Entrevista

Museu de Macau: tecnologia e inovação para redefinir a experiência

A directora do Museu de Macau, Lou Ho Ian
Mais de duas décadas após abrir ao público, o Museu de Macau vai encerrar temporariamente este ano, mas apenas para aperfeiçoar a experiência que oferece aos visitantes, diz a directora da instituição, Lou Ho Ian. À Revista Macau, a responsável adianta que o museu pretende inovar na forma como apresenta as suas exposições, de modo a continuar a desempenhar um papel importante no retrato da história da cidade

Texto Stephanie Lai
Fotografia Cheong Kam Ka

O Museu de Macau comemora este ano 25 anos desde a sua fundação. Como descreve o papel que a instituição desempenha actualmente?

Celebramos este ano o 25.º aniversário da inauguração do Museu de Macau e esta experiência acumulada traz novas oportunidades e desafios. O museu vai encerrar temporariamente em 2023, um período que nos permitirá aperfeiçoar as exposições patentes no museu, bem como modernizar as nossas instalações e serviços. O que pretendemos é optimizar os nossos serviços e assegurar que o museu continua a cumprir as suas principais funções: mostrar as melhores exposições, coleccionar artigos de valor histórico, avançar nos trabalhos de investigação e educar o público.

Durante quanto tempo estará o museu encerrado? Que mudanças podemos esperar no que toca às exposições?

A nossa previsão é que o Museu de Macau esteja encerrado temporariamente a partir de meados de 2023. Serão realizados trabalhos de modernização e pretendemos reabrir o museu até ao final de 2024. O objectivo é prolongar o ciclo de vida do museu, providenciando serviços mais abrangentes, uma vez que iremos aperfeiçoar não apenas os espaços das exposições, mas também a parte tecnológica associada à forma como as exposições são mostradas ao público. Pretendemos introduzir tecnologia multimédia para modernizar as nossas exposições e substituir algumas instalações e equipamentos mais antigos do museu, que já se encontram algo desgastados.

O Museu de Macau retrata a vasta cultura e rica história da cidade

Como evoluiu o papel do Museu de Macau como meio de ensino da história local?

Para além da curadoria de várias exposições culturais, a missão do Museu de Macau é proteger o património cultural da cidade e promover as suas características multiculturais únicas, resultantes do cruzamento entre as culturas do Oriente e Ocidente.

O museu tem vindo a acolher diferentes exposições temáticas para mostrar ao público a história multicultural única de Macau. Além disso, trabalhamos continuamente com instituições culturais da China e do exterior para co-organizar várias exposições temáticas relacionadas com os contos históricos e tradições de Macau, de forma a exibir a rica cultura da cidade.

Também temos vindo a promover o papel do museu junto dos residentes através da realização de várias actividades educativas, como a organização de workshops para famílias e visitas guiadas. Pretendemos que o nosso museu seja mais uma sala de aula para o público aprender sobre a história e cultura de Macau, incentivando-o a usar os nossos recursos.

Olhando para as estatísticas de reservas para as visitas guiadas, observamos que 70 a 80 por cento das reservas feitas nos últimos anos foram efectuadas por estudantes. E 90 por cento desses alunos eram estudantes de Macau. Vemos que o número de estudantes locais que participam em visitas ao museu tem aumentado, o que demonstra que a instituição tem desempenhado um papel importante no ensino da história local.

Como mudou o perfil do visitante do Museu de Macau após o início da pandemia da COVID-19, em 2020?

De 2017 a 2019, cerca de metade dos visitantes do Museu de Macau dizia respeito a locais, sendo a outra metade turistas. De 2020 a Outubro de 2022, aproximadamente 70 por cento dos visitantes do Museu de Macau eram locais, com os turistas a perfazerem os restantes 30 por cento.

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Que elementos do museu são mais atractivos para os turistas? E o que têm feito para manter a relevância da instituição durante o período da pandemia?

As mudanças históricas de Macau ao longo dos séculos e a sua vasta cultura foram condensadas nas exposições que temos patentes. Apesar do aparecimento da pandemia da COVID-19, continuámos a acolher exposições temáticas sobre a história local, incluindo uma exposição que co-organizámos com as cidades da região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Este tipo de eventos tem sustentado o interesse dos turistas em visitar o museu.

Também explorámos o uso de tecnologias de computação na nuvem para algumas exposições, como uma forma de nos aproximarmos do público: algumas das nossas colecções foram digitalizadas e estão acessíveis gratuitamente online. Também introduzimos diversas exposições virtuais como resposta àquilo que o público procura actualmente quando visita museus.


