A integração regional entre Macau e a vizinha ilha de Hengqin, no município de Zhuhai, deve acelerar nos próximos anos, ao abrigo de diversos programas de cooperação. Para fazer face ao crescimento populacional previsto para Hengqin, está em curso um reforço de diversos serviços básicos, com destaque para a educação
Texto Viviana Chan
O desenvolvimento do sector da educação está a acelerar em Hengqin, para acompanhar o crescimento económico e populacional da ilha. Nos últimos tempos, abriram várias escolas públicas e privadas, incluindo um estabelecimento de ensino ligado à mundialmente famosa Harrow School de Londres. Está também prevista uma escola oferecendo habilitações académicas equivalentes às de Macau, a nascer no Novo Bairro de Macau em Hengqin, projecto que deverá estar concluído até ao final de 2023.
De acordo com a imprensa de Zhuhai, seis novas escolas entraram em funcionamento em Hengqin e nas zonas envolventes no ano lectivo de 2021/2022, oferecendo um total de 6000 vagas e cobrindo os níveis de ensino infantil, primário e secundário. Segundo dados estatísticos, cerca de uma centena de estudantes de Macau e Hong Kong estão a estudar em estabelecimentos de ensino público em Hengqin.
O crescimento do sector da educação é apoiado por outros serviços públicos. Foram recentemente lançadas novas carreiras de autocarro para facilitar a deslocação dos estudantes entre as zonas habitacionais e as escolas.
Segundo o planeamento das autoridades locais, mais sete estabelecimentos de ensino público vão entrar em funcionamento este ano em Hengqin. No total, devem oferecer até 3540 vagas e contribuir para responder à elevada procura local por serviços de educação.
O sector da educação na ilha conta já com a presença de instituições de topo do Interior da China. Tal inclui o grupo Capital Normal University de Pequim, através de parcerias ligadas a um jardim de infância e escola primária.
A Escola Internacional de Dulwich (Zhuhai), fundada em 2010, mudou-se do centro de Zhuhai para Hengqin em Outubro de 2021. O estabelecimento de ensino secundário conta com cerca de 800 estudantes e oferece uma educação ao estilo britânico, estando ligado à Huafa Education, uma das unidades da empresa pública Huafa, controlada pelo Governo de Zhuhai.
Entrada sonante
Entre os nomes mais recentes em Hengqin está o grupo Harrow Schools. Na sequência de anúncios do Governo Central relativamente ao planeamento e desenvolvimento geral de Hengqin, o grupo anunciou em 2017 planos para criar uma escola na ilha. A Harrow Innovation Leadership Academy Zhuhai abriu oficialmente portas no ano passado.
A Harrow School original é uma escola exclusiva localizada na capital britânica, Londres, com mais de quatro séculos de história. Ao longo dos últimos anos, o grupo Harrow Schools abriu diversas filiais na Ásia: a primeira no Interior da China foi inaugurada em 2005 em Pequim, mas a marca já se espalhou por outras cidades, incluindo Xangai, Chongqing ou Nanning.
A Harrow Innovation Leadership Academy Zhuhai oferece um ensino bilingue e uma educação de carácter internacional. A escola em Hengqin, com capacidade para 1200 estudantes e uma área total de quase 48 mil metros quadrados, fica situada no centro da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin.
Segundo Bella Huang, responsável do departamento de marketing da escola, esta tem actualmente mais de 200 alunos. Quase metade é do Interior da China, enquanto 30 por cento são provenientes de Hong Kong ou Macau. Os restantes têm descendência chinesa, mas possuem passaporte estrangeiro.
As várias escolas não públicas de Macau também estão de olho numa possível expansão para Hengqin. Vong Kuoc Ieng, vice-presidente da Associação de Educação de Macau, revela que as instituições de ensino do território estão “muito interessadas” nesta região de Zhuhai.
Escola com características de Macau
Para já, o ponto de entrada de Macau no sector da educação em Hengqin faz-se pelo Novo Bairro de Macau. O projecto está a cargo da Macau Renovação Urbana S.A. (MUR), sociedade de capitais públicos da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).
Em Setembro do ano passado, a Secretária para os Assuntos Sociais e Cultura do Governo da RAEM, Ao Ieong U, detalhou que o Novo Bairro de Macau – com cerca de 4000 fracções habitacionais – terá à disposição uma área de 20 mil metros quadrados destinada à educação. Na sua apresentação, a governante detalhou que o espaço será destinado a uma escola com admissão prioritária para os residentes da RAEM, com zona para actividades ao ar livre e instalações para cerca de 12 turmas do ensino infantil e 18 turmas do ensino primário, num total de 1000 estudantes. O projecto tem já em perspectiva a criação futura de instalações para o ensino secundário.
Ao abrigo do Acordo-Quadro de Cooperação Guangdong-Macau, serão implementadas políticas favoráveis para apoiar as despesas dos alunos de Macau que estudem no Novo Bairro. Além disso, a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude já incluiu disposições no regulamento do novo fundo da área da educação para apoiar financeiramente as escolas a serem estabelecidas no Novo Bairro.
Teresa Vong Sou Kuan, docente na Faculdade de Educação da Universidade de Macau, salienta que é importante que as instituições de ensino de Macau em Hengqin mantenham uma identidade própria no que toca à educação. A académica recorda que, no contexto da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, o Governo da RAEM pretende proporcionar condições para que os residentes de Macau possam optar por viver em Hengqin.
O projecto do Novo Bairro “irá criar uma nova comunidade de Macau em Hengqin”, refere Teresa Vong. “Desse ponto de vista, as instalações sociais à volta dessa comunidade devem focar-se em servir os residentes de Macau, incluindo as instituições educativas.”
A especialista em educação considera que faz sentido que o projecto educativo a nascer no Novo Bairro de Macau tenha “elementos suficientes sobre Macau no seu currículo”. E explica porquê: “Esta escola deve formar jovens que vão construir Macau no futuro. Por isso, é essencial terem conhecimentos suficientes sobre o território”, diz.
Teresa Vong nota que a escola do Novo Bairro de Macau em Hengqin poderá também servir estudantes de outras áreas da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. “Os estudantes do Interior da China que queiram entrar na escola devem estar à procura de uma filosofia educacional diferente de outras escolas chinesas”, refere.
A futura escola do Novo Bairro de Macau é “muito desejada” pela população da RAEM, diz Vong Kuoc Ieng, da Associação de Educação de Macau. “Hengqin tem muito espaço, muitas zonas verdes. Creio que muitos residentes de Macau querem ir para lá estudar e viver”, acrescenta, sublinhando que nem todas as famílias têm capacidade financeira para colocar os filhos a estudar numa das escolas privadas internacionais existentes em Hengqin.
Vong Kuoc Ieng defende que a futura escola do Novo Bairro de Macau “deve absorver ideias inovadoras, segundo um planeamento científico”. Para o responsável, a iniciativa deve ser desenvolvida como um projecto-piloto, tendo potencial para servir como um exemplo para as instituições de ensino de Macau que ambicionam expandir a sua presença para o resto da Grande Baía.