Indústria

Medicina tradicional ‘made in Macau’

A Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau), subsidiária do maior conglomerado de medicina tradicional chinesa do Interior da China, abriu as portas da sua primeira unidade de produção na RAEM em Dezembro do ano passado. A expectativa é que a fábrica possa contribuir para o desenvolvimento do sector no território, apoiando a diversificação económica da cidade

Texto Viviana Chan
Fotografia Cheong Kam Ka

O desenvolvimento da medicina tradicional chinesa é uma das prioridades do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) no âmbito da promoção da diversificação económica do território. Em Dezembro do ano passado, nasceu na cidade a primeira fábrica de medicina tradicional chinesa a operar em consonância com as normas das Boas Práticas de Produção de medicamentos (GMP, na sigla em inglês), fruto de um investimento da Companhia de Desenvolvimento Internacional Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau), Lda.. À Revista Macau, o director assistente da empresa, Huang Ying, confirma que o objectivo é utilizar a RAEM para promover a inovação, ao mesmo tempo que, acredita, apresentar produtos “made in Macau” será uma mais-valia para conquistar clientes no território, em Hong Kong e noutros mercados no sul da Ásia.

A Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau), filial da Guangzhou Pharmaceutical Holdings Ltd. – o maior fabricante de medicina tradicional chinesa do Interior da China –, foi estabelecida em Macau no início de 2020. Em Dezembro do ano passado, inaugurou aquela que é a maior unidade de produção do território de medicamentos de medicina tradicional chinesa, podendo actualmente produzir sete tipos de produtos. O projecto possui mais de 2000 metros quadrados e situa-se no Parque Industrial Transfronteiriço da Ilha Verde.

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Huang Ying revela que, após vários estudos da empresa e reuniões com as autoridades de Macau e da cidade vizinha de Zhuhai, foram definidas estratégias para promover o desenvolvimento inovador do sector da medicina tradicional chinesa no território e em Hengqin, parte de Zhuhai. Apesar de a unidade de produção da Ilha Verde ter uma menor área de implementação do que outras fábricas do grupo no Interior da China, o responsável sublinha que segue padrões de topo do sector.

Macau, explica Huang Ying, é vista pela Guangzhou Pharmaceutical Holdings como uma nova plataforma no desenvolvimento da medicina tradicional chinesa. A contribuir para tal estão diversas iniciativas do Governo da RAEM, incluindo a introdução de um regime jurídico de registo de medicamentos tradicionais chineses, que entrou em vigor no início deste ano. O responsável nota que as medidas podem beneficiar o território no que toca ao desenvolvimento e registo de produtos inovadores, visto que esse tipo de processo é mais complexo no Interior da China.

Segunda fase em preparação

Em 2019, a Guangzhou Pharmaceutical Holdings revelou que ia investir, no prazo de três anos, 1,5 mil milhões de renminbi em Macau, o que equivale a quase 1,9 mil milhões de patacas. Até ao momento, já foram gastos 600 milhões de renminbi, maioritariamente aplicados na unidade de produção da Ilha Verde.

Actualmente, está em funcionamento a primeira fase da fábrica, onde podem ser produzidas cápsulas, comprimidos e linimentos. A Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau) está a preparar a segunda fase da unidade, que deverá ter capacidade para produzir bebidas, xaropes e cremes.

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Huang Ying explica que o montante de investimento anunciado inclui fundos para a eventual aquisição de um terreno destinado à construção de uma unidade independente. A actual fábrica situa-se num edifício industrial que é propriedade do Governo da RAEM. 

O grupo contratou mão-de-obra local para as operações de comercialização, produção e outras actividades da unidade de produção. Tal inclui seis jovens de Macau, recém-licenciados pela Universidade de Sun Yat-sen e pela Universidade de Jinan, na província de Guangdong. A longo prazo, a empresa espera poder apostar na formação de quadros locais. 

“Tendo em conta que foi fundado em Macau o Instituto para a Supervisão e Administração Farmacêutica e a nova legislação na área da medicina tradicional chinesa impulsiona realmente uma maior abertura deste sector, consideramos que o Governo mostra ambição”, diz Huang Ying. “Por isso, esperamos que o desenvolvimento da área da medicina tradicional chinesa possa ganhar um maior dinamismo no futuro.”

O responsável recorda que, no âmbito da diversificação económica do território, Macau elegeu a medicina tradicional chinesa como uma das prioridades. A empresa-mãe da Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau), a Guangzhou Pharmaceutical Holdings, é líder no sector de medicina tradicional chinesa e, nesse âmbito, apoiar as políticas de Macau é também uma das suas responsabilidades na qualidade de empresa pública da província de Guangdong, diz o director assistente da subsidiária.

O Chefe do Executivo da RAEM, Ho Iat Seng, como antigo líder industrial, “conhece bem a importância do desenvolvimento da indústria”, refere Huang Ying. “Macau tem vantagens na investigação científica em relação à medicina tradicional chinesa: a Universidade de Macau e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau conseguiram montar laboratórios de nível nacional nessa área”, explica. A empresa pretende contribuir para a transformação dos resultados obtidos por esses laboratórios em novos produtos, e também quer cooperar com o Governo da RAEM para concretizar as metas no campo da cooperação aprofundada com Guangdong. 

Aposta na internacionalização

O futuro da Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau) passa, no curto prazo, por patentear produtos de medicina tradicional chinesa “made in Macau” e acelerar as exportações para o exterior. Nesse sentido, a empresa assinou em Novembro do ano passado um acordo de cooperação com a Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos (ACIML).

O acordo, refere Huang Ying, foi mais um passo na estratégia de promover a medicina tradicional chinesa junto dos países de língua portuguesa. A empresa acredita que poderá encorajar a realização em Macau de mais eventos de divulgação de produtos da medicina tradicional chinesa tendo como alvo o mundo lusófono. “Macau desempenha o papel de plataforma comercial entre a China e os países de língua portuguesa. Por isso, é natural promover a medicina tradicional chinesa lá”, diz o responsável.

Huang Ying acrescenta que Macau e Hengqin “realizaram nos últimos anos uma grande quantidade de trabalhos na promoção da medicina tradicional chinesa”. A Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau) “gostaria de aproveitar essa boa base para explorar novos mercados”.

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A Guangzhou Pharmaceutical Holdings criou em 2019 uma subsidiária em Hengqin, tendo estabelecido uma unidade de produção e um armazém para fins logísticos no Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa para a Cooperação Guangdong-Macau. Ambos incluem instalações para cadeia de frio, visando produzir produtos de alto valor para exportação. A unidade de Hengqin está focada no mercado internacional, seguindo padrões da União Europeia e outros standards reconhecidos internacionalmente. 

Uma das vantagens da internacionalização da medicina tradicional chinesa é que os seus produtos pertencem à categoria de medicamentos não sujeitos a receita médica. No entanto, alguns ingredientes clássicos incluem metais pesados e outros químicos, o que pode complicar a exportação, nota Huang Ying.

O director assistente da Guangzhou Grupo Farmacêutico (Macau) sugere que a promoção internacional da medicina tradicional chinesa não se deve focar nos produtos, mas antes na cultura subjacente a esta prática. “Segundo diversos estudos, os países com influência do confucionismo possuem níveis de aceitação mais elevados” no que toca à medicina tradicional chinesa, observa.