Mais alunos, especialmente de mestrado, e uma maior oferta de disciplinas são algumas das mudanças em curso na Universidade Politécnica de Macau (UPM), diz à Revista Macau o reitor, Marcus Im Sio Kei. Com o novo nome veio uma maior ambição, com a instituição a apostar no desenvolvimento de conhecimento aplicado, com o objectivo de se tornar num pólo de referência na região Ásia-Pacífico
Texto Stephanie Lai
O Instituto Politécnico é, desde Março, oficialmente denominado Universidade Politécnica de Macau. O que significa esta mudança em termos de posicionamento e no dia-a-dia da instituição?
Um aspecto em que a mudança de nome ajuda é o facto de reflectir mais adequadamente o nosso posicionamento como universidade. Com o apoio do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), pretendemos tornar-nos numa universidade focada no conhecimento aplicado e líder na região Ásia-Pacífico. Gostaríamos de continuar a impulsionar a inovação no sector do ensino superior e a melhorar a colaboração entre o mundo académico e o sector industrial e empresarial. Estamos também a trabalhar no sentido de garantir que o nosso currículo está alinhado com as necessidades do mercado, ao mesmo tempo que continuamos a aperfeiçoar a sua qualidade.
Após vários anos, a UPM já evoluiu como uma instituição que oferece múltiplas disciplinas em diversas áreas, com foco no conhecimento aplicado. Temos disponíveis vários cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento. Neste sentido, mesmo antes da mudança de nome, já tínhamos um sistema abrangente de promoção da educação e formação de talentos. Portanto, a mudança de nome, por si só, não alterou, em grande medida, o nosso funcionamento no dia-a-dia. A longo prazo, a meta a alcançar continua a ser a excelência académica.
O posicionamento e a ambição da UPM mantêm-se inalterados, mas a instituição tem novos objectivos no que toca à oferta de cursos?
No futuro, com base nas necessidades sociais e económicas de Macau, iremos procurar aumentar gradualmente a oferta de algumas disciplinas científicas, nomeadamente nas áreas da matemática aplicada, meios digitais e inteligência artificial.
Também iremos reforçar a oferta na área do ensino de línguas, de forma a demonstrar as credenciais da nossa instituição na área da tradução entre chinês e português. Esta missão visa contribuir para reforçar o papel de Macau como plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa.
Quais os planos da UPM para aumentar e diversificar o número de cursos de mestrado?
Os nossos actuais cursos de mestrado estão divididos em seis áreas que se adequam às necessidades de desenvolvimento de Macau, incluindo: tecnologia da informação, línguas e tradução, gestão de empresas, artes, desporto, ciências da saúde e políticas públicas. Aliás, também temos cursos de doutoramento nessas áreas.
No futuro, iremos lançar mais cursos de mestrado relacionados com tecnologia, línguas, arte e gestão empresarial. Estamos a notar uma grande procura por este tipo de cursos; na verdade, muitos estudantes – incluindo os nossos licenciados – perguntaram sobre estes cursos.
Tendo em consideração o aumento do número de cursos, pretendem também alargar a equipa docente? Isto é um desafio maior durante o período da pandemia da COVID-19?
Com o passar dos anos, a qualidade do ensino superior em Macau tem vindo a melhorar. Os nossos docentes do Interior da China e do exterior consideram Macau um lugar perfeito para trabalhar e estão dispostos a prosseguir a carreira profissional aqui. É realmente um desafio encontrar professores qualificados, mas estamos confiantes, porque Macau é um bom lugar e a reputação da UPM também está a ser reconhecida a nível nacional e internacional. Temos confiança que iremos conseguir recrutar pessoal docente suficiente.
Temos novos professores que se têm juntado ao nosso corpo docente, mesmo durante o período de restrições devido à pandemia. Para os professores vindos de Portugal, a restrição à entrada em Macau já foi removida, portanto, o problema da contratação de docentes de Portugal está basicamente resolvido.
No que toca ao desenvolvimento da UPM, quais os principais desafios que a instituição tem pela frente?
