Texto Paulo Barbosa
A rádio emitida localmente chegou a Macau em 1933, mas passou por longas décadas de amadorismo e intermitência até chegar ao seu “formato actual”, como diz Manuel Pires, presidente da Comissão Executiva da Teledifusão de Macau (TDM). As emissões da estação pública começaram a ter um maior grau de profissionalismo e regularidade a partir do início da década de 80, com o surgimento de dois canais de rádio pública, um em chinês e outro em português.
Saltando para o presente, Manuel Pires refere à MACAU que as emissões de rádio da TDM têm “duas grandes vertentes, seja para a Rádio Macau, seja para o canal Ou Mun Tin Toi, em chinês”. São elas a prestação de serviço público através do apoio aos trabalhos de protecção civil e do serviço às várias comunidades que residem em Macau. “Na perspectiva da protecção civil, tivemos infelizmente como exemplos recentes dois super-tufões em 2017 e 2018. Claramente, a rádio tem um papel primordial em termos de prestação atempada da informação para a população”, diz Pires, frisando que “o reforço do trabalho da rádio, até porque as novas tecnologias o vêm permitir, será muito orientado nesse sentido”.
Outra prioridade que tem vindo a ser trabalhada desde há alguns anos é o serviço às comunidades imigrantes existentes na região. “Macau é cada vez mais uma cidade cosmopolita em termos de comunidades que residem e a TDM, nas suas diferentes plataformas – quer seja na rádio, quer seja na televisão –, tenta responder a essa realidade”, diz o presidente da empresa. “Um outro desenvolvimento é juntar o áudio ao vídeo, o que é cada vez mais possível com base nas novas tecnologias.”
Na rádio Ou Mun Tin Toi, aos dias úteis há o programa matutino Fórum Macau, no qual os ouvintes podem telefonar e apresentar ideias e opiniões. “Às quartas-feiras há habitualmente convidados e optou-se por uma estratégia de o programa ser também transmitido em vídeo. Este é um primeiro passo”, argumenta o presidente da TDM. “Penso que a rádio nunca perderá o seu papel, e em Macau de certeza que não. Mas haverá sempre que evoluir e adaptar-se aos novos tempos e às novas tecnologias e haverá uma componente vídeo que será acoplada gradualmente.”
De momento, a plataforma tecnológica da rádio está virada para as push messages na aplicação móvel, embora também haja programas disponíveis através de podcasts.
Com um número crescente de ouvintes a preferirem a Internet aos velhos transístores, Manuel Pires confirma que “a rádio é cada vez mais uma plataforma móvel. Se inicialmente se ouvia através de um aparelho transístor, em casa, no carro ou no escritório, hoje em dia passou a ser quase uma plataforma móvel à qual as pessoas acedem através dos telemóveis, dos seus computadores. Há que adaptar-se a essa nova plataforma e às novas circunstâncias”.
Essas tecnologias permitem que a rádio seja agora ouvida em múltiplas partes do globo e a aplicação para telemóveis da TDM, que disponibiliza emissões de TV e os dois canais de rádio, já tem mais de 250 mil descarregamentos. “Sabemos que há pessoas que passaram por Macau, ou que têm interesse em Macau ou que são de Macau e que neste momento vivem no exterior e que querem continuar a manter ligações à terra”, observa o presidente da empresa
Com uma redacção de cerca de meia centena de jornalistas, os canais de rádio da TDM vão também enfrentando o desafio de encontrar os recursos humanos apropriados, que é partilhado por tantas outras empresas locais. Pires admite que “não é fácil conseguir quadros permanentes em Macau”, mas diz que os canais de rádio têm tido sucesso na angariação de colaborações externas. “Isto permite-nos, no caso na Ou Mun Tin Toi, ter uma produção própria de 24 horas, e no caso da Rádio Macau termos uma programação bastante alargada. Passa muito pela colaboração externa, que temos conseguido com a cooperação de muitas instituições, e que nos permite ter a informação e entretenimento de Macau em horários mais alargados”, explica.
