A “Quinta Feliz”, projecto sob a alçada do Instituto para os Assuntos Municipais, assume-se como um recurso didáctico concebido para que miúdos e graúdos possam aprender mais sobre agricultura e sustentabilidade, deitando mãos à terra
Texto Cherry Chan
Fotografia Cheong Kam Ka
Num território altamente urbanizado como Macau, o espaço disponível para o cultivo de plantas e vegetais cinge-se, para muitos, às varandas e terraços dos seus apartamentos. Para oferecer à população novas oportunidades de contacto com a agricultura e a natureza, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) estabeleceu em Coloane a “Quinta Feliz”, assente num complexo ao ar livre onde é possível aprender mais sobre sustentabilidade e cultivar os próprios vegetais.
O espaço pretende funcionar como um “oásis urbano”, disponibilizando uma variedade de programas, desde passeios didácticos a sessões práticas sobre agricultura sustentável e outras actividades educativas. A “Quinta Feliz” promove também a reciclagem e a reutilização de recursos orgânicos, nomeadamente a valorização de resíduos alimentares para fins agrícolas. Situa-se perto do Parque de Hác-Sá e a entrada é gratuita.
“Não existem muitos recursos como este em Macau”, nota Chan Wing Sum, da Divisão de Estudo de Protecção da Natureza do IAM e um dos responsáveis pela “Quinta Feliz”. “Os residentes locais têm poucas oportunidades de se dedicar à agricultura”, acrescenta. “Muitos talvez nunca tenham visto um terreno cultivado.”
Segundo explica o responsável, o projecto “Quinta Feliz” inclui as instalações do IAM de viveiro de plantas destinadas à arborização do território e um espaço dedicado à educação ambiental e agricultura, particularmente vocacionado para acções de sensibilização focadas nos mais novos. “Realizamos workshops na área da protecção ambiental, disponibilizamos pequenos lotes para o público experimentar cultivar os seus próprios produtos agrícolas e organizamos visitas guiadas para associações ou escolas, para os participantes aprenderem mais sobre ecologia”, enumera Chan Wing Sum.
O representante do IAM nota que um dos objectivos da “Quinta Feliz” é permitir que os jovens valorizem a importância da agricultura para um desenvolvimento sustentável. O projecto dá-lhes a chance de “apanharem uma enxada e participarem” na prática agrícola, “além de se divertirem”, atira.
Quem quer ser agricultor?
O projecto “Quinta Feliz” foi originalmente lançado em 2016, então com uma área total de 5972 metros quadrados. Em 2020, a “Quinta Feliz” foi alvo de um plano de expansão, cobrindo actualmente quase 23 mil metros quadrados. O espaço passou a dispor de 140 mini-lotes agrícolas disponíveis para uso da população.
A “Quinta Feliz” recebe inscrições online para utilização dos lotes, nomeadamente através do programa “Experiência de Cultivo”, que usualmente ocorre duas vezes por ano. As inscrições estão abertas para indivíduos e associações, sendo elevada a procura: é normalmente necessário recorrer a um sorteio para escolher os participantes. Uma vez seleccionados, os candidatos a agricultor têm direito a manter o lote por um período de cerca de quatro meses, podendo levar para casa todos os vegetais e outros produtos agrícolas que cultivem. “Quando termina o programa, os participantes começam logo a perguntar sobre o período de inscrição para a edição seguinte”, revela Chan Wing Sum.
A “Quinta Feliz” oferece outras atracções. Existe uma zona de ervas aromáticas e uma zona de cultivo de árvores de fruto. Há ainda zonas para vegetais e flores, plantados em função das diferentes estações do ano, bem como uma zona de conservação aquática, com plantas diversas. A par disso, está disponível um “hotel de insectos”: trata-se de um conjunto de abrigos compostos por uma variedade de materiais naturais, de madeira a cascas de árvores, feno e argila, oferecendo condições ideais para que diversos insectos aí se instalem e prosperem.
Experiência em família
Fang Bo Tang é uma das pessoas que já participou no programa “Experiência de Cultivo” da “Quinta Feliz”. A mãe de dois mostra-se feliz pela oportunidade e elogia a iniciativa, defendendo que seja ainda mais promovida junto da comunidade. “É muito difícil encontrar qualquer outro lugar similar em Macau”, diz. “Sabia da existência desta actividade porque tenho uma amiga que já tinha participado antes.”
A família de Lin Chi Hin, de apenas seis anos, está a participar no projecto pela terceira vez. O rapaz mostra-se feliz pela possibilidade de poder colocar as mãos na terra e plantar os seus próprios vegetais; já o pai, Lin Yi Chi, diz que esta é uma boa actividade familiar, ajudando o filho a valorizar o esforço necessário para produzir cada alimento consumido no dia-a-dia. “Felizmente, temos a oportunidade de gozar aqui a natureza através da agricultura”, afirma. “Nos fins-de-semana, a ‘Quinta Feliz’ é um bom espaço para as famílias aprofundarem laços”, acrescenta Chan Hou Cheong, avô do pequeno Lin Chi Hin, e o mais experiente da família no que toca a actividades agrícolas.
Para a família de Ng I San, tomar parte no programa “Experiência de Cultivo” da “Quinta Feliz” já teve um benefício: a petiz de quatro anos não gostava de comer vegetais, mas, após a experiência, já limpa o prato. “Depois de começarmos a plantar aqui os alimentos por nós próprios – e porque fazemos tudo sozinhos, incluído a sementeira, rega e aplicação de adubos –, ela passou a gostar de comer os nossos vegetais”, afirma o pai, orgulhoso.