Chui Sai Cheong, vice-presidente da Assembleia Legislativa de Macau e coordenador-adjunto do Comité Nacional da Comissão Económica da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, defende que os jovens têm agora mais possibilidades de prosperar, tirando partido das políticas de desenvolvimento nacional. Em entrevista à Revista Macau, Chui Sai Cheong, recentemente agraciado com a Medalha de Honra Lótus de Ouro, realça que a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin oferece oportunidades inéditas para a diversificação económica do território
Texto Cherry Chan
Fotografia Cheong Kam Ka
Está há vários anos ligado à vida pública de Macau. Como vê o desenvolvimento socioeconómico de Macau nos últimos anos?
Macau é uma microeconomia livre e o desenvolvimento económico da cidade é inevitavelmente influenciado por elementos exteriores. No entanto, com o apoio do Interior da China, o Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) tem tido a capacidade necessária para ultrapassar quaisquer impactos negativos no seu percurso rumo ao desenvolvimento socioeconómico.
O sector do jogo é o principal motor da economia de Macau e, na primeira década após a transferência de administração, foram construídos muitos estabelecimentos e outras infra-estruturas, naquele que foi um período de construção acelerado; a segunda década constituiu o período de consolidação; e agora entramos numa nova fase de desenvolvimento da cidade.
No passado, como revelado no relatório do Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico da RAEM, publicado em 2021, os principais objectivos foram basicamente concretizados, mesmo tendo em consideração a volatilidade da economia face à conjuntura internacional. Entre estes, destaca-se a melhoria das condições de vida da população, o progresso na construção de uma cidade adequada para viver e trabalhar, o aprofundamento da cooperação regional e o aperfeiçoamento do sistema de governação.
Macau criou um excelente cartão de visita enquanto membro da Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia, implementou uma estratégia para o desenvolvimento do sector da educação, estabeleceu o regime de reserva de terrenos, melhorou o regime jurídico de habitação pública e aprofundou a cooperação regional com foco no objectivo estratégico de construção de “Um Centro, Uma Plataforma, Uma Base”.
Além disso, a cidade está também a participar nas estratégias nacionais de desenvolvimento, como, por exemplo, na construção do projecto da Região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e nos trabalhos de estabelecimento da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. Estas metas deverão ser concretizadas na actual fase de desenvolvimento.
Quais devem ser as prioridades para o futuro?
No que toca ao desenvolvimento de Macau, há metas comuns traçadas no 14.º Plano Quinquenal da República Popular da China e no 2.º Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico da RAEM (2021-2025). São objectivos estabelecidos, respectivamente, pelo Governo Central e pelo Governo da RAEM.
Estes planos visam melhorar a integração de Macau no quadro geral do desenvolvimento nacional, bem como aprimorar o mecanismo de articulação com o Interior da China e apoiar a diversificação da economia de Macau.
Mas há também que envidar esforços noutras áreas, como no que toca a aperfeiçoar o regime jurídico de Macau, melhorar o nível de governança, promover o desenvolvimento do sector da cultura, criar melhores condições de vida para a população e reforçar o planeamento urbano de modo a construir uma cidade com elevados níveis de habitabilidade.
A estrutura da economia de Macau está a mudar, bem como a conjuntura internacional, por isso é necessário que a sociedade local esteja preparada para esta mudança, por forma a conseguir adaptar-se à nova realidade, no que diz respeito ao desenvolvimento, consumo e investimento.
Face a estas mudanças, deve ser dada atenção a todos os estratos da sociedade, para prevenir quaisquer desequilíbrios.
O Governo tem realizado esforços ao longo dos anos para promover a diversificação económica de Macau. Como vê o trabalho que tem sido levado a cabo nesta área?
Após o fim do mandato do Segundo Governo da RAEM [em 2009], começaram a surgir alguns problemas devido à predominância da indústria do jogo na economia de Macau. Por um lado, foi necessário garantir o desenvolvimento da indústria para o bem da estabilidade da economia local, mas foi também preciso trabalhar para diversificar a estrutura económica e garantir a sustentabilidade.
Na verdade, a diversificação da economia é um dos princípios basilares do 2.º Plano Quinquenal da RAEM, que salienta a necessidade de “acelerar o processo da diversificação adequada da economia e fomentar as indústrias emergentes”. São metas para as quais o Governo da RAEM já está a trabalhar de forma empenhada.
A meu ver, esta não é uma tarefa fácil de concretizar. O sector do jogo é preponderante na economia local e é preciso tempo para obter resultados no que diz respeito à diversificação económica – é um trabalho a longo prazo. O Governo tem lançado vários incentivos e tem realizado muito trabalho no sentido de divulgar a importância de desenvolver várias indústrias.
Após vários anos, considero que a estrutura económica de Macau está a mudar de forma gradual. O Governo e todos os sectores devem aproveitar as oportunidades do projecto da Grande Baía e da Zona de Cooperação Aprofundada para reforçar a resiliência e competitividade da cidade e criar condições para um desenvolvimento sustentável, proporcionando mais opções para os jovens.
Quais as oportunidades que podem surgir com a construção do projecto da Grande Baía?
Creio que este é um passo importante na integração de Macau. Os jovens, ou até as pessoas de meia-idade, têm de alargar os seus horizontes para alcançar os objectivos que pretendem. É necessário que as pessoas de Macau aprendam mais sobre o que existe lá fora, explorem outras áreas de interesse, de forma a trazerem esse conhecimento para Macau, contribuindo para os esforços de diversificação.
