Ensino online veio para ficar

Governo faz balanço positivo do ensino online, que foi o principal meio para leccionar durante o período em que as escolas estiveram encerradas devido à situação pandémica provocada pela Covid-19. À MACAU, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude explica como foi a transição para o ensino à distância e deixa bem claro que não vai substituir o presencial, que continuará a ser determinante. O online, vincam os serviços, vai continuar a ser um complemento. Está previsto o lançamento de uma nova plataforma digital de ensino para responder a situações como a que se viveu este ano lectivo 

Texto Catarina Brites Soares 

O ensino online foi a solução para que as aulas continuassem apesar do encerramento forçado das escolas devido à situação pandémica provocada pelo novo coronavírus Covid-19. Em resposta à MACAU, a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) explica que a transição foi suave porque o método já era usado nas escolas e devido também à elevada informatização da população. 

A taxa de acesso à Internet dos residentes de Macau, entre os 6 e os 17 anos, é de 92 por cento. Já 86 por cento dos agregados familiares tem computador, de acordo com o “Relatório sobre as tendências da utilização da Internet em Macau em 2019”, realizado pela Associação de Estudo Internet de Macau. “O que reflecte, em certa medida, que as condições de estudo dos alunos de Macau em casa, através das tecnologias de informação e comunicação, são bastante favoráveis”, sublinha a DSEJ. 

No ano lectivo passado (2019/2020), e segundo números oficiais, 44 escolas já recorriam regularmente ao ensino online, conciliando-o com o modelo tradicional.  

A DSEJ refere que, sem descurar o ensino presencial, as escolas já usavam materiais didácticos electrónicos e o ensino interactivo electrónico em algumas disciplinas. “Permitindo assim uma aprendizagem adequada antes, durante e depois das aulas”, sublinha o organismo, acrescentando que o telemóvel e o tablete são os meios mais usados. 

Mudanças 

A crise epidémica fez com que o online se tornasse o principal meio de aprendizagem. “Durante o período de suspensão das aulas presenciais devido à epidemia, a fim de manter os bons hábitos de estudo dos alunos, tendo em conta as condições e equipamentos existentes em casa dos estudantes e dos encarregados de educação, as escolas elaboraram planos de aprendizagem online adequados”, através de plataformas como o e-class, o Google Classroom e o OnionVideo.  

Com o objectivo de garantir os meios necessários tanto a professores como a alunos, a DSEJ criou também a página electrónica “Juntando as mãos para a luta contra a epidemia, aprendendo facilmente”, que agrega vídeos educativos, plataformas e ferramentas de aprendizagem de diversas regiões. 

Ainda que as condições fossem em geral favoráveis, o organismo teve conhecimento de problemas de adaptação relacionados sobretudo com questões de software e equipamentos. “Após a comunicação com as escolas e docentes, foram providenciados assistência e apoio, o que lhes permitiu, bem como aos alunos, adaptarem-se ao modelo de aprendizagem online.” 

Uma vez que os estudantes estavam em casa, a DSEJ, em conjunto com as escolas, delineou critérios e medidas para a revisão dos conhecimentos e decidiu não haver necessidade de apressar o ritmo de ensino, nem organizar actividades de avaliação, como testes e exames. “Sob o pressuposto de não aumentar a pressão sobre os docentes, alunos e encarregados de educação”, justificam os serviços. 

Os objectivos e prioridades foram divulgados no Espaço dos Docentes, aos responsáveis das escolas, professores, alunos e encarregados de educação, através de diversos canais. Também foi criada uma linha aberta “para que as medidas pudessem ser optimizadas e aperfeiçoadas de forma contínua”. 

Outro dos elementos que facilitou a adaptação, realça a DSEJ, foi a crescente generalização do uso das tecnologias de informação e comunicação no sector da educação. Antes da pandemia, várias disciplinas já recorriam a ferramentas online.  

O organismo refere o caso do Powerlesson, usado em inglês, que permite que docentes e alunos aprendam e discutam de um para um, ou de um para muitos e que se realizem avaliações, “podendo os docentes verificar, facilmente, as classificações dos alunos e completar as estatísticas, de modo a aferir, mais rapidamente, o progresso da aprendizagem”. 

A matemática é outro caso, disciplina na qual se usam softwares como o Sketchpad. “Há ainda escolas que introduziram programas de aprendizagem para serem utilizados em dispositivos móveis, como por exemplo tabletes, permitindo assim aos alunos aprenderem através de equipamentos electrónicos ao ar livre, participando em actividades de ensino e aprendizagem de diferentes disciplinas”, reforça o organismo. 

Prioridades 

Na resposta à MACAU, a DSEJ frisa que tem dado grande importância ao ensino das tecnologias de informação e comunicação. A disciplina, afirma, passou a ser obrigatória para os alunos dos ensinos primário e secundário. 

Os Serviços de Educação e Juventude salientam que a introdução do ensino electrónico nas aulas tem resultados positivos no aumento da motivação e da participação dos alunos, mas ressalva: “Não pode substituir a interacção pedagógica entre os docentes e alunos nas aulas. Mesmo que o ensino seja ministrado com recurso às tecnologias de informação e comunicação, o conteúdo deve articular-se com a concretização dos objectivos do ensino nas aulas, bem como com as actividades pedagógicas organizadas pelos docentes”. 

