Está de volta a Macau o torneio de voleibol de maior prestígio que a cidade alguma vez acolheu. A etapa de Macau da Liga das Nações de Voleibol Feminino começa a ser disputada este mês, contando, pela primeira vez, com oito equipas. Para além do pavilhão, há uma influência que se estende à comunidade local, com o evento a contribuir para uma maior divulgação da modalidade, contam à Revista Macau pessoas ligadas ao sector
Texto Vítor Rebelo
De forma gradual, Macau vai garantindo a organização de grandes eventos desportivos que estiveram suspensos durante o período da pandemia. Um dos mais populares é a prova internacional de voleibol feminino, que, ao longo dos anos, trouxe a Macau as melhores selecções do mundo.
Entre 1993 e 2017, realizou-se no território uma das etapas do Grande Prémio Mundial de Voleibol, organizado pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Em 2018, a competição deu lugar ao que actualmente é conhecido como a Liga das Nações de Voleibol Feminino, também sob alçada da FIVB.
Depois de um hiato de quatro anos, a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) volta a acolher uma das etapas da Liga das Nações, a ser disputada entre 28 de Maio e 2 de Junho. O novo sistema da prova – implementado em 2022 – prevê competições em seis cidades, com oito equipas a disputarem um total de 16 jogos em cada um dos destinos.
O Instituto do Desporto (ID) da RAEM e a Associação Geral de Voleibol de Macau-China têm sido parceiros na organização do evento, que volta a contar este ano com o apoio e patrocínio do Grupo Galaxy Entertainment.
Pela primeira vez, o evento terá lugar na Arena do Galaxy, que dispõe de 16 mil lugares, podendo, segundo a organização, ajudar a alcançar novos recordes em termos de público e de receita, especialmente nos jogos que envolvem a selecção da República Popular da China. Além da equipa da China, estarão em Macau as selecções da Tailândia, República Dominicana, Brasil, Japão, Itália, França e Países Baixos, com algumas das melhores jogadoras do circuito mundial. Nas mesmas datas vai decorrer a outra série da fase preliminar também com oito selecções, em Arlington, nos Estados Unidos.
Mas nem todas as equipas se defrontarão entre si nestas séries. As 16 selecções que fazem parte da fase preliminar foram classificadas no ranking mundial da FIVB após a última edição da prova, e cada equipa fará um total de 12 partidas durante a fase preliminar: três jogos contra selecções classificadas entre o 1.º e o 4.º lugar; três partidas contra equipas entre o 5.º e o 8.º posto; três partidas contra selecções entre a 9.º e a 12.º posição; e três jogos contra equipas classificadas entre o 13.º e o 16.º lugar.
Em entrevista à Revista Macau, o ID assume que o regresso da Liga das Nações era uma “prioridade” e que esse interesse já tinha sido manifestado à FIVB.
“Obtivemos essa autorização e por isso estamos muito satisfeitos por ter de regresso a Liga das Nações de Voleibol Feminino”, realça o presidente do ID. Pun Weng Kun destaca ainda a presença da equipa chinesa no território, “uma vez que se trata da equipa nacional”, tendo por isso “um grande acolhimento por parte dos residentes de Macau”.
A organização faz “sempre questão de trazer a selecção da China, porque atrai uma multidão de adeptos aos jogos”, sublinha o dirigente, acrescentando que a realização do torneio na RAEM “pode promover a integração profunda do desporto, turismo e outras indústrias relacionadas, beneficiando a promoção do desenvolvimento de sinergias entre a indústria integrada de turismo e lazer e o sector do desporto e aumentando significativamente os efeitos de colaboração de ‘Desporto +’’’.
Efeito catalisador
A prova que se realiza este ano em Macau reveste-se de um significado especial, visto que pode ajudar na qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris, que começam a 26 de Julho. A selecção da China, actualmente sexta classificada no ranking mundial, terá de se manter à frente do Japão como a melhor selecção do continente asiático para assegurar uma das cinco vagas ainda disponíveis para apuramento para os Jogos Olímpicos. Circunstâncias que farão da Liga das Nações de Voleibol Feminino em Macau um espectáculo emotivo e de elevado nível, no qual certamente não faltará um forte apoio do público à selecção orientada por Cai Bin.
Uma das habituais espectadoras da competição é Leong On Ieng, considerada uma das melhores jogadoras da actualidade do voleibol feminino de Macau. Com 28 anos de idade, pratica a modalidade desde os tempos da “escola primária”, conta à Revista Macau, revelando que assistiu praticamente a todos os jogos das competições da FIVB que se realizaram em Macau.
