Dado a conhecer em Dezembro de 2016, o desfecho da participação dos alunos de Macau no exame global de aferição concebido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) dificilmente poderia ter sido melhor para o sistema educativo da RAEM.
Tais resultados, tornam o ano de 2019 um ano de expectativas elevadas pois apenas no dia 3 de Dezembro serão publicados os novos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, na sigla inglesa) no qual participaram 79 países e territórios.
O mecanismo que há quatro anos se centrou em concreto no domínio da literacia científica, permitiu concluir que Macau está entre as nações e territórios com perspectivas educacionais mais consolidadas e em que o investimento feito na educação tem garantido melhores resultados.
As conclusões gerais do PISA de 2015 colocaram os estudantes de Macau entre os melhores do mundo no que toca à resolução de problemas.
Os 4476 alunos que há quatro anos se submeteram ao exame colocaram Macau no sexto posto do ranking dos estudantes mais promissores em termos de literacia científica e no 12.o posto da tabela no que toca à literacia de leitura, mas o domínio da literacia matemática foi aquele em que os aprendentes locais mais se notabilizaram: os alunos do território são os terceiros melhores do mundo no que toca a contas, equações, quocientes e fracções, atrás dos de Singapura e dos da Região Administrativa Especial de Hong Kong.
Investir para Melhorar
Os resultados, assegura Wong I Lin, nada têm de fortuito. Coordenadora da Inspecção Escolar da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Wong foi incumbida pelo organismo de acompanhar os procedimentos de execução do PISA em Macau e assegura que o bom desempenho dos alunos do território em 2015 reflecte o grande investimento feito pelo Executivo no domínio da educação: “Depois de termos participado nas edições de 2003, de 2006, de 2009 e de 2012 do PISA, conduzimos uma série de trabalhos pedagógicos. O Executivo fez um grande investimento na formação e na contratação de docentes e o Fundo de Desenvolvimento Educativo passou a contemplar novas modalidades de apoio aos alunos”, explica Wong.
A coordenadora é responsável pela ligação entre o organismo com a tutela das políticas educativas para o ensino não superior e o Centro de Investigação de Testes e Avaliação Educativa da Universidade de Macau, a entidade responsável pelos procedimentos de realização do PISA no território. Em Abril e Maio do ano passado, o Centro coordenou um processo que envolveu mais de cinco mil pessoas, entre alunos, professores, observadores e pessoal administrativo.
Wong I Lin assegura que a participação no PISA não passa, de todo, por obter melhores prestações: “O objectivo do PISA não é necessariamente que os alunos melhorem a prestação obtida noutras edições. É um mecanismo de aferição que nos oferece a possibilidade de melhorar a forma como o sistema de ensino está estruturado”, explica a responsável. “No exame PISA realizado em 2015 tivemos a oportunidade de constatar vários factos. Um dos mais significativos e imediatos é o facto de haver um menor número de alunos que repetem o ano”, salienta Wong.
Quantificar o sucesso
O exame PISA foi promovido pela primeira vez em 2000. Dinamizado de três em três anos pela OCDE, o mecanismo pedagógico procura afirmar-se desde a sua criação como um instrumento de aferição da qualidade dos sistemas de educação de todo o mundo, ao avaliar as competências dos alunos em domínios como a ciência, a matemática ou a leitura. Aspectos menos convencionais da aprendizagem, como a criatividade, também deverão começar a ser avaliados em futuras edições da iniciativa, adianta a Coordenadora de Inspecção Escolar da DSEJ: “O exame PISA que vai ser realizado em 2021 está focado na capacidade criativa dos alunos, uma opção que procura ir ao encontro das tendências mais recentes em termos de desenvolvimento social”, sublinha Wong I Lin.
“No passado, os alunos respondiam ao enunciado de forma tradicional: escreviam as respostas em papel. Agora o exame é totalmente digital. Quando os alunos se submetem ao teste, o sistema e o próprio exame mudam de acordo com a resposta de quem o preenche. O sistema foi desenvolvido por uma equipa de especialistas com o propósito de registar não apenas os resultados, mas também o processo de realização do teste”, explica a especialista em educação.
