Portugal

Em Macau, com os olhos postos na lusofonia

Portugal está disponível para explorar oportunidades de cooperação triangular com a China nos países de língua portuguesa, afirma Márcia Guerreiro. A delegada de Portugal junto do Secretariado Permanente do Fórum de Macau diz que as competências averbadas pelas empresas portuguesas na área da gestão de infra‑estruturas podem ser uma mais-valia para eventuais parceiros chineses. A economia do mar é outra das áreas de interesse comum

Texto Marco Carvalho

Um palco propício ao desenvolvimento de sinergias e um importante complemento a relações bilaterais com tanto de sólido, como de secular. No âmbito da dinâmica do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) – também conhecido como Fórum de Macau –, Portugal projecta interesses muito próprios – e muito diferenciados – na plataforma multilateral com sede em Macau.

Cinco séculos de convivência cultural, económica, social e política contribuíram para que a presença do vinho, do azeite e de uma vasta gama de outros produtos portugueses nos supermercados do território se tornasse ubíqua. A concretização de muitas das metas comerciais a que se propõem as demais nações lusófonas permite que as autoridades de Lisboa direccionem os seus interesses e expectativas junto do Fórum de Macau para outros horizontes, nomeadamente para a cooperação com empresas chinesas tendo em vista o desenvolvimento de projectos em países terceiros, explica Márcia Guerreiro, delegada de Portugal junto do Secretariado Permanente do Fórum de Macau.

 “Os interesses de Portugal no Fórum de Macau passam, sobretudo, pela ampliação das oportunidades de negócio para as empresas portuguesas na China, mas também pela triangulação com empresas chinesas para investir nos países lusófonos”, afirma Márcia Guerreiro. 

“Portugal tem grandes competências na área da gestão de infra-estruturas. Podemos, nesse domínio, ser um grande parceiro para a China, tanto em termos de conhecimento, como de implementação, tendo em vista o desenvolvimento de infra-estruturas nos países lusófonos”, adianta a responsável. “Conhecemos bem a realidade desses países e essa é a nossa grande vantagem no que toca à possibilidade de investimentos conjuntos. São estas competências que estamos a tentar promover junto dos responsáveis da parte chinesa, para que consigamos fazer mais. Já existem alguns projectos, mas não são tantos como gostaríamos”, complementa. 

Com uma economia competitiva e cada vez mais internacionalizada, Portugal é o único país participante do Fórum de Macau situado no continente europeu, circunstância que, no entender de Márcia Guerreiro, se prefigura como uma mais-valia, tanto para a China, como para os demais países participantes da organização. 

Novos horizontes

Mas uma localização geográfica privilegiada e um conhecimento consolidado no domínio da gestão de projectos de infra-estruturas não são os únicos trunfos que Portugal atira para o tabuleiro diplomático do Fórum de Macau. A economia do mar é uma das áreas de interesse comum que Lisboa partilha com Pequim e um dos domínios que Portugal gostava de ver potenciado no contexto da cooperação sino-lusófona.

“A economia do mar é um dos grandes sectores que nós também queremos dinamizar. É uma das áreas em que a China tem muito interesse, até porque Portugal e a China assinaram uma ‘parceria azul’ há alguns anos”, sustenta Márcia Guerreiro. 

“Queremos incentivar as empresas a investirem nessa área e a trabalharem conjuntamente em domínios que não dizem, necessariamente, respeito ao intercâmbio comercial, mas à área científica, da investigação e do desenvolvimento de produtos”, acrescenta a delegada de Portugal. “A economia do mar é uma área central para Portugal, bem como o desenvolvimento verde e a sustentabilidade.”


