Livre de novos casos de infecção causada pelo novo tipo de coronavírus da Covid-19 desde 26 de Junho, em Setembro a cidade começou a retomar, pouco a pouco e com cuidado, a vida das indústrias cultural, artística, de exposições e convenções. Espectáculos, mostras, festivais e outros eventos emblemáticos voltam à agenda, ainda que com restrições com vista à prevenção
Texto Catarina Brites Soares
Uma cidade segura. É assim que Macau se quer promover lá fora. A aposta na maior rede de televisão chinesa – a CCTV – foi uma das vias do Governo para atrair mais visitantes chineses durante as próximas festas de Natal, fim de ano e Ano Novo Chinês.
“Será lançado um novo programa de promoção (…) junto dos visitantes do Interior do País com a mensagem de que Macau é um lugar seguro para viajar e as suas vindas são livres de quarentena, destacando-se os pontos de interesse dos grandes eventos e da cidade gastronómica, bem como a disponibilidade de Macau para os acolher”, afirmou, numa conferência de imprensa em Novembro, a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura.
Elsie Ao Ieong U destacou actividades como o Grande Prémio de Macau, o Festival da Gastronomia e vários outros eventos espalhados pela cidade de forma a cativar os visitantes chineses, de quem a economia de Macau está fortemente dependente.
A Televisão Central da China (CCTV), outros meios de comunicação social e celebridades do Interior do País foram convidados para estar no território e apresentar, no local, os grandes eventos e as atracções turísticas da cidade.
O objectivo é fazer com que as pessoas conheçam a realidade de Macau e os bons resultados no seu controlo da epidemia. “Macau agora é muito seguro”, frisou a secretária.
“Carnaval para Desfrutar Macau” é o nome da campanha de promoção turística do Executivo para atrair mais turistas do Interior do País. O objectivo é fazer com que o número de visitantes se mantenha nos 24 mil por dia.
Além de uma série de eventos incluídos na campanha, outros foram retomados. A ausência de vírus na cidade permitiu que praticamente todos os momentos que marcam a agenda anual se repetissem, ainda que com alterações face ao contexto de pandemia.
Grande Prémio
O Grande Prémio de Macau – considerado o evento do ano e de renome internacional – foi o mais recente. O barulho dos carros voltou a soar na cidade, assistiu a um dos momentos altos do ano. Durante um fim-de-semana prolongado, os olhos do mundo automobilístico estiveram em Macau para admirar as manobras naquela que é considerada uma das pistas mais desafiadoras – e, por isso mesmo, mais atraentes – do circuito mundial.
Apesar de condicionada, a edição deste ano realizou-se de 20 a 22 de Novembro. O evento, com um orçamento de 220 milhões de patacas e perto de 200 pilotos, aconteceu, mas sem o Grande Prémio de Motas de Macau e a Fórmula 3. A prova rainha foi substituída por uma de Fórmula 4 na China, na qual também puderam participar pilotos locais desde que, entre outros critérios, já tivessem corrido na categoria.
Este ano, o icónico Circuito da Guia contou com cinco corridas: o Grande Prémio de Macau de Fórmula 4, a Taça GT Macau, a Corrida da Guia Macau, a Taça de Carros de Turismo de Macau e a Taça GT – Corrida da Grande Baía.
Expo Internacional de Turismo de Macau
A 8.ª Expo Internacional de Turismo de Macau teve como convidado de honra o vice-ministro da Cultura e do Turismo, Zhang Xu. Na cerimónia de abertura, Zhang Xu garantiu o apoio ao desenvolvimento da cultura e do turismo entre o Interior do País e Macau. O evento decorreu entre 6 e 8 de Novembro e combinou, pela primeira vez, uma série de iniciativas “em nuvem” com a exposição física, além de um pavilhão de “Lojas com Características Próprias” de Macau. Organizado pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), com a coordenação da Associação das Agências de Viagens de Macau, a Expo de Turismo contou com a participação de 188 compradores convidados offline do Interior do País e 120 internacionais, foi palco de mais de 5800 sessões de bolsas de contacto entre os expositores e da assinatura de quatro contratos. Atraiu perto de 23 mil visitantes.
Festival de Gastronomia
Mais um evento que voltou a ter lugar na cidade, repetindo a tradição. A 20.ª edição do Festival de Gastronomia juntou mais de cem negócios locais, numa oferta variada de receitas que agregam as culinárias ocidental e asiática. O evento decorreu no mês de Novembro, e levou milhares de pessoas à Praça do Lago de Sai Van.
