A modalidade de remo em pé, também conhecida pela designação inglesa de “stand-up paddle” ou “SUP”, está em rápido crescimento em Macau. Dirigentes associativos ligados ao desporto dizem que o passo seguinte passa por atrair mais jovens para esta prática
Texto Cherry Chan
Fotografia Leong Sio Po
Uma prancha, uma pagaia e um plano de água: é quanto basta para a prática de remo em pé, desporto popularmente conhecido pela designação em inglês “stand-up paddle” – ou simplesmente “SUP”. A modalidade, cujas origens modernas remontam ao Havai, está a crescer a olhos vistos em Macau, com cada vez mais praticantes nas praias de Coloane.
A contribuir para a popularidade do “stand-up paddle” está o facto de ser um desporto náutico acessível a todos. Em comparação com modalidades como a vela, windsurf ou canoagem, é mais fácil de aprender, embora possa ser igualmente difícil de dominar na perfeição.
De acordo com o presidente do Conselho de Administração da Associação Geral Desportiva de Remo em Pé de Macau China, Pedro Vizeu, a introdução do “stand-up paddle” em Macau aconteceu há cerca de cinco anos. Desde então, as pranchas passaram a ser presença comum nas praias de Hác-Sá e Cheoc Van, tendo sido criados grupos dedicados à promoção do desporto – a Associação Geral Desportiva de Remo em Pé foi oficialmente fundada em 2020.
O crescimento do “stand-up paddle” no território acontece ao mesmo tempo que o desporto se afirma a nível nacional e internacional. Em 2019, a modalidade foi incluída no Campeonato Nacional de Canoagem da China e existem expectativas de que possa ser integrada no programa dos Jogos Olímpicos de 2028, a terem lugar em Los Angeles, nos Estados Unidos.
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Segundo elementos ligados ao “stand-up paddle” em Macau, a actual conjuntura associada à pandemia da COVID-19 está também a trazer mais indivíduos ao desporto. Isto porque, devido às limitações ao nível das deslocações para o exterior, há um aumento do número de pessoas nas praias locais e do interesse em experimentar diferentes actividades náuticas.
Expansão em curso
Kwok Ka Chun e Choi Wai Kei contam-se entre os praticantes de “stand-up paddle” em Macau. Ambos são membros da Associação Geral Desportiva de Remo em Pé, tendo contactado pela primeira vez com a modalidade fora do território.
“Comprei uma prancha online e fui para a praia praticar”, conta Kwok Ka Chun. “Como queria aprender de forma mais sistemática, juntei-me a esta associação.” O desportista nota que o “stand-up paddle” pode ser praticado de modo mais recreativo ou de forma mais competitiva – neste último caso, o apoio de um treinador ajuda a uma melhor evolução, diz.
Choi Wai Kei recorda que praticou “stand-up paddle” pela primeira vez ainda fora de Macau, antes do início da pandemia. De volta ao território, sabia que havia já grupos dedicados ao desporto e decidiu procurá-los.
“Acho que agora é mais fácil encontrar informação sobre esta modalidade”, diz. A praticante acrescenta que não é complicado adquirir o equipamento necessário para se iniciar no desporto. Para facilitar o transporte, pode-se escolher uma prancha insuflável, que cabe numa mochila: a tecnologia utilizada neste tipo de pranchas garante que, uma vez insufladas, possuam excelente rigidez e sejam muito resistentes a impactos. Também a pagaia pode ser desmontável, cabendo no mesmo saco da prancha.
Annie Ung pertence a um outro grupo, o Clube de Remo em Pé de Macau, criado em 2018. A praticante iniciou-se no “stand-up paddle” há dois anos. “Inicialmente, não sabia o que era”, admite. “Mas como pratico outros desportos náuticos, quis experimentar.”
Embora confirme que qualquer interessado na modalidade pode comprar uma prancha e começar a praticar, Annie Ung diz que, “com um treinador, que ensina as técnicas e corrige os erros, é melhor”.