“Gostávamos de ver criados novos mecanismos para ajudar as pequenas e médias empresas”

MÁRCIA GUERREIRO
DELEGADA DE PORTUGAL JUNTO DO FÓRUM DE MACAU

Lisboa e Pequim assinaram, em Novembro de 2017, um memorando de entendimento tendo em vista a exploração das “potencialidades de sinergia económica, científica, comercial e de inovação entre a economia do mar e a Nova Rota Marítima da Seda”. O acordo previa a valorização dos portos lusos e a dinamização dos negócios do mar à boleia do impulso dado pela República Popular da China à globalização económica ao abrigo da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

“Portugal faz parte da Faixa e Rota. Assinámos o documento com a China e era uma vantagem podermos fazer parte deste projecto, sermos a porta de entrada da China na Europa. De um mesmo modo, seria importante atrair empresas chinesas para desenvolver, em conjunto, a área dos portos e da logística internacional”, ressalva Márcia Guerreiro. 

Para as autoridades de Lisboa, a presença no Fórum de Macau constitui uma oportunidade incontornável para o reforço da internacionalização da economia portuguesa. A plataforma multilateral abre as portas a inúmeras possibilidades de entendimento e acena com um enorme potencial de crescimento quer para eventuais investidores chineses, quer para as empresas dos parceiros lusófonos, mas há ainda “terreno para desbravar”. Esta foi a mensagem que o ministro da Economia do Governo português, Pedro Reis, trouxe à 6.ª Conferência Ministerial do Fórum de Macau, realizada no final de Abril. 

Agilizar a cooperação 

Márcia Guerreiro partilha a posição e defende uma maior agilização do funcionamento do Fórum de Macau, nomeadamente através de uma participação mais activa das agências de comércio e investimento dos países lusófonos e de uma maior atenção às pequenas e médias empresas que constituem o cerne do tecido empresarial da maior parte dos países membros.

“Há que agilizar aqui o funcionamento, para que possamos ver um maior número de propostas ser implementado. Nesse sentido, gostávamos de ver incluídas na dinâmica do Fórum de Macau não só as instituições locais, mas também instituições dos países de língua portuguesa que estejam direccionadas para o apoio ao comércio e às empresas e também à importação e exportação. Queremos envolver essas entidades em cada um dos países, para que se possa divulgar com maior eficácia aquilo que o Fórum de Macau pode potenciar”, salienta a delegada de Portugal. 

“Gostávamos ainda de ver criados novos mecanismos para ajudar as pequenas e médias empresas, porque esse é o grande foco e são essas empresas que constituem a maior parte do tecido empresarial dos países participantes do Fórum de Macau e Portugal não é excepção. São essas as empresas que necessitam de apoio e que, muitas vezes, não conhecem os mecanismos em Macau, nem o apoio que está disponível”, acrescenta a responsável.

A economia azul é uma das áreas em que Portugal pode aprofundar a cooperação com a China e os outros países lusófonos

Flexibilizar é, para Márcia Guerreiro, um conceito central no âmbito da revitalização das relações sino-lusófonas e da consolidação do Fórum de Macau. O organismo facilitou a expansão e o aprofundamento da cooperação ao longo dos últimos 21 anos, com resultados notáveis nos domínios do comércio, do investimento, do intercâmbio cultural e da formação de recursos humanos, mas Portugal quer mecanismos de cooperação ainda mais robustos e profundos, para que os objectivos que nortearam a constituição do organismo, em 2003, se possam cumprir plenamente.

“Queremos dinamizar e flexibilizar os apoios financeiros que existem. Esse é um dos desígnios que gostávamos de ver cumpridos. Existe o Fundo de Cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, mas é um fundo a que é, muitas vezes, um bocadinho difícil de aceder, sobretudo para as nossas empresas”, defende a representante de Portugal, que vê com bons olhos a intenção – manifestada durante a última Conferência Ministerial do Fórum de Macau – de flexibilizar o acesso ao Fundo, para que seja mais fácil empresas de menor dimensão concorrerem com os seus projectos. 

Aprovado no final de Abril, o novo plano de acção do Fórum de Macau procura responder a alguns dos anseios de Portugal e dos restantes países lusófonos. Abrangente, o documento propõe elevar a cooperação entre as partes em domínios como o intercâmbio intergovernamental, o comércio e o investimento, a tecnologia, a conservação ambiental e a economia azul, a economia digital ou o fomento das pequenas e médias empresas.