A selecção de futebol de Macau esteve parada durante cerca de três anos e foi uma das últimas a regressar aos jogos internacionais após a pandemia. Mas depois da reabertura das fronteiras e no espaço de um ano, a equipa técnica liderada por Lázaro Oliveira realizou seis desafios, com um balanço que o treinador considera “bastante positivo”
Texto Vítor Rebelo
Fotografia José Giga
Há várias décadas que Macau não realizava tantos jogos internacionais em tão curto espaço de tempo. Durante o decorrer de 2023, a selecção de futebol disputou seis partidas, algumas de preparação, aproveitando os períodos determinados pela FIFA para jogos das selecções, e duas de compromisso oficial, a contar para provas como o Campeonato do Mundo de Futebol, neste caso diante do Myanmar.
A pandemia da COVID-19 fez retroceder grande parte do trabalho que a Associação de Futebol de Macau havia delineado a partir do momento em que contratou um treinador além-fronteiras, o luso-angolano Lázaro Oliveira, que veio para o território acompanhado pelo adjunto Pedro Simões.
Depois de começarem a trabalhar à distância, dado que as restrições ligadas à pandemia não permitiram que a dupla de treinadores viajasse para Macau, o início de 2023 foi o momento tão esperado para voltar a pisar os relvados e “calçar as chuteiras”. E o recomeço não poderia ter sido melhor: depois da estagnação entre 2020 e 2022, a selecção fez em 2023 o maior número de jogos que alguma vez tinha feito num só ano, numa tentativa de recuperar algum do tempo perdido.
Ao fim de um ano de trabalho de campo e com seis desafios efectuados em 2023, Lázaro Oliveira diz à Revista Macau que o “balanço é positivo”, já que “foi implementada uma nova metodologia de treino e uma ideia de jogo mais atractiva, assente num forte espírito colectivo e na prática de um futebol apoiado e de posse, que privilegia as características dos jogadores e na qual eles se sentem bastante confortáveis”.
Lázaro Oliveira recorda os dois desafios oficiais, na qualificação para o Campeonato do Mundo, realizados contra o Myanmar: “A grande diferença esteve, sobretudo, na condição física dos jogadores”. A equipa do Myanmar, “para além da sua qualidade técnico-táctica, estava num nível físico bem acima de Macau, porque, aquando da realização dos jogos, os seus jogadores encontravam-se a competir na liga doméstica, em contraste com os nossos que não competiam há longos meses devido ao fim da liga”.
Para este ano, ainda não está definido o calendário de jogos particulares para a selecção. “Iremos analisar as datas da FIFA e a disponibilidade dos jogadores”, explica o treinador. Em termos de desafios oficiais, a equipa de Macau terá em Setembro a pré-eliminatória de apuramento para a Taça da Ásia.
Nos próximos meses, salienta Lázaro Oliveira, o objetivo é incidir “o foco na observação e treino de jovens da selecção de sub-20 que tenham características físicas, técnicas e tácticas e sobretudo vontade e disponibilidade, de modo a serem potenciados para integrar a selecção principal”.
Visão profissional
E serão os jovens o caminho para o futuro da selecção? “Sim”, responde o treinador, lembrando, no entanto, que “o futebol em Macau tem características muito próprias, e com realidades bastante distintas”.
Mas para que o futebol de Macau se aproxime da realidade de outras regiões, a modalidade deverá ser encarada “de uma forma mais séria e profissional”, salienta o seleccionador. “O futuro da selecção de Macau passa claramente pela aposta em jovens jogadores, mas de forma sustentada, para que possam continuar a evoluir e não criar demasiada exigência e expectativas que possam ser contrárias ao seu desenvolvimento e afirmação”, sublinha.
Lázaro Oliveira conta que “já há vários jovens que regularmente treinam com a equipa principal e que vão adquirindo as ideias, a mentalidade, as rotinas e dinâmicas de jogo e o ritmo e intensidade necessários para que possam integrar o grupo de seleccionados”. Contudo, ressalva, “o problema dos jovens jogadores prende-se com a gestão da vida escolar, particular e desportiva”. “Muitos precisam de mudar a mentalidade, perceber a importância da necessidade dos treinos regulares, do compromisso, do espírito colectivo e da paixão pelo futebol”, explica.
O seleccionador reconhece que “há ainda um longo caminho a percorrer para elevar o ranking” internacional de Macau, de forma a “aproximar-se dos países que estão ligeiramente à sua frente”.
“Macau não dispõe dos mesmos recursos humanos e operacionais” comparativamente a outras regiões, realça o treinador, nomeadamente no que diz respeito ao número de jogadores seleccionáveis e de instalações. “O futebol em Macau necessita de uma reestruturação ao nível competitivo para que no futuro possa rivalizar com outras selecções asiáticas do seu patamar”, adianta.
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Maior competitividade
No que toca ao papel das academias de futebol no território, “que fazem um trabalho de qualidade com os jovens”, Lázaro Oliveira diz que estas iniciativas são “boas para aperfeiçoar as qualidades técnicas e entendimento do jogo que lhes permitirão no futuro ser mais-valias para as várias selecções nacionais”.
Outro aspecto de grande relevância para o desenvolvimento das selecções é o nível competitivo de uma liga, “devido à realidade quase amadora das competições” locais, avança o treinador.
Nos aspectos mais positivos, o responsável destaca as “condições a nível de material de treino e a disponibilidade e aceitação dos atletas perante uma nova metodologia de treino e de jogo”. No sentido oposto, realça as “dificuldades” sentidas na selecção, nomeadamente, em termos de “agilização das sessões de treino por causa dos horários de trabalho e treinos dos clubes onde actuam os jogadores, bem como o número reduzido de campos para a prática da modalidade”.
Embora o jogador de Macau “seja habilidoso com bola, revela algumas carências técnico-tácticas, com um ritmo de jogo lento e com pouca intensidade”, refere o seleccionador. Por isso, defende, a liga de futebol do território “necessita de uma reestruturação para que possa ser mais competitiva”.
“O campeonato deveria ter mais jogos, numa primeira fase, com duas voltas, e, numa segunda fase, os clubes, consoante as posições na tabela classificativa, seriam divididos em duas séries. Os primeiros seis posicionados iriam disputar a fase de campeão com jogos a duas voltas e os últimos quatro disputariam a fase de despromoção com jogos a duas voltas”, sugere Lázaro Oliveira.
Esta eventual reestruturação iria permitir a realização de mais jogos, assim como também permitiria uma maior competitividade, “porque haveria jogos mais disputados e equilibrados entre as melhores equipas”.
Deste modo, argumenta, a liga de Macau “teria igualmente uma maior duração e, como é evidente, quanto mais competitivas forem as competições em Macau, mais benefícios trará à selecção nacional, porque os jogadores terão uma maior rodagem e intensidade de jogo”.