No seguimento da confirmação de quatro novos casos de covid-19 da variante Delta em Macau, a totalidade da população do território foi testada no espaço de três dias, não havendo casos positivos a registar
Texto: Pedro Arede e Catarina Brites Soares
No total, segundo o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, num período de 72 horas, foram testadas 716.251 pessoas, cujos resultados foram anunciados às 2h00 da madrugada do dia 8 de Agosto, sendo todos negativos. “O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus informa que foram testadas no âmbito do plano massivo 614.465 pessoas e que desde o dia 3 de Agosto, 101.786 pessoas deslocaram-se, por sua iniciativa, aos postos de testes de ácido nucleico para realizar o teste”, pode ler-se num comunicado emitido no mesmo dia.
O anúncio do programa de testagem em massa da população aconteceu poucas horas depois da confirmação de quatro casos e da declaração do “estado de emergência imediata”, dado que as autoridades consideraram que o território estava “em risco de sofrer um surto” comunitário.
Assim, a partir das 9h00 do dia 4 de Agosto, 41 locais, 27 em Macau e 14 no Cotai, estiveram abertos 24 horas por dia para a realização dos testes de ácido nucleico a toda a população, numa iniciativa nunca antes vista em Macau. “Em resposta aos quatro novos casos confirmados (…) em Macau, o Centro (…) activa o plano de realização de testes de ácido nucleico para toda a população. A testagem massiva funciona 24 horas e a sua conclusão será prevista dentro de três dias”, indicou na altura o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.
E assim foi. Entre ajustes e uma afluência acrescida nas primeiras horas que levou à revisão dos procedimentos de inscrição, criação de canais especiais para franjas da população com necessidades especiais e à transformação do posto de vacinação do Centro Desportivo Mong-Há em mais um local de testagem (elevando assim o número de postos para 42), as longas filas que se verificaram ao início começaram encurtar e, na tarde do dia seguinte, já mais de metade da população, ou seja, 345 mil pessoas, tinham já sido testadas.
Evitar males maiores
Ao mesmo tempo que isto acontecia, e para diminuir os riscos de um eventual surto comunitário, o Governo anunciou uma série de medidas de prevenção e controlo como o encerramento de vários espaços de entretenimento. Segundo o Despacho do Chefe do Executivo n.º 111/2021,“a partir das 00h00 do dia 5 de agosto de 2021, são encerrados os cinemas, teatros, parques de diversão em recintos fechados, salas de máquinas de diversão e jogos em vídeo, cibercafés, salas de jogos de bilhar e de bowling, estabelecimentos de saunas e de massagens, salões de beleza, ginásios de musculação, estabelecimentos de health club e karaoke, bares, night-clubs, discotecas, salas de dança e cabaret”.
Para ajudar na tarefa de testar toda a população em 72 horas, o Governo “solicitou apoio ao governo da província de Guangdong”, que “de imediato (…) organizou uma equipa técnica de 300 profissionais qualificados”, que foram distribuídos para “apoiar nos trabalhos dos vários postos de teste de ácido nucleico”.
No mesmo dia, o Governo agradeceu “os enormes esforços” das autoridades de Guandgong, afirmando esperar que, “com o apoio da equipa” enviada, a “eficácia na realização” dos testes em massa aumente, “reduzindo, deste modo, o tempo da espera dos residentes”.
Na resposta ao novo surto, o Governo anunciou também a entrada em funcionamento integral do Centro de Operações de Protecção Civil (COPC).
Sem hesitação
Assim que foram confirmados os novos casos de Covid-19 da variante Delta em Macau, o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus iniciou diligências para aplicar medidas de confinamento, gestão e controlo, com base em níveis de risco e de acordo com o estabelecido no plano de prevenção e controlo com mais precisão contra a epidemia, baseado em zonas e níveis.
Foi então delineada uma zona vermelha que inclui locais e edifícios classificados como zonas de prevenção e controlo directamente ligados aos quatro infectados. Desta forma, as autoridades procederam ao isolamento e testagem dos contactos próximos, que ficaram assim impedidos de sair da zona, só podendo levantar materiais e bens de consumo atribuídos pelos profissionais de saúde nos locais indicados, de forma a reduzir as deslocações o mais possível.
