Assinala-se em Abril o aniversário de Pak Tai, divindade taoista ligada ao elemento água e bastante popular na Taipa
Texto Cherry Chan
São muitos anos de uma tradição popular que a COVID-19 não consegue apagar: no dia 3 de Abril – correspondente ao terceiro dia do terceiro mês do calendário lunar –, Macau volta a acolher as Celebrações de Pak Tai. A festividade anual, de carácter taoista, decorre pelo terceiro ano consecutivo em formato reduzido, em cumprimento das directrizes de prevenção e combate à pandemia, mas nem por isso perde simbolismo, afirmam os organizadores.
“Ainda estamos a considerar a possibilidade de realizar as danças do dragão e do leão”, diz Chan Chi Seng, Presidente da Associação de Moradores da Taipa, grupo responsável pelas Celebrações de Pak Tai no templo homónimo, localizado na Vila da Taipa. A decisão, explica, dependerá da evolução da situação pandémica na região.
O Templo de Pak Tai, no Largo de Camões, na Taipa, é tradicionalmente o local principal das Celebrações de Pak Tai no território, que servem para assinalar o aniversário da divindade, também popularmente conhecida como Imperador Negro. Um dos destaques das festividades é usualmente uma série de espectáculos de ópera chinesa, bastante populares e levados à cena num teatro improvisado feito com canas de bambu, em frente ao templo. Porém, esses espectáculos devem voltar a não se realizar este ano, devido à pandemia, de acordo com Chan Chi Seng. Antes do aparecimento da COVID-19, recorda o responsável, “as óperas começavam no dia anterior às Celebrações de Pak Tai e continuavam por quatro noites”.
As Celebrações de Pak Tai não se ficam pela ópera chinesa. Incluem a queima de incenso, pedidos de bênção e a apresentação de tributos a Pak Tai, entre outros rituais. Tradicionalmente, na última noite de espectáculos de ópera e antes da remoção do palco, tem lugar uma pequena feira da ladra, com uma atmosfera festiva.
O foco das festividades
De forma a contribuir para a salvaguarda das Celebrações de Pak Tai, em 2020, o Governo da RAEM incluiu estas festividades no Inventário do Património Cultural Intangível do território, na categoria de “práticas sociais e religiosas, rituais e eventos festivos”. Na altura, o Instituto Cultural sublinhou a importância de “reforçar a salvaguarda do património cultural intangível de Macau e de identificar as manifestações deste património que requerem conservação”.
Apesar do impacto da COVID-19 na realização das festividades dos últimos anos, Chan Chi Seng sublinha a importância de manter a promoção do património cultural intangível local junto das novas gerações, para que estas possam entender o valor desses rituais, bem como a sua história. “O mais importante é nós continuarmos a transmitir a cultura tradicional e a crença e religião chinesas”, diz.
As origens do Templo de Pak Tai remontam a 1844, de acordo com uma inscrição no edifício. Na Taipa, este é um dos poucos santuários taoistas com um pavilhão para adoração e ofertas, fazendo parte da lista de bens imóveis classificados da cidade, sob a categoria de monumento.
A construção do templo explica-se pelo facto de, no passado, a maioria da população da Taipa se dedicar à pesca. De acordo com as crenças taoistas, Pak Tai está ligado ao elemento água, tendo o poder de controlar tempestades e incêndios. O templo situava-se, então, junto ao mar e era bastante frequentado por pescadores para solicitar protecção divina. São também atribuídos a Pak Tai diversos feitos milagrosos ligados à Taipa, desde a cura de doentes ao auxílio no combate a incêndios ou a piratas.
De acordo com a cultura chinesa, Pak Tai, comandante das 12 legiões celestiais, venceu o Rei dos Demónios, que aterrorizava o universo. No interior do templo, podemos ver a divindade sentada com os pés sobre uma tartaruga e uma serpente – enviados do Rei dos Demónios, derrotados por Pak Tai –, simbolizando o triunfo do bem sobre o mal.
Embora Pak Tai seja a divindade titular do templo, o santuário é também dedicado a outros deuses. Entre eles, estão Va Kuong, conhecido como o Deus do Fogo, e Kuan Tai, Deus da Guerra e das Riquezas.