A presidente da Art for All Society (AFA) defende que a associação tem cumprido a sua missão. Prova disso, sublinha Alice Kok Tim Hei, é a carreira que a própria construiu enquanto curadora e artista. A líder, já no terceiro mandato, quer que a AFA contribua para que Macau afirme a sua identidade no processo de integração na Grande Baía
Texto Catarina Brites Soares
A Art for All Society (AFA) faz 15 anos. Está satisfeita com o caminho percorrido?
A AFA foi criada com o propósito de ser uma plataforma para os artistas se profissionalizarem. Ter feito carreira como curadora e artista é uma das provas de que tem cumprido a missão.
Que função tem a associação e o que a distingue de outras?
A AFA desempenha sobretudo um papel no âmbito da curadoria, especializada na arte contemporânea. Não só oferecemos aos artistas uma galeria e recursos para realizarem exposições, como asseguramos a curadoria dos trabalhos.
O que priorizam?
Enquanto presidente, tenho a responsabilidade de definir um plano anual, que depois é submetido para obtenção de apoios públicos. Valorizamos a qualidade. A arte não é só para um, mas para todos, no nosso caso. Com base nesta premissa, concebemos as exposições tendo em conta uma conjuntura mais ampla, que considera os contextos social, cultural e económico, na qual nos afirmamos como uma das entidades artísticas mais representativas da região. Vamos ao encontro dos artistas antes mesmo de eles virem ao nosso. Promovemos encontros, discutimos trabalhos, aconselhamos, acompanhamos e encorajamos, de forma a que tenham oportunidades de mostrarem o que fazem. A AFA é a maior associação de arte contemporânea em Macau. Tem cerca de 70 membros activos. Distinguimo-nos de outras associações culturais mais tradicionais, porque nos dedicamos à arte contemporânea, com predominância para as artes visuais.
Quais foram as grandes conquistas da AFA nestes 15 anos de existência?
A mais importante foi tornar-se numa entidade que serve os artistas e a arte. AFA conquistou um lugar e construiu uma reputação em que vinga a consistência na apresentação de trabalhos de valor. O nosso esforço na curadoria é a nossa maior conquista. Os artistas precisam de um ambiente profissional no qual as suas obras possam ser apresentadas com o ângulo e abordagem correctos, para que tenham o devido apreço, e possam gerar discussão e impacto na sociedade. Nós somos a ponte entre a Arte e o Todos.
E quais os desafios que enfrentaram?
A tendência desactualizada de olhar a arte como uma forma de entretenimento é o nosso maior desafio. O público em geral é mais sensível a prazeres e realizações imediatas como a comida, turismo, produtos de beleza e programas de televisão, em vez de actividades como visitar um museu ou uma galeria de arte – espaços onde se reflecte a Humanidade.
Quais as dificuldades que destaca actualmente?
A maior tem que ver com a recessão económica generalizada que vivemos, atendendo à pandemia e restrições ao turismo, que veio agravar o desafio que mencionei antes. As verbas disponíveis para a cultura e arte são menores. É indiscutível que são necessárias mais transparência e reformas [nos apoios à arte], mas, durante este período de mudança, decisões menos sensíveis podem dificultar a sobrevivência de associações não lucrativas como a nossa.
Como assim?
A arte e a cultura não podem ter como fim o lucro rápido – se é que o podem ter de todo. Os sectores cultural e artístico são portas de reflexão, que permitem conceber e criar novos caminhos para um futuro diferente. Sabemos que o jogo não pode ser a única resposta [para o futuro de Macau]. Como tal, está na hora de considerar mais vias. A arte e a cultura são o caminho. Dito isto, importa ressalvar que a AFA está entre as associações que tem conseguido sobreviver graças ao apoio do Governo.
Quão importante tem sido a AFA para os artistas e o desenvolvimento do sector?
Os artistas vêm à AFA para debater, receber uma opinião profissional e apresentar o que fazem com uma abordagem curatorial consistente. A AFA é o trampolim para se lançarem e contextualizarem o seu trabalho. É como um grande navio, onde podem entrar e definir-se – respeitamos e encorajamos a identidade de cada um –, que os leva a outras paragens.
Quais são as principais ambições?
Sobreviver como uma entidade singular em Macau e no exterior, sobretudo na região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Vivemos momentos críticos em que as culturas regionais se fundem e temos de nos assegurar que, nesse processo, as qualidades identitárias não desaparecem. O desenvolvimento económico depende também de um ambiente cultural vibrante. Macau, com a AFA, tem potencial para afirmar a nossa identidade artística, que é única, e criar uma região e um futuro maiores.