Centro de Ciência de Macau

Quinze anos a trocar ciência por miúdos (e graúdos)

A infra-estrutura foi conceptualizada pelo famoso arquitecto sino-americano Ieoh Ming Pei, falecido em 2019
O Centro de Ciência de Macau assinala em Dezembro o seu 15.º aniversário. Em conversa com a Revista Macau, o responsável pelas operações do complexo, Sio Hon Pan, sublinha a importância da infra-estrutura para a promoção da ciência junto do público, em particular do mais jovem

Texto Vitória Man Sok Wa

Foi a 19 de Dezembro de 2009 que o Centro de Ciência de Macau foi oficialmente inaugurado, pela mão do Presidente Hu Jintao. A infra-estrutura, que abriria ao público no mês seguinte, afirmou-se nos últimos 15 anos como uma importante base para a educação e popularização da ciência junto da população de Macau, com um enfoque nas actividades interactivas.

Sio Hon Pan, curador do Centro de Ciência de Macau, responsável pelas operações do espaço, sublinha que o complexo não é um museu – pelo menos, não no sentido tradicional da palavra. Ali, quer-se que os visitantes experimentem e interajam com as exposições. Apenas dessa forma pode o Centro atingir os seus dois objectivos fundamentais, explica: educar e popularizar a ciência, em particular junto dos mais novos.

A estratégia parece estar a colher frutos. No ano passado, o Centro recebeu mais de 660.000 visitantes. Cerca de 75 por cento visitaram o centro de exibições – o Centro de Ciência de Macau conta ainda com um planetário e um centro de convenções.

O Centro de Ciência recebeu mais de 660.000 visitantes no ano passado

O objectivo, refere Sio Hon Pan, é que o complexo – que está sob a alçada da empresa de capitais públicos Centro de Ciência de Macau, S.A. – seja um espaço dinâmico, com novas actividades e exposições a terem lugar. “As nossas exposições são constantemente actualizadas e implementamos regularmente novos programas para estudantes e crianças”, explica o responsável, que chegou ao Centro de Ciência logo em 2009, após ter desempenhado funções de gestão noutras grandes infra-estruturas públicas de Macau, nomeadamente no Estádio do Centro Desportivo Olímpico e na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental de Macau.

Ícone arquitectónico

A abertura do complexo do Centro de Ciência marcou, de forma indelével, não só a paisagem científica de Macau, mas também a arquitectónica. Os trabalhos de preparação para o lançamento do projecto arrancaram em 2001, com as obras a terem início em 2006.

A infra-estrutura foi conceptualizada pelo famoso arquitecto sino-americano Ieoh Ming Pei, falecido em 2019, sendo um dos seus últimos projectos, elaborado em colaboração com a empresa PEI Architects, fundada pelos seus filhos. Além do Centro de Ciência de Macau, Pei foi autor de projectos icónicos à escala mundial, como a pirâmide de vidro do Museu do Louvre, em Paris, a Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy, em Boston, ou, aqui mais perto, a Torre do Banco da China, em Hong Kong.

Uma das singularidades arquitectónicas do Centro de Ciência prende-se com a sua estrutura principal, a qual apresenta uma configuração cónica assimétrica. Os visitantes têm acesso às várias galerias do centro de exibições através de um corredor em espiral ascendente, pelo interior do cone, o qual parte de um átrio de grandes dimensões.


“As nossas exposições são constantemente actualizadas e implementamos regularmente novos programas para estudantes e crianças”

SIO HON PAN
CURADOR DO CENTRO DE CIÊNCIA DE MACAU

Sio Hon Pan afirma que o projecto arquitectónico delineado por I. M. Pei para o Centro de Ciência está intimamente ligado às funções do complexo: trata-se de uma “aula prática” sobre a importância de respeitar princípios científicos basilares na concepção estrutural, afirma. O responsável acrescenta que um aspecto único do projecto é que a configuração do espaço deriva de princípios da geometria.

