A rede de Centros Ambientais Alegria, a cargo da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, está em rápida expansão. Nos últimos anos, foram inauguradas várias unidades por toda a cidade, bem como ampliado o tipo de serviços oferecidos – tudo em prol da consciencialização ambiental em Macau
Texto Cherry Chan
É uma tarde solarenga de domingo e os utilizadores do Centro Ambiental Alegria da Rua da Ponte Negra, na Taipa, sucedem-se. Trazem resmas de papel, embalagens de plástico, garrafas de vidro e até pequenos electrodomésticos estragados. São entregues aos funcionários do centro, que asseguram que todos os materiais são devidamente separados, para serem enviados para reciclagem.
A rede de Centros Ambientais Alegria foi lançada em Novembro de 2018 pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), visando promover a recolha comunitária de diferentes tipos de resíduos. Hoje, são sete as unidades existentes, espalhadas pela península de Macau, Taipa e Coloane, as quais apenas encerram à segunda-feira, estando de portas abertas durante fins-de-semana e feriados.
O ponto mais recente da rede foi inaugurado em Abril no Edifício Mong Tak, complexo de habitação social localizado em Mong-Há. No local, foram instaladas as primeiras máquinas inteligentes de Macau de recolha de resíduos alimentares domésticos, acessíveis numa zona de reciclagem aberta 24 horas por dia.
Segundo a DSPA, “desde a sua entrada em funcionamento, os vários Centros Ambientais Alegria têm tido boa aceitação do público e são muito populares entre os moradores”. De acordo com o organismo, estas unidades oferecem aos cidadãos “uma via mais conveniente e cómoda” de procederem à entrega de diferentes tipos de resíduos para reciclagem, complementando outros esquemas já existentes, como os postos itinerantes de recolha e as parcerias com organizações locais para que também recebam resíduos recicláveis.
A lista de tipos de artigos que podem ser entregues nos Centros Ambientais Alegria é extensa. Além de papel, plástico, metais e vidro, são também aceites resíduos alimentares domésticos, equipamentos eléctricos e electrónicos, lâmpadas, pilhas e outro tipo de baterias. São ainda recolhidos vestuário e caixas de ovos, ambos para serem reutilizados. No caso da roupa, os centros contam com a cooperação de instituições sem fins lucrativos, nomeadamente a Associação Exército de Salvação (Macau), a Associação de Reabilitação Fu Hong e a Cáritas de Macau, as quais têm a seu cargo a selecção e tratamento dos artigos de vestuário usados.
“Os Centros Ambientais Alegria também se tornaram numa base de educação ambiental das comunidades, cativando a visita de muitas escolas, organismos e associações”, refere a DSPA. Na primeira metade do ano, os centros receberam mais de 80 pedidos de marcação de visita para efeitos pedagógicos, envolvendo cerca de 2000 participantes. Durante essas visitas, são disponibilizados workshops e outras acções de educação ambiental, refere o organismo.
Papel positivo
Ginger Kong, presidente da Macau Free Cycle Association, grupo ligado à protecção ambiental, elogia o papel positivo da rede de Centros Ambientais Alegria. “São um espaço para os cidadãos compreenderem o que podemos fazer para ter um planeta saudável”, diz. “Há muitas informações que os visitantes podem consultar.”
A activista refere que os centros reflectem uma tendência de maior consciencialização ambiental entre a população local. Ginger Kong reconhece que a DSPA tem vindo a ampliar os esforços no campo da promoção da reciclagem e educação ambiental, com resultados satisfatórios.
A dirigente associativa sublinha, porém, que “Reciclar” é a última etapa dos denominados “Seis Rs da Sustentabilidade” no que toca ao consumo de recursos. Antes, há que “Repensar”, “Recusar”, “Reduzir”, “Reutilizar” e “Reparar”. Ginger Kong afirma que, “embora a reciclagem seja um meio para proteger o ambiente, normalmente a população não compreende o que vai acontecer depois com os materiais enviados para reciclagem”.
A activista enfatiza a importância de promover a redução da produção de resíduos na fonte, ideia que encontra eco nas políticas governamentais. “A prioridade deve ser ‘reduzir’ e ‘recusar’”, explica. “A ideia de comprarmos tudo o que queremos, só porque depois vamos reciclar esses artigos ou dá-los a outros quando já não os quisermos ou gostarmos deles, não é uma acção razoável de protecção ambiental”, afirma Ginger Kong.
Mudar de vida
Outra activista ambiental local, Capricorn Leong, também elogia os esforços governamentais na área da promoção ambiental. “Foi uma agradável surpresa que o Governo tenha proibido o uso de caixas descartáveis de esferovite para comida, bem como de palhinhas e agitadores de bebidas descartáveis de plástico não-biodegradável, num período relativamente curto”, diz a ambientalista, em referência a medidas que entraram em vigor em 2021 e no início deste ano, respectivamente.
Capricorn Leong considera que a consciencialização ambiental entre o público de Macau subiu após os efeitos da passagem do tufão Hato pelo território em 2017. “Cada vez mais, as pessoas estão conscientes da importância da protecção ambiental, bem como do impacto de desastres naturais causados pelas alterações climáticas, pelo que começam a mudar de estilo de vida”, diz a activista.
Os dados constantes no “Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2021”, produzido pela DSPA, comprovam um aumento da reciclagem no território. No ano passado, Macau registou uma taxa de recolha de resíduos recicláveis de 23,5 por cento, a mais elevada dos últimos dez anos.
Capricorn Leong tem acompanhado de perto essa tendência, através do seu activismo. Ajudou a lançar um programa de recolha de resíduos no território, com o objectivo de ensinar à população como separar devidamente diferentes tipos de plástico, papel e outros materiais, de forma a facilitar a sua reciclagem. Esteve também envolvida na comercialização de produtos ecológicos reutilizáveis, como sacos para armazenamento de alimentos e copos de café.
É no âmbito de uma crescente consciencialização ambiental que a activista enquadra o papel dos Centros Ambientais Alegria. “Mais centros foram lançados de uma forma natural, o que significa que o Governo dá cada vez mais atenção a esta área, e que mais pessoas estão envolvidas em esforços de protecção do ambiente”, destaca.