No caso da Ou Mun Tin Toi , há uma cooperação de longa data com estações de cidades vizinhas e “um esforço, com este projecto da Grande Baía, para reforçar ainda mais a colaboração que já existe”, afirma.
“Geração da RAEM”
A voz mais veterana da Rádio Macau é Gilberto Lopes, para quem durante os quase 20 anos de existência da RAEM houve um salto significativo em termos tecnológicos quando a emissão passou a ser digital. O canal português dispõe de um estúdio de emissão e três de gravação. “Em termos de recursos humanos houve uma grande evolução. Neste momento temos nos nossos quadros 10 jornalistas, seis animadores, uma tradutora, eu, um secretário e dois produtores em part-time, que trabalham essencialmente ao fim-de-semana”, nota Gilberto Lopes, que é chefe do canal de rádio português desde 2000 e, desde Abril deste ano, director adjunto dos canais de informação e programas portugueses da TDM.
“Os nossos trabalhadores são hoje essencialmente uma equipa que faz parte do que eu costumo chamar ‘geração da RAEM’, isto é, gente que veio para Macau depois de 1999. Sendo jovem – a maior parte das pessoas tem menos de 40 anos –, na grande maioria tem mais de 10 anos de experiência de Macau. Esta redacção jovem, mas com muita experiência, com muita gente vinda dos jornais e outros com experiência radiofónica, permite hoje ter uma redacção que tem um grande conhecimento do território, o que faz com que tenha uma grande dinâmica e, muitas vezes, ande à frente das notícias.”
Para além de quadros próprios, a emissão em 98 FM tem ainda colaboradores que fazem programas específicos e colaborações regulares com instituições como a Universidade de São José, a Fundação Rui Cunha, a Universidade de Macau e o Instituto de Estudos Europeus. Programas radiofónicos de debate como o Contraponto e o Fórum Macau (no canal de rádio chinês) são retransmitidos pelos canais televisivos da TDM.
Questionado sobre as linhas mestras da programação, Gilberto Lopes sublinha que há subjacente a obrigação de cumprir o serviço público em português: “É filosofia dos canais portugueses da TDM – rádio e televisão – de que não somos um canal português, mas um canal em língua portuguesa. Na área da informação, o objectivo é fazer informação sobretudo local, cobrindo tudo o que tem a ver com Macau e com uma grande atenção à região envolvente, Hong Kong, China e também a outros países que, dadas as características do território, têm comunidades radicadas aqui. A componente do que se passa em Portugal é também importante e depois damos uma visão do que é fundamental na actualidade internacional”.
Na componente da emissão, o chefe do canal de rádio português da TDM sublinha que o foco está na música lusófona. Há também uma tradição de destacar alguns dos eventos da lusofonia que se vão passando na cidade, como o 10 de Junho (Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas) e o Festival da Lusofonia, com vários directos ao longo do dia, incluindo reportagens e transmissão de cerimónias e concertos. Outros programas especiais são emitidos ao vivo quando se justifica, tais como os que foram feitos a partir da Escola Portuguesa de Macau e de outas instituições.
Há cerca de dois anos foram retomadas as emissões até à meia-noite, o que sucedia no período final da administração portuguesa e foi interrompido porque muitos jornalistas regressaram a Portugal aquando da transferência. Neste momento, a emissão do canal português decorre entre as sete da manhã e a meia-noite, com o restante período a ser preenchido pela retransmissão da Antena 1 portuguesa. “Entendemos que era fundamental responder a um auditório que nós sabemos que existe e que nos ouve durante a noite”, explica Gilberto Lopes. “O horário existente parece-me o mais adequado. Perguntarão sempre porque não 24 horas e se houvesse condições emitiríamos durante 24 horas, mas provavelmente não se justifica informação local para lá das 23h00.” A solução encontrada foi prolongar os noticiários até essa hora e incluir algumas rubricas feitas especificamente para as últimas horas do dia, como a antecipação dos títulos dos jornais feita pelos editores, programas dedicados a vários géneros musicais e o noticiário cultural feito no programa “Equador”, de Carlos Picassinos.
