Celebra-se a 20 de Dezembro o 24.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). A geração já nascida sob os desígnios da flor de lótus começa agora a despontar para a vida pública. A Revista Macau foi falar com Aaron Lo, Tiago Rodrigues, Angela Wong e Jayden Cheong, quatro jovens do pós-1999 com carreiras em ascensão – uns mais novos, outros mais velhos, mas exemplos da primeira grande fornada de talentos com o “selo” RAEM
Texto Vitória Man Sok Wa
Fotografia Cheong Kam Ka
Foi já há seis anos que o Presidente Xi Jinping sublinhou que “o País prosperará se a juventude prosperar, o País será forte se a juventude for forte”. A afirmação, proferida no âmbito do 19.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, mantém-se, contudo, actual, ainda mais no contexto da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), prestes a assinalar o seu 24.º aniversário. O território começa agora a ver os primeiros jovens nados e criados após a transição de administração a assumirem lugares de destaque na sociedade, nos mais variados campos.
De acordo com dados oficiais relativos ao final do ano passado, Macau tinha cerca de 165,3 mil habitantes com idades até 24 anos. Estes correspondiam a quase um quarto da população total, sendo que 83,9 mil eram do sexo masculino e 81,4 mil do sexo feminino.
A geração que está actualmente a despontar para a vida associativa e cultural, e que brilha também com as cores da RAEM no campo desportivo, beneficiou já dos investimentos do Governo da RAEM nas áreas da educação e da juventude. Por exemplo, foi a primeira a lucrar com o facto de Macau se ter tornado, a partir do ano lectivo de 2007/2008, no primeiro território no seio da Grande China a oferecer um sistema de ensino gratuito de 15 anos – desde o ensino infantil até ao final do ensino secundário complementar.
Para além da gratuitidade do ensino, a promoção da diversidade e qualidade da educação tem sido outro dos grandes objectivos da RAEM. Segundo dados dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude, no presente ano lectivo estão em operação no território um total de dez instituições de ensino superior e 76 escolas de ensino não superior. O ensino gratuito beneficia actualmente cerca de 80 mil alunos.
Em 2013, o Governo da RAEM promulgou e implementou a “Política de Juventude de Macau (2012-2020)”, um plano abrangente visando promover o desenvolvimento integral dos jovens. Seguiu-se uma segunda edição, aprovada em 2021, actualmente em vigor e com uma duração de dez anos. Esta orientação abrange os jovens entre os 13 e os 35 anos e cobre cinco grandes temáticas: o sentimento patriótico, a qualidade física e mental, o desenvolvimento integral, a promoção de uma sociedade inclusiva e a participação social no desenvolvimento do país.
Aaron Lo Hou Long, Tiago Rodrigues, Angela Wong Sam In e Jayden Cheong U Tang estão entre os milhares de jovens nascidos já sob a égide da RAEM e que beneficiaram das políticas de apoio ao desenvolvimento da juventude introduzidas após 1999. Cada um deles destaca-se num campo particular, da cultura ao desporto: são parte de uma constelação maior de estrelas em ascensão que promete dourar o horizonte futuro da cidade do lótus.
Entre golpes de wushu e teclado
ANGELA WONG SAM IN
ATLETA DE WUSHU
Idade
21 anos (nascida em 2002)
Educação
A frequentar a licenciatura em ciências
da computação na Universidade de Macau
Nascida em 2002, Angela Wong Sam In é já uma das certezas do wushu em Macau, desporto a que se dedica deste os oito anos. A atleta já representou o território em várias competições internacionais, tendo este ano conquistado uma medalha de ouro na variante nanquan, além de uma outra de bronze na variante nandao, nos Jogos Mundiais Universitários. Essas foram as mais recentes conquistas de um palmarés que inclui vitórias em Campeonatos Mundiais Juniores de Wushu e em Campeonatos Asiáticos Juniores de Wushu, prestações que, em 2019, lhe valeram a atribuição de um título honorífico de valor pelo Governo de Macau.
Actualmente a frequentar a licenciatura em ciências da computação da Universidade de Macau, a atleta está a desenvolver um projecto de investigação que junta computadores ao wushu. O seu objectivo é utilizar um sistema de inteligência artificial aplicado ao nanquan.
“Para o nanquan, é essencial criar uma rotina, ou seja, uma combinação de movimentos que demonstrem competência técnica”, e que são depois avaliados por um painel de juízes, explica. “Entre inúmeros movimentos, um atleta tem de executar uma rotina completa com uma estrutura rigorosa.” Angela Wong acredita que a inteligência artificial pode ajudar os praticantes de wushu a desenhar melhores rotinas, capazes de obter pontuações elevadas.