Dos oito aos oitenta
Um dos atractivos do “stand-up paddle” é o facto de ser um desporto para todas as idades. Ainda assim, lamenta Pedro Vizeu, da Associação Geral Desportiva de Remo em Pé, “alguns pais e escolas não possuem uma compreensão correcta e completa sobre a segurança deste desporto náutico e, por isso, consideram-no uma actividade de risco”.
É com o intuito de mudar mentalidades que a associação organiza regularmente cursos, visando ajudar a população a disfrutar da modalidade de forma segura. “Sensibilizamos para a questão da segurança na água, ao mesmo tempo que providenciamos ensinamentos técnicos”, indica Leong Sio Teng, membro do Conselho de Administração da Associação Geral Desportiva de Remo em Pé.
Lei In Cheng é um dos jovens valores de Macau no “stand-up paddle”. Com 13 anos de idade e dois de prática do desporto, o jovem já participou nalgumas competições, tendo obtido bons resultados.
O adolescente admite que, quando se iniciou na modalidade, a família ficou algo apreensiva, visto tratar-se de um desporto na água – entre os seus familiares, não havia tradição de desportos náuticos. “Após algum tempo, perceberam que se trata de uma actividade muito segura, bastando que nós sigamos as regras de segurança”, diz Lei In Cheng.
Com apenas dez anos, a pequena Leung Sum descobriu o “stand-up paddle” há cerca de meio ano. Na altura, estava a iniciar-se no windsurf: viu alguns praticantes de “stand-up paddle” na praia e acabou por trocar de desporto. “É divertido. Como sei nadar, a minha família não se preocupa com questões de segurança”, diz.
As áreas de águas calmas são aconselhadas para a iniciação no desporto e para a prática de “stand-up paddle” por parte de crianças. “É melhor começar a treinar em mar aberto apenas quando se é um praticante de nível mais avançado”, aconselha Pedro Vizeu.
O treinador Sam Siu Heng, ligado à Associação Geral Desportiva de Remo em Pé, refere que o desenvolvimento da modalidade passa pela aposta em talento jovem. Para tal, é necessária uma base ampla de recrutamento, diz. “Para termos jovens capazes de formar uma equipa em representação de Macau, temos de possuir um alicerce forte no que toca ao ensino da educação física nas escolas primárias e secundárias”, explica.
A dirigente Leong Sio Teng concorda com a importância de atrair mais jovens para o “stand-up paddle”, de forma a assegurar a sustentabilidade do desporto a nível local. “Temos uma equipa de escalões jovens e fornecemos treinos”, diz a responsável, acrescentando que a Associação Geral Desportiva de Remo em Pé já começou a levar jovens ao Interior da China para participarem em competições.
Mar povoado de pranchas
Embora seja um desporto de fácil iniciação, o apoio de treinadores especializados é importante para um domínio adequado da modalidade. “O treinador não ensina apenas as técnicas, é também responsável pela segurança dos desportistas”, diz o técnico Sam Siu Heng.
Actualmente, não existe formação especializada em Macau para instrutores de “stand-up paddle”. “Não há no território qualquer organização designada para emitir qualificações internacionais”, explica o presidente do Conselho de Administração do Clube de Remo em Pé de Macau, Che Man Tou. “Por isso, os treinadores do nosso clube possuem certificados emitidos por Taiwan. Estamos à espera que haja em Macau, num futuro próximo, uma entidade responsável pela criação de uma estrutura completa para a supervisão do remo em pé a nível local”, acrescenta.
Com apenas duas praias em Macau, Pedro Vizeu lamenta a escassez de espaços para a prática da modalidade: segundo diz, é um dos obstáculos para uma maior divulgação do “stand-up paddle” localmente. Além disso, acrescenta o dirigente associativo, seria benéfica a existência de instalações específicas para a lavagem e armazenamento do equipamento após a sua utilização.
Apesar dos constrangimentos, Leong Ka Hou, vice-presidente do Conselho de Administração do Clube de Remo em Pé de Macau, diz que já conseguiu concretizar um sonho que perseguia há mais de cinco anos: o de, olhando a partir da praia, ver o mar de Macau povoado de praticantes de “stand-up paddle”. Aconteceu no ano passado, durante uma prova local.