Modalidade

Macau Bats garantem futuro do râguebi

Os treinos do Macau Bats contam com jovens entre os cinco e os 18 anos
Foi há 28 anos que o râguebi foi introduzido em Macau, inicialmente como desporto praticado maioritariamente por portugueses. Actualmente, a modalidade abraça toda a comunidade, com destaque para os jovens que integram uma academia de formação denominada Macau Bats. Os pequenos “morcegos” são agora cerca de uma centena, dispersos por diversos escalões. O desporto tem crescido a olhos vistos também graças à introdução da variante “touch”, que ocupou as famílias durante a pandemia e continua a ganhar adeptos

Texto Vítor Rebelo
Fotografia Leong Sio Po

Um relvado junto ao recinto de hóquei em campo, na Taipa, logo pela manhã de um sábado solarengo, e uma temperatura quase de Verão. Cerca de uma centena de jovens, a partir dos cinco anos de idade, dão largas à sua alegria na prática do râguebi. É assim que começa mais um treino do Macau Bats, academia criada pelos dirigentes do Clube de Râguebi de Macau, que a cada ano que passa conta com mais atletas nos mais variados escalões de formação.

“Somos todos voluntários e com enorme paixão por este desporto”, diz à Revista Macau Donald Shaw, presidente do Clube de Râguebi, uma associação que é reconhecida pela Federação Internacional de Râguebi. O responsável é também um dos monitores das sessões de treinos do Macau Bats, também conhecido como Clube de Râguebi Morcegos de Macau, designação que, na cultura chinesa, remete para um símbolo auspicioso.

A adesão ao râguebi conheceu um “boom” na última década e só o impacto da pandemia afectou o número de jovens praticantes. Com o relaxamento das restrições ligadas à pandemia da COVID-19 no início de 2023, o Macau Bats – uma organização independente, mas intrinsecamente ligada ao Clube de Râguebi – registou uma recuperação no número de atletas.

“Ainda estamos, de facto, numa fase de recuperação e o número de jogadores entre os 12 e os 15 anos encontra-se abaixo do que gostaríamos, mas felizmente que os sinais apontam para uma melhoria com o passar do tempo”, sublinha Donald Shaw, afirmando que “esta é a grande prioridade no processo de crescimento”.

Os jogos realizados em Hong Kong em 2023 constituíram excelentes indicadores e o objectivo é que continuem a ter uma periodicidade regular, com jogos todos os meses, “o que proporciona uma grande experiência, não só para os atletas, mas também para as suas famílias”, afirma Donald Shaw, ele que foi um dos principais responsáveis pela criação, em 2006, do Macau Bats e também o seu primeiro presidente.

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Virado para a comunidade

O responsável salienta ainda o sucesso do programa “Get Into Rugby”, para promover o desporto junto das escolas e instituições de ensino superior locais e atrair um maior número de jovens atletas.

“Está a desenrolar-se a bom ritmo, embora leve algum tempo para que o impacto tenha reflexo no aumento do número de jogadores do clube”, salienta Donald Shaw, acrescentando que um dos aspectos fundamentais para uma definitiva implantação da modalidade, ao nível destes escalões, é a adesão de jovens locais. “Neste momento, já temos uma maioria de atletas chineses nos treinos, o que reflecte a aposta que temos vindo a fazer.”

Com o passar do tempo, a colectividade foi-se adaptando à realidade local e à dificuldade em encontrar espaços próprios para a prática da modalidade. Houve momentos de desânimo e incertezas quanto ao futuro, mas a insistência, a resiliência e a paixão pelo râguebi de uma mão cheia de residentes conseguiram que, nos dias de hoje, o desporto esteja consolidado “e cada vez mais virado para a comunidade”.

Donald Shaw, a viver no território há 25 anos, foi o primeiro presidente do Macau Bats, passando, em 2020, a assumir a liderança do Clube de Râguebi. Desde então, foi um dos mentores de uma outra aposta que deu frutos: o desenvolvimento da variante “touch” (râguebi de toque, numa tradução literal para português). Trata-se de uma variante sem placagens, que proporcionou, especialmente na altura da pandemia, “a vinda para o râguebi de famílias inteiras”, salienta o presidente do Clube de Râguebi.

Desde então, o clube realizou torneios mensais e introduziu competições internas de “touch” para dinamizar a modalidade. “Organizámos a nossa primeira partida contra o Shenzhen Pirates em Fevereiro do ano passado e isso foi rapidamente seguido por uma série de actividades com as equipas infantis, participando novamente nos festivais de râguebi em Hong Kong”, conta Donald Shaw. Um novo torneio “touch”, designado “Greater Bay Area”, foi igualmente realizado com a participação de clubes do Interior da China, Hong Kong e Macau.

