O Búfalo é o símbolo da tranquilidade, da benevolência, da força e da gentileza. Em toda a China, bem como no leste asiático, os mamíferos da família dos bovídeos como o búfalo de água, o boi, a vaca, o yak, assim como os parentes asiáticos menores, são venerados na literatura, nas artes e em festas populares como um dos auxiliares mais valiosos dos seres humanos
Texto Rui Rocha
Como afirmou Mircea Eliade, o mito reenvia-nos para “o tempo fabuloso dos começos” (Aspects du mythe, 1963). O mito é a irrupção do sagrado, o centro do mundo, que representa uma ruptura no espaço profano. E ao contrário do tempo secular/profano, que é linear e irreversível, o tempo sagrado é circular, reversível e recuperável, manifestando-se ao lado da existência comum, enquanto a precede como uma realidade mítica e eterna (Boskovic, 2006). Mas como também afirmou Lévi-Strauss (Mythologiques II, 1966), “a terra dos mitos é circular”, isto é, há uma parentalidade dos mitos ou, se quisermos, uma transversalidade naquilo que parece ser humanamente comum no pensamento mítico que é, afinal, a partida à procura da origem humana e da origem do mundo – razão pela qual se nos afigura interessante estabelecer um confronto entre os mitos, grande parte deles convergentes, entre as mitologias a Oriente e a Ocidente.
Na mitologia chinesa, o Búfalo/ Boi é o segundo símbolo animal no sistema de 12 animais zodiacais chineses. Os astrólogos chineses utilizam o carácter Chǒu 丑 para representar o símbolo do Búfalo nos 12 ramos terrestres[1]. Chǒu é um símbolo para o período do dia entre a 1h00 e as 02h59 e também para o 12.º mês no calendário lunar-solar chinês (Calendário do Agricultor), que é aproximadamente o período que vai de 6 de janeiro a 4 de fevereiro no calendário solar gregoriano. Chǒu representa a hora mais escura do dia e o mês mais frio do ano (Blok, 2000. I Ching). É o período em que a energia yang (o princípio masculino do cosmos associado ao céu, ao calor e à luz) está muito activa a preparar o novo ciclo de vida que se aproxima. O hexagrama Lín 临 do Livro das Mutações (Yìjīng) é utilizado também para simbolizar o Búfalo/Boi.
No Livro das Mutações, o hexagrama Kun 坤, o Receptivo/ o Puro yin, a terra que sustenta todas as coisas, associa-se também ao Búfalo/ Boi que nos convida à calma e à tranquilidade e a usar este lugar e momento como fonte de força (Blok, 2000.op. cit.). Como uma onda rolando de volta para o mar, a sua origem focaliza-se atraindo novas energias, estando também associado aos 10 desenhos de pastoreio de búfalos simbolizando o eu inferior que se tornou branco, o que significa que é flexível, gentil e que pode armazenar todas as coisas como uma mãe gentil (e cujo tópico apresentaremos adiante).
Um grande aliado dos humanos
É universalmente consensual, tanto na civilização chinesa e no leste asiático como no mundo ocidental, que o Búfalo (ou Boi, no Ocidente) é o símbolo da tranquilidade, da benevolência, da força e da gentileza. Em toda a China, bem como no leste asiático, os mamíferos da família dos bovídeos como o búfalo de água, o boi, a vaca, o yak, assim como os parentes asiáticos menores, são venerados na literatura, nas artes e em festas populares como um dos auxiliares mais valiosos dos seres humanos.
Explicámos no nosso artigo publicado na MACAU, IV série, n.º 13, em Dezembro de 2008, intitulado “O Ano do Búfalo” a razão da nossa preferência pela utilização do Búfalo de Água na representação deste signo zodiacal chinês. Resumidamente, dissemos que o carácter chinês 牛 (niú) é indistintamente utilizado na língua chinesa para designar a maior parte dos membros da subfamília dos bovídeos, mas também que havia razões históricas e culturais chinesas que nos levavam a acreditar que a escolha do animal que melhor representa o signo lunar chinês, e que no corrente ano do calendário gregoriano se inicia a 12 de Fevereiro, é o búfalo de água que, de resto, é adoptado também no ciclo zodiacal vietnamita.