O centro de exibições do Centro de Ciência, com cerca de 5800 metros quadrados, tem actualmente 13 galerias com exposições permanentes, além de uma galeria reservada para exposições especiais, localizada no átrio. As galerias abrangem temas como astronomia, acústica, física mecânica, electromagnetismo, biodiversidade ou tecnologias inteligentes.

Sio Hon Pan destaca a galeria dedicada à cibersegurança. “Através da exposição de casos de ‘hackers’ que obtiveram acesso indevido a telemóveis e computadores, os cidadãos podem tornar-se mais conscientes sobre as necessidades de proteger os seus dados no dia-a-dia”, refere. “Penso que o Centro é o único aqui em Macau que tem este tipo de exposição, com um toque prático e tão próximo da vida quotidiana.”

Já o planetário do Centro de Ciência é descrito como sendo o equipamento do género com a mais alta resolução 3D do mundo, oferecendo um total de 127 lugares sentados, equipados com comandos interactivos. O destaque é o seu ecrã inclinado em forma de cúpula, com um diâmetro de mais de 15 metros. Aí, é possível ver diversos filmes de divulgação científica e de promoção de boas práticas ambientais.

Despertar a curiosidade

Em 2022, o Centro de Ciência foi seleccionado pela Associação de Ciência e Tecnologia da China como “Base Educativa Nacional de Popularização Científica”, distinção válida até 2025. A classificação reconhece o trabalho desenvolvido na promoção da educação científica e tecnológica.

O Centro disponibiliza várias actividades e programas educativos. Os participantes podem utilizar os laboratórios do complexo, devidamente apetrechados, para aplicar conceitos científicos em actividades de exploração activa, para uma aprendizagem baseada em projectos. Estas iniciativas e programas são, para Sio Hon Pan, a parte mais significativa das operações do centro.

O Centro disponibiliza diversas actividades de exploração científica destinadas a pais e filhos

As famílias parecem concordar: o Centro de Ciência organiza diversos programas destinados especificamente a grupos de pais e filhos, para exploração conjunta. De acordo com uma mãe ouvida pela Revista Macau durante uma visita a um destes workshops, a sua filha de seis anos é presença assídua nas actividades que ali vão sendo organizadas. Segundo acrescenta a progenitora, o Centro oferece uma oportunidade para que pais e filhos possam interagir enquanto adquirem novos conhecimentos. “É imperativo que as crianças desenvolvam um raciocínio científico, tal como a compreensão de que a gestão ambiental é uma responsabilidade colectiva, que é o tema central do workshop de hoje.”

Outros participantes no workshop transmitem a mesma mensagem. É o caso de um menino de dez anos que, segundo explica, já frequenta o Centro de Ciência há pelo menos três. A diversão e as experiências valem tanto a pena que, diz, agora incentiva a irmã a acompanhá-lo.

No ano passado, foram organizadas 311 actividades de popularização da ciência, que contaram com mais de 11.000 participantes. Além disso, foram levadas a cabo 13 competições de carácter educativo e popularização de ciência, que tiveram a participação de cerca de 9400 estudantes, provenientes de 74 escolas.

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Uma iniciativa que atrai regularmente bastantes participantes é a observação ao ar livre de astros com recurso a telescópio. No ano passado, foram realizadas seis sessões do género, com cerca de 2000 participantes, que puderam observar não só a face da lua e diversos planetas do sistema solar, mas também chuvas de meteoritos e um eclipse lunar.

Sio Hon Pan destaca o Programa de Formação de Quadros Qualificados para a “Ciência e Tecnologia da Vila da Juventude”, lançado no ano lectivo de 2023/2024 em parceria com a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude. O objectivo da iniciativa é proporcionar uma formação especializada a estudantes com vocação para a área das ciências e tecnologias, cultivando o seu interesse e talento. No ano passado, uma centena de alunos foi aceite para o programa, que incluiu 100 horas de palestras e cursos de investigação científica, bem como sete viagens de estudo.

Os programas não se ficam por aqui. O Centro de Ciência oferece igualmente formações para professores. Só em 2023, cerca de 2950 docentes locais participaram neste tipo de acções, ajudando a expandir os esforços de divulgação científica até às salas de aula das escolas do território.