SÃO-TOMENSES EM MACAU

Retrato de uma comunidade em crescimento

Nos últimos meses, Macau dançou ao ritmo da ússua e vibrou com as peripécias teatrais do tchiloli, mercê do crescimento que a comunidade são-tomense registou nos últimos anos. Em entrevista à Revista Macau, o presidente da Associação dos Sãotomenses em Macau, António Costa, traça o retrato actual dos são-tomenses na RAEM

Texto  Marco Carvalho

MAIOR e mais dinâmica do que nunca. É este o panorama actual que António Costa traça da comunidade são-tomense que ao longo das últimas décadas se estabeleceu em Macau. O presidente da Associação dos Sãotomenses e Amigos de São Tomé e Príncipe de Macau-China reconhece que o tamanho da comunidade sempre reflectiu a dimensão do país (o arquipélago equatorial é a mais pequena nação de expressão portuguesa), mas afiança que as perspectivas mudaram radicalmente desde 26 de Dezembro de 2016, quando Pequim e São Tomé restabeleceram relações diplomáticas. 

Com o reconhecimento mútuo, as universidades da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) abriram as portas a um maior número de estudantes são-tomenses. A decisão tornou tangível algo que era impensável até há pouco mais de cinco anos: que Macau pudesse dançar ao ritmo da ússua ou vibrar com as peripécias do Marquês de Mântua e de Valdevinos, as personagens centrais do peculiar tchiloli.

“Fizemos três workshops em Agosto. Um workshop sobre dança, que contou com uma forte adesão dos residentes de Macau. Ensinámo-los um pouco mais sobre a dança de São Tomé e Príncipe, concretamente a ússua”, explica António Costa. 

“Falámos sobre o potencial turístico de São Tomé e Príncipe e também sobre um tema que é muito importante para nós e que é o nosso tchiloli, a tragédia do Marquês de Mântua. É uma expressão teatral com contornos únicos e origem no século XVI e que não é muito conhecida fora de São Tomé e Príncipe. Mesmo com a pandemia, conseguimos trazer isso até Macau”, salienta o dirigente e fundador da associação.

Um workshop, em Agosto, deu a conhecer aos residentes de Macau a dança de São Tomé e Príncipe

Para o sucesso dos workshops, promovidos no âmbito da 13.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, organizada pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau), contribuíram em muito a dezena e meia de estudantes de São Tomé e Príncipe que frequentam a Universidade de Macau e o Instituto Politécnico de Macau.

Mas as mudanças, sublinha António Costa, não se ficam pelo avolumar da comunidade são-tomense em Macau: “Com o restabelecimento das relações diplomáticas, uma das novidades é que São Tomé e Príncipe foi admitido no Fórum de Macau e algo mudou. Passou a haver mais intercâmbio”, esclarece o líder associativo.

“Ao nível das relações económicas, apesar de estarmos longe, sabemos que algumas coisas estão a acontecer. A China ajudou São Tomé e Príncipe com materiais para combate à COVID-19, construiu habitação social em São Tomé e Príncipe e existem muitos outros projectos, como a construção do novo aeroporto, que estão à espera de ser concretizados. Houve uma alteração na relação entre os dois países, esta alteração é palpável e em Macau também sentimos que as coisas mudaram para melhor”, assevera.

Relações diplomáticas

A nomeação, em Novembro de 2020, de Xu Yingzhen para o lugar de Embaixadora da República Popular da China em São Tomé e Príncipe confirma o bom momento das relações entre Pequim e São Tomé, refere António Costa. 


“Houve uma alteração na relação entre os dois países, esta alteração é palpável e em Macau também sentimos que as coisas mudaram para melhor”

ANTÓNIO COSTA
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS SÃOTOMENSES E AMIGOS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE DE MACAU-CHINA

Para o presidente da Associação dos Sãotomenses e Amigos de São Tomé de Macau-China, a experiência angariada pela antiga Secretária-Geral do Fórum de Macau só pode ser vista como uma vantagem: “Para nós, são-tomenses em Macau, foi uma surpresa agradável saber que ela foi nomeada como embaixadora da República Popular da China em São Tomé e Príncipe. Com os conhecimentos que ela já tinha da associação em Macau e com a ida para São Tomé e Príncipe, só podemos esperar que as relações melhorem”, salienta.

O dirigente acredita que as funções diplomáticas para as quais Xu Yingzhen foi nomeada há um ano constituem uma oportunidade tanto para Macau, como para a própria organização que lidera. A associação quer afirmar-se como um interlocutor de excelência, numa altura em que a RAEM faz um esforço monumental para diversificar a sua economia: “A cooperação económica entre a China e São Tomé e Príncipe pode começar, desde logo, por Macau. Macau precisa de diversificar a sua economia e seria bom identificar os sectores em que São Tomé e Príncipe pode contribuir para esse desígnio, sejam eles a pesca, o turismo, o investimento imobiliário ou o turismo rural”, elenca António Costa.

“O que pode a associação fazer para melhorar este panorama? A associação não é uma associação de cariz económico. No entanto, estando em Macau e tendo contacto estreito com o Governo de Macau, tendo pessoas que falam e escrevem a língua chinesa, a associação podia servir, caso os diferentes intervenientes assim o entenderem, de ponte de ligação entre os empresários de Macau, o Governo de Macau e São Tomé e Príncipe. Essa ideia de cooperação, por sectores, pode dar azo a benefícios mútuos”, remata o presidente da Associação dos Sãotomenses e Amigos de São Tomé de Macau-China.