Ao todo, o canal português transmite 15 noticiários diariamente, 13 deles de informação geral, um dedicado ao desporto e outro sobre o mundo da economia e negócios.
No âmbito das novas tecnologias, a Rádio Macau disponibiliza na página da Internet um noticiário por dia (o das 19h), diversas notícias em texto, os programas semanais e as inúmeras entrevistas feitas a figuras de Macau e personalidades que vão passando pelo território. Redes sociais como o Facebook são usadas para dar notícias de última hora e complementar programas como o “Vinhos na Rádio”, que tem uma versão em vídeo no Facebook.
Fórum Macau: o trunfo da programação
Benjamin Tong, director adjunto substituto de informação e programas informativos chineses, considera que o trunfo da programação da rádio chinesa da TDM tem sido “desde há muitos anos o Fórum Macau, que é um bom programa para o público”. O talk-show radiofónico aborda os tópicos que estão no centro das preocupações da opinião pública.
Entrevistado pela MACAU, Tong confirma que, à semelhança do que sucede no canal português da rádio, também no chinês houve um desenvolvimento em termos de recursos humanos, que são “muitos mais” nos dias de hoje. “Antes de 2000 só tínhamos entre 10 e 20 jornalistas e editores no serviço chinês. Agora temos 30, o que ainda assim não é suficiente”.
“A experiência é muito importante no jornalismo e temos alguns jornalistas com cerca de 20 anos de profissão, mas não muitos. A maioria é jovem”, diz. Quanto ao futuro da rádio, Tong alinha com o famoso refrão da banda britânica Queen. Talvez a rádio venha ainda a ter “a sua melhor hora”, se adaptada aos novos tempos e tecnologias. “A Internet teve um grande impacto na rádio. Tornou-se no veículo mais popular para os jovens e até para o público em geral. Isto devido aos smartphones, que faz com que seja conveniente terem acesso às notícias e ao que querem ver.”
O pico de audiência clássico da rádio é a manhã e o director adjunto do canal chinês confirma que isso também sucede em Macau. Mas acrescenta que outro pico acontece após a meia-noite, quando muitas pessoas sintonizam a Ou Mun Tin Toi, que por essa altura suspende os seus programas informativos até às sete da manhã. “Antes de irem dormir, muitas pessoas querem ouvir a rádio”, refere Tong, acrescentando que ou os ouvintes não estão necessariamente ligados aos programas musicais que estão no ar a essa hora. Muitos ouvem nos seus telefones alguns dos programas do dia que são colocados no site da rádio. “As notícias que disponibilizamos na Internet e nas aplicações para telemóveis são muito importantes para nós.” No entanto, Benjamin Tong não consegue estimar ao certo quantos ouvem a Ou Mun Tin Toi. Essa estimativa de audiências está a ser feita pela TDM, diz.
Rádio comunitária
A abertura a comunidades de imigrantes é outra das marcas da programação, particularmente no canal português de rádio. Aos sábados, entre as 20h00 e as 21h00, é emitido o programa “Tagay Pinoy” em tagalo, e aos domingos, entre as 20h00 e as 22h00, é emitido o programa “Kumbang Channel” em bahasa Indonésia. “Penso que é uma abordagem que é importante a TDM ter”, nota o presidente da empresa, Manuel Pires. “Gradualmente, e quando as oportunidades surgirem, nós iremos também desenvolver programas noutras línguas, mas há alguma dificuldade em encontrarmos animadores que sejam fluentes nessas línguas.”
Gilbert Humphrey, também conhecido como Beto Bebeto, é o mentor do programa em indonésio desde 2012, altura em que foi convidado pela direcção da TDM para produzir e apresentar o que começou por ser uma hora de música indonésia. “Após cerca de um ano [com esse formato] percebemos que quem está apenas a procurar música pode fazê-lo no YouTube e que devíamos fazer mais. Começámos a receber chamadas telefónicas”, conta Beto. “Essa abertura fez com que as pessoas começassem a ligar para o programa e foi aí que passámos a ser conhecidos.”