Festival de Luz
O “Festival de Luz de Macau 2020 – Carnaval de Luz” também voltou a iluminar a cidade, mas mais cedo do que o habitual – de 26 de Setembro a 31 de Outubro. A edição incluiu instalações, espectáculos de vídeo mapping e jogos interactivos em vários bairros de Macau e da Taipa.
Os cinco espectáculos de vídeo mapping foram uma das grandes atracções da sexta edição do Festival de Luz. O maior foi apresentado pela primeira vez na Praça do Tap Seac. Sob o tema “A Cor é …”, os quatro edifícios patrimoniais da praça – o Edifício do Instituto Cultural, o Centro de Saúde do Tap Seac, a Biblioteca Central de Macau e o Arquivo de Macau –, foram o pano de fundo para projecção, que fez da luz um pincel.
Na abertura do evento, a organização explicou que com o atenuar gradual da situação de pandemia, o calendário do Festival de Luz, normalmente programado para Dezembro, foi reagendado para o final de Setembro. A antecipação teve como objectivo receber os visitantes do Interior do País, que entretanto passaram a estar autorizados a cruzar a fronteira sem obrigação de quarentena desde que fizessem o teste à Covid-19.
Festival da Lusofonia
Para contornar as limitações impostas pela pandemia, a organização apostou nos artistas locais na música, no artesanato e outras artes que abrilhantaram assim o Festival da Lusofonia. Todos os participantes estavam obrigados a fazer o teste de ácido nucleico ou usar máscara durante as actuações.
As entradas também foram controladas. O número de pessoas em simultâneo no recinto não podia exceder as 1500, metade do que é habitual na festa, que chega a acolher 3000 visitantes ao mesmo tempo. Era ainda obrigatória a apresentação do código de saúde electrónico e a medição da temperatura para se frequentar o recinto, que tinha seis entradas e saídas separadas.
As 10 comunidades lusófonas residentes em Macau – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Goa, Damão e Diu, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e comunidade macaense – marcaram presença nas Casas-Museu da Taipa com expositores, danças, artesanato, petiscos e bebidas típicas, à semelhança do que sucede sempre. O festival, que se realiza anualmente desde Junho de 1998, decorreu entre 16 e 18 de Outubro.
Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa
Este ano o evento contou com versões presenciais e online. O objectivo foi alargar o evento ao público de fora de Macau. A Semana Cultural incluiu 40 apresentações culturais de 11 países e regiões. Artistas residentes em Macau, mas provenientes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Goa, Damão e Diu, Macau e do Interior do País actuaram no evento que, pela primeira vez, pôde ser acompanhado além-fronteiras. As apresentações estiveram ainda disponíveis na página temática da 12.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa.
Rota das Letras
O Festival Literário de Macau – Rota das Letras, que se foi afirmando ao longo dos últimos oito anos e é hoje outro evento incontornável na cidade – também regressou depois de um adiamento de meses. De Março passou para Outubro e foi encurtado para um fim-de-semana em vez da habitual semana.
À semelhança dos restantes eventos, também centrou as atenções na “prata da casa”. A edição deste ano contou com uma homenagem a Henrique de Senna Fernandes, para assinalar o 10.º aniversário da sua morte; e com a comemoração do centenário de Clepsydra, livro que compilou os poemas dispersos escritos por Camilo Pessanha em Macau. Também foi feita uma homenagem a Mao Dun, escritor chinês que, em 1920, fundou a Associação de Pesquisa Literária e se tornou editor da primeira revista de contos publicada na China, a Xiaoshuo Yuebao.
As habituais mesas redondas contaram com autores locais. Nas Oficinas Navais, e a abrir, decorreu o debate “Pós-Confinamento”, sobre os efeitos da pandemia na vida e na obra dos escritores de Macau. Eric Chau, Wang Feng, Jenny Lao-Phillips e Konstantin Bessmertny foram os protagonistas de uma das conversas que preencheram o programa de três dias.
A fotografia e o teatro também marcaram presença no festival que abraça outras vertentes artísticas apesar de ter a literatura como ponto forte. A companhia Comuna de Pedra apresentou “O Momento”, uma peça inspirada na obra “1984”, de George Orwell, e em “On Tyranny”, de Timothy Snyder.