A própria representação iconográfica do signo zodiacal em questão tanto na China, como no Japão, na Coreia, na Tailândia ou no Camboja, excluindo o Vietname em que é inequivocamente um búfalo, aproxima-se mais da configuração de um búfalo do que de um boi, de um touro ou de uma vaca. Assim, tal como na edição do belo álbum de selos dos 12 signos do zodíaco chinês da Divisão de Filatelia dos CTT de Macau de 2008, que apresentou o selo do ano de 1997 como do Ano do Búfalo, também parece fazer mais sentido privilegiar a imagem ainda hoje recorrente na China e em muitas zonas rurais do Sudeste ásiatico do búfalo de água imerso tranquila e pacientemente nos campos de cultivo, designadamente de arroz.
Na China a figura do Búfalo de Água é recorrente nas várias tradições populares, bem como nas tradições taoista e budista. No taoismo, o exemplo mais conhecido refere-se à representação de mestre Laozi montando um búfalo de água, deixando o Reino do Meio rumo às montanhas próximas da fronteira oeste do país[2]. São célebres, por isso, as pinturas, as esculturas e a cerâmica popular ao longo dos séculos que ilustram este acontecimento. Pintores famosos como Chao Buzhi (1053-1110), Zhang Lu (1368-1644), Xu Beihong (1895-1953), Fan Zeng (nascido em 1938) e a famosa pintura de Laozi da Escola Chinesa do século XVIII reproduzem o tema. Também esculturas das dinastias Song, Ming e Qing, assim como esculturas em parques públicos da China, evocam igualmente tal evento, sendo a escultura pública mais famosa a localizada na praça do centro turístico da montanha Laojun, em Luoyang, na província de Henan, toda ela em ferro e com um peso superior a 80 toneladas.
Em alguns países ocidentais também se encontram tais esculturas de Laozi montando um búfalo de água em parques públicos como, por exemplo, em Duffryn Gardens, South Glamorgan, no País de Gales do Reino Unido, embora Menno Fitski, especialista holandês em arte japonesa, afirme que tal escultura pode tratar-se de um letrado e cortesão japonês – Sugawara no Michizane (845-903) –, o que parece pouco provável. Isto porque há, de facto, a tradição de representar o búfalo na arte japonesa, designadamente nas célebres pinturas Ukiyo-e de Hokusai (1760-1849), de Utagawa (1798-1861), de Totoya Hokkei (1780-1850) e de outros pintores Ukiyo-e, porém, representando apenas o búfalo, ou crianças ou mulheres montando o búfalo, mas não sábios ou académicosmontando um búfalo.
O pintor e aluno de Hokusai Totoya, Hokkei é dos poucos que apresentam explicitamente o mestre Laozi montando um búfalo na célebre pintura de 1820, denominada “Chinese Sage Reading While Riding on a Buffalo”. Contudo, na escultura e na arte japonesa Netsuke existem peças representando Laozi montando um búfalo de água e, curiosamente também, na cerâmica japonesa chamada “hot water plate”, muito em voga na Dinastia Qing e designada por Prato Azul e Branco de Água Quente (da Dinastia Qing Qianlong)[3]
Representações budistas
Também na tradição budista, particularmente no budismo chan/zen, o búfalo tornou-se um símbolo do domínio da natureza humana e da aprendizagem contemplativa. Nas 101 Histórias Zen, compiladas por Paul Reps (tradução portuguesa de Zen Flesh, Zen Bones, Pelican Book, 1971), foi incluído um capítulo com uma série de poemas curtos e 10 ilustrações de pastoreio de búfalos, do mestre chinês Juefan Huihong, em japonês Kakuan (1071-1128), usados na tradição chan/zen para descrever os estágios do progresso de um praticante na via da iluminação (Yamada, 2004, Lectures on the Ten Oxherding Pictures).
