O Instituto de Formação Turística de Macau (IFTM) completa 25 anos. Alunos e dirigentes partilham momentos que compõem a história com um quarto de século em que o IFTM tem procurado afirmar-se no panorama local, regional e internacional.
Texto: Catarina Brites Soares
Foi a primeira instituição de ensino superior inteiramente dedicada aos estudos do turismo e da hotelaria na região. Passados 25 anos, o Instituto de Formação Turística de Macau (IFTM) é considerado uma entidade de referência. Actualmente, conta com três escolas, seis licenciaturas, mais de 300 funcionários e cerca de 1700 alunos.
Foi inaugurado em 1995, mas, na verdade, a história começa duas décadas antes. Em meados dos anos de 1970, o Governo de então decidiu que Macau devia ter oferta lectiva na área do turismo e é assim que nasce a Escola de Hotelaria e Turismo, na Colina de Mong-Há, em 1982, e onde se mantém até hoje a sede do instituto.
Quatro anos mais tarde, em 1986, The University of East Asia Polytechnic College abriu o primeiro programa em Gestão Hoteleira, que continuou a ser parte do currículo quando se tornou Instituto Politécnico de Macau.
A 15 de Setembro de 1995, é fundado então o IFTM, que absorveu o curso de Gestão Hoteleira que existia no Instituto Politécnico, e a Escola de Hotelaria e Turismo. Além desta unidade, mais centrada na formação profissional, foi criada mais uma outra com enfoque no ensino superior.
Virgínia Trigo foi a primeira presidente durante seis anos. Num vídeo gravado para assinalar o 25.º aniversário, publicado no site, dizia, com emoção, que o IFTM foi uma das grandes realizações que teve. “Tive uma sorte enorme porque as pessoas que trabalharam comigo interiorizaram a ideia de que podíamos ser a melhor escola de turismo e é muito importante ter esta visão porque temos de estar em permanente evolução”, realça. “O Instituto continua a crescer e cresceu significativamente e, mais importante, cresceu sem abdicar da qualidade”, frisa. “O IFTM é como se fosse um filho, que criou asas e que tem voado cada vez mais alto. Desejo ao instituto mais 25, 50 ou 100 anos de sucesso”, disse.
É com igual nostalgia que Paulina Che recorda os primórdios do IFTM. Foi uma das alunas da turma de Gestão Hoteleira que estreou o instituto. “A verdade é que queria prosseguir os estudos no Havaí, mas o meu padrinho sugeriu ao meu pai que, uma vez que queria formar-me nessa área, devia ficar porque ia abrir uma escola de ensino superior só focada em turismo e que seria de topo. Foi assim que fui parar ao IFTM”, recorda.
Entrou aos 17 anos, depois de terminar o ensino secundário, e quando completou a licenciatura, de quatro anos, estreou-se a trabalhar no Hotel Sintra. Hoje é vice-presidente adjunta do resort Venetian. “Estou orgulhosa por ter estudado no IFTM e até onde cheguei numa empresa internacional. Não me arrependo da escolha que fiz. Na verdade, gostava que o meu filho também estudasse no instituto, se conseguir entrar”, afirma à MACAU.
A antiga estudante diz-se impressionada com a evolução da escola face a 1995, quando tinha apenas mais 14 colegas de turma e não cabiam mais do 20 numa sala de aula. Apesar das dimensões hoje serem outras, Paulina Che ressalva que, já na altura, a formação era sólida. “As disciplinas que tivemos foram, de facto, úteis. Os professores eram fabulosos, a maioria era de fora e as aulas eram todas em inglês”, elogia. Além disso, acrescenta, garantia oportunidades que no seu tempo não eram fáceis. “Durante as férias de Verão havia estágios no estrangeiro. No primeiro ano, estagiávamos em hotéis de Macau, mas no segundo podíamos ir para fora. Na altura, era fabuloso porque não era tão fácil ter este tipo de experiências no estrangeiro. O meu primeiro estágio foi no Hotel Regency e o segundo foi na Malásia”, conta.
Passo a passo
Sob a alçada de Virgínia Trigo e com a turma estreante de Paulina Che, o ano lectivo arrancou em 1995 com dois programas: Turismo e Gestão Hoteleira. No ano seguinte, foi criado mais um curso, de Gestão Empresarial em Turismo. Dois anos depois, em 1997, o instituto recebe da Pacific Asia Travel Association (PATA) a Medalha de Ouro pela qualidade do ensino, o primeiro de outros reconhecimentos.
Aquando da criação da RAEM, em 1999, e a consequente liberalização do Jogo, em 2002, a indústria entra num período de crescimento que acaba por se repercutir no IFTM. Em 2001, Fanny Vong assume a presidência [ver entrevista nas páginas seguintes] e, em 2005, abrem mais duas licenciaturas: em Gestão do Património e em Gestão de Eventos Turísticos.