Apesar dos bons resultados desportivos e académicos, a atleta recorda um período mais negativo, quando começou a sua licenciatura, altura em que enfrentou não só muita pressão devido à nova vida académica, mas também uma lesão grave. Nesse período, o suporte dos pais foi essencial: “Eles ensinaram-me a não desistir a meio do caminho e a não me esquecer dos meus objectivos”.
Outro apoio essencial para a sua carreira desportiva – e não só – tem sido aquele disponibilizado pelas autoridades locais, diz. “O Governo de Macau apoiou-me sempre muito. Enquanto aluna, recebi uma bolsa de estudo para a universidade e, enquanto atleta, o Governo tem tido sempre atenção à minha condição física. Quando me lesionei, forneceram-me os melhores médicos para enfrentar os momentos difíceis.”
Olhando para o futuro, Angela Wong pretende continuar com uma vida interdisciplinar: a par da participação em grandes competições desportivas, quer apoiar o progresso tecnológico da RAEM. “Estamos na era dos dados e da inteligência artificial, pelo que espero combinar a tecnologia e o desporto para contribuir para o desenvolvimento extraordinário de Macau”, diz.
Compor o futuro a notas musicais
AARON LO HOU LONG
MÚSICO
Idade
19 anos (nascido em 2004)
Educação
A frequentar a licenciatura em música na Royal Northern College of Music, Manchester, Reino Unido
Para Aaron Lo Hou Long, a música é mais do que meras notas. É a capacidade de aquilo que está escrito numa pauta poder emocionar profundamente quem ouve. O jovem, nascido em 2004, está a frequentar uma licenciatura em música no Royal Northern College of Music, em Manchester, no Reino Unido. Apesar de se estar a especializar em saxofone clássico, é também um amante do jazz e um pianista experiente.
Começou por aprender piano aos nove anos, alargando os seus interesses musicais para o saxofone aos 12. Desde então, Aaron Lo já alcançou inúmeros prémios, incluindo nas edições de 2020 e 2022 do Concurso de Música para Jovens de Macau, bem como honras internacionais da Associated Board of the Royal Schools of Music. Além disso, foi acumulando experiência em vários agrupamentos musicais.
“Como a minha mãe era professora de piano, cresci num ambiente musical”, recorda, acrescentando o papel de Hugo Loi, seu professor de saxofone em Macau, no seu desenvolvimento musical.
No Verão de 2019, Aaron Lo frequentou a “Asia Pacific Saxophone Academy”, na Tailândia. Durante o programa de uma semana, ficou impressionado com o desempenho dos estudantes universitários internacionais presentes, mas ainda mais com uma apresentação musical do saxofonista espanhol Xavier Larsson Paez. O impacto foi tal que deu a Aaron Lo o empurrão que faltava para decidir-se por tentar uma carreira profissional como músico. “Foi a primeira vez que me senti tão emocionado com a música. Desde então, o meu objectivo tem sido conseguir fazer o mesmo”, sublinha.
O jovem admite que, por vezes, duvidou das suas capacidades. “Toda a gente passa por momentos difíceis, mas, como músicos, temos de continuar a praticar, mesmo quando nos sentimos desinspirados ou cansados”, frisa.
Apesar das dificuldades, Aaron Lo nunca ficou sozinho. Em particular, o artista destaca o apoio da família. “Os meus pais proporcionaram-me os melhores professores, os melhores instrumentos e vêm sempre aos meus concertos.”
Após completar os seus estudos musicais, os planos de Aaron Lo passam por trazer para Macau aquilo que está a aprender lá fora. Um dos seus desejos é ajudar a cidade a cultivar uma nova geração de músicos, elevando, ao mesmo tempo, o nível do saxofone em Macau e até no interior da China.
Aaron Lo termina encorajando outros jovens a sonhar: “Acreditem em vocês próprios. Comecem por se tornar na vossa melhor versão e as oportunidades vão aparecer”.
Sede de acelerar para a história
TIAGO RODRIGUES
PILOTO AUTOMÓvEL
Idade
16 anos (nascido em 2007)
Educação
A frequentar o ensino secundário complementar na Escola Portuguesa de Macau
O calendário marcava Novembro de 2000 e a RAEM ainda nem um ano tinha. Corria-se o primeiro Grande Prémio de Macau após a transferência de administração: surpreendendo o mundo do desporto automóvel, um piloto da casa, de seu nome André Couto, vencia a corrida de Fórmula 3, prova rainha da competição. Tiago Rodrigues não se lembrará desse dia: só viria a nascer vários anos depois, em 2007. Ainda assim, o início da sua carreira no mundo do desporto automóvel está ligado a Couto, a quem ambiciona suceder um dia no degrau mais alto do pódio do Circuito da Guia.