O mesmo tema foi adoptado por outros mestres chan/zen chineses como Puming (? -c. 1352), que desenhou 10 ilustrações de pastoreio de búfalos; Huihui (1090-1159) com seis ilustrações de pastoreio de búfalos; um monge Chan desconhecido, também com 10 ilustrações de pastoreio de búfalos brancos que representam o Sangha[4], bem como pintores japoneses como Soga Shohaku (1730-1781), Kawanabe Kyosai (1831-1889) Takeuchi Seihō (1864-1942) e outros, exprimindo o que se designa por “zen mind” (zen kenshō).
Todas essas ilustrações tentam explicar o espírito do treino zen e o resultado espiritual esperado com esse treino. Nelas, o Búfalo representa o eterno princípio da vida, a autenticidade na acção e cada uma das ilustrações é um passo sequente na realização da verdadeira natureza de cada um.
Muitas são as lendas e as práticas populares referentes ao Búfalo, cuja imagem é muito especial e complexa na tradição chinesa. Uma das mais belas lendas chinesas é a história de amor entre Zhinu, a sétima filha da Deusa Rainha do Céu, cujo trabalho era tecer as nuvens, e o pastor Niulang, vivendo do pastoreio de bovídeos na Terra (Liming, 2005, op.cit; Writing Group, 2008. What is the Ox). Fugindo do céu, a princesa celeste apaixonou-se pelo pastor terrestre, de quem teve dois filhos. O casal encontrou um dia um velho búfalo já moribundo e este, às portas da morte, informou o casal de que a sua pele permitia um homem voar até ao mais recôndito lugar do céu. Pediu, por isso, que após a sua morte a guardassem cuidadosamente. Entretanto, a princesa foi descoberta e levada para o céu de novo pela Rainha Mãe. Ao regressar do campo, Niulang encontrou os dois filhos a chorar. Interpelados pelo pai, estes disseram-lhe que uma senhora idosa tinha levado a sua mãe para o céu. O pastor lembrou-se, de imediato, do que o velho búfalo que havia dito. Colocou os dois filhos em dois cestos, carregou-os nos ombros, vestiu a pele mágica e voou em direcção ao céu. A sua velocidade permitiu-lhe ainda aproximar-se da sua mulher. Quando estava prestes a agarrá-la para a trazer de volta à Terra, a Rainha Mãe, com um gancho de cabelo, riscou o céu, traçando uma linha branca entre os dois. Um caudaloso rio nasceu, separando-os definitivamente, ficando cada um na sua margem. O rio do céu que os separava era a Via Láctea.
A história tem, porém, um final feliz. A Fénix (Fenghuang), que reina sobre todas as aves, comovida por tão verdadeiro amor, ordenou a todas as pegas azuis do mundo que se reunissem e formassem uma ponte entre as duas margens do rio, permitindo assim que os amantes se reencontrassem. Daí a expressão chinesa “encontrar-se na ponte das pegas azuis”. Uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês lunar, todas as pegas do mundo voam para o céu e formam uma ponte sobre o rio para que os amantes se possam reencontrar – razão pela qual se celebra o chamado Festival Qixi (A Noite dos Sete), também designado por Festival Qiqiao, literalmente “Orando [a Zhinu] pela inteligência” (Wei, 2005. Chinese Festivals). O primeiro livro em que esta história de amor é narrada é a colecção de histórias Xiaoshuo, por Yin Yun (471-529) do período Liang (502-557).
