Nascido em 1958 na antiga capital imperial chinesa de Xian, Zhang Lie explica que foi através da ópera de Beijing, enquanto género, que lhe chegou o gosto pela música tradicional chinesa, ainda em tenra idade. O maestro destaca a peça “A Rapariga de Cabelo Branco”, muito afamada no período após o estabelecimento da República Popular da China (RPC). Também contribuindo para a sua formação musical estiveram algumas das primeiras obras musicais já escritas depois da fundação da RPC, como o bailado “Destacamento Vermelho de Mulheres”.
“A ópera de Beijing era bastante popular entre os anos 1960 e 1970. Lembro-me de, quando era criança, a ópera ‘A Tomada da Montanha do Tigre’ ser imensamente conhecida em todo o país. Desenvolvi, assim, um interesse em aprender ópera de Beijing, sendo que, nessa fase, fui também exposto e influenciado por outros géneros musicais”, recorda.
Aos 13 anos, foi seleccionado para integrar uma companhia de teatro musical na sua província, onde tocou uma variedade de instrumentos. Quando estava a entrar na casa dos 20 anos, surgiu uma oportunidade que lhe mudaria o destino: a possibilidade de segurar numa batuta pela primeira vez. “Com o desenvolvimento do país, muitos maestros de orquestra mudaram-se para os grandes centros urbanos, como Beijing e Xangai”, levando a que houvesse escassez destes profissionais em cidades menores, contextualiza. “Deste modo, aprendi com um maestro chinês formado na antiga União Soviética, iniciando a minha carreira de regente relativamente novo.”
Essa foi a chave para o início de um percurso profissional que, a nível de conhecimentos académicos, foi reforçado com estudos no Conservatório de Música de Xian, que completaria em 1984. O processo de aprendizagem e aperfeiçoamento continuaria, mais tarde, no Departamento de Regência do Conservatório Central de Música.
Ao longo da sua carreira de cerca de meio século, Zhang foi maestro permanente da Orquestra Sinfónica da Rádio e do Filme da China e da Orquestra Nacional da Rádio. O seu currículo inclui ainda passagens, como director musical e maestro principal, pela Orquestra Chinesa de Zhejiang, Orquestra Chinesa de Guangdong e Orquestra Nacional da Rádio e da Televisão de Shaanxi, entre outros grupos. É actualmente também director musical e maestro principal da Orquestra Chinesa de Nanjing e da Orquestra Chinesa de Henan.
A vasta experiência de Zhang inclui igualmente a gravação de música para filmes e séries televisivas, além de discos de música chinesa. Enquanto compositor, conta com mais de uma centena de obras com a sua assinatura, várias delas premiadas a nível nacional: “Fantasia de Xiao Ba Lang” e “Rebocadores do Rio Amarelo” estão entre os seus trabalhos mais conceituados.
Zhang caracteriza o papel de maestro como algo mais do que uma carreira; é um modo de vida. Até porque a natureza “nómada” do trabalho, com viagens frequentes e estadias regulares em diferentes locais, dificulta uma vida estável. Enquanto maestro, actuou já em dezenas de países, desde a Áustria à Alemanha, passando pelos Estados Unidos da América e Japão, além de ter colaborado com diferentes orquestras um pouco por toda a China.
“A situação é um desafio, não só para mim, mas também para a minha família”, admite, agradecendo-lhe o apoio.