Creative Macau

Vinte anos a estimular a criatividade

O Creative Macau abriu portas ao público em Agosto de 2003
A celebrar o seu vigésimo aniversário este ano, o Creative Macau mantém-se fiel à sua missão de contribuir, através da promoção das indústrias criativas, para o desenvolvimento sustentável de Macau

Texto Nelson Moura
Fotografia Leong Sio Po

É um espaço de descompressão para se viver a arte e que, há 20 anos, procura estimular a criatividade em Macau. O Creative Macau – Center For Creative Industries acolheu ao longo dos anos vários artistas, designers e empresários de diferentes indústrias criativas, com a intenção de fazer nascer projectos em áreas como a publicidade, arquitectura, artesanato, design, moda, cinema e vídeo, música, artes cénicas, ou artes visuais.

Sob a alçada do Instituto de Estudos Europeus de Macau, o Creative Macau abriu portas ao público a 28 de Agosto de 2003 no piso térreo do Centro Cultural de Macau. Mas, como lembra a presidente e fundadora, Lúcia Lemos, os preparativos logísticos e físicos começaram logo no início de 2002.

“A missão e objectivos deste projecto inovador foram abraçar os profissionais de carreira e acolher os novos talentos que procuravam o reconhecimento do seu trabalho dentro de nichos das áreas criativas”, diz à Revista Macau.

Segundo a também fotógrafa e realizadora, o Instituto de Estudos Europeus de Macau viu uma “oportunidade de ouro” para fomentar as indústrias criativas emergentes em Macau e fundou o Creative Macau – Center for Creative Industries num formato de “projecto de cooperação, diálogo e de convergência do mundo criativo”.

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Natural de Vila Nova de Gaia, em Portugal, a fundadora do projecto reside em Macau desde 1982. No vasto currículo conta com uma exposição no Centro Cultural de Macau dedicada a retratos de mulheres artistas de Macau e um ensaio fotográfico sobre um dos maiores escritores de Macau, Henrique de Senna Fernandes.

Nas duas décadas de existência, o Creative Macau acolheu mais de 300 exposições colectivas e individuais, exibiu cerca de 10 mil trabalhos e recebeu 100 mil visitantes.

“Na nossa primeira década, dedicámo-nos à criação de estratégias de exploração do mercado criativo para nos situarmos nos nichos do grande mercado. Duas décadas depois do primeiro dia, mantemos o ritmo evolutivo e estamos comprometidos com o amanhã”, destaca Lúcia Lemos. “Continuamos a pensar em estratégias de expansão para as indústrias criativas, na importância e dinamização da economia local e no reconhecimento dos criativos.”

O centro colabora, por exemplo, com duas universidades de Macau que organizam anualmente mostras com os melhores e mais criativos trabalhos dos seus estudantes. 

“O nosso trabalho é, pois, dedicado aos criativos locais. Hoje, continuamos a cumprir esses objectivos e juntos a pensar em estratégias de expansão das indústrias criativas, na sua importância na dinamização da economia local e no reconhecimento dos criadores.”

Fonte de inspiração

Nestas duas décadas, o Creative Macau exibiu peças de joalharia, escultura, fotografia, objectos de design, cerâmica, pintura, projectos de arquitectura, moda, vídeo, música. O espaço albergou também workshops de design, restauro de porcelana, produção de mobiliário e pintura, bem como oficinas de produção de argumentos para filmes e teatro.

Diversos seminários, simpósios e conversas foram organizados e o centro levou também muitas das suas criações a feiras de arte e design locais e internacionais, como ExperimentaDesign, Business of Design Week, Exponor, London Design Fair, Shenzhen Cultural Fair, Feira Internacional de Macau e Xangai Expo.


“Duas décadas depois do primeiro dia, mantemos o ritmo evolutivo e estamos comprometidos com o amanhã”

LÚCIA LEMOS
PRESIDENTE E FUNDADORA DO CREATIVE MACAU

“Criámos colaborações com associações criativas, instituições privadas, grupos e indivíduos no sentido de, juntos, fomentarmos em campo o diálogo, trocarmos experiências e, em grupo, colocarmos os conhecimentos em acção”, realça Lúcia Lemos.

Um dos artistas que viu o seu percurso profissional profundamente ligado ao Creative Macau é André Lui Chak Keong, arquitecto e artista visual.

Licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa em 1999, André Lui trabalhou para o arquitecto português Manuel Vicente em Lisboa e para o Architecture Studio, empresa de arquitectura e design de referência em Paris. André Lui participou também no projecto “Monumentos da Amizade Luso-Chinesa em Macau”, da autoria do escultor português Domingos Soares Branco, e trabalhou como arquitecto para o Instituto Cultural de Macau.