Chicotear o búfalo de barro
Das variadas tradições populares chinesas, a tradição de “chicoteamento do búfalo da Primavera” era uma cerimónia antiga realizada a cada Primavera, no início da estação agrícola, mas particularmente na área de Wuyue[5], nome que é um empréstimo linguístico das províncias chinesas de Jiangsu e Zhejiang. Assim, uma enorme escultura de argila de um búfalo, chamada Búfalo da Primavera, era levada para os campos para ser chicoteada com varas ou galhos de salgueiro sob a supervisão de uma figura de barro de Mang Shen (“o pastor”, um dos deuses chineses da agricultura). De acordo com o mito, Mang Shen bate num boi celestial com um galho de salgueiro todos os anos no final do Inverno para acordar a terra e a Primavera chegar. Astrólogos e outros oficiais da antiga corte chinesa decidiam de que cor e que posição da cauda teria o búfalo de argila de cada ano. Acreditava-se que as pessoas que compareciam à cerimónia sabiam como seria o clima e a colheita pela aparência do búfalo de barro. Por exemplo, um búfalo amarelo previa uma colheita abundante (Writing Group, 2008. Op. cit.).
Nos mitos e contos populares, os deuses da água mudavam, por vezes, de forma aparecendo nas margens dos rios como búfalos. Um mito, reportado à época da Dinastia Qin (221–206 a.C), conta como um oficial inteligente, Li Bing, se transformou num boi para resolver um problema com um deus do rio particularmente exigente. A cada ano, o deus do rio ameaçava inundar toda a região se o povo local não lhe fornecesse duas jovens donzelas que seriam sacrificadas no rio e se tornariam as esposas do deus do rio.
O problema era que o deus do rio era exigente. Queria apenas as donzelas mais belas da região e os pais das mesmas aumentavam o preço do dote das suas filhas. Num ano, o preço foi de um milhão de moedas de cobre. Li Bing, que tinha duas filhas lindas, elaborou um plano para derrotar o deus do rio de uma vez por todas. Trouxe as suas filhas e vários de seus funcionários até a margem do rio no dia designado para o sacrifício. Serviu vinho, oferecendo um taça ao deus do rio e propôs um brinde em honra do casamento. Quando terminou de beber, Li Bing esvaziou seu copo e pediu em voz alta ao deus do rio para beber com ele. Mas a taça do deus do rio permaneceu cheia.
Desembainhando sua espada, Li Bing exigiu que o deus do rio pedisse desculpas a si e às suas filhas. Ainda assim, o vinho permaneceu na taça do deus. Li Bing então desafiou o deus do rio para um duelo. Naquele momento, Li Bing desapareceu. Do outro lado da margem do rio, dois bois cinzentos, um dos quais tinha uma listra branca ao longo do corpo, apareceram e iniciaram uma luta. De repente, Li Bing reapareceu na frente de suas filhas e funcionários, explicando que mudara de forma para o búfalo com a listra branca e pediu ao seu oficial-chefe para matar o búfalo que não tinha listra. O oficial obedeceu a Li Bing e correu para o lado oposto da margem do rio para matar o ganancioso deus do rio. Assim terminaram os sacrifícios.
Entre as minorias étnicas Buyi, Miao e Gelao, em Anshun, na província de Guizhou, celebram-se festivais de oferendas ao Rei Búfalo em reconhecimento aos serviços prestados por aqueles no trabalho do campo. A minoria Buyi celebra no 8.º dia do 4.º mês lunar; a minoria Gelao no 1.º dia do 10.º mês lunar, a Tujia e a Miao realizam o festival de Abril a Junho do calendário lunar, embora na província Hubei estas minorias realizem tal festividade no dia 8 de Abril e ocasionalmente a 18 de Abril (Wei, 2005. Op. cit.). Perto da cidade de Yecheng, no distrito de Jianshi, em Enshi Tujia, e na Prefeitura Autónoma de Miao da província de Hubei, há um Templo do Rei do Boi, onde a minoria étnica Miao cultua e deposita oferendas ao Rei Búfalo. Durante o Festival do Rei Búfalo, considerado o seu aniversário, cada família deve preparar frango e vinho, bem como bolos de arroz glutinoso para adorar o rei, pendurando-os nos chifres do boi, e cuidar bem do gado, mantendo-o bem alimentado.