A taxa de natalidade de Macau atingiu um dos pontos mais baixos dos últimos anos. O número de estudantes que terminam o ensino secundário também tem vindo a diminuir. Estas tendências representam um desafio no que diz respeito ao número de estudantes locais que se matriculam na nossa instituição.
Por outro lado, à medida que avança o projecto de desenvolvimento da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, vemos novas oportunidades de colaboração com outras instituições de ensino superior nesta região, independentemente do facto de, ao mesmo tempo, também termos um relacionamento competitivo. Em suma, ainda vemos mais aspectos positivos no que toca ao futuro, até porque esperamos que haja um maior fluxo de pessoas na Grande Baía; isso significa que o número de estudantes inscritos nas instituições de ensino superior de Macau pode até crescer se conseguirmos atrair jovens de outras zonas desta região.
O importante é que, à medida que Macau diversifique a sua economia, continuemos a primar pela excelência do nosso sector da educação e a melhorar a qualidade do nosso sistema de ensino.
Qual é o plano da UPM para aumentar o número de matrículas? Têm definida alguma proporção entre estudantes locais e não locais?
A partir do número de matrículas, podemos ver que a UPM é a principal escolha para os estudantes locais [que terminam o ensino secundário]. Embora o número de estudantes que concluem o ensino secundário tenha diminuído um pouco, isso não teve um grande impacto na nossa instituição. A diminuição foi compensada por um maior número de estudantes do Interior da China, o que fez com que a proporção destes aumentasse um pouco. Mas a maioria dos nossos estudantes ainda são locais.
Temos agora cerca de 4500 estudantes. No futuro, o nosso objectivo é aumentar esse número de 30 a 40 por cento nos próximos cinco anos, o que significa cerca de 6000 estudantes. Esta meta faz parte do nosso plano de desenvolvimento. Gostaríamos de observar um crescimento maior no número de estudantes de mestrado, com base nas necessidades da sociedade e para contribuir para a formação de quadros altamente qualificados. Nesse sentido, também esperamos aumentar o número de estudantes locais e do Interior da China. Para os locais, há uma tendência bastante encorajadora no que diz respeito ao número de estudantes matriculados em cursos de mestrado, com muitos deles focados em aperfeiçoar as suas competências profissionais. Essa é uma boa base para o nosso crescimento. Isto também demonstra que os nossos cursos de mestrado são atraentes tanto para estudantes locais como para alunos do Interior da China.
“Temos vários projectos de colaboração com entidades do Interior da China, bem como com instituições de outros países”
MARCUS IM SIO KEI
REITOR DA UNIVERSIDADE POLITÉCNICA DE MACAU
A UPM tem procurado adaptar a sua oferta às necessidades do mercado e em colaboração com os sectores empresarial e industrial. O que é que isso significa na prática e o que é que já conseguiram alcançar?
Trabalhamos sempre em estreita colaboração com várias partes interessadas para garantir que os currículos que oferecemos correspondem às tendências actuais e às necessidades da sociedade. Ao longo dos anos, vimos alguns resultados positivos.
No aspecto educacional, estamos em constante comunicação com diferentes indústrias e entidades profissionais e, dessa forma, asseguramos que os nossos cursos são desenvolvidos de acordo com as necessidades do mercado, dando igual ênfase às componentes teórica e prática. Para os alunos locais, também ajudamos no que toca a oportunidades de intercâmbio académico ou na obtenção de estágios. Por outro lado, organizamos diferentes workshops e seminários sobre temas relacionados com inovações tecnológicas, investigação na área médica e da saúde em geral, estudos relacionados com tradução, no campo artístico e criativo, e na área de gestão de jogo.
Profissionais e académicos de renome, bem como outros especialistas em diversas áreas, são convidados regularmente para partilharem os seus conhecimentos com os nossos estudantes. Este tipo de iniciativa ajuda não só os estudantes, mas também os professores a aumentar a sua competitividade, alargando os seus conhecimentos nas respectivas áreas académicas e também na esfera profissional.