“Experimentei correr pela primeira vez no simulador do André Couto e apaixonei-me pelo desporto, pedindo ao meu pai que me ajudasse a comprar o meu próprio simulador para treinar”, recorda o jovem piloto.
O esforço e a paixão de Tiago Rodrigues transformaram o seu sonho em realidade. Aos 14 anos, obteve a licença desportiva para correr em karts, iniciando de imediato a sua carreira nas pistas. “Um membro da minha família ajudou-me a entrar no karting, que é a base do desporto automóvel”, diz o jovem.
Com apenas 16 anos, Tiago Rodrigues participou este ano em várias provas do Campeonato Chinês de Fórmula 4, respectivamente em Zhuhai, Ningbo e Pingtan. Em Ningbo, o jovem de Macau conseguiu mesmo alcançar três pódios num total de quatro corridas.
Apesar dos bons resultados, reconhece os desafios ligados a uma carreira no desporto automóvel, pelas verbas avultadas que tal envolve. Daí a importância do suporte do pai, a quem Tiago Rodrigues agradece o apoio financeiro e emocional. “O meu pai é muito importante: para além de ser o meu patrocinador, é também o meu gestor financeiro.”
Tiago Rodrigues quer agora colocar o pé no acelerador até conseguir entrada no mundo da Fórmula 1. A sua inspiração é o actual tricampeão mundial, Max Verstappen – que já correu no Circuito da Guia.
O jovem piloto ambiciona também contribuir com o seu exemplo para o desenvolvimento da sua terra natal, Macau, procurando incentivar mais jovens locais a entrar no desporto automóvel e elevar o nome de Macau em pistas um pouco por todo mundo. Tiago Rodrigues diz que, para si, a vida é como uma corrida: “Esforcem-se sempre, não desistam e agarrem cada oportunidade”.
Em busca dos grandes palcos
JAYDEN CHEONG U TANG
ACTOR, CANTOR E bAILARINO
Idade
13 anos (nascido em 2010)
Educação
A frequentar o ensino secundário geral na Escola Secundária Pui Ching
Nascido em 2010, Jayden Cheong U Tang é uma estrela em ascensão no campo das artes performativas. “Sempre me senti entusiasmado e feliz quando estou em palco”, revela o jovem. “Não tenho qualquer medo.”
A partir dos cinco anos, começou a aprender uma multiplicidade de artes do palco, do piano ao teatro, à dança hip hop, canto e até mesmo oratória. Com o seu talento, já venceu dezenas de competições localmente e para lá de portas, em campos diversos, da dança à oratória. O jovem já actuou em mais de 20 espectáculos, incluindo em musicais apoiados pelo Fundo de Desenvolvimento da Cultura de Macau e cerimónias de entrega de prémios organizadas pela TDM – Teledifusão de Macau.
Para além das conquistas em palco, Jayden Cheong é igualmente um estudante aplicado, tendo obtido bons resultados académicos ao longo dos anos. Também aqui se acumulam os troféus, a premiar o desempenho em áreas como a matemática e a informática.
O interesse pelas artes do palco foi despontado pela oportunidade de apresentar um espectáculo quando tinha apenas três anos. Foi aí que tudo começou. Pela mesma altura, descobriu também a paixão pela dança. A sua mãe ajudou-o então a entrar numa escola de hip hop. Jayden Cheong passou a actuar em peças de teatro, a cantar e a participar em provas de oratória – até hoje, e sem vontade de abrandar.
Gerir o tempo face a uma agenda tão preenchida é um grande desafio para um rapaz de apenas 13 anos. “Quando os espectáculos são na altura dos exames, às vezes, depois dos ensaios, é quase meia-noite e na manhã seguinte tenho exames”, diz.
Na sua caminhada para conseguir alcançar o sucesso, Jayden Cheong considera que o apoio dos pais e professores no campo artístico tem sido muito importante. “Os meus pais tentam sempre compreender-me, e dão-me o apoio que preciso. E os meus professores dão-me muitas oportunidades de participar em concursos e espectáculos, o que me permite ter grandes experiências”, explica.
No futuro, Jayden Cheong ambiciona participar em espectáculos cada vez maiores e mais desafiantes, de forma a elevar as suas capacidades e, talvez, tornar-se até num actor profissional. Para isso, considera essencial “persistir e seguir” o seu sonho, mas sempre sem descurar “um bom desempenho académico”.