Turismo

Novas ofertas e um destino por (re)descobrir

O número de turistas que visitam Macau continua a crescer e há ainda muitas oportunidades por explorar, diz a responsável máxima da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes. Em entrevista à Revista Macau, a directora garante que Macau está a trabalhar com vários parceiros para diversificar a oferta e tornar a cidade num destino preferencial a nível regional e internacional

Texto Tiago Azevedo
Fotografia António Sanmarful

Desde 2023, Macau tem registado uma rápida recuperação no número de visitantes. Considera este crescimento um reflexo das iniciativas que têm sido levadas a cabo pelo Governo e agentes do sector do turismo?

Mesmo durante o período da pandemia, tivemos a oportunidade de reabrir o sector do turismo com o Interior da China. Embora o número de visitantes fosse reduzido, deu-nos a oportunidade de fazer alguma promoção e algum trabalho naquele mercado. Por causa disso, tivemos a possibilidade de acumular bastante experiência e, depois da reabertura [das fronteiras] no ano passado, pudemos usufruir dessa experiência e das promoções efectuadas para, rapidamente, captar um grande número de visitantes oriundos do Interior da China e de Hong Kong. 

No ano passado, já atraímos 28 milhões de visitantes, a maioria deles da Grande China, isto é, do Interior da China, Hong Kong e Taiwan. Este ano, os nossos olhos agora estão virados para os mercados internacionais, porque é importante. Depois de um ano de planeamento em termos de promoções, este ano estamos virados para o exterior. Durante os últimos meses, tivemos actividades promocionais no Japão, em Singapura, na Indonésia, na Coreia do Sul e na Tailândia, seguindo-se a Malásia em Julho. 

Este ano, temos dois objectivos: alcançar 33 milhões de visitantes até ao final do ano; e, em termos de visitantes internacionais, queremos ultrapassar os 2 milhões. Em 2025, o nosso alvo será 3 milhões de turistas internacionais, recuperando para os números que tínhamos antes da pandemia. No que toca aos visitantes internacionais, há ainda muito trabalho a fazer e temos de incentivar a indústria para trabalhar em conjunto para atingir os nossos objectivos.

Quais os mercados, para além da Grande China, que deverão registar uma recuperação mais rápida em termos de volume de visitantes?

Desde a reabertura de Macau ao turismo internacional, no ano passado, temos realizado bastantes actividades, tanto online como presenciais. Há alguns mercados que estão a recuperar melhor, por exemplo, as Filipinas e a Indonésia. Mas há outros países dos quais recebíamos mais visitantes, por exemplo, o Japão, que estão a recuperar mais lentamente. Felizmente, a Coreia do Sul já ultrapassou os outros mercados para se tornar no principal mercado internacional de Macau. Mesmo assim, ainda está apenas a cerca de 50 por cento [do volume de visitantes], comparando com 2019. Por isso, há ainda muito trabalho por fazer, incluindo aumentar o número de voos directos para a Coreia do Sul. 

Neste momento, ainda estamos muito abaixo em termos de voos directos para a Coreia do Sul, comparando com o período antes da pandemia. Mas há boas notícias, como o facto de a Korean Air ter lançado voos diários para Macau.

O facto de Macau acolher também mais espetáculos de artistas coreanos ajuda na promoção, permitindo atrair consumidores da Coreia do Sul, como também de outros países, pois os artistas coreanos têm uma grande influência a nível internacional. 

Estamos também a trabalhar muito estreitamente com Hong Kong para alargar a oferta em termos de ligações a Macau, tanto através das ligações marítimas, como através da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.


“Em 2025, o nosso alvo será 3 milhões de turistas internacionais, recuperando para os números que tínhamos antes da pandemia”

MARIA HELENA DE SENNA FERNANDES
DIRECTORA DA DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE TURISMO

Que outras iniciativas estão a ser planeadas para atrair um volume ainda maior de turistas internacionais?

Este ano, celebra-se o 25.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau e nós temos usado esta grande celebração como uma maneira de captar mais visitantes internacionais. Lançámos uma campanha com 250 mil ofertas para visitantes internacionais, entre as quais temos bilhetes de avião com descontos, em parceria com várias companhias aéreas que voam directamente para Macau, mas também com a Cathay Pacific, para Hong Kong.

