A pandemia da COVID-19 levou a que alguns elementos da comunidade chinesa regressassem à China. Os que permanecem em Portugal vivem melhor do que antes, afirma o histórico dirigente Y Ping Chow
Texto Luciana Leitão
A comunidade chinesa tem vindo a mudar ao longo dos anos, não só quem a compõe, como também o seu estilo de vida. “A comunidade agora está obrigatoriamente a viver melhor, continua a trabalhar, mas não a trabalhar tanto [como antigamente]”, diz à Revista Macau o presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow.
Olhando para a comunidade dos dias de hoje, Y Ping Chow consegue dividi-la em três grupos: um grupo de chineses mais idosos, a que se pode chamar a primeira geração (emigrados em meados do século XX); as segundas e terceiras gerações; e aqueles que se fixaram em Portugal através do programa de obtenção de residência por investimento, também conhecido como “vistos ‘gold’”.
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A Liga dos Chineses em Portugal, fundada em 1997, presta apoio de carácter social aos emigrantes chineses, para além de promover iniciativas de âmbito comercial e cultural. O objectivo da associação é proporcionar aos cidadãos chineses uma harmoniosa integração na sociedade portuguesa.
O dirigente salienta que a actual vaga de emigrantes chineses para Portugal é bastante diferente do que sucedia dantes. Se, antigamente, iam com visto de trabalho ou até mesmo para reagrupamento familiar, hoje o objectivo é a obtenção da residência por investimento. “O trabalhador que vem apenas em busca de trabalho já vem muito pouco”, refere.
Quanto à ida de emigrantes chineses de Macau para Portugal, Y Ping Chow diz que não tem sido expressiva, apesar de não poder dizer o mesmo em relação aos residentes de Hong Kong. “Pessoas de Hong Kong têm vindo mais, nomeadamente pessoas com autorização de residência de Hong Kong, até mesmo com passaporte, vêm para Portugal para fazer o visto ‘gold’”, afirma.
Novos negócios
Nos finais da década de 1980 e início da década de 1990, os negócios chineses em Portugal centravam-se mais na restauração, uma realidade que se foi alterando entre 1998 e 2020, com o empreendedorismo a convergir para as áreas do comércio, exportação e importação, explica Y Ping Chow.
Neste momento, a tendência é novamente de mudança. “A comunidade continua com os outros negócios, mas está mais forte na restauração, embora em restaurantes de estrutura maior, de tipo buffet”, salienta o responsável, que também lidera a Câmara de Comércio Portugal-China PME. Já quanto às tradicionais lojas de produtos chineses, dada a concorrência, as mais pequenas têm vindo a fechar, com as maiores a abrirem novos espaços nos arredores dos principais centros urbanos do país.
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A pandemia da COVID-19 também levou a algumas mudanças na estrutura da comunidade chinesa residente em Portugal. Para além de algum abrandamento nos negócios, houve um grande número de cidadãos chineses que optou por regressar à China, esperando melhores dias. “Alguns têm regressado a Portugal, mas há muitos que ainda se encontram na China”, afirma o dirigente.
Além disso, devido às restrições às viagens, impostas pela pandemia, em conjunção com alterações legislativas em Portugal e maior concorrência com outros países europeus, houve uma diminuição na atribuição de vistos “gold”. Ainda assim, o investimento em imobiliário continua a ser a preferência por parte dos chineses que se fixam em Portugal através do programa de obtenção da residência.