Estabelecidas há cerca de duas décadas, as zonas ecológicas do Cotai são um oásis verde na malha urbana de Macau, servindo de casa a centenas de diferentes espécies vegetais e animais. Anualmente, abrigam de forma temporária dezenas de colhereiros-de-cara-preta, uma ave em perigo de extinção
Texto Cherry Chan
No seio do Cotai, a escassas dezenas de metros de alguns dos resorts integrados mais movimentados do planeta, situa-se um dos principais tesouros naturais de Macau: a Reserva Ecológica do Cotai. O espaço – composto por um complexo de zonas húmidas – procura fornecer um ambiente adequado à alimentação e descanso de diversos tipos de aves, incluindo o colhereiro-de-cara-preta, espécie na qual é inspirado o “Mak Mak”, a mascote do turismo de Macau. Vinte anos depois do seu estabelecimento, a reserva ecológica é hoje também um local-chave para a organização de várias actividades educativas ambientais.
O espaço é administrado pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). Situa-se junto à Ponte Flor de Lótus, na zona oeste do Cotai, e ocupa um total de 55 hectares.
A área encontra-se dividida em dois lotes. Na Zona Ecológica I, com 15 hectares, foi constituído um espaço de descanso para aves: a zona inclui arbustos aquáticos, canaviais e árvores, bem como canais de água que fazem a ligação ao canal de Shizimen, o qual separa o Cotai da Ilha de Hengqin, já parte do município de Zhuhai. Foram também instalados observatórios de aves junto do dique sul desta zona ecológica, de forma a facilitar a observação das diferentes espécies que vivem na reserva.
Já na Zona Ecológica II, ocupando os restantes 40 hectares, existe uma área para alimentação de aves. Esta zona está situada na costa oeste do Cotai, fazendo fronteira a norte com o complexo hoteleiro Broadway Macau. Inclui três ilhas artificiais e um passadiço para visitas, localizado junto dos lodaçais, por onde proliferam fauna e flora típicas de mangal.
Estímulo à biodiversidade
“Temos de fazer uma boa utilização dos recursos das zonas húmidas”, explica Lei Kampeng, técnico superior do Centro de Gestão de Infra-estruturas Ambientais, sob a alçada da DSPA, numa referência à Reserva Ecológica do Cotai. “Temos vindo a optimizar as instalações nas zonas ecológicas, como com a construção de alguns observatórios, para que as pessoas possam observar as aves de perto sem perturbar o seu habitat”, refere o responsável.
Os resultados obtidos até agora pela gestão da reserva são encorajadores. “Investigamos a biodiversidade actual e podemos ver que temos cada vez mais espécies”, diz Lei Kampeng.
Segundo dados da DSPA, até finais de 2022, tinham sido contabilizadas nas zonas ecológicas cerca de 680 espécies vegetais e perto de 1200 espécies animais. Os amplos recursos alimentares existentes na reserva ecológica têm, ao longo dos tempos, servido para atrair aves migratórias, que aproveitam para aí descansar: até ao final do ano passado, tinham sido detectadas cerca de 190 espécies de aves nas zonas ecológicas.
“Esperamos proteger a biodiversidade aqui”, nota Lei Kampeng. “Por isso, estamos a trabalhar para criar melhores condições.”
A Reserva Ecológica do Cotai desempenha um importante papel nas rotas migratórias de diversas espécies de aves. Entre estas destaca-se o colhereiro-de-cara-preta: trata-se de uma espécie objecto de protecção especial na China. Em 2022, o número máximo observado de colhereiros-de-cara-preta nas zonas ecológicas foi de 34.
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Foi durante os idos anos 1990s que foram detectados os primeiros colhereiros-de-cara-preta em Macau: foram inicialmente contabilizados 20, numa altura em que a população mundial total estava estimada em cerca de 900 animais. A identificação desta ave rara no território alertou as autoridades locais e o público para o risco de extinção da espécie. A descoberta impulsionou a decisão, em 2001, de estabelecer uma reserva ecológica no Cotai, tendo em vista promover a preservação da biodiversidade de Macau.
No final de 2003, o estabelecimento da Zona Ecológica I foi concluído. Já os trabalhos relativos à Zona Ecológica II terminaram em meados do ano seguinte.
Promover a educação ambiental
A Reserva Ecológica do Cotai não serve apenas para salvaguardar a biodiversidade local. É uma janela privilegiada para que a população possa aprender mais sobre as espécies autóctones do território e a importância de proteger os recursos naturais de Macau.
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Desde 2012 que a Zona Ecológica I – que se encontra vedada – está disponível para visitas organizadas de escolas e outras entidades, mediante marcação. Já a zona II é aberta e de acesso livre para quem queira conhecer melhor a natureza de Macau. “Alguns dirigentes de escolas comentam que as visitas realmente ajudam os estudantes a compreenderem os sistemas ecológicos locais”, conta Lei Kampeng.
Os visitantes são, na maioria, jovens que, por sua vez, podem posteriormente promover a importância da protecção ambiental junto do resto da família, afirma o representante da DSPA. “Diríamos que este é um caso em que os jovens lideram os mais velhos: incutindo-lhes a importância da conservação ambiental desde tenra idade, podem sensibilizar todos em seu redor para a protecção do ambiente.”
Natureza inclusiva
Nas zonas ecológicas, são organizadas regularmente várias actividades abertas à população em geral, incluindo “dias abertos” ao público e workshops destinados a famílias. Durante a época de passagem das aves migratórias, que decorre entre Novembro e Abril, a DSPA realiza passeios regulares de observação de pássaros: os participantes – orientados por instrutores qualificados – podem entrar nos postos de observação da reserva ecológica e, munidos de material especializado, ver diferentes tipos de pássaros no seu habitat natural.
As vagas são limitadas para cada actividade e usualmente esgotam rapidamente, de acordo com Leong Man U, técnica superior do Centro de Gestão de Infra-estruturas Ambientais. “Recebemos muitas sugestões do público para aumentar o número de participantes”, refere a responsável, acrescentando que, porém, “o mais importante, a prioridade, é a conservação e a protecção” da reserva ecológica. “Demasiadas pessoas causarão perturbações no ambiente e, por isso, temos de controlar o número”, salienta, embora sem deixar de enfatizar os esforços da DSPA para viabilizar todos os pedidos de visita recebidos.
Leong Man U sublinha, de resto, que a reserva ecológica é um espaço de toda a comunidade. “Há algo de que nos orgulhamos muito: estamos abertos a todos os diferentes grupos da sociedade – por exemplo, recebemos pessoas com necessidades especiais”, afirma. “Estas pessoas podem não ter tantas oportunidades de visitar diferentes locais, mas estamos a tentar fazer todos os esforços para as ajudar a conhecer as zonas ecológicas. Por exemplo, para os visitantes com deficiência visual, tentamos que aprendam sobre as aves através de outros sentidos, como ouvindo os seus sons, sentindo as suas penas, etc.
Além das visitas e workshops, são ainda realizadas na reserva ecológica actividades de formação para guias. Depois de devidamente preparados, estes juntam-se, por vezes, às actividades da DSPA como voluntários.