Além disso, temos também oferecido bilhetes gratuitos de autocarro do Aeroporto Internacional de Hong Kong directamente para Macau, para pessoas que têm passaporte internacional e que aterram em Hong Kong, bem como para visitantes internacionais que já se encontram em Hong Kong. 

Neste momento, há muitas outras ofertas que estamos a fazer para os visitantes internacionais, porque, de facto, achamos que é muito importante começar a trabalhar nos mercados internacionais para além da Ásia. 

Estamos a fazer outras colaborações com agentes noutros mercados de longo curso, sobretudo na Europa. Temos um grande parceiro que é a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que, em 2025, irá realizar o seu congresso nacional em Macau. Além disso, estamos também a trabalhar em conjunto com a APAVT para termos uma presença na Bolsa de Turismo de Lisboa e na FITUR, em Madrid. 

Para o próximo ano, Macau foi designada como “Destino Preferido” da Confederação Europeia das Associações de Agências de Viagens e Operadores Turísticos e iremos acolher a cimeira desta organização. Será uma reunião com 60 a 70 pessoas, mas que representam cerca de 80 mil agências de viagens da Europa.

Como pode o conceito de viagens multidestinos – abrangendo Macau e outras cidades vizinhas da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau – ajudar a atrair mais turistas? 

Desde que o conceito da Grande Baía foi constituído, em 2019, que estamos a trabalhar em conjunto com os nossos parceiros de Guangdong. Infelizmente, parte do trabalho foi suspenso durante os três anos da pandemia, mas depois da reabertura começámos a trabalhar muito estreitamente com Hong Kong e também com Cantão sobre este assunto. No ano passado, estivemos na Tailândia em conjunto para lançar uma campanha promocional e também lançámos dez sugestões de roteiros para dar a conhecer a região aos consumidores. Acho que daqui para a frente vamos fazer mais promoções em conjunto com os nossos parceiros, porque é importante que o mundo também fique a conhecer a Grande Baía, para que possamos atrair mais pessoas para viagens multidestinos. 

Mas para além de trabalhar nos mercados internacionais, também temos de trabalhar no mercado do Interior da China, porque há muitas pessoas, sobretudo [em destinos de] médio e longo curso no Interior da China, que não conhecem muito bem a Grande Baía. Portanto, há muitas possibilidades para criar itinerários multidestinos virados para os consumidores na China. Este ano, já tivemos bastantes boas notícias, como as dez cidades que foram adicionadas à política de vistos individuais para Macau, bem como a nova possibilidade de viajar entre o Interior da China e Macau no período de sete dias [com vistos de múltiplas entradas para excursões entre Macau e Hengqin]. São novas oportunidades e temos de planear com mais criatividade para atrair mais visitantes. 

O que está a ser planeado para tirar o melhor proveito da expansão destas políticas de apoio a Macau?

Estamos a trabalhar em conjunto com outros departamentos governamentais e também com o sector privado. Já estamos a planear uma “Semana de Macau” em Xi’an, que é uma das novas cidades incluídas na política de vistos individuais para Macau, a ser realizada em Agosto deste ano. O aeroporto está a trabalhar muito estreitamente com uma companhia aérea para lançar voos directos entre Xi’an e Macau, mas ainda temos de trabalhar em conjunto com Hong Kong, que também tem esta política de vistos individuais, para lançar mais voos para as cidades do Interior da China. Podemos trabalhar em conjunto também com Cantão para atrair pessoas destas cidades agora abrangidas pelos vistos individuais para Macau. 

Acho que há muitas possibilidades para explorar, mas estamos a trabalhar em muitas frentes ao mesmo tempo e estas actividades têm de ser feitas passo a passo. Já lançámos campanhas promocionais para as novas cidades, online e através de promoções locais. Daqui para a frente, vamos também fazer algo junto do sector das agências de viagens dessas cidades, que, eventualmente, não conhecem muito bem Macau e não tiveram ainda a possibilidade de trabalhar muito estreitamente com a nossa indústria. Este terá de ser o primeiro passo antes de fazer grandes campanhas junto dos consumidores locais.

