Foi um telefonema que mudou a vida de Oriana Inácio Pun. Então com 15 anos, tinha-se inscrito no exame de acesso ao curso de tradução para a função pública, por influência da mãe – ela própria tradutora na administração pública –, mas não fazia planos de participar, porque queria continuar os estudos secundários. No dia, a mãe telefonou-lhe para casa a recordar-lhe do exame e a jovem Oriana lá acabou por ir. Foi escolhida e decidiu-se por fazer o curso, que era de três anos e remunerado, o que lhe permitia ajudar financeiramente a família. Isto enquanto, mesmo assim, completava o ensino secundário na vertente pós-laboral – mais tarde, faria o mesmo em relação à licenciatura em tradução e, posteriormente, de direito na Universidade de Macau. De entre três irmãos, foi a única a concluir formação universitária.
Acabado o curso de tradução, ficou colocada nos tribunais de Macau. Começou com 19 anos, em 1994, ainda antes do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau. Saiu em 2002, para exercer o papel de advogada.
“Tenho muitas boas memórias” desse tempo como tradutora, diz. “Testemunhei a formação dos primeiros juízes locais e participei em muitos julgamentos importantes”, recorda. “Isso deu-me uma grande ‘bagagem’ – aprendi muito, aprendi a importância de, na actividade jurídica, ter bom senso e estar de boa-fé.”
Oriana Pun diz que, ainda hoje, nutre o “bichinho” da tradução. “Faço traduções de livros. Adoro a tradução simultânea – é muito desafiante. É uma coisa de que gosto. Como gosto do contencioso, de ir aos tribunais. Gosto de coisas inesperadas”, afirma, com um sorriso.
Nascida em Macau de famílias de origem chinesa – embora com uma avó filipina –, Oriana Pun fez a educação em escolas com língua portuguesa, seguindo as passadas da mãe. “Por isso, temos uma cultura macaense. Somos católicos, celebramos o Natal, mas sou chinesa. É difícil de explicar.”
Depois de ter feito parte de diferentes direcções da Associação dos Advogados de Macau, Oriana Pun abraçou este ano o cargo de secretária-geral do organismo. A causídica diz que sempre teve um espírito associativo e que o objectivo passa por contribuir para “melhorar” a classe.
Nas horas vagas, troca as linhas do direito por outras. É uma apaixonada pela arte do “tatting”, uma variedade de renda. “Ajuda-me a relaxar.”