Por outro lado, a construção de Macau como “Um Centro, Uma Plataforma, Uma Base” pode ser um elemento que atrai mais investimento, nomeadamente para a região da Grande Baía. Nesse sentido, e para concretizar estes objectivos, devemos trabalhar mais na divulgação, bem como aperfeiçoar as infra-estruturas e a formação de talentos.
Com o apoio das políticas do Governo, a cidade deve atrair mais quadros profissionais e desenvolver algumas indústrias emergentes, como a medicina tradicional chinesa, as indústrias cultural e turística, a indústria de convenções, exposições e comércio, e a indústria das finanças modernas.
Neste contexto, a construção do projecto da Grande Baía proporciona uma plataforma para que Macau se integre melhor na estratégia de desenvolvimento nacional, expandindo a área onde os residentes de Macau podem viver e trabalhar e dando um novo impulso à implementação do princípio “Um País, Dois Sistemas”.
Que ímpeto pode trazer a Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin para o desenvolvimento regional?
A cooperação entre Hengqin e Macau é inédita e estão a ser preparados novos regulamentos no que diz respeito à administração desta zona. Todos estes mecanismos serão novos, não serão apenas uma adaptação do que já existe em Macau ou em Hengqin; por isso, os governos irão elaborar uma proposta apropriada para o desenvolvimento e gestão desta zona.
Penso que a Zona de Cooperação Aprofundada pode ser uma plataforma importante para os residentes de Macau e da região da Grande Baía explorarem estes mercados, com o intuito de construir uma área urbana de elevada qualidade e com boas condições de habitabilidade, adequada para negócios e turismo.
Neste contexto, os jovens de Macau têm, de facto, mais oportunidades para se integrar no desenvolvimento nacional. A promoção do desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada representa um novo impulso à cooperação entre Guangdong e Macau, encorajando o desenvolvimento do projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau.
“A construção do projecto da Grande Baía proporciona uma plataforma para que Macau se integre melhor na estratégia de desenvolvimento nacional “
CHUI SAI CHEONG
VICE-PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MACAU
Como pode ser aprofundado o papel de Macau enquanto plataforma de cooperação entre a China e os países de língua portuguesa?
Macau tem vantagens singulares no que toca à ligação com os países de língua portuguesa, nomeadamente em relação à história, cultura e língua. Temos também o apoio da China e de Portugal. Além disso, as pessoas de Macau têm uma personalidade caracterizada pela harmonia. Todos estes factores servem como uma afirmação do papel de Macau enquanto plataforma entre a China e os países lusófonos.
Desde a transferência de administração de Macau, a China tem apoiado o desenvolvimento do território. A estratégia de desenvolvimento como “Uma Plataforma” foi incluída nos 12.º, 13.º e 14.º Planos Quinquenais do país, reconhecendo-se o importante papel que Macau desempenha neste âmbito.
Actualmente, vários produtos dos países de língua portuguesa e do Interior da China são exportados e importados através de Macau. A cidade tem muitos quadros bilingues e Macau está a promover a formação de mais talentos nesta área, visto que, além da Universidade de Macau e da Universidade Politécnica de Macau, outras instituições e universidades locais assinaram já acordos com universidades de Portugal, oferecendo mais oportunidades de intercâmbio aos estudantes de Macau.
Creio que devemos utilizar todas estas vantagens e promover o aprofundamento da colaboração entre os dois lados, contribuindo para a diversificação económica de Macau.
Que conselhos dá aos mais jovens em relação a estas estratégias de desenvolvimento regional?
A nova geração, principalmente aquela que nasceu após a transferência de administração, está a desfrutar de um período estável em termos de desenvolvimento económico e social; é um ambiente mais confortável. Mas espero que os jovens de Macau sejam capazes de sair desta zona de conforto e visitar as províncias do Interior da China para realizar intercâmbios e aprofundar os seus conhecimentos.
Neste período de desenvolvimento, os jovens devem ter uma melhor noção das suas potencialidades e continuar a reforçar as suas competências. Devem explorar a região da Grande Baía e conhecer melhor o nível de desenvolvimento dos diversos sectores. Devem também compreender os incentivos que estão ao dispor dos residentes de Macau para lá trabalhar ou estudar, contribuindo para construir uma base sólida para o desenvolvimento.
Além disso, os jovens locais devem ter em consideração o posicionamento de Macau – como uma plataforma internacional – para tirar partido das políticas implementadas a nível nacional, colaborando na concretização do princípio “Um País, Dois Sistemas”.
Ocupa vários cargos públicos e, ao longo dos anos, tem-se empenhado em servir a comunidade local. Foi recentemente agraciado com a Medalha de Honra Lótus de Ouro, em reconhecimento da sua dedicação à vida pública e profissional em Macau. O que representa para si esta distinção?
Claro que me sinto feliz por ser agraciado com esta medalha. É um reconhecimento pelas várias posições que tenho desempenhado na sociedade e nas diferentes associações a que estou ligado. Esta medalha não me pertence apenas a mim, mas a todas as pessoas que têm trabalhado comigo ao longo dos anos – partilhamos esta honra.
Quando se assume um cargo público, tem que se procurar fazer o melhor possível, por isso vou continuar a trabalhar com a mesma dedicação e a contribuir para a sociedade.
Ao longo dos anos houve várias mudanças, mas o que digo aos jovens é que o compromisso de servir a sociedade deve ser constante quando se assumem cargos públicos, de modo a cumprirem as responsabilidades para com a comunidade e para com as suas famílias. É muito importante assegurar um equilíbrio entre trabalho, família e outros compromissos.
Na minha opinião, nenhum desafio é intransponível, há sempre mais soluções do que obstáculos, e, no final, o mais importante é estar de consciência tranquila.