As mudanças foram sendo progressivamente adoptadas pela OCDE em parte para acompanhar a própria modernização dos sistemas educativos e em parte para responder às críticas de que o modelo de avaliação negligenciava aspectos pedagógicos cruciais como a criatividade ou a dimensão moral e cívica do processo educativo.
O exame – um questionário de mais de duas horas e meia a que os alunos respondem através de um interface electrónico – está direccionado para estudantes de 15 anos, idade em que os examinados já concluíram ou estão prestes a concluir o ensino obrigatório na maior parte dos quase 80 países e territórios em que os procedimentos foram conduzidos em 2018.
A OCDE exige que os alunos avaliados tenham concluído seis anos de educação formal, naquele que é o único grande requisito imposto pela organização. Parte significativa dos países e territórios participantes seleccionam escolas ou estudantes que se vão submeter ao exame, mas tal não é o caso da RAEM. “Em Macau há pouco mais de 70 escolas e os estabelecimentos escolares que contemplam o ensino secundário são só 46. Nós não precisamos necessariamente de escolher. Todos os alunos com 15 anos de idade participam no PISA”, explica Wong I Lin.
Em termos concretos, o PISA não tem por objectivo testar a capacidade de memorização e de assimilação de conteúdos programáticos por parte dos alunos. O enunciado do PISA direccionado para a literacia científica, por exemplo, propõe-se ser um barómetro em relação a três competências: a capacidade para explicar fenómenos científicos, a aptidão para interpretar dados e provas de natureza científica e a vocação para conceber e avaliar projectos de investigação.
De um mesmo modo, considerando que a leitura é habitualmente entendida como a capacidade básica de descodificar informação escrita, o modelo de aferição desenvolvido pela OCDE define a literacia literária como a predisposição de cada um para compreender, usar e reflectir sobre informação codificada num vasto leque de contextos e situações diferenciadas.
“Os resultados do PISA permitem-nos conhecer os pontos fracos da educação de Macau”, assume Wong I Lin, que recorda que os resultados dos primeiros exames em que os estudantes do território participaram evidenciaram uma insuficiência no que toca ao pensamento de alto nível nos alunos. “Esta lacuna fez com que reforçássemos a formação dos docentes relativamente à capacidade de formular perguntas e à resolução de problemas. Contratámos especialistas de Hong Kong com o propósito de ministrar formações em domínios como a ciência ou o fomento da leitura, tanto em língua chinesa como em língua inglesa. Prestámos muita atenção ao desenvolvimento da capacidade de raciocínio, do pensamento de alto nível”, assegura
a responsável.
Em Macau, os resultados estão à vista, mas o território não é o único a rectificar com sucesso aquilo que são, dentro dos parâmetros definidos pelo PISA, as suas insuficiências de natureza pedagógica. As sete primeiras posições do ranking relativo à literacia matemática no âmbito do PISA 2015 foram ocupadas por países e territórios asiáticos: Singapura, Hong Kong e Macau ocuparam os lugares do topo, seguidos por Taiwan, Japão, China e Coreia do Sul. Finlândia, Estónia, Canadá e Irlanda são os únicos países não asiáticos a figurar no ranking das cinco melhores nações em cada uma das três competências avaliadas pelo PISA: a ciência, a leitura e a matemática.
Os alunos em primeiro
Empenho à parte, a participação de Macau na edição de 2015 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos permitiu concluir que, ao contrário do que sucede em grande parte dos países e territórios que se submetem ao método de aferição da OCDE, na RAEM disponibilidade económica não significa necessariamente melhores resultados: “Em simultâneo com o PISA 2015 foi conduzido um inquérito direccionado às escolas, aos pais e aos alunos, em que se solicitava, por exemplo, que as famílias facultassem informação relativa aos seus rendimentos e ao seu estatuto sócio-económico”, recorda Wong I Lin. “O relatório da OCDE concluiu que mesmo os alunos com estatuto económico menos elevados obtiveram bons resultados no PISA, o que significa que temos uma realidade educacional equilibrada. O relatório refere que Macau possui uma educação de qualidade e excelência, com uma grande equidade educativa”, congratula-se a responsável da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude.
