Não são menos importantes em comparação com os locais. Precisamos de vocês para marcar a diferença”. Casimiro Pinto resume assim a mensagem que se pretende transmitir a quem vem de fora para participar no primeiro Encontro dos Jovens das Comunidades Macaenses.
O evento promovido pelo Conselho das Comunidades Macaenses realiza-se entre 19 e 25 de Julho e já tem 56 pessoas inscritas. São macaenses com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos que representam as 11 Casas de Macau espalhadas pelo mundo, de Portugal à Austrália e dos Estados Unidos da América ao Brasil. No total, a comissão organizadora prevê conseguir chegar ao número 100.
Casimiro Pinto, 28 anos, e Guiomar Pedruco, 34, são alguns jovens locais que estão a ajudar à organização do encontro. Tarefa que já não é estranha a Guiomar.
Foi a promotora de eventos que organizou as actividades para os jovens no III Encontro das Comunidades Macaenses, que teve lugar em Novembro de 2007. Melhor do que ninguém, a actual coordenadora do evento, conhece os interesses das gerações mais novas da diáspora.
“Tive oportunidade de contactar com mais pessoas de fora. Ainda hoje estamos ligados, através do Facebook (rede social na Internet). Na altura, pedimos sugestões. Perguntámos quais as impressões de Macau de quem vem de fora e o que sentem”, recorda.
Cerca de 30 jovens acompanharam, em 2007, as delegações das Casas de Macau no estrangeiro. O programa incluiu uma reunião entre estes macaenses, que foi onde nasceu a proposta da organização de um evento específico para jovens.
Nas actas do mini-encontro, seguiram algumas sugestões. Do lado dos macaenses criados em países anglófonos, havia quem sugerisse que o inglês fosse a língua de comunicação, em vez do português. Contudo, a proposta encontrou resistência por parte dos pares brasileiros e mesmo de alguns elementos canadianos e australianos que dominam a língua de Camões. Em discussão esteve ainda a criação de projectos de intercâmbio entre universidades.
Conquistar pelo estômago
Durante os sete dias do Encontro dos Jovens das Comunidades Macaenses, estão agendadas sessões plenárias dedicadas à realidade de Macau, como a economia, infra-estruturas, ideias sobre a integração na região do Delta do Rio das Pérolas e o papel de plataforma entre a China e os países de língua portuguesa e da União Europeia. Por outro lado, os participantes da diáspora vão ter oportunidade de explicar os contextos onde vivem.
“O objectivo é dar um espaço e um tempo para poderem trocar impressões e dificuldades de cada sítio”, frisou o presidente da comissão organizadora, José Luís Sales Marques.
Além de visitas pelo património cultural da RAEM, o grupo vai deslocar-se a Cantão durante três dias e duas noites. O Albergue da Santa Casa da Misericórdia é outra paragem que vai servir para mostrar o espaço no território dado às indústrias criativas.
Mas as grandes atracções do evento são seminários sobre gastronomia e patuá – que são os principais interesses dos jovens macaenses espalhados pelo mundo. O encenador do grupo de teatro que usa o dialecto maquista Dóci Papiaçám e presidente da Associação dos Macaenses, Miguel Senna Fernandes, vai falar sobre o patuá. ”Vai ser uma espécie de colóquio. Não vou ensinar a soletrar as palavras, mas sim explicar qual a importância do dialecto dentro do património da comunidade macaense”, revelou.
Uma das estratégias da organização do encontro para atrair sangue novo com vontade de assumir os comandos da luta pela preservação da identidade da comunidade passa pelo paladar. “A gastronomia é fundamental na transmissão de identidade. O renascimento do patuá é relativamente recente e deve ser mais divulgado, mas o minchi tanto se faz na Califórnia como em Macau”, defende José Sales Marques.
Atenção às raízes
Casimiro está encarregue de contribuir com ideias que garantam a participação dos jovens.
É por isso que este evento pretende ser diferente dos anteriores Encontros das Comunidades Macaenses. “Gostaríamos que este fosse o encontro em que os participantes se sentissem perfeitamente sintonizados”, explicou o presidente da organização.
Tudo vale para cumprir a missão da iniciativa: o surgimento de uma nova geração de macaenses, quer em Macau, quer na diáspora, de elementos activos que irão assegurar o futuro do movimento e da comunidade.
Para Miguel Senna Fernandes, a festa já está garantida. O desafio é conseguir os resultados. “O verdadeiro sucesso é outro: ganharem atenção às suas raízes”, sustentou.
Opinião que é partilhada por Casimiro. “Só convívio não chega.
A mensagem que temos que transmitir é que, se não olharmos para o futuro, vamos perder a nossa origem, raízes e história”, alertou.
O certo é que a luta não é só externa, mas também interna.
Antes do arranque do encontro, há que conquistar os jovens locais. Segundo Sales Marques, o grupo de residentes da RAEM conta com 15 elementos, pertencentes à faixa etária dos 30 aos 40 anos. “É preciso preencher dos 18 aos 30 anos”, notou.
A dispersão dos macaenses locais é uma questão que também preocupa Guiomar: “Tenho a sensação que a cultura macaense está a diminuir. Este encontro não pode ser interpretado como um evento dirigido apenas a quem vem de fora.
Os locais também têm responsabilidade na preservação da identidade. Esta é uma oportunidade para agrupar não só a diáspora, mas também os jovens macaenses residentes”.
De fora ou não, quem são estes jovens que se vão reunir em Macau? Para Sales Marques, a questão da identidade macaense é dinâmica, transforma-se consoante o tempo e o espaço em que se vive.
“Existe uma transformação, mas há sempre algo que permanece. E o primeiro elemento desta identidade é o amor por Macau. Existe esse traço grande que é o apego e o chamamento à terra.”