Bienal Internacional de Mulheres de Macau
Inaugurada a 30 de Setembro, no Albergue SCM, a exposição ARTFEM 2020 Mulheres Artistas Bienal Internacional de Macau teve como tema “Natura”. O evento, que vai na segunda edição, procura contribuir para uma maior visibilidade das mulheres no mundo contemporâneo e para a descoberta da arte no feminino.
A exposição apresentou 143 obras realizadas entre 2018 e 2020 por 98 artistas mulheres de 22 países. A mostra, patente durante dois meses, inclui obras de pintura, escultura, cerâmica, desenho e fotografia.
Este ano, o evento contou com os trabalhos de 31 artistas locais, 13 do Interior do País, 16 de Portugal, sete de Hong Kong, três da Indonésia, três da Alemanha e duas norte-americanas, entre outras.
A exposição debruçou-se sobre a protecção e devastação do meio ambiente, a relação da humanidade com a natureza e a crise pandémica causada pela Covid-19.
Feira Internacional de Macau
A feira de negócios mais importante da cidade voltou em finais de Outubro, desta feita com ligeiras alterações. Passou a ser também online e agregou mais dois eventos. Foi a primeira vez que a Feira Internacional de Macau, a Feira da Exposição de Produtos e Serviços de Países de Língua Portuguesa e a Feira da Franquia aconteceram em simultâneo.
Para alcançar mais mercados e, tendo em conta a pandemia, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) incluiu nas salas de exposição digitais bolsas de contactos em nuvem, transmissão ao vivo de eventos, assinatura de protocolos em nuvem e seminários online.
Foram registados perto de mil expositores online, entre os quais do Interior do País, Portugal, Canadá, Brasil, Singapura, Japão, Hong Kong e Macau. Nas salas de exposição digitais dos três eventos foram ainda exibidos mais de 3700 produtos.
A par do online, o evento decorreu fisicamente em Macau, com as devidas alterações em resposta à pandemia. A organização dividiu o espaço da feira – com 25 mil metros quadrados – em áreas com um limite máximo de 250 pessoas por zona. O uso de máscara e a medição da temperatura corporal à entrada foram obrigatórios.
Festival de Moda de Macau 2020
Há 10 anos que tem lugar na cidade e é outra das imagens de marca da agenda cultural de Macau. Em Outubro, de 22 a 24, na Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla em inglês), repetiu-se o Festival de Moda, desta vez e à semelhança dos restantes eventos, centrado nos agentes locais. Modelos e designers eram maioritariamente de Macau, centrando as suas criações nos temas do património e da sustentabilidade, os motes do evento organizado pelo Instituto Cultural e co-organizado pelo Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau. O desfile contou com a participação de 23 marcas, todas da região com excepção de três – de Shenzhen, Cantão e Hong Kong.
Uma das originalidades deste ano foi a passarela. A decoração homenageou o património da cidade com o chão a simular a calçada portuguesa e placards de monumentos icónicos de Macau como as Ruínas de São Paulo, o Farol da Guia e a Sé. O objectivo, salientou a organização, foi o de divulgar a imagem de Macau como destino turístico. Além dos 11 desfiles, havia também uma galeria onde estavam à venda os produtos das marcas.
Salão de Outono
Outra das actividades que se tornou obrigatória na agenda cultural do território. O Salão de Outono, que este ano celebrou a 11.ª edição, teve em exposição na Casa Garden 82 obras de cerca de 50 artistas locais. Os trabalhos seleccionados incluíram pintura a óleo, aguarela, desenho, gravura, escultura, fotografia, arte digital, vídeo e instalação. Organizado pela Art For All Society (AFA) e pela Fundação Oriente, a exposição Salão de Outono tem sido uma rampa de lançamento para artistas de Macau. Este ano regressou com mais formas de arte e o maior número de inscrições de sempre – mais de uma centena.
Torneio Internacional de Ténis de Mesa
A competição é mais uma das muitas apostas do Executivo local com vista a atrair turistas chineses. O torneio, que teve lugar na última semana de Novembro, trouxe a Macau os jogadores que ocupam as primeiras 16 posições do ranking mundial. A maioria veio do Interior do País, mas estiveram presentes jogadores de Taipé, Coreia do Sul, Singapura, Roménia e Egipto – antes em competição em provas no Interior do País e por isso livres da obrigação da quarentena à entrada na região. Para participarem na World Table Tennis, criada este ano com a autorização da Federação Internacional de Ténis de Mesa (ITTF), os jogadores apenas tiveram de fazer o teste de ácido nucleico.