Na tradição ocidental
Também nas culturas a Ocidente (celta, com o deus Tarvos Trigaranus; grega, com o touro Pasiphaë de Creta, o touro de Marathom, o Minotauro; o Taurus do deus Mars Neto, dos romanos, dos ibérios e celtiberos; persa, com o Gavaevodata; Suméria, com o Gugalanna/Touro do Céu; Anatólia Oriental, com o Tarhun) os bovinos são um símbolo auspicioso de riqueza e poder e próximos dos deuses. O culto do bovídeo teve origem no antigo Egipto, onde a deusa Hathor, consorte do deus do céu Hórus e filha do deus-sol Rá, costumava ser retratada como uma vaca, simbolizando o aspecto maternal e celestial, embora a sua forma mais comum fosse uma mulher usando um cocar de chifres de vaca e um disco solar. Era uma das divindades comumente invocadas em orações privadas e ofertas votivas, especialmente por mulheres que desejavam ter filhos. Era, portanto, a mãe simbólica dos seus representantes terrestres, os faraós, razão pela qual o faraó era chamado “filho de Hathor” (The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses, 2005).
Um dos livros do Antigo Testamento, o Êxodus, recorda a influência que a religião egípcia teve no povo hebreu, na sequência do seu êxodo para o Egipto (entre os século XV a.C. ou XIII a.C.), ao construírem e adorarem um bezerro de ouro como sendo a imagem do seu Deus Jeová: “Então o Senhor disse a Moisés: “Depressa! Desce imediatamente, porque o teu povo que trouxeste do Egito está a corromper-se; desviou-se e rapidamente abandonou as minhas leis. Fizeram para si um bezerro. Estão a prestar-lhe culto e a sacrificar-lhe dizendo: ‘Aqui tens os teus deuses, ó Israel, que te fizeram sair do Egito!” (Exodus 32:7-8).
De resto, a referência ao boi (e a outros animais também) noutros livros que integram o Antigo Testamento é muito comum e de algum modo representa a sua importância social e económica (Deuterónimo, Isaías, Jó, Josué, Juízes, Levítico, Números, Provérbios, Salmos, Samuel). No Livro de Isaías há inclusivamente uma referência em relação ao seu direito à vida tal como o humano, rejeitando a tradição sacrificial e ritualística do Antigo Testamento, colocando-o no mesmo patamar do valor da vida humana (Palhano & Sanches, 2012. Sobre os animais não humanos: um resgate teológico). No Livro de Isaías (Isaías 66: 2,3) é dito que: “A este eu estimo: ao humilde e contrito de espírito, que treme diante da minha palavra. Mas aquele que sacrifica um boi é como quem mata um homem; aquele que sacrifica um cordeiro, é como quem quebra o pescoço de um cão; aquele que faz oferta de cereal é como quem apresenta sangue de porco, e aquele que queima incenso memorial, é como quem adora um ídolo. Eles escolheram os seus caminhos, e suas almas têm prazer nas suas práticas detestáveis”.
Já no Novo Testamento, sobretudo no Evangelho de São Lucas, o boi, ou touro, é um antigo símbolo cristão da redenção e da vida por meio do sacrifício, uma vez que o boi era o mais alto sacrifício oferecido no Templo de Jerusalém, sacrífico que foi substituído por Jesus, o único e eterno sacrifício. Assim, as representações artísticas de São Lucas colocam sempre a seu lado a figura de um boi que, às vezes, aparece com asas. Além disso, o boi simboliza a paciência, a força e o serviço, virtudes demonstradas pela vida e pela obra de São Lucas. A simbologia do boi que acompanha Lucas pode expressar, também, a passagem entre céu e terra e, ainda, o sacrifício, a abnegação e a castidade (Bressan, Fernandes, Moraes, 2018, Simbologias religiosas e imaginário: reflexões acerca do bestiário dos quatro evangelistas).