Ao mesmo tempo que as autoridades começaram elaborar a lista das pessoas que possam ter contactado com os infectados, em cinco outros edifícios que se situam perto dos três edifícios da zona de prevenção e controlo, foram adoptadas medidas idênticas, com a diferença de que o código de saúde destas pessoas é amarelo em vez de vermelho, podendo realizar a testagem periódica a que estão obrigados, pelo seu próprio pé no hospital Kiang Wu.
Numa conferência de imprensa marcada de urgência no dia seguinte à confirmação dos novos casos, o Chefe do Executivo defendeu acreditar que, após o surgimento destes casos, Macau poderia voltar “gradualmente à normalidade” no espaço de duas semanas – ou seja, antes do final de Agosto.
“Se as informações do percurso dos casos confirmados demonstrarem que a origem da infecção corresponde ao estudo e à avaliação actual do Governo da RAEM, ou seja, que foi devido ao voo onde o paciente esteve e não proveniente de um caso desconhecido existente na comunidade local, espera controlar a situação epidémica dentro de 14 dias e permitir que a cidade volte a ser considerada uma região de baixo risco”, assegurou Ho Iat Seng.
Pelas 22h00 do dia 10 de Agosto, uma semana após a confirmação dos novos casos, foi declarado o final do estado de prevenção imediata através de um Despacho do Chefe do Executivo.
Vacinação segue em marcha
Durante os dias em que estavam a ser realizados os testes de ácido nucleico em toda a população, o Governo decidiu suspender a vacinação para concentrar esforços na conclusão dos testes.
A vacinação é uma urgência e uma necessidade.” A afirmação é do director dos Serviços de Saúde e tem sido repetida várias vezes com o intuito de sensibilizar a população para tomar a vacina e permitir que a normalidade seja retomada na cidade. “A nível individual, actualmente foram tomadas 160 milhões de doses em todo o mundo, e isso mostra a segurança das vacinas”, referiu Alvis Lo, numa das conferências de imprensa dedicadas às actualizações sobre a pandemia. “Apelo a todos para que tomem a vacina o mais rápido possível (…) Se não tivermos a barreira imunológica é difícil não ficar sujeito a isolamento”, insistiu o director.
A barreira imunológica atinge-se quando pelo menos 70 por cento da população estiver vacinada. Em Macau, cerca de um terço foi inoculada, mas a taxa de vacinação contra a Covid-19 tem estado a subir. Dados oficiais indicam que aumentou 10 por cento em dois meses. Em Maio, as autoridades lamentavam a procura reduzida, quando somente 72 mil pessoas tinham tomado uma dose das vacinas Sinopharm e BioNtech – as duas das marcas disponíveis na região.
Depois “do trabalho em campanhas de sensibilização” e depois dos quatro casos confirmados, os Serviços de Saúde referem que cerca de 295 mil dos cerca de 700 mil habitantes tinham sido inoculados – 54 mil com a primeira dose; 242 mil com a segunda (dados de até ao dia 11 de Agosto). “O Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus apela a todos os residentes para administrar a vacina de modo a se protegerem, protegerem os membros da sua família até criar uma barreira imunológica para proteger a sociedade de Macau”, realça o organismo.
O aumento do número de casos na província vizinha de Guangdong assim como os incentivos atribuídos pelo sector privado contribuíram para o acréscimo da vacinação.
Os vários centros de vacinação espalhados pela cidade têm sido outra das medidas do Executivo para facilitar o processo. Ao todo são 16 postos, preparados para inocular até cerca de 10 mil pessoas por dia.
Os Serviços de Saúde têm reiterado a urgência de ter a população vacinada. “A maneira mais eficaz de prevenção e controlo da epidemia é a criação de uma ‘barreira imunológica comunitária’ através de inoculação de vacina contra Covid-19 para cortar a propagação do vírus”, repetem os Serviços. “Importa referir que a inoculação pode reduzir significativamente os sintomas graves e a taxa de mortalidade, em caso de infecção.”
Até ao fecho desta edição, tinham sido registados 63 casos de Covid-19 em Macau, sem vítimas mortais. Desde o início da pandemia, nenhum profissional de saúde foi infectado e não foi detetado surto comunitário.