No campo da investigação científica, trabalhamos constantemente em cooperação com o sector industrial, para garantir a aplicação real da investigação desenvolvida na nossa instituição. Actualmente, existem vários produtos patenteados que foram desenvolvidos na UPM e que são usados não só em Macau, mas também no resto do país e em alguns departamentos governamentais e instituições de ensino superior no exterior.
Pode dar alguns exemplos de casos de sucesso no âmbito da investigação na UPM?
Os nossos produtos relacionados com tradução automática, baseados em inteligência artificial, têm sido amplamente utilizados. É gratificante perceber que esta tecnologia é especialmente útil para resolver desafios linguísticos que podem surgir no âmbito do intercâmbio entre entidades da Grande Baía e dos países de língua portuguesa. Através dos esforços do Centro de Investigação de Engenharia em Tecnologia Aplicada à Tradução Automática e Inteligência Artificial – Ministério da Educação, conseguimos desenvolver este projecto com base na cooperação interdisciplinar e lançámos uma série de produtos de alta qualidade – assentes na inteligência artificial – que são agora amplamente utilizados.
A tradução entre chinês e português tem sido uma das principais áreas académicas da UPM. O que está a ser feito para reforçar a promoção da língua portuguesa e melhorar a qualidade do ensino e da investigação nesta área?
Há cerca de dois anos lançámos um curso de doutoramento em português, que já contou com vários estudantes. Esperamos que os projectos de investigação na área de estudos de línguas sejam aperfeiçoados e produzam ainda mais resultados.
A UPM tem, ao longo dos anos, cooperado com instituições de ensino superior em Portugal. Como pretendem alargar a rede de cooperação com instituições congéneres em Portugal ou até noutros países lusófonos? E como é que esses laços podem beneficiar os estudantes da UPM?
Estamos a trabalhar activamente para alargar a nossa rede de cooperação. A nova lei do ensino superior [de Macau] trouxe uma maior autonomia para que as nossas faculdades formulassem os seus currículos e, como resultado, os currículos estão a tornar-se mais diversificados. Há também maior flexibilidade no que diz respeito a projectos de investigação. Isso permite-nos aprofundar a colaboração com as instituições de ensino superior em Portugal.
No início, o nosso modelo de colaboração baseava-se na organização de alguns cursos conjuntos; agora, entrámos numa fase em que as duas partes podem trabalhar conjuntamente nalguns projectos de investigação científica de grande dimensão.
Temos, já há vários anos, alguns cursos de doutoramento que são organizados em conjunto com instituições de ensino superior de renome em Portugal, como a Universidade de Lisboa e a Universidade de Coimbra, o que permite que os estudantes aqui possam obter o doutoramento sem sair de Macau. Estes cursos estão focados, primordialmente, nas áreas da educação e das tecnologias de informação.
Neste momento, estamos a preparar um curso de duplo doutoramento com a Universidade de Coimbra na área das tecnologias de informação. O trabalho nesta área está a progredir gradualmente.
Pode dar-nos alguns exemplos de projectos de investigação em colaboração com instituições congéneres de Portugal?
Por exemplo, a tradução automática é um projecto que tem avançado bastante. Nessa área, temos vindo a trabalhar em conjunto com o Instituto Politécnico de Leiria e com a Universidade de Coimbra. Outro exemplo diz respeito à conservação do património cultural com recurso à inteligência artificial, que também tem conhecido bons avanços: temos trabalhado em conjunto com a Universidade de Coimbra na preservação do património da sua biblioteca centenária.
E como tem evoluído a colaboração com instituições de ensino superior do Interior da China?
Temos vários projectos de colaboração com entidades do Interior da China, bem como com instituições de outros países. Este ano, lançámos um curso de duplo doutoramento com a Universidade de Bolonha, na Itália, também na área das tecnologias de informação. Na verdade, isto faz parte do nosso objectivo de nos tornarmos num centro de inovação tecnológica na região da Grande Baía, e é por isso que temos lançado mais cursos relacionados com as tecnologias de informação.