Olhando para a composição do nosso corpo estudantil, metade é local e a outra metade diz respeito a estudantes não locais, maioritariamente do Interior da China. No que toca aos nossos alunos de mestrado e doutoramento, o número de estudantes não locais – especialmente os do Interior da China – é relativamente elevado.

No futuro, à medida que lançamos mais cursos, incluindo de mestrado e doutoramento, prevemos que o número de estudantes do Interior da China vá aumentar.

Na última década, a instituição tem acolhido mais estudantes da região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ou da Ásia em geral?

Os estudantes do Interior da China são, de facto, a principal fonte dos nossos estudantes não locais e são maioritariamente da província de Guangdong, que inclui as nove cidades da região da Grande Baía. Essa estrutura é uma tendência que tem continuado ao longo dos anos.

Que disciplinas contam com mais estudantes locais? E quais as disciplinas mais procuradas pelos estudantes do Interior da China?

Para os nossos cursos de graduação e pós-graduação, os estudos mais populares – também tradicionalmente os nossos pontos fortes – são os relacionados com gestão de turismo e gestão hoteleira, que estão disponíveis desde a nossa fundação. Nos últimos anos, vimos que as licenciaturas em gestão de artes culinárias e em gestão de eventos também se tornaram populares. Julgamos que esta é uma tendência que reflecte de perto as necessidades económicas de Macau, especialmente porque a cidade está a impulsionar novas áreas de desenvolvimento económico, nomeadamente no que diz respeito ao comércio, eventos e turismo integrado no âmbito da iniciativa de diversificação económica “1+4”.

Um dos objectivos que referiu foi o reforço da área da investigação, o que irá implicar um maior número de docentes. Como pretendem concretizar esta meta?

Este passo depende das disciplinas, visto que para algumas que são altamente especializadas, como gestão de artes culinárias ou restauro de património cultural, as exigências em termos de qualificações técnicas e desempenho académico serão elevadas. Mas continuaremos, como sempre temos feito, a recrutar docentes a nível global. À medida que Macau se tem tornado mais reconhecida internacionalmente, temos recebido mais candidaturas [de docentes] e a partir daí seleccionamos os candidatos mais adequados para o que pretendemos com a nossa oferta curricular.

Para além da forte componente em termos de gestão de turismo e gestão hoteleira, a instituição tem procurado alargar o leque da oferta curricular. Qual tem sido a vossa estratégia para adaptar a oferta aos tempos actuais?

O nosso princípio é sempre servir as necessidades do País e de Macau, nomeadamente na formação de profissionais do sector do turismo. Assim, mesmo quando alargamos a nossa oferta curricular, partimos da ideia de que os novos cursos devem complementar a oferta já existente e contribuir para o desenvolvimento do turismo.

Não podemos olhar apenas para os estudos ligados ao turismo de uma forma tradicional – tratando-se apenas de alguns cursos técnicos e práticos. As novas tendências em temos de tecnologia, como a inteligência artificial e a “big data”, são elementos que podem complementar os estudos relacionados com o turismo. Assim, há um ou dois anos, começámos a introduzir cursos de mestrado que cruzam estudos de turismo com tecnologia, como o nosso mestrado em Ciências de Tecnologia Inteligente em Hotelaria e Turismo e o mestrado em Ciências de Marketing Digital e Análise.

Continuamos a dar prioridade aos estudos de turismo e hotelaria, que constituem, em si, um assunto amplo que abrange muitos domínios. Por isso, temos também em consideração as necessidades de recursos humanos do mercado e da sociedade em geral e concebemos os nossos cursos em conformidade.

Acreditamos que a nova oferta também será apelativa para os estudantes da região da Grande Baía, porque vai ao encontro da procura por recursos humanos nesta região.

A Universidade de Turismo de Macau prepara novos cursos já para o próximo ano académico

Que impacto teve a política que posicionou Macau como a “Base para a Educação e Formação Turística da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau” e que papel tem a instituição desempenhado nesse sentido?

Este posicionamento [para Macau] foi muito bem concebido, demonstrando a atenção que o País deu aos anos de experiência e às vantagens competitivas de Macau no turismo e no desenvolvimento cultural, visto que a cidade tem vários complexos turísticos de classe mundial e conseguiu construir uma imagem positiva como cidade turística. Macau também apresenta vantagens em termos de educação turística.

À nossa instituição cabe a tarefa de desenvolver Macau no sentido de se tornar uma base para a formação turística na Grande Baía. Nesse âmbito, criámos vários centros de colaboração e bases de formação nas cidades da Grande Baía: por exemplo, criámos um centro de formação em Hengqin e um centro de colaboração na cidade de Zhuhai; também temos centros de formação em Shunde [na cidade de Foshan] e em Nansha, parte de Guangzhou.

Através destes centros, organizamos cursos de formação com os nossos parceiros locais e realizamos alguns intercâmbios profissionais. O objectivo é elevar os padrões de serviço [no turismo] na região da Grande Baía.

Enviamos alguns dos nossos docentes para estes centros de formação, cabendo aos nossos parceiros locais observar as necessidades de recursos humanos dos hotéis e outras instituições turísticas nas respectivas jurisdições, para que, conjuntamente, organizemos sessões [de formação] em conformidade com a procura do mercado.

Temos também trabalhado com os operadores de turismo e lazer integrado em Macau, que enviam os seus quadros superiores ou outros profissionais experientes do sector para participarem em algumas sessões de partilha com os profissionais locais nesses centros de formação, sobre temas que incluem a experiência na gestão de resorts de classe mundial.

Desde que assumimos este papel no contexto da Grande Baía, mais de 8000 pessoas participaram nas sessões de formação, intercâmbio e investigação que temos desenvolvido ao longo dos anos. O nosso papel não se limita apenas à formação profissional, mas também à condução de projectos de investigação em conjunto com algumas universidades da Grande Baía que se dedicam ao turismo. Promovemos também intercâmbios para estudantes de Macau, para que possam conhecer o desenvolvimento cultural e turístico no Interior da China e as oportunidades que se podem aproveitar.

Para além de ministrarem formação, os nossos docentes são também encorajados a participar em intercâmbios na Grande Baía, para que possam aprender alguns conceitos novos que não tenham ainda sido observados em Macau.

A instituição tem actualmente pólos universitários em Macau e na Taipa. O espaço é suficiente para as necessidades educacionais ou pretendem expandir o vosso campus?

O espaço que temos actualmente tem sido suficiente para as nossas necessidades: mais de 1800 estudantes em cursos de licenciatura e pós-graduação, mais de 10.000 alunos nos cursos de educação contínua, cerca de 100 professores e 200 funcionários. Porém, como universidade, é claro que desejamos oferecer um ambiente de aprendizagem agradável e amplo aos nossos estudantes, onde possam fazer a sua investigação e participar em actividades extracurriculares em grupo. Isso é muito importante para cultivar a criatividade. Esperamos que, no futuro, possamos ter mais espaços para criar um melhor ambiente em termos pedagógicos.

Estamos actualmente a realizar algumas obras de remodelação no nosso campus da Taipa, onde existe um edifício que ainda não foi totalmente utilizado. Após a conclusão das obras, teremos mais alguns andares [no edifício] que poderão ser usados. Hengqin é também um local que temos em consideração para expandir o nosso campus e esperamos por oportunidades nesse sentido.