O facto do PISA não exercer qualquer influência sobre o aproveitamento individual ou a avaliação final dos alunos que se submetem a exame, faz com que muitos dos estudantes encarem os procedimentos de avaliação global coordenados pela OCDE sem o mesmo nível de rigor que investem, por exemplo, nos exames finais do ensino secundário ou nas provas de candidatura ao ensino superior.
Wong I Lin não tem razões para duvidar do empenho dos alunos do território. A coordenadora da Inspecção Escolar da DSEJ assegura que o próprio organismo procura transmitir aos estabelecimentos de ensino uma mensagem clara, a de que a participação no exame não deve nem colocar em causa os interesses dos alunos, nem comprometer o seu aproveitamento: “Algumas escolas prestam muita atenção aos resultados do PISA, mas a DSEJ já deixou claro por mais do que uma vez que a preparação para o exame não deve sobrecarregar os estudantes. No passado chegámos a receber algumas queixas porque alguns alunos eram obrigados a ir para a escola ao fim-de-semana com o propósito de se preparar para o teste”, reconhece Wong.
A responsável orgulha-se, de resto, do que considera ser uma das mais melhores conclusões do relatório relativo à performance dos alunos do território na edição de 2015 do PISA, a que constata que os estudantes locais obtiveram um aproveitamento tão bom ou melhor do que os alunos de países e regiões como Taiwan, a Coreia do Sul ou a China sem incorrerem nos mesmos níveis de pressão: “O PISA 2015 permitiu perceber que os alunos do território estão sujeitos a menos horas de aprendizagem que os alunos de Hong Kong, de Taiwan, da Coreia do Sul, de Singapura e da China”, sintetiza Wong I Lin.
Exames são para manter, pelo menos por agora
Em Singapura, a partir do próximo ano lectivo, a performance dos alunos do primeiro e do segundo ano vai passar a ser avaliada tendo por base trabalhos de casa, o empenho demonstrado durante as aulas ou o envolvimento nas actividades pedagógicas dinamizadas pelos estabelecimentos de ensino.
A medida foi saudada um pouco por todo o mundo como uma lufada de ar fresco, mas Macau, no entender de Wong I Lin, não está ainda preparado para dar um passo tão grande. A Coordenadora de Inspecção Escolar da DSEJ lembra que países como a Finlândia ou Singapura, que são tradicionalmente vistos como os mais progressistas em termos de educação, têm as suas próprias características e assegura que os responsáveis pelas políticas de educação no território estão a trabalhar no sentido de diversificar métodos e pressupostos
de avaliação:
“Em Macau já demos um primeiro passo, quando avançámos com a reforma curricular. Acerca dos exames, algumas escolas já anularam os exames nos anos de escolaridade mais baixos”, recorda. “Estamos a colocar um grande empenho nos trabalhos de desenvolvimento de um sistema diversificado de avaliação do desempenho dos alunos. No futuro, vamos promover mais formações para docentes, com o propósito de melhorar este aspecto e promover um maior interesse dos alunos pela aprendizagem”, esclarece Wong I Lin.
Tabela de Classificação Mundial do PISA
Médias classificativas nas áreas da leitura, matemática e ciências
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) é um estudo conduzido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) e que envolve 79 países e territórios. Tem como objectivo avaliar a literacia de alunos de 15 anos nas áreas da leitura, matemática e ciências (Fonte: OCDE, 2015-2016)
Legenda do mapa:
Acima de 500
Singapura
Hong Kong
Japão
Macau
Estónia
Canadá
Taiwan
Finlândia
Coreia do Sul
China
Irlanda
Eslovénia
Alemanha
Holanda
Suíça
Nova Zelândia
Dinamarca
Noruega
Polónia
Bélgica
Austrália
Vietname
Entre 450-500
Reino Unido
Portugal
França
Suécia
Áustria
Rússia
Espanha
República Checa
Estados Unidos
Letónia
Itália
Luxemburgo
Islândia
Croácia
Lituânia
Hungria
Israel
Argentina
Malta
Eslováquia
Grécia
Abaixo de 450
Chile
Bulgária
Chipre
Roménia
Emirados Árabes Unidos
Uruguai
Turquia
Trindade e Tobago
Moldávia
Montenegro
Costa Rica
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