Texto José Paulo Machicane
Exclusivo Lusa/Revista Macau
Macau está pronto para receber os produtos moçambicanos e servir de ponto de entrada das exportações do país africano para a China e Hong Kong, disse em Maputo a vogal executiva do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Echo Chan, durante o “Seminário sobre a cooperação económica, comercial e de serviços” entre a Província de Guangdong, a Região Administrativa Especial de Macau e Moçambique, realizada a 25 de Julho na capital moçambicana.
Echo Chan acredita que os vínculos históricos entre Macau e os países de língua portuguesa, aliados à sua localização geográfica, conferem à região uma posição natural de plataforma à penetração dos produtos moçambicanos na China e em Hong Kong. “Macau poderá servir de projecto-piloto para os produtos e serviços de Moçambique entrarem no mercado do Interior da China. As empresas da província poderão igualmente estabelecer relações com as empresas dos países de língua portuguesa, através da plataforma de Macau ou por intermédio das convenções e exposições de natureza económica e comercial”, disse a vogal executiva do IPIM.
Segundo Echo Chan, a proximidade com Macau e o potencial industrial da Província de Guangdong oferecem à economia moçambicana uma forte oportunidade de se internacionalizar e é também uma opção para que as empresas moçambicanas estabeleçam parcerias com os seus colegas chineses.
O comércio geral de Macau, principalmente o sector de venda a retalho, que arrecadou 1,2 mil milhões de dólares só no primeiro trimestre deste ano, e o turismo, com mais de oito milhões de visitas nesse período, são algumas das áreas que oferecem oportunidades de negócios aos investidores moçambicanos e dos países lusófonos em geral.
Oportunidades infinitas
Por seu turno, o director do Departamento de Cooperação Económica e do Comércio Externo do Governo da Província de Guangdong, Chen Xuequin, considera “infinitas” as oportunidades de negócios entre a China e os países de língua portuguesa, apontando as parcerias entre os empresários dos dois blocos como o caminho para o desenvolvimento económico e empresarial.
“Há oportunidades na agricultura, indústrias, infra-estruturas e comércio geral. A ideia é que os nossos parceiros estrangeiros tirem proveito do princípio ‘um país, dois sistemas’”, disse Chen Xuequin.
O director do Departamento de Cooperação Económica e do Comércio Externo do Governo da Província de Guangdong sublinha a necessidade de os investimentos chineses em Moçambique não perderem de vista a promoção do desenvolvimento económico e social do país africano.
Maria José de Freitas, arquitecta portuguesa residente em Macau há mais de 20 anos, vê no crescimento expressivo do sector imobiliário e de infra-estruturas moçambicano um potencial mercado para as firmas de construção civil chinesas. “A expansão do sector de construção civil moçambicano é notável a cada ano que passa e pode ser muito interessante o aproveitamento da experiência e materiais chineses em vertentes como as vias verdes e uma construção civil amiga do ambiente”, nota Maria José Freitas, que já soma a sua segunda missão empresarial a Moçambique.
Relações equilibradas
A aposta do Governo moçambicano no intercâmbio com a China é atrair as empresas chinesas a instalarem-se em Moçambique, por forma a equilibrar a balança comercial entre os dois países, de acordo com o presidente do Instituto de Promoção de Exportações de Moçambique (IPEX), João Macaringue. “Queremos que produzam em Moçambique o que exportam da China para Moçambique, porque essa abordagem vai colocar equidade nas relações comerciais e económicas entre os dois países”, diz João Macaringue.
A balança comercial entre Moçambique e China pende a favor do gigante asiático, que só de Janeiro a Maio deste ano exportou para o país africano o equivalente a 271 milhões de dólares, importando apenas 58 milhões de dólares, conforme indicam dados oficiais.
Já o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique, a maior organização patronal moçambicana, afirma que o futuro abre excelentes perspectivas de intercâmbio empresarial entre Moçambique e China, um salto que poderá alterar o actual quadro, em que as relações comerciais e económicas bilaterais ainda são “inexpressivas”. “O Governo moçambicano está empenhado na criação de um clima favorável ao desenvolvimento do sector privado e ao ambiente atractivo aos negócios, o que abre excelentes perspectivas para o estabelecimento de parcerias com os colegas da China”, referiu Rogério Manuel.
O presidente da maior agremiação patronal moçambicana entende que, associados aos seus colegas da China, os empresários moçambicanos podem capitalizar as oportunidades de negócio que Moçambique oferece na agricultura, sector madeireiro, energia, indústrias e infra-estruturas. “Quem investe em Moçambique não tem só acesso ao mercado moçambicano, pois podem também colocar a sua produção na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, no quadro dos protocolos que o país tem com a região, desde que 30 por cento do valor agregado da produção seja made in Mozambique”, acrescenta Rogério Manuel.
Além do mercado moçambicano, os investidores que apostam em Moçambique podem ter acesso aos mercados dos Estados Unidos e da União Europeia, ao abrigo do acesso preferencial que os dois blocos económicos concedem aos países mais pobres, afirma ainda o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique.
O “Seminário sobre a cooperação económica, comercial e de serviços” entre a Província de Guangdong, a Região Administrativa Especial de Macau e Moçambique realizou-se no quadro de uma missão empresarial de Macau ao país africano, composta por 20 empresários.