A China continua a apoiar o desenvolvimento de São Tomé e Príncipe com o lançamento de novas iniciativas que visam acabar com a pobreza nas comunidades mais vulneráveis. Um projecto piloto lançado em Dezembro apresenta já resultados encorajadores e pode em breve ser alargado a outras zonas do país
Texto Josimar Afonso
São dezenas de famílias que fazem parte de uma das comunidades mais vulneráveis de São Tomé e Príncipe e cuja determinação foi recompensada com a escolha para integrarem um projecto piloto apoiado pela China. Novas práticas de agricultura, pecuária e veterinária, e até a modernização de cozinhas, fazem parte do programa a ser implementado por uma equipa de especialistas chineses na comunidade agrícola de Caldeiras, a cerca de 20 quilómetros da capital são-tomense.
O projecto piloto apoiado pelo Governo Central faz parte da cooperação alargada com São Tomé e Príncipe, visando reduzir a pobreza e melhorar a vida das comunidades locais. A comunidade de Caldeiras tem cerca de 400 moradores, que se dedicam maioritariamente à prática da agricultura, principalmente à plantação de milho e hortaliças, bem como à criação de animais.
O Governo Central lançou o projecto piloto naquela comunidade em Dezembro do ano passado, envolvendo inicialmente 25 famílias, num total de 79 que fazem parte da comunidade. Desde então, os elementos da missão técnica chinesa visitam diariamente a comunidade para acompanhar e dar formação aos residentes locais.
“Este projecto veio para melhorar a situação de vida de cada pessoa nesta comunidade, porque muitas pessoas não tinham como ter uma criação. É de louvar este projecto porque veio apoiar muitas pessoas nesta comunidade”, sublinha Anastácio Fernandes à Revista Macau.
O jovem criador e horticultor de 27 anos dedica-se a esta actividade há mais de 15 anos e foi beneficiado com cerca de 50 pintos no âmbito do projecto de redução de pobreza. Passados alguns meses, prepara-se agora para colher os primeiros ovos para comercialização e sustento da sua família.
Segundo Anastácio Fernandes, o projecto de redução da pobreza na comunidade de Caldeiras ajudou a melhorar a sua criação e a de muitos outros criadores de animais, na medida em que, além de apoios materiais, incluindo o “aumento de rações para galinhas”, também têm recebido “formação sobre como cuidar das galinhas e saber gerir a criação”. “A maneira que eles deram esta formação foi muito bem estruturada. No meu caso, mesmo se eles nos deixarem, neste momento, eu consigo dar continuidade ao tratamento destas galinhas”, diz Anastácio Fernandes.
Novas colheitas e técnicas
No campo da agricultura, a missão técnica proporcionou novas plantações de beringela, couve, tomate, repolho, pimentão, entre outras, provenientes da China, e instalou várias estufas para os horticultores da comunidade de Caldeiras, que são assessorados com novas técnicas de plantação, cultivo e irrigação gota a gota.
Adelino Silva Nunes também anda nestas lides há mais de 15 anos e afirma que, devido a este projecto, a sua “forma de fazer agricultura mudou bastante”. “Eu ganhei muito, tive a técnica dos chineses e fiquei muito satisfeito porque eles sempre nos deram muito apoio aqui na comunidade de Caldeiras. Nós tínhamos uma praga, mas a equipa técnica chinesa veio dar-nos apoio para combater esta praga”, conta Adelino Silva Nunes.
O projecto está também a transformar a horta e cozinha da escola primária de Caldeiras e do jardim da comunidade.
“Eles vieram com o objectivo de ajudar a comunidade e trouxeram tantas orientações no sentido de desenvolver a comunidade. E nós, na escola, também fomos beneficiados”, refere o director da escola primária, Ayres Quaresma.
“O projecto vai transformar não só a escola, mas toda a comunidade e há uma satisfação enorme”
AYRES QUARESMA
DIRECTOR DA ESCOLA PRIMÁRIA DE CALDEIRAS
Nesta escola foi instalada uma estufa de apoio à produção agrícola, com o objectivo de melhorar a dieta alimentar dos alunos, bem como de apoiar a obtenção de rendimentos extras, resultante da venda dos excessos da produção.
“Veio melhorar o nosso cultivo, tendo em conta que nos trouxeram variados tipos de sementes e, com orientação deles, tivemos melhores resultados com as plantas que cultivámos e as plantas serviram bastante para a alimentação das crianças, para a comunidade… E também ofertamos para alguns lugares e comercializamos para alguns estabelecimentos”, explica Ayres Quaresma.