Em 2009, a instituição volta a alargar a oferta com o curso de Vendas de Turismo e Gestão e Marketing, e o Programa de Educação e Desenvolvimento (CEDP, na sigla inglesa) com cursos profissionais e gratuitos para residentes. No ano seguinte, são criadas as primeiras licenciaturas em horário pós-laboral e tendo o chinês como língua veicular: Gestão Hoteleira e Gestão de Eventos Turísticos.
A instituição volta a ser reconhecida em 2008 pelo Governo de Macau com a Medalha de Mérito em Turismo. O Restaurante e a Pousada de Mong-Há, onde os alunos trabalham como componente prática dos cursos, foram incluídos no Guia Michelin de Macau e Hong Kong, em 2009, referência que se mantém.
Também em 2009, o IFTM alargou as infra-estruturas ao antigo edifício César Fortune, na Taipa. Mais tarde, em 2015, voltou a crescer quando lhe é cedido pelo Governo o antigo campus da Universidade de Macau. No novo espaço foi criada a Residência de Estudantes, que alberga sobretudo estudantes de fora. Antes, em 2011, mais uma licenciatura foi lançada, desta feita em Artes Culinárias.
Desde 2016, face à tónica na regionalização, o IFTM tem procurado ir ao encontro do plano traçado pelo Governo Central para Macau em relação à Grande Baía, como sublinha a presidente Fanny Vong. O Centro Internacional de Formação e Educação em Turismo, que resultou de uma parceria entre o Governo local e a Organização Mundial do Turismo, quer corresponder ao objectivo de a região se tornar um Centro Internacional de Turismo e Lazer.
Há dois anos, a instituição voltou a alargar a oferta lectiva com mestrados e doutoramentos, concretizando a ambição de se tornar uma entidade de ensino superior com programas nos três ciclos. Para o ano lectivo de 2022/2023, estão previstos cursos com ênfase nas novas tecnologias.
Florence Ian, uma das vice-presidentes assinala as conquistas. “Temos feito ajustes regularmente à nossa oferta porque a natureza da nossa instituição é a educação. Temos de agir por antecipação, não podemos esperar para reagir”, vinca. A responsável recorda ainda os tempos de estudante ainda na escola que precedeu o instituto, onde começou a trabalhar em 1996. “O IFTM é um local de dinamismo desde o início. Integramos vários projectos, incluindo com a União Europeia, que conduziu ao estabelecimento, em 2001, do Sistema de Reconhecimento de Valências Profissionais de Macau [MORS, na sigla inglesa], ainda hoje um dos mais bem-sucedidos no âmbito da formação profissional.”
Connie Loi, que reparte a vice-presidência com Florence Ian desde Julho do ano passado, foi a primeira graduada do instituto a assumir o cargo. “Os próximos anos no IFTM vão ser certamente desafiantes: muitas actividades e novos projectos estão em curso. Vamos trabalhar activamente para que os nossos programas pós-licenciatura cresçam em termos de número de alunos”, refere. “Pretendemos tornar-nos uma instituição mais orientada para a investigação. Além disso, queremos igualmente fortalecer a nossa presença internacional, objectivo que sempre foi uma prioridade do instituto.”
Ainda em 2019, entram em vigor novos estatutos e estrutura orgânica, que passa a integrar um conselho com vários accionistas, que lhe altera o nome oficial de Instituto de Formação Turística para Instituto de Formação Turística de Macau.
Chan Chak Mo, presidente da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau, é um dos membros. “Faremos o nosso melhor para promover a marca IFTM no sector da educação e formação em turismo e hotelaria. Isto pode ser uma imagem de marca de Macau. Ser reconhecido pela educação nestas áreas é benéfico para os actuais alunos, mas também como forma de atrair mais gente a juntar-se ao instituto. Esperamos conseguir aumentar o número de alunos que vêm do exterior”, realça.
Francis Lui, vice-presidente do Grupo Galaxy Entertainment, outro dos membros do conselho, também traça prioridades. “Com o objectivo de criar um ambiente académico mais competitivo e de mais qualidade, as infra-estruturas na Taipa devem apostar nas novas tecnologias com fim a tornarem-se num campus inteligente, que consiga atrair um número elevado de estudantes internacionais”, defende. Francis Lui sublinha que o instituto deve apostar na rede e relações internacionais que foi criando com entidades reconhecidas, como a Organização Mundial de Turismo e a PATA, com a finalidade de aumentar colaborações e de contribuir na afirmação da região como um Centro Internacional de Turismo e Lazer.