Foi há mais de 20 anos que Lau Kam Ling se juntou à Associação Geral das Mulheres de Macau, na altura como membro da comissão para os assuntos da juventude. Os serviços sociais que o organismo presta são hoje mais diversificados, mas continuam focados no apoio às mulheres e famílias, diz à Revista Macau a agora presidente da associação. A rede de serviços continua a ser alargada, incluindo para o Interior da China
Texto Stephanie Lai
A Associação Geral das Mulheres de Macau tem actualmente um papel bastante relevante em Macau. O que esteve na origem da associação no início da década de 1950?
Tudo começou em Outubro de 1949, com um pequeno grupo formado por senhoras progressistas. O pano de fundo foi a fundação da nova China e o facto de Macau ter um forte sentimento de pertença e participação no movimento patriótico do Estado.
Com o empenho das nossas fundadoras, o grupo evoluiu mais tarde para a “Aliança das Mulheres Democráticas de Macau”, que foi fundada oficialmente a 21 de Maio de 1950 e antecedeu a nossa associação. Na altura, foi divulgada uma publicação e feita uma declaração a comemorar a criação da Aliança, delineando como objectivo primordial o trabalhar para unir todas as mulheres de Macau, bem como para melhorar o seu bem-estar e o das crianças. Este foi o primeiro passo da nossa associação e da nossa missão de ajudar mulheres e crianças.
Portanto, desde o início que a organização se dedica a serviços sociais direccionados ao apoio às mulheres e às famílias?
Sim, naquela época, Macau não tinha os recursos que tem actualmente. Foi por isso que um grupo de senhoras do sector industrial e comercial, com espírito de solidariedade e compaixão, se reuniu, na esperança de exercer a sua influência e contribuir para melhorar a vida das mulheres, muitas delas ainda sem instrução. No início, o trabalho da associação focava-se na educação das mulheres e no ensino generalizado da leitura, proporcionando-lhes aulas nocturnas. Posteriormente, o âmbito do trabalho passou a abranger também creches. O nosso serviço de creche, embora pioneiro à época, começou numa escala muito pequena. O serviço está agora a um nível totalmente diferente, pois é muito mais amplo e estruturado.
A associação tem alargado a rede dos seus serviços. Em que período é que se assistiu a uma expansão significativa?
Com o desenvolvimento industrial em Macau na década de 1980, aumentou o número de mulheres que começaram a trabalhar nas fábricas locais e a procura por vagas em creches também cresceu. Nessa altura, os apoios sociais para crianças e a creche tornaram-se no nosso principal serviço.
O edifício onde estamos instalados [Edifício “Associação das Senhoras”] entrou em funcionamento em 1994. Antes disso, o nosso serviço de creche operava num pequeno prédio na Rua da Barca, que foi também o local onde a nossa associação iniciou os seus trabalhos. Mudámos para este novo edifício à medida que a nossa rede de serviços se expandiu e passámos a dedicar mais atenção à educação dos jovens e das mulheres. Em 1994, criámos a comissão da juventude, que era um órgão dedicado ao voluntariado e ao apoio às outras actividades da nossa associação. Os membros dessa comissão foram convidados a participar em diversos eventos e organizaram também visitas de jovens a departamentos governamentais, bem como a casas de residentes mais carenciados e idosos que viviam sozinhos. Este tipo de actividades visava ajudar os jovens a compreender melhor o funcionamento da sociedade e que papel podem desempenhar.
Ao longo dos 72 anos da nossa associação, gerações após gerações, temo-nos dedicado e esforçado por servir os milhares de lares de Macau e por apoiar as mulheres e as suas famílias, com serviços que vão desde a rede de creches, serviços de educação, apoio à defesa dos direitos da mulher, serviços de apoio à família, cuidados de saúde e ajuda aos grupos mais carenciados.
A associação está posicionada como um lar seguro para as mulheres. Além disso, prestamos também apoio àqueles que se deparam com desafios, tanto físicos como mentais, através do nosso Centro de Solidariedade Social Lai Yuen, do nosso Centro de Protecção de Saúde da Mulher e do nosso Centro de Consulta para Cuidados Psicológicos.
Continuamos também a defender políticas voltadas para a família, pois queremos medidas que vão ao encontro das necessidades das famílias locais e que contribuam para o bem-estar das mulheres.
A associação desempenha também um papel importante no que diz respeito a encorajar mulheres a participarem na política. Como é que surgiu esta missão e o que fazem para incentivar os jovens a participar em actividades ligadas à política?
Desde 1988 que a nossa associação participa nas eleições para a Assembleia Legislativa, e esse ano marcou o início da participação dos membros da nossa associação na vida política de Macau, tendo como objectivo a defesa dos direitos das mulheres e das crianças e as necessidades das famílias locais.
A nossa associação também se dedica à formação de jovens com vista a desenvolver capacidades para participar no debate e implementação de políticas sociais. Por essa razão, temos recomendado aos nossos membros mais jovens que participem nas comissões consultivas das políticas do Governo de Macau. Também temos vários programas de formação para jovens que visam educá-los nas diversas questões sociais e políticas. Este ano, assinámos também acordos de cooperação com a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude e com a Universidade da Cidade de Macau, respectivamente, para fomentar os trabalhos de formação de talentos.
