Depois de rajadas que chegaram aos 200 quilómetros por hora, batendo recordes desde que há registo, o vento acalmou e pelas 17:00 (10:00 em Lisboa), ainda com sinal 8 de tufão (numa escala de 10), as ruas estavam cheias de pessoas. Se no centro os turistas tiravam fotografias à destruição enquanto arrastavam as malas de viagem, no Porto Interior, zona baixa da cidade, a azáfama era outra, com os residentes a tentarem salvar os seus negócios alagados.
Numa pequena loja de ferragens, Liu, de 25 anos, ajudava a mãe a acartar a água que destruiu o negócio familiar. Apesar de a intempérie também ter atingido a casa onde vive, por cima da loja, o jovem relativizou a situação. “Basta olhar em volta. Está toda a gente nesta situação, não vale queixarmo-nos”, afirmou Liu antes de regressar às tarefas de limpeza da loja, que em 2008, aquando da passagem do Hagupit ficou completamente destruída. O que o surpreendeu no Hato foi a velocidade “extremamente rápida da subida do nível da água”.
Junto às marisqueiras do Porto Interior, onde se formaram piscinas de água barrenta, homens com as calças arregaçadas tentavam apanhar com as mãos, e com a ajuda de redes, peixes que se soltaram das caixas que habitualmente ficam em frente aos restaurantes.
Por toda a zona baixa da cidade viam-se pessoas de costas vergadas a tirar objectos ensopados de dentro das lojas, que ocupam o rés-do-chão dos edifícios. Outras, de vassoura e pá na mão, tentam expulsar a água que lhes entrou pelos negócios a dentro.
A biblioteca do Patane, inaugurada no final do ano passado, estava alagada. Pelas portas entreabertas podiam ver-se livros no chão e mobília espalhada.
No chão há de tudo: sapatos, vegetais, garrafas, máquinas de calcular, um sofá no meio da estrada, cadeiras e até um maço de notas, ainda que falsas, já que esta é a época do festival dos fantasmas esfomeados, quando se queimam todo o tipo de objectos de papel para oferecer aos espíritos.
Jackie, de 41 anos, era uma das pessoas que procurava, junto aos destroços de uma bomba de gasolina, algo reaproveitável. Ao seu lado estava o marido que, contou, ajudou mulheres idosas presas nas cheias.
A casa de Jackie, que vive há quatro anos em Macau, não foi afectada, mas a filipina nunca viu nada assim: “Os ventos eram muito fortes e o som era horrível, foi a primeira vez que vi algo deste género em Macau. Estávamos muito preocupados”.
Ao final da tarde registava-se já algum trânsito. No entanto, os semáforos estiveram desligados durante várias horas devido ao corte generalizado de energia na cidade. Pelo menos no centro, pelas 19:00 entraram novamente em funcionamento.
O tufão Hato foi o mais forte nos últimos 50 anos, tendo sido içado o sinal 10 de tempestade tropical, o máximo numa escala que inclui 1, 3, 8, e 9.
Pelo menos nove pessoas morreram e 244 ficaram feridas, a maioria sem gravidade.