“Eu sou membro da associação desde 2006, fiz uma exposição de pintura individual e participei várias vezes em exposições colectivas entre 2008 e 2012, mais ligado à área de design. Na altura, o Creative Macau ajudava os membros a participarem na Feira Internacional de Macau para mostrarem alguns projectos de design industrial. Produzi alguns móveis, como cadeiras, e candeeiros”, salienta o arquitecto.

“Além disso, o Creative Macau também organizou algumas visitas a Hong Kong para eventos de design. A instituição é importante porque, para além das exposições individuais e colectivas, é um local para trocarmos ideias com outros artistas e designers”, acrescenta.


“A instituição é importante porque é um local para trocarmos ideias com outros artistas e designers”

ANDRÉ LUI
ARQUITECTO E ARTISTA VISUAL

Stefan Nunes foi outro artista com um percurso profissional marcado pelo Creative Macau e pelo seu apoio à exposição da obra de criadores locais.

“Tomei conhecimento do centro através da minha mãe, uma fotógrafa e pintora apaixonada e membro activo do Creative Macau, com várias exposições colectivas e individuais. Não poderia adivinhar na altura que o Creative Macau iria apoiar e lançar a minha carreira como fotógrafo freelance, videomaker e designer gráfico”, conta à Revista Macau.

Stefan Nunes foi contratado pelo Creative Macau para fotografar o Festival Internacional de Curtas Metragens de Macau 2019 – realizado e produzido pela própria instituição desde 2010 – e, desde então, foi destacado todos os anos como o responsável pela cobertura de fotos e vídeos do evento.

“Tive também o privilégio de fazer alguns trabalhos de design gráfico para o Festival e algumas das exposições, o que ajudou a enriquecer o meu currículo e portfólio”, revela. “Em 2022, convidado pelo Creative Macau para participar na Exposição Colectiva de Sócios para o 19.º Aniversário, aceitei finalmente o desafio e participei no evento com um retrato fotográfico ao lado de vários outros artistas talentosos.”

O artista realça que fazer parte do colectivo o ajudou a conhecer melhor a comunidade criativa de Macau, desenvolver ligações e traçar o seu próprio percurso no mundo da arte. “É um trabalho em andamento e aprendemos enquanto caminhamos, passo a passo. É uma oportunidade que poucos têm, e está aí para ser aproveitada”, refere.

Vasto potencial

À Revista Macau, Lúcia Lemos destaca que a formação artística é um dos pilares da actividade do centro. Este trabalho foi, no entanto, interrompido em 2020, devido à situação pandémica, mas será retomado e tem muito potencial para crescimento, diz a coordenadora do Creative Macau.

“Na sociedade civil, as comunidades criativa e cultural ganhariam ainda mais se desenvolvessem projectos colectivos para incluir mais artistas emergentes, dando-lhes confiança através do convívio, confrontando processos de criação e análise. Esse seria o grande motor de autoconfiança e desenvolvimento de uma comunidade forte, arrojada e internacionalizada”, salienta Lúcia Lemos.

E acrescenta: “Há muito trabalho a fazer para se criar condições para os artistas que o gostariam de ser a tempo inteiro. Com as bolsas, sendo apenas temporárias, os artistas acabam por estagnar, por não haver continuidade subsidiária. É necessário trabalhar os hábitos por dentro no sentido de valorização da criatividade e dos seus autores”. 

O espaço acolheu ao longo dos anos várias exposições individuais e colectivas

A coordenadora do Creative Macau destaca também que a educação escolar, secundária e universitária, deveria também apostar profundamente na criatividade.

“Macau carece de mecenato, os coleccionadores são quase inexistentes, os interessados por arte adquirem pouquíssimas obras, tornando insustentável a vida dos autores”, acrescenta. “É desejável ter novas formas de pensar e criar novos modelos de aproximação aos agentes que sintonizarão os sectores criativos, despertando investidores, promotores, mecenas e interessados em geral.”

No entanto, a também artista enaltece o enorme potencial das indústrias criativas locais e a necessidade de os artistas de Macau terem garantias consistentes e duradouras, que os estimulem a desenvolver a tempo inteiro um trabalho de qualidade superior.

“O Governo tem o empreendedorismo como uma das metas políticas e lançou incentivos à população empresarial para dinamizar projectos na Grande Baía [Guangdong-Hong Kong-Macau] e criar negócios autossustentáveis, diversificando os sectores das indústrias que contribuem afincadamente para a melhoria do tecido industrial e autonomia de todos os que trabalham nesta região”, destaca Lúcia Lemos.

“Estamos com o Governo e a comunidade criativa, agilizando acessos de plataformas e pontes aos utilizadores, viabilizando a divulgação das suas criações através das exposições, criação de programas diversos que aproximem várias áreas das indústrias criativas locais”, enfatiza.