Tecnologia

Smartphones chineses em expansão em Portugal

As marcas chinesas de smartphones têm vindo a registar forte crescimento em Portugal
As marcas chinesas de smartphones estão a registar forte procura em solo português, tendo terminado 2021 com uma quota de mercado superior a um terço

Texto Catarina Brites Soares

Preços competitivos e qualidade têm sido a estratégia das marcas chinesas de smartphones para conquistar clientes em Portugal, com Xiaomi, Oppo e TCL na linha da frente. De acordo com analistas ouvidos pela Revista Macau, o crescimento destas empresas no mercado luso é para continuar nos próximos tempos.

Francisco Jerónimo, vice-presidente para a área de equipamentos da consultora para o mercado tecnológico IDC, explica que as marcas chinesas com presença em Portugal operam em segmentos de preço distintos e têm estratégias diferentes. Porém, todas crescem a um ritmo bastante acelerado, diz o responsável com a tutela dos mercados da Europa, Médio Oriente e África na IDC.

“A Xiaomi é a que está com mais força”, detalha. “Depois, a TCL, que também está bastante forte, mas num segmento de preços muito mais baixo, e a Oppo, que é um ‘player’ mais recente, mas que tem tido um crescimento muito acentuado”, acrescenta Francisco Jerónimo.

Rui Reis, “key account” da multinacional de estudos de mercado GfK Portugal, refere que as marcas chinesas de smartphones começaram a ganhar predominância em Portugal, numa primeira fase, entre 2016 e 2018, através da tecnológica chinesa Huawei. A actual expansão é liderada pela afirmação de outras marcas chinesas como a Xiaomi, Oppo e TCL. No ano passado, estas três representaram mais de 30 por cento das unidades comercializadas em Portugal, significando um crescimento de 10 pontos percentuais face ao período homólogo, frisa Rui Reis.

Em alta

Nos últimos 12 anos, a Oppo expandiu a sua presença para perto de 50 territórios, releva Inês Lucas, “marketing manager” da marca em Portugal. “Isso é mais de um quarto de todos os países do planeta. Na Europa, a nossa missão continua a ser a de entregar produtos que atendam às necessidades. Tem sido assim desde que entrámos no mercado europeu em 2018 e o mesmo se verificou para Portugal, onde estamos desde 2020.”

Um ano depois, e de acordo com um relatório da consultora Canalys citado pela Oppo, a empresa chinesa conquistou uma fatia de 9 por cento do mercado português de smartphones. O objectivo é atingir uma quota de dois dígitos até ao final de 2022. Para o conseguir, a marca quer centrar-se no segmento médio-alto e apostar no crescimento do negócio da “Internet das coisas” (IoT, na sigla em inglês).

Já a TCL aponta como principal ambição insistir no que diz ser o seu mote: democratizar o acesso à tecnologia. A marca lançou recentemente a nova gama de smartphones TCL 30, com “recursos avançados, a preços acessíveis”, afirma a “country manager” da empresa em Portugal, Patrícia Dias.

A responsável recorda que a TCL está presente no mercado português de telemóveis há cerca de 25 anos, inicialmente através da marca Alcatel, que adquiriu em 2005. “Continuará a ser um mercado aliciante tendo em conta o potencial e a relação histórica que construímos”, diz Patrícia Dias.

Rui Reis, da GfK Portugal, refere que a Xiaomi, Oppo e TCL têm conseguido impôr-se em Portugal graças à presença junto de influenciadores digitais de tecnologia, além da criação de equipas dedicadas ao mercado luso e da abertura de lojas monomarca. Em 2021, a Xiaomi abriu dez espaços comerciais em solo luso. “Além de conseguir uma maior proximidade com o consumidor, permite-lhe apresentar outros produtos a par dos telemóveis, como os de electrónica, ‘smart-home’ e pequenos electrodomésticos”, contextualiza Rui Reis.

A Xiaomi fechou 2021 com 20 espaços comerciais em Portugal: 17 lojas e três quiosques inteligentes. De acordo com declarações à imprensa de representantes da empresa, o objectivo é consolidar a marca como a segunda mais popular entre os portugueses.

O consultor Francisco Jerónimo afirma que a Xiaomi tem procurado estabelecer-se em várias categorias de mercado, sempre com o mesmo princípio: bons produtos, com um design interessante e a um preço baixo. “E isso atrai qualquer consumidor”, diz. Dados da IDC mostram que as vendas de smartphones da Xiaomi mais que triplicaram em termos anuais no último trimestre do ano passado. 

Já a TCL, continua Francisco Jerónimo, está a desenvolver um portefólio baseado em produtos a preços muito competitivos, ainda mais baixos do que os praticados pela Xiaomi.

A Oppo, por sua vez, tem produtos de gama alta, média e baixa. “Estão percebidos no mercado como credíveis e sólidos para trabalhar no longo prazo. Prova disso é que entraram há pouco tempo e a quota de mercado continua a duplicar trimestre após trimestre”, realça Francisco Jerónimo.

Perspectivas positivas

Inês Lucas, da Oppo, afirma que o enfoque passa por melhorar os produtos da marca. “Haverá muito empenho no desenvolvimento da gama média-alta”, realça. “Ao mesmo tempo, pretendemos aumentar em 20 por cento as vendas totais”, diz, acrescentando que os dados de mercado sustentam a ambição, visto que o valor médio por unidade gasto pelos portugueses na compra de um smartphone continua a aumentar.

Na calha da Oppo estão outras investidas com vista a popularizar a marca em Portugal, refere Inês Lucas. “Queremos estar mais próximos dos consumidores e é por isso que vamos ser patrocinadores oficiais da próxima edição do Rock in Rio Lisboa”, um dos principais festivais de música em Portugal, a ter lugar em Junho. 

Patrícia Dias diz que o objectivo da TCL é tornar-se numa marca de referência entre os portugueses. “Sendo um dos maiores fabricantes mundiais de electrónica de consumo, temos como estratégia o crescimento das várias áreas já introduzidas em Portugal e do restante ecossistema da empresa que se encontra disponível noutros mercados”, reforça.

Rui Reis salienta que eventuais preconceitos negativos em relação às marcas chinesas de smartphones desapareceram. Estas são vistas actualmente como garantias de produtos de qualidade, de inovação e de preços acessíveis, diz. “Portanto, as perspectivas são, claramente, de crescimento.”

Resta saber se, entre a Xiami, Oppo e TCL, alguma chegará à liderança do mercado português. “Provavelmente, a Xiaomi”, prevê Francisco Jerónimo, da IDC, referindo-se ao número de unidades vendidas, mas sublinhando que outras marcas a operar em segmentos de mercado mais elevados podem beneficiar de melhores margens de lucro.

Já a Oppo deverá continuar a crescer, enquanto a TCL poderá ficar numa posição de liderança no segmento baixo do mercado, acrescenta Francisco Jerónimo, contextualizando que essa parece ser a estratégia e posicionamento da empresa.

“A Xiaomi e a Oppo têm apostado muito no sul da Europa, por serem mercados onde a sensibilidade ao preço é maior. Consumidores e empresas preferem telefones mais baratos, mas com qualidade”, conclui.