Aliás, é paradigmática a presença do boi (tal como do burro) no presépio, que decorre da vontade de Francisco de Assis que estivessem presentes no primeiro presépio criado em 1223 em Greccio, na região de Lazio, na Itália, apesar de serem uma presença desconhecida nos relatos evangélicos. Mas Francisco de Assis quis “lembrar daquele menino (…) e como ele jazia no feno entre o boi e o jumento.( P. Pietro Messa (2019). O jumento e o boi no presépio. São Francisco os quis em Greccio. Trad. portuguesa IHU on-line). O poeta inglês Thomas Hardy (1840-1928) tem um célebre poema sobre o Natal intitulado “The Oxen” que é apenas um exercício nostálgico de regresso à sua infância e às velhas certezas, que porventura já não partilha, numa época especial do ano.
Kathryn Wortley, no seu artigo “After a year of anxiety, what can we expect from the Year of the Ox in 2021?” no jornal Japan Times do dia 1 de Janeiro de 2021, preferiu remeter a resposta para os astrólogos que profetizaram: “Os astrólogos dizem que o boi denota trabalho árduo, positividade e honestidade – qualidades estáveis que se manifestarão em todos nós de uma forma ou de outra nos próximos 12 meses.” Assim talvez possamos dizer na boa tradição epistolar latina: “Si vales, bene est, ego valeo”.
Perfil zodiacal do Búfalo
Ramo Terreste: Chǒu (丑)
Mês Lunar: 12.º
Yin-Yang: Yin
Anos de nascimento: 1937, 1949, 1961, 1973, 1985, 1997, 2009
Cinco elementos: Chǒu (丑), pertence à Terra
Cinco Virtudes Constantes: a Terra pertence à Sinceridade
Estação do ano: Inverno
Direcções auspiciosas: Sudeste, Sul, Norte
Direcção não auspiciosa: o Sudoeste
Direcções da riqueza: Sudeste, Este
Direcções amorosas: Sul
Cores auspiciosas: azul, vermelho, púrpura
Cores a evitar: branco e verde
Números de sorte: 3, 8, 9 ou números que contenham estes números (23, 32, etc)
Número a evitar: 6
Flores da sorte: túlipa, flor de pessegueiro, aglaonema
Cristais de sorte: turmalina vermelha (rubelite), quartzo-rosa, topázio
Protector espiritual: Akasagarbha Bodhisattava (Tesouro Ilimitado do Espaço)
Escolha do nome em chinês: para os nascidos no Ano do Búfalo o nome a escolher deve ter os radicais de água (氵), que significa felicidade, conforto e harmonia familiar; os caracteres com o radical de pessoa (亻) ou madeira (木) que significam honestidade, integridade, retidão.
A escolha dos nomes em português deve relacionar-se com a virtude nobre de carácter, integridade e companheirismo. O nome de Filipa, por exemplo, que significa literalmente em grego “amiga dos cavalos”, era entendido como o de uma pessoa rica em sentido real e, em sentido metafórico, “nobre” “generosa”.
[1] Os 12 ramos celestes são forças cósmicas que, segundo a astrologia chinesa, são doze qualidades/padrões arquetípicos do Tempo, que são representados pelas características de 12 animais.
[2] Conta a tradição oral da China que Laozi, cansado da vida na corte de Zhou, que se tornava cada vez mais corrupta moralmente, partiu, com a idade de 160 anos, montado num búfalo de água até a fronteira ocidental do império chinês. Embora estivesse vestido de fazendeiro, o oficial da fronteira reconheceu-o e pediu-lhe que escrevesse os seus ensinamentos. De acordo tal tradição, Laozi escreveu Dàodéjīng 道德经. Depois de escrever isso, Laozi teria cruzado a fronteira e desaparecido da história, talvez para se tornar um eremita.
[3] Um prato circular formatado para ser enchido com água quente, muitas vezes através de um bico idêntico a um pote de chá, como o objectivo de manter a comida quente por muito tempo.
[4] Ordem monástica ou comunitária budista, tradicionalmente composta por quatro grupos: monges, freiras, leigos e leigas.
[5] Wuyue é a área ao sul de Jiangsu, Xangai, Zhejiang, ao sul de Anhui e a nordeste de Jiangxi. Wu Yue é o nome do país de Wu e de Yue no período de Primavera e Outono (771 a.C. – 476 a.C.)