Fruto do interesse que gerou entre a comunidade imigrante, o projecto evoluiu entretanto para uma emissão de duas horas, com convidados regulares, notícias viradas para a comunidade indonésia de Macau e um segmento em inglês entre as 21h00 e as 21h45. Chamado “Kumbang Toh” até ao início do ano, o programa mudou de nome para “Kumbang Channel”, reflectindo o facto de “estar a transformar-se num veículo de notícias mais sofisticado”, de acordo com o seu autor. “Fazemos rádio comunitária”.
O programa tem uma relação privilegiada com o Consulado da Indonésia em Hong Kong e Macau, com diplomatas a serem convidados regularmente para difundir informações consideradas de interesse para a comunidade. Há também convidados vindos da Indonésia e é dada voz aos que trabalham na região. “Sempre que temos convidados, o programa transforma-se mais num talk-show. Os tópicos são variam de acordo com os convidados. O consulado, na maioria das vezes, fala das leis em vigor em Macau e pode anunciar novos regulamentos que afectam a comunidade imigrante. Convidados da Indonésia são muitas vezes cantores, estrelas, e nesse caso o programa é de entretenimento puro. Se tivermos em estúdio indonésios que trabalham em Macau, falamos das suas vidas”, explica Gilbert Humph.
Ao longo de seis anos de emissões, Gilbert Humph diz que os momentos mais marcantes aconteceram quando se emocionou com as histórias pessoais que alguns convidados contaram e com o facto de as estar a partilhar com um auditório que chega ao vasto arquipélago indonésio. “A vida é dura para quem está a trabalhar como imigrante e os familiares na Indonésia precisam de compreender isso.”
Há também uma componente caritativa sempre que um acidente natural de grande escala atinge o país insular. Em colaboração com várias associações indonésias presentes em Macau e com o consulado, o programa organiza recolhas de fundos que são distribuídos nos locais atingidos por catástrofes.
“O programa prova que a população local aprecia os indonésios. É-nos permitido [pela TDM] que tenhamos a nossa própria plataforma. E queremos crescer mais. Hoje em dia estamos na era da Internet”, argumenta Gilbert Humph. Ter a rádio online expande a audiência para outras geografias e o produtor pretende agora apostar numa plataforma online própria para o KT News. “Em Macau não há nenhuma plataforma indonésia de notícias, como já existe em Hong Kong. Seria óptimo termos uma. Não seria um projecto comercial, porque só temos alguns milhares de indonésios em Macau e não temos muitas lojas indonésias [ao contrário do que acontece em Hong Kong]. Mas o próprio programa de rádio é comunitário. O que queremos criar é uma plataforma noticiosa especificamente para a comunidade.” A esperança do apresentador é que o projecto possa arrancar no próximo ano.
História da rádio
Dos projectos efémeros ao profissionalismo
A primeira emissão de rádio em Macau aconteceu em 26 de Agosto de 1933, a partir de um estúdio localizado na torre do relógio daquela que é hoje a sede da Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações (CTT), na Avenida Almeida Ribeiro.
Com emissões de duas horas diárias, a rádio em língua portuguesa manteve a sua actividade até 1941, sob as designações CQN-MACAU (extinta em 1938 numa manobra contabilística, com a propriedade da estação a passar do Governo para os CTT) e CRY-9-MACAU. Como contava o jornalista Paulo Rego em artigo publicado na MACAU em 1994, foi nesse longínquo mês de Agosto que venceu “a teoria da imprescindibilidade da rádio como um dos pilares da presença portuguesa neste cantinho asiático”. E foi então que surgiram 30 mil patacas “negociadas a braço de ferro” para adquirir o material que possibilitou as primeiras emissões. Com a rádio no ar, ainda que de forma intermitente e amadora, “o Palácio da Praia Grande fomentava um instrumento facilitador da comunicação com o segmento português da população; a península perdia a total dependência informativa dos órgãos de Hong Kong; a saudade ganhava um combatente inesperado”.
