Feira de Artesanato do Tap Siac está de volta em Novembro. Marcas falam da relevância do evento para o sector das indústrias criativas e culturais. O mercado, que começou em 2008, cresce em importância de ano para ano
Texto Catarina Brites Soares
HÁ mais de uma década que duas vezes por ano uma das zonas mais emblemáticas de Macau se enche de negócios ligados às indústrias criativas e culturais. Em 2008, mais modesta em tamanho e visitantes, ainda se viam as pedras da calçada da praça. Doze anos volvidos, escasseia a área livre na Feira de Artesanato do Tap Siac, repleta de stands e curiosos.
Bijuteria, roupa, calçado, livros, quadros, iguarias e outros artigos fazem da Praça do Tap Siac no centro da cidade uma mostra versátil daquilo a que criativos locais e do exterior se dedicam. Cada edição da feira decorre em dois fins-de-semana consecutivos, e em cada ano há duas edições: uma de Primavera, em Abril, e outra de Outono, em Novembro.
Números do Instituto Cultural (IC) mostram que há um interesse crescente pelo evento. À Revista Macau, o organismo revela ter recebido cerca de 200 candidaturas para expositores para o conjunto das duas edições de 2019; mais de 410 candidaturas em 2020; e perto de 400 este ano. “Os números reflectem que as entidades culturais e criativas reconhecem a importância da feira enquanto meio de promoção”, defende o organismo.
A Mandarina Books, The Bright Down Studio e a Mung Animation confirmam-no. As três marcas locais fazem parte da centena que foi seleccionada para a edição de Outono da Feira de Artesanato do Tap Siac, que decorre de 19 a 21 e de 26 a 28 de Novembro. Os resultados positivos da primeira experiência fizeram das empresas repetentes.
“Da primeira vez, houve logo muitas pessoas que se aproximaram para fazer perguntas e comecei a perceber que era uma feira muito local, que a maioria dos participantes era de etnia chinesa e que me iria aproximar muito da comunidade”, diz Catarina Mesquita, à frente da Mandarina Books, marca que se estreou no evento em 2019.
Na altura, a empresa tinha acabado de lançar o primeiro livro e estava perto de editar o segundo. Hoje, Catarina Mesquita tem a certeza que a presença assídua na Feira de Artesanato do Tap Siac tem ajudado na afirmação da editora.
“É completamente diferente do que acontece nas livrarias, onde somos só mais um produto no meio de tantos outros. É muito bom. No Tap Siac, acabei por conhecer as pessoas que mais tarde contribuíram para a Mandarina”, lembra a fundadora da editora, que publica livros infantis, incluindo em edições bilingues e trilingues.
À boleia da feira, Catarina Mesquita encontrou também aqueles que se tornariam parceiros de outra aposta: o teatro de sombras para crianças. “Foi lá que conheci a família macaense com quem criei o projecto e com quem estabeleci uma relação”, realça.
Oportunidade para crescer
A Bright Down Studio, empresa de design que faz miniaturas em 3D, fala “dos benefícios significativos” de participar na Feira de Artesanato do Tap Siac. “Foi uma oportunidade para crescermos enquanto marca, especialmente ao nível de clientes offline”, detalha o fundador do negócio de design e modelização em miniatura de monumentos e edifícios emblemáticos de Macau.
Para Alan Lou, o potencial do evento está na forma como ajuda a atrair novos clientes e funciona como ponte de comunicação entre diferentes negócios locais e do exterior. É também por isso que a Bright Down Studio decidiu voltar a participar no evento, repetindo a experiência inaugural de Abril deste ano. “A maioria das marcas locais de indústrias criativas e culturais, como nós, são pequenas e médias empresas sem meios para ‘darem o pulo’ sozinhas. A feira oferece a oportunidade e os recursos que precisamos para crescer”, sublinha.
Sam Hang, da empresa de animação Mung Animation, explica que a feira permite que criativos e artistas tenham contacto com a população. “É um canal que nos permite ter uma percepção rápida se há adesão aos nossos produtos, além de facilitar o contacto pessoal com os consumidores. Ali ouvimos as opiniões e percebemos onde podemos melhorar”, detalha.
Em resposta à Revista Macau, o Instituto Cultural sublinha que a Feira de Artesanato do Tap Siac tem beneficiado com a participação cada vez maior de entidades locais e do exterior, e com novas marcas que são atraídas todos os anos para participar no evento. “A Feira do Tap Siac tornou-se a maior plataforma de exposição e venda de produtos culturais e criativos, na qual se juntam participantes de diferentes países e regiões”, diz o IC. O mercado, acrescenta o Instituto, reforça a imagem de Macau como centro mundial de turismo e lazer, na medida em que “procura se afirmar como uma marca de turismo cultural”.