A prática do cultivo com técnicas chinesas também tem sido transmitida aos alunos que visitam a horta da escola para aprenderem como se cultiva a terra e ganharem consciência da importância da agricultura para São Tomé e Príncipe.
“De vez em quando, nós sensibilizamos as crianças sobre o funcionamento da horta […] é um conhecimento que está a abranger toda a comunidade, incluindo as crianças”, disse o director da escola.
Projecto bem recebido
Por outro lado, segundo Ayres Quaresma, o projecto piloto apoiou a “construção de uma cozinha de melhor qualidade com um fogão onde não se sujeita ao fumo, não há problemas de intoxicação, poupa a quantidade de lenha e a cozinheira trabalha tranquilamente”.
“É um fogão fantástico e satisfaz as nossas necessidades”, realça Ayres Quaresma.
Além de disponibilizado na escola básica, este modelo de fogão foi instalado no jardim da comunidade e nas casas de pelo menos cinco famílias da comunidade de Caldeiras, contribuindo para a redução da desflorestação e do uso de madeiras nas cozinhas daquela comunidade.
“O projecto transformou e vai transformar não só a escola, mas toda a comunidade e há uma satisfação enorme. Eu estou apto para dar seguimento ao projecto”, afirma Ayres Quaresma.
A Embaixadora da China em São Tomé e Príncipe, Xu Yingzhen, reconheceu a necessidade de os dois países trabalharem em conjunto para reduzir a pobreza em várias comunidades são-tomenses, de acordo com um comunicado da representação diplomática. O objectivo, salientou a Embaixadora, depois de uma visita à comunidade de Caldeiras, é aumentar a produção agrícola e melhorar a educação e os cuidados de saúde junto das comunidades mais carenciadas.
Xu Yingzhen sublinhou ainda que este projecto piloto “deverá servir de exemplo para as outras comunidades” de São Tomé e Príncipe.
Uma aposta para o futuro
A missão técnica chinesa que acompanha o projecto é composta por um veterinário que chefia a equipa, Jia Jinhong; um especialista de estufa e horticultura, Hou Xiaoping; um especialista zootécnico, Zou Rui; e Li Zhifeng e Xie Huidong, como tradutores e porta-vozes do grupo.
Além do trabalho com a comunidade, os técnicos chineses colaboram estreitamente com o Ministério da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural de São Tomé e Príncipe e capacitam os quadros técnicos são-tomenses de diferentes instituições e os agricultores de outras comunidades.
“Nós achamos que a formação técnica é muito importante para passar conhecimento aos agricultores e aos técnicos. O nosso objectivo é introduzir a ideia e a experiência agrícola da China em São Tomé e Príncipe porque nós achamos que aqui há boas condições para desenvolver a agricultura, uma vez que há chuva suficiente e terreno fértil”, disse à Revista Macau um dos porta-vozes da equipa, Xie Huidong.
“Temos confiança no sucesso deste projecto e vamos continuar no próximo ano para diferentes comunidades”
XIE HUIDONG
PORTA-VOZ DA MISSÃO TÉCNICA CHINESA A SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
“Melhorando a tecnologia e aumentando o investimento, o desenvolvimento da agricultura ainda pode avançar muito mais”, refere o mesmo responsável, acrescentando que a China quer “ajudar o Governo são-tomense e o povo a reduzir a pobreza”.
O projecto piloto de redução de pobreza nas comunidades rurais de São Tomé e Príncipe tem a duração de um ano, mas os membros da equipa técnica chinesa asseguram que as experiências desta primeira comunidade já dão sinais para a sua continuidade em várias outras comunidades do país.
“Já temos um resultado inicial muito positivo, temos confiança no sucesso deste projecto e vamos continuar no próximo ano com este projecto para diferentes comunidades”, assegura Xie Huidong.
Além das actividades no âmbito deste programa, a Embaixada da República Popular da China em São Tomé e Príncipe realiza várias outras intervenções na comunidade de Caldeiras, nomeadamente nas áreas da saúde, através de consultas médicas gratuitas e do combate ao paludismo, bem como da educação, mediante a oferta de materiais escolares e incentivos aos melhores alunos. Todas estas iniciativas têm o mesmo propósito, garantem os representantes chineses, que é o de “melhorar a condição de vida e actuar na redução da pobreza” em São Tomé e Príncipe.