Em 1938, as ondas hertzianas começam a ser usadas como um instrumento securitário, com a polícia a montar uma rádio que funcionou até 1941 na Esquadra n.º 2, junto ao Canídromo.
Com a II Guerra Mundial e os invasores japoneses às portas de Macau, a rádio local sofre convulsões e terminam as emissões da CRY-9-MACAU. Segundo a informação disponibilizada pelo Museu das Comunicações, em 1941 o equipamento e instalações desta estação pioneira é “herdado” pelo novo Rádio Clube de Macau, que emite programas em português, chinês e inglês.
Mas a rádio só assume uma função comercial a partir do dia 6 de Março de 1952, quando abre a rádio Vila Verde, com emissões diárias das sete da manhã à meia-noite. Existiam então em Macau 5265 transístores registados pelo Governo.
O projecto Vila Verde tem como mentor o influente Pedro José Lobo, que concebe uma rádio com emissões em cantonês e em português e alguns programas em inglês. Por paixão pela cultura portuguesa, o empresário macaense, que chegou a ser chefe da Repartição Central dos Serviços Económicos da região, mantém a emissão na língua da Camões durante 14 anos. Mas os efeitos da Revolução Cultural em Macau levam ao fim dos programas portugueses. Deu-se o episódio do “1-2-3” e há quem ameace invadir a estação e destruí-la. O radialista Johnny Reis recordou no artigo da autoria de Paulo Rego a forma agitada como viveu a última noite de emissões portuguesas da Vila Verde: “Aquela noite sem fim, com leituras de comunicados do governador, fica marcada mesmo em memórias distraídas, como a minha. Das 18h00 às 7h00, mantivemos diálogo permanente com a população”. A Rádio Vila Verde, no entanto, continuou com emissões em chinês, tendo suspendido operações em 1994 e reaberto em 2002. Esta rádio transmite alguns programas de entretenimento e música, noticia corridas de cavalos e outros resultados desportivos em cantonês.
O Rádio Clube de Macau durou 21 anos e conheceu períodos áureos. O radialista Ninélio Barreira relembrou como as suas emissões eram dedicadas em grande parte à música e língua chinesas, “despertando o interesse da população, que as acompanhava atentamente, por toda a parte: em casa, nas lojas e nas ruas”.
Esta estação semi-oficial dá lugar em Fevereiro de 1962 à ERM-Emissora de Radiodifusão de Macau, uma espécie de antecessora da TDM. Apesar das mudanças de nome, a rádio pública do território era ainda feita na base do famoso desenrascanço à portuguesa, com o recentemente falecido Alberto Alecrim, vindo de Goa (onde chegou a estar detido num campo de concentração após a invasão indiana do território em 1961) a dar cartas no Rádio Clube de Macau. São muitas as histórias pícaras envolvendo Alecrim, que subia ao terraço dos CTT para ligar a rádio Macau à Emissora Nacional através de um rádio portátil, para que os apreciadores de futebol pudessem ouvir os relatos. Sportinguista ferrenho, desligava os cabos da antena sempre que os leões perdiam, dizendo aos ouvintes que “devido às más condições de transmissão atmosféricas não é possível continuar a retransmitir os relatos”. Em 1970 dá-se um novo marco para a rádio local, com a inauguração dos estúdios na Rua de Francisco Xavier Pereira.
Em 1976 foi criado um Serviço Público de Radiodifusão, a Rádio Macau, com Alecrim a ser nomeado director em 1978. “Sempre fui, contudo, desde faxineiro a director. Era essa a única postura possível para se fazer rádio na altura”, relembrou à MACAU no artigo publicado em 1994.
Em 1982 é constituída a Teledifusão de Macau (TDM), uma empresa pública que começa a emitir o canal radiofónico Ou Mun Tin Toi (em língua chinesa) em 1 de Janeiro de 1983, continuando em funcionamento o canal Rádio Macau (em língua portuguesa). Em Janeiro de 1985, o Ou Mun Tin Toi começou a transmitir em FM Stereo, mantendo a emissão em AM. Em Dezembro de 1985 o canal chinês passou a transmitir 24 horas por dia.