“Para além de ver os jogos, também acompanho a competição como jornalista da TDM – Teledifusão de Macau e, claro, com forte apoio à selecção chinesa”, refere a atleta. Sobre a qualidade do torneio, afirma que “é do melhor que temos tido em Macau” em termos de eventos desportivos. O Governo, prossegue, “tem-se empenhado em dar o melhor espectáculo de voleibol possível aos adeptos e tem conseguido chamar mais jovens à modalidade desde que esta prova se realiza no território”.
Um entrave, diz a jogadora internacional por Macau – quer em campo coberto, quer na variante de praia –, “é a questão da falta de recintos”. Noutras paragens, “há muitos espaços de rua onde se pode praticar modalidades como o voleibol ou o basquetebol, mas Macau não tem [esses espaços], o que faz com que muitas crianças não tenham onde aprender a jogar”, realça Leong On Ieng, jogadora do clube Hong Nam.
Despertar a curiosidade
Os obstáculos, porém, não têm impedido o crescimento da modalidade, que tem colhido benefícios do facto de Macau acolher uma das etapas da Liga das Nações, diz Sílvia Brás, professora de educação física que durante 13 anos esteve à frente das equipas de voleibol feminino da Escola Portuguesa de Macau (EPM), em vários escalões etários.
“O torneio tem tido, ao longo dos anos, um contributo bastante importante, diria mesmo um impacto enorme, atendendo à dimensão do território, uma vez que chega facilmente a todos e ninguém fica indiferente a uma prova desta envergadura, mesmo que nunca tenha assistido a competições de voleibol ou praticado a modalidade”, sustenta a professora.
No que diz respeito às jogadoras e, em concreto, aos alunos que jogam a nível escolar, “é inegável a influência e interesse que tem despertado, em especial nas raparigas”, sublinha Sílvia Brás. Inspiradas por estas provas, acrescenta, “estas jovens tentam entrar em equipas que competem como federadas ou fora do contexto escolar”, sob a alçada da associação de voleibol local.
Sílvia Brás assevera que chegou a ter várias alunas da actividade extracurricular de voleibol que competiam no campeonato organizado pela Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude e que eram convidadas pela própria associação de voleibol a juntarem-se a um clube local, o que lhes permitia alcançar outro nível competitivo.
A professora revela que “nos últimos anos voltou a haver um crescente interesse na prática do voleibol, sentindo-se que a associação formou, também, muitos jovens árbitros, o que permite estar muita gente envolvida na modalidade”.
Equipas escolares
Foi notório, reitera Sílvia Brás, “o desenvolvimento do voleibol a nível escolar, com a criação de várias equipas, até no mesmo estabelecimento de ensino, a partir de determinado momento”, o que não lhe parece “ser coincidência com a recepção da grande competição internacional por parte de Macau”.
A entusiasta pelo voleibol sustenta que a presença das selecções destes oito países tem “um impacto no interesse pela modalidade e no incremento de praticantes”. Do ponto de vista desportivo, “não há dúvida em relação à satisfação, participação como espectador e criação de público com futuro interesse no voleibol, pois isso passou a ser uma realidade com a vinda desta competição a Macau”.
Actualmente, é um outro professor que treina as equipas de voleibol da EPM. Luís Moura defende que “à semelhança do que se faz no Grande Prémio, as escolas deveriam ser convidadas a assistir aos treinos e jogos das selecções que vão participar na Liga das Nações, de forma a estimular ainda mais a curiosidade e a vontade de aprender e praticar a modalidade”.
Relativamente ao envolvimento das escolas neste desporto, o professor salienta que “o voleibol feminino é a modalidade com mais equipas inscritas, o que explica o crescimento, havendo de facto um aumento significativo do interesse dos alunos por este desporto”.
Sobre o nível existente nos campeonatos escolares, Luís Moura admite que “se o formato fosse um pouco diferente – com menos grupos, permitindo um número mais elevado de jogos – seria benéfico para as equipas, que aumentariam assim a competitividade”.
“Apesar disso, nos jogos das meias-finais e finais, verificamos que o nível, técnico e táctico, já é bastante elevado, com a maioria das jogadoras a pertencerem aos quadros das selecções mais jovens de Macau”, adianta o professor.
Macau organiza uma das seis etapas da fase preliminar da Liga das Nações de Voleibol Feminino, com as outras cinco a decorrerem noutras cidades, incluindo em Hong Kong, em meados de Junho. A fase final será disputada na Tailândia, no final de Junho, através de jogos a eliminar, sendo apuradas as sete melhores equipas da fase de qualificação e o país anfitrião.