É uma história de sobressaltos. É assim que Seng Ng, o proprietário, descreve o percurso da O-Moon, uma marca que incorpora um pedaço de Macau em todos os seus artigos de design. Dos primeiros anos de sucesso ao período da pandemia, a O-Moon está de pedra e cal em Macau, mas já olha além-fronteiras
Texto Tony Lai
Fotografia Cheong Kam Ka
Para muitos turistas, os bolinhos de amêndoa, os pastéis de nata e outras iguarias são as lembranças que carregam na mala, de volta a casa, depois de visitarem Macau. Mas a oferta de produtos únicos do território já vai bastante além da gastronomia, muito devido ao desenvolvimento das indústrias culturais e criativas locais.
Fundada em 2016, a marca O-Moon é hoje sinónimo da veia cultural da cidade, com artesanato e outras peças cuja inspiração vai beber às tradições de Macau. O conceito é simples: criar produtos que as pessoas não podem encontrar noutro lado, com uma identidade muito própria e características únicas, explica Seng Ng, proprietário da marca e director de operações.
A empresa conta actualmente com três lojas no território e oferece uma vasta gama de produtos – práticos e de uso diário – desenhados com motivos de Macau, incluindo artigos de papelaria, de cabedal, t-shirts e produtos para a casa.
Ou Mun, O-Moon
“A criação da O-Moon teve como objectivo colmatar a escassez de outro tipo de lembranças com características próprias no mercado local, que era muito focado em produtos gastronómicos”, conta Seng Ng à Revista Macau.
“Sou de Macau e somos uma marca local, por isso queremos que mais pessoas de Macau nos conheçam”
SENG NG
PROPRIETÁRIO DA O-MOON
Para se afirmar no mercado e promover as características locais, a O-Moon decidiu dar um toque de Macau em quase todos os seus produtos. Desde logo, o nome é uma palavra homófona de “Macau” em cantonês, Ou Mun. As cores azul e branco são os grandes toques visuais da marca, inspirados nos azulejos portugueses e na porcelana chinesa, uma vez que Macau é uma cidade onde o Oriente encontra o Ocidente. Azulejos e outros motivos de Macau, como a flor de lótus, prevalecem igualmente no design dos seus produtos.
“Também criámos locais específicos nas nossas lojas para atrair clientes, que podem simplesmente vir e tirar fotos sem comprar nada”, diz o empresário. Exemplo disso é um grande modelo da lua exposto num dos espaços da marca, na loja localizada na Vila da Taipa.
Parcerias de sucesso
Mas não só de Macau vem a influência nos designs da O-Moon. Desde 2018, a marca de Macau tem colaborado com a empresa de entretenimento japonesa Sanrio, mais conhecida como a detentora dos direitos de uma série de personagens de desenhos animados – incluindo da Hello Kitty – que conquistaram os corações de milhões de admiradores em todo o mundo. Até ao momento, a parceria deu origem a duas colecções de produtos com personagens da Sanrio: O-Moon x Hello Kitty e O-Moon x Little Twin Stars.
“Nunca pensei que teria a oportunidade de cooperar com uma marca internacional como a Sanrio porque a O-Moon é apenas uma marca de pequena dimensão em Macau”, refere Seng Ng.
“No início do processo, quando discutimos as oportunidades de cooperação, não tinha grande esperança no desfecho das negociações”, revela o empresário. “Mas a Sanrio ficou impressionada com o posicionamento da nossa marca em Macau e, como também pretendia expandir a sua presença no mercado local, daí resultou a nossa colaboração.”
Esta parceria acabou por exceder as expectativas de Seng Ng, contribuindo para aumentar significativamente a exposição da O-Moon. “Os admiradores da Sanrio são os principais consumidores dos produtos que resultaram da nossa parceria, artigos que são encarados como edições especiais, apenas disponíveis em Macau”, explica.
Seng Ng recorda, por exemplo, a exposição temática sobre a Hello Kitty que Macau acolheu em 2019, um evento que atraiu muitos visitantes à cidade e beneficiou as vendas da O-Moon.
A experiência adquirida através da colaboração com uma marca internacional também provou ser benéfica para a O-Moon em termos do seu próprio modelo de operação e práticas comerciais. “Aprendemos imenso com esta parceria, nomeadamente por vermos como a Sanrio se preocupa com os mais pequenos detalhes no que diz respeito ao design dos seus produtos”, conta o proprietário da O-Moon.
Vencer as adversidades
Apesar do sucesso nos primeiros anos após abrir portas, que culminou com o melhor volume mensal de vendas em Dezembro de 2019, tudo mudou no princípio do ano seguinte com a pandemia da COVID-19. “Com o surgimento da pandemia no início de 2020, o nosso negócio foi severamente prejudicado. Registámos perdas mês após mês nos últimos três anos e deparámo-nos com problemas de liquidez”, conta o empresário, revelando que os dois outros sócios-fundadores da O-Moon decidiram sair do projecto durante esse período, por diferentes razões.
Antes da pandemia, cerca de 80 por cento das receitas das lojas provinham das vendas a turistas. Apesar dos desafios e do prolongar da pandemia, Seng Ng não cruzou os braços e decidiu adaptar o modelo de negócios da O-Moon. Aos produtos de design e lembranças tradicionais juntaram-se brinquedos e artigos de outras marcas, numa tentativa de atrair e fidelizar novos clientes. A empresa apostou também em canais de venda online, disponibilizando os seus produtos no seu portal digital, bem como em plataformas de comércio electrónico de Hong Kong e Taiwan.
Raízes locais
Atravessado o período até agora mais conturbado para a O-Moon, há finalmente “uma luz ao fundo do túnel”, refere Seng Ng. Com a recuperação do sector do turismo, ligada ao relaxamento gradual das restrições pandémicas no início deste ano, as contas mensais da empresa voltaram a território positivo.
A empresa aguarda agora o regresso dos turistas internacionais com a retoma dos vários serviços de transporte marítimo e aéreo para a cidade. “Antes da pandemia, os nossos principais clientes eram turistas de Hong Kong, Taiwan, Japão e Coreia do Sul”, refere o também director de operações da O-Moon.
As lições aprendidas durante a pandemia não caíram no esquecimento. Seng Ng garante que a O-Moon vai continuar a trabalhar para aumentar a sua visibilidade junto dos moradores locais. Em Dezembro, a marca abriu a terceira loja numa das zonas residenciais mais tradicionais da península.
“A nova loja situa-se numa zona residencial, pelo que tem como público-alvo sobretudo os clientes locais, comparativamente aos outros espaços, que estão mais direccionados para turistas”, salienta. “Sou de Macau e somos uma marca local, por isso queremos que mais pessoas de Macau nos conheçam, porque não queremos apenas ser uma marca para turistas.”
A O-Moon vai lançar novos produtos ainda este ano, incluindo uma nova colecção com outra personagem da Sanrio. O primeiro objectivo está traçado – recuperar financeiramente após três anos de pandemia –, mas há outros desafios por conquistar, nomeadamente a expansão para além do território, confessa Seng Ng. “Um dos objectivos é abrir uma loja em Hong Kong, que, comparativamente a Macau, é um mercado mais maduro para produtos de design diferenciados”, conclui.