O Museu de Arte de Macau celebra as contribuições de Tam Chi Sang para o desenvolvimento cultural da cidade através de uma exposição de retratos e bustos criados pelo artista
Texto Cherry Chan
Fotografia Cheong Kam Ka
Assinalam-se em Outubro 15 anos sobre a morte de Tam Chi Sang, um dos artistas pioneiros, nos círculos chineses de Macau, na utilização de técnicas de pintura ocidental. Antecipando a efeméride, o Museu de Arte de Macau (MAM) tem patente, até 29 de Maio, uma exposição de retratos e bustos criados por Tam, sendo esta a primeira mostra individual dedicada ao artista a ter lugar naquele espaço.
“As suas obras mais famosas são pinturas de aguarela”, explica à Revista Macau a curadora da exposição, Loi Weng I. “Muitas pessoas não sabem que também pintou retratos.”
A exposição do MAM surge quase cinco anos após a última mostra dedicada ao artista: uma retrospectiva da obra de Tam Chi Sang organizada pela Fundação Macau em Setembro de 2017, no Centro UNESCO de Macau.
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Além de artista em nome próprio, Tam foi igualmente um importante divulgador das artes. A mostra organizada pelo MAM, que apresenta um total de 13 obras, inclui peças doadas ao museu por antigos alunos de Tam Chi Sang, alguns dos quais agora nomes de relevo no panorama artístico local, como Chou Cheong Hong ou Chio Wai Fu.
A exposição está integrada numa iniciativa mais ampla do MAM de valorização da arte produzida no território. Tal passa pela recolha, colecção, compilação, investigação e exposição da obra de artistas que marcaram o panorama artístico de Macau ao longo das últimas gerações.
Aprendizagem autodidacta
Apesar de possuir formação artística em pintura chinesa, Tam Chi Sang destacou-se no campo da pintura de estilo ocidental. De acordo com a curadora Loi Weng I, a aprendizagem foi feita de forma autodidacta.
“O seu método era apenas o de prática extensiva”, explica. “Tam Chi Sang dava grande importância ao esboço e utilizava como referência grandes artistas ocidentais.”
Loi Weng I diz que há uma influência óbvia nos retratos pintados por Tam Chi Sang. “Podemos ver que os seus auto-retratos eram baseados nas obras do artista neerlandês Rembrandt, nomeadamente na utilização de luz, sombra e cor, e no estilo das pinceladas.”
“Tam Chi Sang dava grande importância ao esboço e utilizava como referência grandes artistas ocidentais.”
LOI WENG I
CURADORA DA EXPOSIÇÃO
A curadora afirma que os trabalhos em exposição permitem descobrir um lado diferente de Tam. “Através das obras exibidas, os visitantes podem compreender como é que o artista se via a si próprio, aos seus familiares, amigos e às grandes figuras da época”, diz Loi Weng I.
De acordo com os materiais promocionais da exposição, Tam Chi Sang “criava auto-retratos de forma persistente”, espelhando a sua visão de forma pormenorizada e fazendo uso das suas capacidades artísticas “sofisticadas”. A mostra inclui auto-retratos em forma de esboço, pintura e escultura, criados entre as décadas de 1970 e 1990.
Já os retratos em exposição apresentam pessoas do círculo íntimo do artista, incluindo a sua esposa, amigos e estudantes. Estes trabalhos destacam os “esboços sólidos e capacidade de captar expressões e maneirismos” de Tam Chi Sang, refere o museu.
O talento do artista para captar a essência do ser humano através do retrato não beneficiou apenas os meios artísticos de Macau. Foi também útil à polícia local, já que Tam chegou a colaborar com as autoridades na elaboração de retratos de suspeitos, desenhados com base em descrições orais providenciadas por testemunhas.
A qualidade dos seus traços está também plasmada em retratos a óleo de algumas das sumidades de Macau do século XX. Uma dessas pinturas, recolhida pelo MAM, é um retrato “extraordinariamente expressivo”, segundo o museu, do abastado homem de negócios Sir Robert Ho Tung.