Montra para a comunidade
A empresa Mung, criada em 2018 e que se dedica à animação, procura diversificar a oferta como chamariz para os seus projectos. A partir dos personagens animados que cria, faz também artigos como t-shirts, sacos e peluches, que vende na feira. “Foi a maneira que encontrámos para cativar o interesse no nosso trabalho de animação”, explica Sam Hang.
As quatro edições em que esteve presente permitem-lhe concluir que a centralidade geográfica do evento tem ajudado ao sucesso da feira. “Passa por ali muita gente e acaba por ser uma forma fácil e rápida da população conhecer as marcas. É um evento de grande afluência, sobretudo de jovens. Notei que, por causa da feira, a fama e as vendas da Mung Animation cresceram”, revela o fundador da empresa, que se estreou na feira na edição de Outono de 2019.
Catarina Mesquita corrobora. “Em termos de vendas, é muito mais fácil. Nas livrarias temos sempre que esperar que alguém nos veja. Ali acabamos por concretizar mais negócio”, garante.
“Nas últimas edições, também tenho reparado que há um esforço dos participantes em diversificar a oferta das suas marcas. Também o fazemos desde a primeira vez. No primeiro ano, por exemplo, tínhamos pinturas faciais, que oferecíamos na compra de um livro. Todas as edições, procuramos ter iniciativas novas”, acrescenta a responsável da Mandarina Books.
“Além de tudo isto, é um evento que atrai muitos criativos locais, mas também de zonas vizinhas como Hong Kong, do Interior da China, Coreia do Sul, Malásia, entre outras, que são encorajados a trocar ideias e experiências”, acrescenta Sam Hang.
A história que Catarina Mesquita partilha com a Revista Macau mostra-o. Da primeira vez que foi à feira, ainda como visitante, deparou-se com o stand de uma ilustradora de Taiwan. Os postais que tinha expostos cativaram-na. A criação da Mandarina Books já andava na cabeça e Catarina Mesquita resolveu guardar um cartão de contactos. Mais tarde, e ainda nos primórdios da editora, começa a divulgar o trabalho de ilustradores dedicados a livros infantis e entra em contacto com a ilustradora de Taiwan. Nas redes sociais da editora, começa a promover as suas ilustrações. Em Portugal, numa das idas ao país, e por acaso, acaba por encontrar um livro em português ilustrado pela mesma. E da primeira vez que está na feira, já como participante, acabam por ficar em stands vizinhos.
“Assim que percebeu que éramos a Mandarina Books, veio ter comigo com o tal livro em português, agradeceu termos promovido o trabalho dela, e criou-se uma dinâmica engraçada”, recorda Catarina Mesquita. “É só uma história feliz de como a experiência na feira não se resume a ter um stand e vender produtos. Ali tem-se um feedback real.”
O Instituto Cultural refere que o objectivo é esse: que a feira seja um canal para criativos apresentarem e venderem o que criam, e comunicarem entre si. “O mercado do Tap Siac pretende ser um meio para promover produtos originais e juntar criativos de todo o mundo. Em resposta ao Plano de Desenvolvimento Cultural e Turístico da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, o IC vai continuar a colaborar com outras cidades da zona com o objectivo de fazer do mercado um evento singular para as indústrias culturais da região”, promete o Instituto. A ambição é que a feira também se torne um trampolim para que as marcas locais entrem no Interior da China. “Que expandam os canais de venda e que mais gente conheça as criações locais”, sublinha o IC.
A edição de Novembro da Feira de Artesanato do Tap Siac conta com 110 stands de artesanato e de gastronomia, menos que nos anos anteriores como medida de prevenção devido à pandemia da COVID-19. “Diversas entidades culturais e criativas, de Macau e do Interior da China, irão apresentar uma vasta gama de produtos com formas diversificadas e estilos distintos”, detalha uma nota do Governo de Macau. “[A feira] atrai talentos artísticos locais e estrangeiros com o intuito de ser uma exposição multifacetada de criatividade. Hoje é um importante evento cultural de artesanato em Macau e na Ásia”, realça o IC no mesmo comunicado.
A inscrição de expositores para participação na feira é gratuita, mas estes devem respeitar um conjunto de critérios. Desde logo os seus artigos devem ser originais. E as empresas devem apresentar um mínimo de 10 modelos de produtos diferentes. Durante a feira, têm ainda lugar outras actividades como concertos e workshops de artesanato criativo.
“É um evento que vale a pena manter e desenvolver em Macau”, defende Sam Hang da Mung Animation, acrescentando a importância de apostar na promoção e divulgação da feira.