Fotos Locanda Films
Comecei a ajudar no negócio do amendoim quando era um miúdo. A banca só passou para as minhas mãos em 1977, mas já existe desde os anos 60. É um negócio de família e está nas minhas mãos há quase 40 anos. São 40 anos da minha vida aqui, nesta banca. Foi o meu pai quem começou com isto. A minha irmã mais velha ajudava-o e hoje eu tenho a minha filha a dar-me uma mão. Naquela altura, a minha irmã era uma menina, tinha sete ou oito anos. À medida que o nosso pai envelhecia, eu comecei a interessar-me mais pelo negócio, até que fiquei à frente de tudo. Não queria que esta banca desaparecesse com o meu pai; nem a banca nem a sabedoria do amendoim. O meu pai trabalhou duro a vida inteira para manter este negócio e eu decidi fazer o mesmo.
A maioria das pessoas neste negócio ficaram para trás desde que Macau intensificou as relações comerciais com a China. Muitas famílias mudaram de área, mas no meu caso não valia à pena deitar tudo ao ar. Os custos operacionais são mais elevados hoje em dia. Antes encontravas amendoins e fábricas para processa-los com muita facilidade, mas agora até o produto bruto de qualidade já é difícil de arranjar. O nosso lema sempre foi vender amendoins de qualidade e é por isso que temos muitos clientes leais. Foi assim que o meu pai me ensinou. A qualidade é o mais importante neste tipo de negócio.
Os meus filhos não têm interesse pelo meu negócio. Não ajudam nem querem fazer disto o futuro deles. Por isso, a minha mulher, a minha irmã mais velha e eu mantemos o negócio enquanto podemos. Não haverá uma próxima geração. E eu entendo a opção dos mais novos. É um trabalho cansativo, não há feriados nem férias.
Hoje em dia há muitas opções para se ganhar dinheiro, há mais diversidade de empregos. Eu até consigo viver deste meu negócio, mas não tenho a mesma liberdade que as outras pessoas têm. Não trabalho das 9h00 às 18h00; passo aqui os meus dias, são muitas horas. Muitas vezes fecho a loja só de noite, às tantas horas, especialmente naqueles dias em que tenho entregas para fazer. O fim do ano, por exemplo, é uma altura de muito negócio e eu não posso deixar o trabalho para o dia seguinte. Entendo que muitos jovens não queiram fazer isto. Mas isto é a minha vida; aquilo que tenho vem só deste meu trabalho.
*Este retrato é um dos episódios da série documental Os Resistentes: Retratos de Macau, da autoria do realizador António Faria.