A DSEJ vinca que o ensino online não vai substituir o ensino presencial, e que serve antes como complemento, especialmente em períodos prolongados de suspensão das aulas devido a situações imprevistas, como a que aconteceu com o novo coronavírus. O ensino online, acrescenta a direcção, serve ainda como complemento na medida em que permite que as actividades educativas não se limitem às realizadas nas escolas ou salas de aula. 

O organismo explica ainda que, antes das aulas serem retomadas, definiu directrizes e sugeriu, por exemplo, que fosse possível a entrega dos trabalhos de casa realizados durante o período de suspensão das escolas durante as duas semanas depois do reinício e que não fossem considerados para classificação. 

“Nas primeiras duas semanas, o foco foi na consolidação da aprendizagem, ajustando o conteúdo e o volume dos trabalhos de casa diários e adiando ou cancelando os exames, testes ou actividades organizadas originalmente durante o período de suspensão de aulas.” 

A DSEJ insistiu que as escolas seguissem o princípio de “aplicação de forma suave e não rígida”, assegurando que – de acordo com a situação de cada uma das instituições, a situação da aprendizagem e as características das disciplinas – avaliassem os alunos combinando várias formas. 

“Os instrumentos diversificados devem abranger o desempenho dos alunos, a participação nas aulas, a atitude na aprendizagem, a aprendizagem autónoma, os trabalhos de casa, o estudo temático, a apresentação oral e a prova escrita, entre outros”, enumera o organismo. 

***

futuro 

A DSEJ anunciou estar a preparar um campus digital para ser utilizado por toda a comunidade escolar no próximo ano lectivo. “Devido à suspensão das aulas resultante da epidemia ou para casos semelhantes que venham a ocorrer no futuro, a DSEJ está a preparar a construção de uma plataforma de escolas inteligentes, procurando que a mesma entre em funcionamento no ano lectivo de 2020/2021. Esta plataforma terá, inicialmente, as funções de comunicação em grande escala e ensino online, empregando os softwares mais usados na sociedade, a fim de reduzir os requisitos de utilização e assegurar que os alunos e os pais/encarregados de educação transfronteiriços possam utilizá-los sem sobressaltos”, detalha o organismo à MACAU. 

A plataforma irá facultar recursos pedagógicos aos docentes e alunos, através dos que estão disponíveis na Internet e da aquisição de outros junto de empresas do ramo. O organismo adianta que as escolas e os docentes locais também vão ser desafiados a produzirem esses recursos, com vista a apoiar o desenvolvimento do ensino online

Também para o próximo ano lectivo, que se inicia em Setembro, o Conselho de Educação do Ensino Não Superior defende que os subsídios devem subir. A DSEJ estima que os aumentos vão implicar um investimento de cerca e 5,1 mil milhões de patacas, o que representa um aumento das despesas em 5,8 por cento.   

O organismo sugere também que não haja chumbos neste ano lectivo e que a avaliação seja contínua em vez de ter por base os exames como é habitual.  

Para o próximo ano lectivo (2020/2021) estão previstas medidas de apoio como aulas de explicação para os estudantes do 11.º ano e de preparação para o acesso ao ensino universitário no caso dos alunos do 12.º.  

***

De volta à escola 

No início de Maio, 13 mil alunos do 10.º ao 12.º anos retomaram as aulas presenciais. A pensar nos estudantes transfronteiriços, foi criada na altura uma via na passagem nas Portas do Cerco para facilitar a entrada em Macau entre as 8h00 e as 18h00. Mais tarde, foi a vez do ensino primário recomeçar ainda que por fases. Primeiro, os estudantes do 4.º ao 6.º anos, que regressaram a 25 de Maio – cerca de 16 mil de 59 escolas. Mais tarde, já a 1 de Junho, foi a vez das turmas da 1.ª à 3.ª classes, abrangendo 18 mil alunos de 59 escolas.  

A DSEJ permitiu também que as escolas recebessem crianças do 1.º ao 3.º anos do ensino infantil, do ensino primário e as do ensino especial que não tivessem quem cuidasse delas em casa. “Compete às escolas destacarem pessoal docente e não docente para tomarem conta das crianças, o que não inclui actividades lectivas nem de aulas suplementares, até ao reinício formal das aulas destes alunos”, esclarece a DSEJ. 

A direcção explica que foi da responsabilidade das escolas definir as vagas da chamada “medida cordial” de apoio às famílias, assim como a data e as horas de regresso à escola destes alunos, no sentido de assegurar que haveria recursos humanos suficientes. 

Os centros de explicação privados e os de educação contínua, por sua vez, reabriram em pleno a 25 de Maio. 

Todos níveis de ensino e escolas estão sujeitos a medidas obrigatórias como o uso de máscara, o controlo de temperatura corporal e medidas de distanciamento social. Além disso, os alunos transfronteiriços e o pessoal das escolas ficaram obrigados a fazer testes de ácido nucleico. Números da DSEJ indicam que há 731 alunos só do ensino primário a viverem em Zhuhai que estudam em Macau. 

Macau suspendeu o reinício das aulas no início de Fevereiro e estabeleceu um calendário para o regresso faseado à escola a partir de 30 de Março, começando com o ensino superior.