A Direcção dos Serviços de Turismo realizou recentemente uma acção de promoção na Tailândia

Macau tem atraído mais turistas e tem procurado alargar as fontes de visitantes. O que tem sido feito em termos de alojamento para acompanhar este crescimento e assegurar uma oferta mais diversificada em termos de hotéis e preços?

A nova lei sobre a indústria hoteleira, que entrou em vigor em 2022, foi uma boa forma de facilitar o licenciamento de novos hotéis, especialmente no que toca a estabelecimentos de baixo custo ou alojamento económico, mas que tenham qualidade. Vamos continuar a incentivar mais investimento em novas categorias de hotéis em Macau. Por outro lado, também estamos a incentivar as pessoas a optarem por alojamento no centro, porque cria mais possibilidades para explorarem a cidade. Vamos continuar a trabalhar em conjunto com a indústria para que os consumidores tenham maior acesso a informações sobre a oferta mais diversificada em termos de alojamento em Macau.

Está à frente da DST há vários anos, um período marcado pela pandemia, mas também por uma mudança nos comportamentos e preferências dos consumidores. Como vê a mudança de perfil do turista em Macau?

Durante a pandemia, já pudemos observar uma certa mudança em termos do tipo de turistas que estão a vir a Macau, especialmente no que toca às excursões. Actualmente, as pessoas ainda viajam em grupo, mas são grupos mais pequenos ou famílias. No ano passado, por exemplo, recebemos cerca de 1,2 milhões de pessoas que vieram a Macau em excursões, comparando com 8 milhões em 2019. Há, efectivamente, uma grande tendência para grupos mais pequenos, que querem serviços mais personalizados e que tenham em consideração as suas preferências.

Nesse sentido, a indústria de Macau tem de oferecer um serviço mais personalizado, temos de passar mais informações aos consumidores, para que eles possam também conhecer melhor a nossa oferta e possam fazer as suas escolhas. 

Em termos de promoções online, estamos a trabalhar em inúmeras redes sociais para promover Macau como destino turístico, utilizando plataformas internacionais, mas, também, plataformas viradas especificamente para alguns mercados, como a Coreia do Sul, Japão ou Tailândia.

É muito difícil trabalhar em tantas plataformas, porque temos de criar muito conteúdo – em diferentes línguas – que tem de ser relevante para os diferentes consumidores. Hoje em dia, a forma como se faz a promoção é muito diferente do passado e temos que tirar o melhor proveito de todos estes métodos de comunicação.

A DST tem promovido Macau como um centro de lazer e entretenimento, um destino cultural e gastronómico. Como fazem uso dessas valências para garantir que os turistas visitam Macau mais do que uma vez?

Temos consciência de que Macau é um destino pequeno, mas é um destino onde as pessoas se sentem bem e querem voltar. Naturalmente, temos de criar conteúdo ou eventos para que as pessoas regressem a Macau, seja para participar num evento ou para um concerto. É essencial termos novidades nas várias áreas, seja em termos de convenções e exposições, concertos ou desporto, ou outras.

Falou na meta de 33 milhões de turistas para este ano, o que representaria cerca de 85 por cento de 2019. Considera que este crescimento pode criar alguns constrangimentos à qualidade dos serviços que a indústria de Macau oferece?

Penso que não. Temos sempre de continuar a elevar a qualidade do nosso serviço. Os visitantes gostam de Macau, porque a cidade oferece um bom serviço, em termos de oferta turística e hospitalidade. Para isso, acho que, para além dos produtos, temos sempre de apostar nas pessoas. Não só nas pessoas que trabalham na indústria, mas também na restante população, com quem os visitantes interagem quando cá estão. 

No ano passado, lançámos a nossa “Campanha de Cortesia”, virada para toda a população de Macau. Achamos que é importante que as pessoas fiquem a saber que Macau gosta dos seus turistas. Embora a cidade seja pequena e, por vezes, haja alguns constrangimentos, a nossa hospitalidade é elevada e recebemos bem os turistas. 

Também queremos que os turistas explorem os diferentes bairros de Macau durante a estadia na cidade e, nesse sentido, estamos a trabalhar muito mais em conjunto com as diferentes comunidades nos vários bairros de Macau.

Há muito trabalho aqui por fazer e vamos trabalhar em conjunto – e de forma mais estreita – com os bairros comunitários, porque há também várias oportunidades a explorar.