“A missão do Museu de Macau é proteger o património cultural da cidade e promover as suas características multiculturais únicas”

LOU HO IAN
DIRECTORA DO MUSEU DE MACAU

Quando é que procederam à digitalização das colecções e como é que isso ajudou na curadoria das exposições do Museu de Macau?

O Museu de Macau lançou em 2018 a aplicação para telemóvel “Museu de Macau AR/VR”, que foi o nosso primeiro guia turístico virtual, permitindo aos utilizadores recorrerem à tecnologia interactiva de realidade aumentada e realidade virtual para desfrutarem de uma experiência muito realista de visita ao museu. Com o uso destas tecnologias, os espectadores podem observar cada uma das nossas exposições seleccionadas de uma forma imersiva, ao longo de uma rota previamente designada. Já foram registados mais de 5000 downloads desta aplicação.

Em 2020, lançámos a sala virtual de exposições do museu e o portal electrónico oficial foi actualizado em Fevereiro de 2021 com elementos mais interactivos. Este desenvolvimento tecnológico permite aos interessados visitar o nosso espaço virtual e navegar pelas colecções seleccionadas do museu com uma experiência de rotação de 720 graus, sem necessidade de fazer download de qualquer outro software. Podem também partilhar instantaneamente as informações que absorvem sobre as nossas colecções. É deste modo que temos procurado reforçar a digitalização dos nossos recursos culturais.

Ainda em 2020, o Museu de Macau introduziu o serviço de tecnologia na nuvem para algumas das nossas exposições temáticas, uma forma de mantermos o conteúdo das nossas exposições relevante tanto para residentes como para turistas. Um exemplo disso foi o lançamento, em Junho de 2022, de uma página electrónica dedicada à “Exposição Online de Canhões Antigos”. Esta plataforma contém modelos 3D de vários canhões antigos descobertos em Macau, juntamente com informações das investigações relacionadas com estes objectos e o progresso dos trabalhos de conservação em curso.

No fundo, o que tentamos fazer é complementar as visitas ao nosso espaço físico com elementos virtuais, de modo a oferecer ao público uma visita mais personalizada e enriquecer a experiência museológica. As pessoas que nos visitam – tanto o próprio museu como a nossa sala virtual – podem muito facilmente pesquisar as várias informações relativas às nossas exposições.

As tradições macaenses são uma parte importante das exposições

O museu tem-se dedicado à procura de artigos relacionados com a história de Macau e a cultura local. Como é que esse trabalho tem sido desenvolvido?

O museu dedica-se à recolha e conservação de objectos que contam pedaços da história, cultura e vida quotidiana de Macau. Parte destes artigos integra as exposições e também realizamos trabalhos de investigação relacionados com eles.

As nossas colecções foram organizadas em vários temas, nomeadamente: achados arqueológicos; achados arquitectónicos; livros e documentação; caligrafia, pinturas e esculturas; profissões; bens de uso diário; artigos militares e administrativos; modelos comemorativos; artigos religiosos; postais; e artes performativas e de entretenimento.

Mais de 50 por cento das colecções do Museu de Macau foram doadas por residentes de Macau e por algumas instituições locais. Grande parte destas doações está patente na galeria de exposições permanentes. Exemplo disso é a área de exposição dedicada às cerimónias de casamento, onde grande parte dos artigos em exposição foi doada ao museu.

Acha que existe hoje uma maior sensibilização para a necessidade de preservar a cultura e as tradições locais? Como é que o Museu de Macau tem vindo a promover esse trabalho junto do público?

Uma das principais missões do Museu de Macau é conservar e restaurar artefactos e outros artigos de relevância para a história local, muitos dos quais são da comunidade, cada um com a sua própria história. Deste ponto de vista, o nosso papel é coleccionar artigos que representem determinados períodos históricos de Macau, restaurá-los adequadamente e estudá-los para que o passado e as mensagens culturais da cidade continuem a ser transmitidos.

O museu também promove a necessidade de proteger o património cultural da cidade e temos recebido várias doações do público.

Para agradecer esse apoio, lançámos uma zona especial para mostrar os artigos que nos foram oferecidos. Esta iniciativa também ajudou a população a compreender melhor o papel da conservação de artefactos e artigos culturais.

Por outro lado, temos também o objectivo de consciencializar os nossos jovens para a conservação do património através da realização de workshops e até de estágios como funcionários do museu, para que possam conhecer melhor as actividades diárias da nossa instituição.