Texto Ana Pereira, em Luanda
A 12 de Janeiro de 1983, Pequim e Luanda estabeleceram relações diplomáticas. Passados 24 anos, Angola tornou-se o maior parceiro comercial da China no continente africano e, em 2011, Pequim passou a ser o principal destino das exportações de petróleo e minérios angolanas – dados oficiais indicam que o fluxo entre os dois países cresceu 43 por cento em 2017, com a balança comercial favorável a Angola em 17,7 mil milhões de dólares. No universo dos países de língua portuguesa, Angola só perde para o Brasil em termos de trocas comerciais com Pequim.
Num artigo de opinião publicado no Jornal de Angola, em Janeiro deste ano, Cui Aimin, embaixador da China em Angola, revelou que ao longo destes 35 anos a China já concedeu cerca de 60 mil milhões de dólares norte-americanos ao Governo angolano, dinheiro que serviu sobretudo para a construção de infra-estruturas básicas, desde centrais de energia, estradas, pontes a hospitais e casas, “incentivando o desenvolvimento económico e a melhoria da vida do povo de Angola”.
Cui Aimin referiu ainda que durante o Fórum de Investimento China-Angola, realizado em Luanda em finais de 2016, foram celebrados 48 acordos de intenção de investimento no valor total de 1200 milhões de dólares. “Têm-se aperfeiçoado também os mecanismos de cooperação, inclusive, a Comissão Orientadora da Cooperação Económica e Comercial entre a China e Angola. Com a finalidade de apoiar a capacitação de quadros angolanos, a parte chinesa forneceu a formação a mais de 2500 funcionários angolanos em diversas áreas, assim como 300 bolsas de estudo”, enfatiza o diplomata.
Os mais importantes projectos em infraestruturas no país têm suporte financeiro e técnico da China, sendo de sublinhar a construção do novo Aeroporto Internacional de Luanda, em curso, as novas centralidades ou, entre outros, a reabilitação dos milhares de quilómetros de caminhos-de-ferro no país. Nos últimos meses, o Banco da China abriu uma sucursal em Luanda para facilitar as trocas comerciais entre os dois países e Luanda e Pequim têm igualmente estabelecido um acordo cambial entre o kwanza e o renmibi.
A China enviou ainda, desde 2009, quatro equipas médicas, compostas por mais de 60 médicos, que fizeram 200 mil consultas grátis para cidadãos angolanos no Hospital Geral de Luanda. Este hospital, acrescentou, foi “doado pelo Governo chinês e ainda é a melhor unidade sanitária integrada em Angola até ao momento”.
Ao fim de 35 anos, Cui Aimin afirma que as relações sino-angolanas estão “no melhor nível na história”, sendo “um exemplo da cooperação de benefícios mútuos e desenvolvimento comum entre a China e os países africanos”. “Os resultados da cooperação pragmática entre a China e Angola são frutíferos. Actualmente, a China é o maior parceiro comercial de Angola, enquanto Angola é o segundo maior parceiro comercial, o maior fornecedor dos petróleos da China em África, um dos maiores mercados ultramarinos de obras empreitadas”, assume o embaixador chinês.
Resultados tangíveis
Numa visita a Luanda em Janeiro, para assinalar o aniversário das relações sino-angolanas, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, garantiu que a China vai continuar a apoiar Angola a acelerar a sua estratégia de diversificação da economia e o seu processo de industrialização e modernização em prol da paz e unidade do continente africano. Aliás, o chefe da diplomacia chinesa referiu que a China foi o país que concedeu financiamento a Angola para a sua reconstrução após fim da guerra civil em 2002, tendo já apoiado na recuperação e construção de mais de 20 mil quilómetros de estradas, 2800 quilómetros de ferrovias, além de outras infra-estruturas básicas, nomeadamente escolas, hospitais e habitações sociais.
“Tudo isso são os nossos resultados muito tangíveis. Eu disse ao Presidente da República que o investimento chinês em Angola é com resultados reais”, apontou Wang Yi, desvalorizando que Pequim esteja preocupado com a dívida de Angola para com a China.
Segundo Wang Yi, as relações bilaterais existentes há 35 anos são baseadas na amizade, honestidade, e Angola é um parceiro estratégico da China no continente africano. “Tal como qualquer país em desenvolvimento, numa fase inicial da sua economia, é muito natural que pretenda mais financiamentos. A China também experimentou este processo, esses são problemas temporários e não tenho nenhuma preocupação, não estou preocupado de maneira nenhuma, porque tanto o partido no poder como o Governo em Angola estão a achar o caminho que corresponde à situação doméstica de Angola, que é a diversificação da economia e industrialização acelerada.”
O ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, considerou histórica e importante a vinda do seu homólogo ao país, “porquanto as relações bilaterais entre os dois países têm um nível de excelência, que é visível através de projectos que têm impacto na vida diária do povo angolano”. Manuel Augusto disse que relativamente à dívida de Angola para com a China “as duas partes estão satisfeitas com o caminho percorrido até aqui”, tendo decidido “discutir do ponto de vista técnico novas formas, métodos inovadores, que tornam esta dívida sustentável”.
Foram ainda abordadas novas formas para que “os projectos já em curso e aqueles que venham a ser acordados possam ter a necessária almofada financeira”. De acordo com o governante angolano, as equipas técnicas de Angola e da China vão trabalhar no âmbito da preparação da segunda sessão da comissão orientadora de cooperação económica e comercial, que é o mecanismo utilizado entre os dois países para coordenar e supervisionar a cooperação económica bilateral. No quadro dessas discussões tomar-se-ão decisões relacionadas com a assinatura de instrumentos jurídicos considerados indispensáveis para conformarem ainda mais o apoio institucional à cooperação bilateral entre os dois países.
Vistos facilitados
Com a assinatura de um novo acordo entre Pequim e Luanda, passou a ser possível, desde meados de Fevereiro, agilizar os mecanismos de concessão de vistos a empresários e homens de negócios, académicos e pesquisadores científicos, homens de cultura, desportistas e pessoas com necessidades de tratamento médico. A supressão da necessidade de vistos em passaportes ordinários tem como grande objectivo ir além do intercâmbio comercial, fomentando as relações empresariais e culturais entre os dois países.
Antes da assinatura de tal acordo, a concessão de um visto para a China era um processo moroso e dispendioso – cerca de 15 dias e 160 dólares norte-americanos. Os empresários angolanos saudaram a mudança, que dizem que irá facilitar as viagens de pequenos e médios empresários ao país asiático. Maria Ribeiro, por exemplo, empresária do ramo imobiliário, costuma fazer de duas a três viagens ao país asiático e refere que a isenção de visto de entrada irá fomentar as relações entre os dois países. A empresária Ermelinda da Conceição elogia a iniciativa e pede que o próximo passo seja a expansão dos voos da TAAG para as cidades de Pequim e Xangai.