Modalidade

Squash de ambição elevada

O Centro de Bowling, no Cotai, é um dos locais onde decorrem regularmente competições
Com mais de século e meio de história a nível internacional, o squash só chegou a Macau nos anos 1980. A forte aposta na formação por parte da associação local que tutela a modalidade tem vindo a dar frutos e o objectivo passa agora pelo reconhecimento além-portas dos atletas do território

Texto Cherry Chan

Macau prepara-se para acolher mais uma edição do principal campeonato local de squash. Em cerca de 40 anos, a modalidade atingiu um desenvolvimento assinalável e os dirigentes associativos olham agora para a formação de talentos de nível internacional.

O Centro de Bowling, no Cotai, e o Complexo Desportivo da Universidade de Macau, em Hengqin, recebem entre 9 e 15 de Maio o “2022 Macau Squash Championship”, prova-rainha do calendário doméstico da modalidade, organizada pela Associação de Squash de Macau. Frente a frente vão estar os melhores atletas do território em diversas categorias.

O squash é já um desporto de grande popularidade localmente. A modalidade aponta agora para o sucesso fora de portas: a próxima oportunidade é em Setembro, durante os Jogos Asiáticos de 2022, que vão decorrer em Hangzhou, no Interior da China.

Uma das esperanças do território para a competição é Liu Kwai Chi. Após participar nas edições de 2014 e 2018, espera poder obter um bom resultado em Hangzhou. “Provavelmente este é o meu último ano como atleta”, diz. “Depois disso, quero ser treinadora. Espero poder contribuir para o desenvolvimento deste desporto.”

O squash é já um desporto de grande popularidade em Macau

Liu Kwai Chi, natural de Hong Kong, iniciou-se na modalidade aos dez anos e, inicialmente, encarava-a de forma lúdica. “Continuei o desporto nos meus anos em Hong Kong, até que vim para Macau para o ensino superior. Fui chamada para a selecção de Macau e acabei por ter muitas oportunidades de participar em competições”, recorda. Depois de completar a sua licenciatura, ingressou nos quadros da Associação de Squash como membro da equipa administrativa, conciliando as obrigações profissionais com os treinos.

Outro valor da modalidade é Wu Ka Chon, que começou a jogar squash aos 14 anos. “Conheci este desporto através das ‘Actividades de Férias’”, organizadas anualmente pela Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude e pelo Instituto do Desporto, refere o agora estudante universitário. A popularidade do squash em Macau, diz, continua a avançar, com “mais pessoas a jogar”. Porém, admite, a maioria encara a modalidade como um passatempo.

Rápida evolução

Dados históricos compilados pela Associação de Squash referem que o desporto chegou a Macau no início dos anos 1980. A associação foi criada em 1987, com o objectivo de promover a formação de novas gerações de jogadores, explica Armando Amante, secretário-geral da organização.

No próprio ano da fundação, a associação é aceite como membro da Federação Asiática de Squash. A partir de 1989, atletas locais começam a participar em provas no exterior – isto apesar de os primeiros campos de squash oficiais de carácter público em Macau só terem sido criados em 1995, no Centro Desportivo da Vitória.

O ano de 1997 marca um ponto de viragem no desenvolvimento da modalidade no território, com a organização da edição inaugural do Torneio Aberto de Squash de Macau, a primeira grande competição internacional a ter a cidade como palco. “Permitiu que jogadores de Macau começassem a ter contacto com atletas do exterior”, diz Armando Amante.

A competição, entretanto, cresceu e é já uma das principais provas desportivas do calendário desportivo anual local. A utilização de salas de squash em vidro, colocadas em pontos icónicos da cidade – prática que aconteceu pela primeira vez em 2000 – tem contribuído para a popularidade do evento junto do público.

Novos modelos

Durante as primeiras décadas, o nível do squash praticado em Macau foi-se desenvolvendo de forma casuística, assente na paixão dos jogadores pelo desporto. “Não existia qualquer prática de treino sistémico”, faltando recursos para avançar para um modelo mais consolidado, refere Armando Amante, que foi atleta a tempo inteiro por um ano, após concluir os estudos universitários em 2008 – enveredou, depois, pela carreira de dirigente associativo e treinador, mas continua a jogar.

A mudança de paradigma deu-se em 2013, com a chegada do treinador malaio Lim Chee Ming, que introduziu uma nova dinâmica à área da formação. “Apresentámos planos de três anos, cinco anos e dez anos, com a esperança de ajudar os nossos atletas a atingirem melhores classificações a nível internacional”, recorda Armando Amante.

“Sou especializado em desenvolver este desporto do nada”, diz Lim Chee Ming, com quase duas décadas de experiência enquanto treinador. “Na Malásia, treinei um grupo de atletas da base até chegarem a um nível mundial. Por isso, acreditava que conseguia atingir algo similar em Macau.” 

Lim Chee Ming admite que o início não foi fácil. A maioria dos atletas do território não estava preparada para sessões de treino intensivo e rigoroso, de forma sistemática. Além disso, para formar desportistas de topo, “é preciso proporcionar apoio em todos os aspectos”, salienta.

Os resultados do trabalho da Associação de Squash fazem-se sentir em várias frentes. Entre as iniciativas que têm vindo a contribuir para o crescimento da modalidade está a criação, em 2016, da Escola de Squash Juvenil de Macau. O projecto, fruto de uma parceria com o Instituto do Desporto, visa formar novos atletas e encorajar os jovens para a prática desportiva.

– LER MAIS | Os jovens, o futuro –

A isso soma-se a abertura de novos campos de squash em infra-estruturas desportivas públicas. Entre os mais recentes está um conjunto de cinco salas da modalidade disponibilizadas no Centro Desportivo Mong-Há. Ainda assim, face ao crescimento, a necessidade de espaços adicionais, particularmente para acções de treino, continua a ser uma preocupação de desportistas e dirigentes.

O processo de formação de atletas de topo não é fácil, admite Armando Amante. No entanto, os resultados já obtidos pela associação abrem perspectivas positivas, diz, sendo um sinal de que o squash em Macau se está a desenvolver no sentido certo.