“Ao longo dos 72 anos da nossa associação, temo-nos dedicado e esforçado por servir os milhares de lares de Macau e por apoiar as mulheres e as suas famílias”
LAU KAM LING
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO GERAL DAS MULHERES DE MACAU
Ao longo dos anos, os membros que compõem os corpos directivos da associação têm sido cada vez mais novos e de diferentes áreas profissionais. Como é que estas mudanças têm moldado o trabalho da associação?
Ao longo dos últimos anos, a associação acolheu membros provenientes de diferentes áreas profissionais, como enfermeiros, médicos e professores – basicamente de todas as esferas profissionais. Estes novos membros são convidados a participar nos nossos trabalhos, porque a procura pelos nossos serviços sociais é actualmente mais diversificada. Com o objectivo de expandir e aumentar a qualidade dos nossos serviços, os novos membros são de diversas origens.
Temos uma afiliada chamada Associação das Mulheres Profissionais de Macau, criada em 2018 – um organismo formado por profissionais, como engenheiras, arquitectas, médicas e contabilistas. A sua agenda baseia-se nos seus interesses profissionais e para isso organizam regularmente fóruns e seminários. Exemplo disso foi o fórum sobre política tributária da região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, organizado conjuntamente connosco, e para o qual a consultora PricewaterhouseCoopers foi convidada a participar.
No ano passado, os nossos membros elegeram os 37.os corpos sociais da associação, formados por 162 pessoas no total. Entre esses dirigentes, a média de idades é de aproximadamente 48 anos; e mais de 80 por cento têm habilitações ao nível do ensino superior. Em termos gerais, vimos que a nossa liderança ficou mais jovem e que nela existe uma proporção crescente de elementos com formação altamente qualificada e profissional.
Temos também membros com 18 anos que representam as diferentes camadas sociais. Actualmente, a nossa associação tem mais de 50.000 membros, com 26 unidades subordinadas e 17 grupos afiliados.
A associação lançou, no ano passado, um centro de serviços sociais na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. O que pretendem alcançar com esta expansão para Hengqin?
No ano passado, inaugurámos a Delegação de Guangdong da Associação Geral das Mulheres de Macau e um centro de actividades para pais e filhos em Hengqin, ambos localizados no mesmo edifício. Como o Governo de Macau tem vindo a promover o conceito de integração entre o território e Hengqin, achámos que Hengqin seria o local ideal para onde expandir a nossa prestação de serviços de apoio à família e aos jovens.
O centro de actividades para pais e filhos oferece instalações recreativas para crianças e famílias, para que possam passar mais tempo juntos. Também organizamos naquele centro actividades que são planeadas para o bem-estar dos agregados familiares. Os nossos serviços em Hengqin estão disponíveis para todos.
Que outros planos têm para a região da Grande Baía?
A Associação Geral das Mulheres de Macau sempre foi proactiva relativamente às estratégias nacionais de desenvolvimento, incluindo no que diz respeito à região da Grande Baía. Em 2018, assinámos a Declaração de Cooperação das Mulheres da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau com associações congéneres desta região. Com base nesta declaração, estamos a trabalhar para estabelecer um mecanismo de cooperação entre as associações representativas das mulheres nesta região, com vista a integrar os nossos recursos e trocar experiências no que toca à prestação de serviços a mulheres e crianças e outros serviços sociais, além de fomentarmos a formação de talentos. De certa forma, a declaração é pioneira porque antecede o Plano de Desenvolvimento para a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, que foi publicado em 2019.
Em Hengqin, planeámos uma expansão dos nossos serviços de apoio às famílias no projecto do Novo Bairro de Macau, onde o Governo de Macau já reservou um espaço onde os nossos serviços poderão ser disponibilizados.
Mantemos um relacionamento estreito com a Associação Geral das Mulheres de Zhuhai, e já trabalhamos com a nossa congénere na prestação de serviços transfronteiriços de mediação em assuntos familiares e conjugais. Estamos agora a explorar mais opções para integrar melhor os nossos serviços em Zhuhai, pois há cada vez mais residentes de Macau a viver na cidade vizinha.
E que projectos têm para Macau?
Em Macau, pretendemos continuar a unir as mulheres para reforçar o apoio à sociedade e contribuir para uma melhor integração de Macau nas estratégias nacionais de desenvolvimento. Continuaremos também a envidar esforços para partilhar as nossas ideias sobre as políticas de Macau, através da nossa presença na Assembleia Legislativa e em várias comissões consultivas estabelecidas pelo Governo.
Vamos continuar a apoiar o princípio de “Macau governado por patriotas” e estaremos envolvidas nos trabalhos de promoção da educação patriótica para as nossas mulheres e jovens, de modo a aumentar o seu sentimento de pertença e orgulho no nosso país.
Além disso, embora continuemos a observar as regras de prevenção contra a Covid-19, estamos a alargar os serviços que prestamos aos residentes de Macau. Isso inclui a digitalização dos nossos serviços e a expansão dos centros de serviços. Planeamos inaugurar em breve um novo centro de atendimento de apoio familiar em Mong Há, bem como de outro novo centro de atendimento na zona norte de Macau, localizado na Avenida do Nordeste.
Continuamos a prestar às mulheres um serviço gratuito de rastreamento de cancro no nosso centro médico no Edifício Comandante Revés. Desta forma, pretendemos providenciar um serviço de prestação de cuidados de saúde complementar àquele que é prestado pelo Governo e a custos acessíveis comparativamente às clínicas privadas.