Donald Shaw, presidente do Clube de Râguebi, é também um dos monitores das sessões de treinos do Macau Bats

“É evidente que o isolamento do território, devido à COVID-19, teve um impacto misto no râguebi do território. No primeiro ou segundo ano houve, de facto, um aumento na participação, especialmente ao nível do número de adultos. Tivemos muitos jogadores novos, porque as pessoas tinham mais tempo livre e estavam interessadas em experimentar novos desportos e conhecer mais gente”, recorda o líder do Clube de Râguebi.

O presidente confirma também que o desporto passou a contar com mais atletas do sexo feminino. “O ‘touch rugby’ foi um grande impulsionador, sem dúvida, sendo uma forma relativamente simples do jogo, e permite que jogadores de todas as idades e diferentes níveis de experiência participem”, adianta Donald Shaw. “Isso foi já uma realidade no período da pandemia, com jogos entre formações representativas dos países lusófonos, ou empresas, tornando as provas muito populares.”

A variante “touch”, lançada na Austrália na década de 1960, há muito que é utilizada na preparação das equipas e na prevenção de lesões, tendo a modalidade passado a ser também considerada como um desporto de pleno direito, com regras próprias – muito semelhantes ao râguebi tradicional – e já com campeonatos internacionais, podendo ser praticado por equipas mistas.

É isso que acontece em Macau, onde existem actualmente cerca de três dezenas de praticantes de ambos os sexos que todos os sábados de manhã, no relvado da Escola Internacional de Macau, praticam esta modalidade.

Torneio este ano

Miguel Gassmann de Oliveira, actual presidente do Macau Bats, considera que o desporto tem bases sólidas para o futuro, com a academia a recuperar uma parte do número de membros que existia antes da pandemia. “Sofremos uma certa redução na altura da pandemia, mas com o regresso à normalidade contamos, nesta altura, com pouco mais de 100 jovens de várias idades”, diz, adiantando que um dos aspectos mais importantes é o facto de actualmente “já serem mais chineses do que portugueses ou outros expatriados a praticar râguebi na academia”.

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Miguel de Oliveira fala num “ambiente muito saudável” nas actividades do râguebi no território e dá igualmente importância às deslocações de alguns dos seus monitores ou atletas mais velhos a algumas escolas do território. “Uma vez por semana levamos o râguebi aos estabelecimentos de ensino, sendo esta uma forma de divulgar a modalidade.”

O crescente interesse pela variante “touch” é também uma realidade e levou muitos interessados ao râguebi. “Famílias inteiras têm estado nas nossas sessões e essa foi uma forma de não estarem paradas e fazerem exercício físico na altura da pandemia”, explica Miguel de Oliveira.

Uma posição corroborada por Anacleto Cabaça, um dos treinadores dos escalões mais jovens. “O râguebi do território está a recuperar em termos de atletas e já temos a possibilidade de fazer alguns torneios em Hong Kong, o que é muito bom para os mais jovens”, afirma o monitor das formações entre os 10 e os 13 anos.

O Macau Bats tem jovens entre os cinco e os 18 anos, mas os escalões dos atletas mais velhos, acima dos 14 anos, “não têm atletas suficientes para participar em competições em Hong Kong”, sublinha Anacleto Cabaça, para quem “é muito bom voltar às competições em Hong Kong”.

Está previsto, para Março, um novo torneio regional com a participação de atletas de Macau e alguns jovens locais, entre os 11 e os 12 anos, deverão desfilar durante o Torneio de Râguebi Sevens de Hong Kong, agendado para o início de Abril. Esta última iniciativa “motiva muito os jovens, dado o ambiente que se vive habitualmente naquele evento internacional”, refere o treinador.

As excelentes relações do râguebi de Macau com os clubes de Hong Kong têm também sido aproveitadas para participações em torneios, quer a nível local, quer em Hong Kong. “Em Dezembro último conseguimos duas vitórias e a subida ao primeiro escalão dos sub-11, o que é sinal de evolução, reconhecida por Hong Kong”, destaca Anacleto Cabaça.

Miguel de Oliveira realça ainda que, para além de actividades internas, a associação está a planear um torneio para jovens em Macau, em Abril, com um total de sete clubes, seis de Hong Kong e um de Macau, com jogos destinados a jogadores entre os seis e os 12 anos.