Numa Macau que se transfigurou quase que por completo ao longo das duas últimas décadas, temas como a protecção do ambiente ou a demanda por um sentido de pertença e de identidade são frequentes nas criações que Kevin Chio e Teresa Teng Teng Lam levam ao palco.
As narrativas do grupo de teatro alternativo Rolling Puppet não se esgotam, porém, na encenação dos conteúdos. Outros elementos há que ajudam a contar as histórias: “As marionetas podem ser concebidas para fazer as pessoas rir, mas também podem ser usadas para revelar significados metafóricos sobre a razão pela qual alguns bonecos são como são. Nós procuramos fazer com que as pessoas se interroguem sobre o uso de certos materiais em certos fantoches, porque é que alguns se movem da forma como movem ou porque têm o aspecto que têm. Procuramos sempre colocar essa camada extra de significado nas marionetas e nos espectáculos que concebemos”, explica Kevin, enquanto manipula uma marioneta de um golfinho branco chinês feito com o recurso a garrafas de plástico. “Ao fazermos uso das garrafas, estamos não só a criar um golfinho muito bonito, mas também muito frágil. Não é difícil compreender o significado dessa fragilidade. Torna-se palpável, mesmo sem palavras ou explicações”, complementa.
O pequeno golfinho partilha o espaço com um colhereiro-de-cara-preta – outra espécie emblemática da fauna do território – trabalhado em plástico e outros materiais reciclados, com um cão feito com caixas de vinho reaproveitadas e com inúmeras outras criações que fazem do quartel-general do grupo um templo à inventividade. Mas a ambição de Kevin e Teresa não se fica por aí.
A dupla de criativos encara a The House of Puppets como um espaço de partilha onde artistas da China e de todo o mundo poderão, num mundo pós-pandemia, encontrar inspiração e uma segunda casa. “O nosso propósito desde o início sempre foi o de partilhar este espaço. O nosso objectivo era o de convidar outros artistas, de promover residências artísticas, programas artísticos e festivais, de forma a trazer até cá outros interessados”, explica Kevin. “Esperamos poder conseguir atrair artistas de outros locais e organizar um programa de residências artísticas aqui em Coloane, para que eles possam construir ligações com as pessoas, possam beber inspiração nestas ruas e possam, por fim, criar algo, tendo como ponto de partida a experiência que tiveram connosco”, remata o artista.