A televisão só aparece em Macau 51 anos após as primeiras emissões radiofónicas, com a TDM a iniciar transmissões no dia 13 de Maio de 1984. A televisão só passou a ter dois canais em 1990, nomeadamente o Chong Man Toi (em língua chinesa) e o Canal Macau (em língua portuguesa).
Memórias históricas com mais de 180 episódios
Um dos programas mais populares da Rádio Macau é o “Falar de Memória”, que revisita semanalmente episódios da história de Macau. No ar desde Fevereiro de 2015 e já com mais de 180 edições, o programa semanal lançado pelo jornalista Hugo Pinto consiste em episódios com cerca de 10 minutos sobre assuntos tão diversos como o Movimento das Forças Armadas em Macau, a biografia do empresário Lou Kau, as Chapas Sínicas (a propósito de uma exposição que esteve patente na cidade em 2018) e as operações de espiões norte-coreanos em Macau.
“Desde que vim para Macau desenvolvi um interesse pela história local e, à medida que a fui conhecendo, esse interesse cresceu ainda mais. O programa nasce desse interesse pessoal”, diz Hugo Pinto.
Daí ter desafiado o jornalista e investigador João Guedes para se juntar ao programa. “É a pessoa indicada, porque não só se interessa e sabe muito sobre a história de Macau, como também a conta bem e isso é muito importante”, conta Pinto. “O nosso trabalho é de divulgação das questões da história. Acho que foi um bom casamento entre a minha curiosidade e os conhecimentos do João.”
Ao pesquisar o passado da cidade, o jornalista constatou que “a história de Macau é muito pouco conhecida e é muito rica”. Por isso, o programa tenta focar “temas da história de Macau que, por diversos motivos não são muito alvos de estudo, nomeadamente aspectos mais recentes”.
Outro objectivo é que “os temas lançados tenham sempre uma ressonância com o presente, porque há muitas ligações, muitos ecos e muitos efeitos do passado na actualidade de Macau”, refere o autor.
Para além de estar disponível para audição no site da rádio, o programa é também distribuído no formato podcast, que pode ser descarregado para dispositivos móveis. Os podcasts são cada vez mais uma outra forma de ouvir rádio, com a Apple a revelar que agregava em Abril deste ano 29 milhões de episódios naquele formato, muitos deles programas radiofónicos.
Para Hugo Pinto, esta é uma forma de chegar a mais ouvintes espalhados pelo mundo. “O podcast tradicionalmente é um formato em que um programa ou um determinado conteúdo é produzido propositadamente para a Internet. No nosso caso, é um programa de rádio disponibilizado na Internet”, define.
O “Falar de Memória” está na rádio e na Internet para continuar no mesmo formato. Ainda que João Guedes seja um jornalista ligado à televisão, não está planeada uma versão televisiva. “Acho que a rádio nesse aspecto é um meio muito superior à televisão, porque a rádio permite-te imaginar, enquanto a televisão é um meio totalitário, que te impõe uma ideia. Acho que a beleza deste programa tem a ver com o seu meio, com a rádio, que é um meio por excelência que permite sonhar, que transporta. Tu és sugerido pelas palavras que estás a ouvir e isso dá-te liberdade”, aponta Hugo Pinto.
Segundo o radialista, temas para serem abordados no futuro não faltam: “Se estivéssemos a ficar sem temas o problema era nosso, porque há temas que nunca mais acabam”.
Cooperação reforça transmissão
Em termos de acordos com congéneres, a Rádio Macau estabeleceu recentemente um acordo com o grupo português Global Media, que lhe permite retransmitir alguns programas da rádio TSF. De acordo com os dados fornecidos à MACAU, a rádio local fornece semanalmente 18 programas para o Departamento de Português da Rádio Internacional da China (CRI), fruto de um acordo feito há muitos anos. Programas como “Contraponto”, “Fado a Oriente” e “Rádio Macau Entrevista” são transmitidos para ouvintes de rádios afiliadas em Portugal e no Brasil, para que estes possam conhecer melhor a vida de Macau.